Aquela foi a primeira vez em quinze anos que Tetsuya suou frio. Sempre foi contido, racional e calculista. Mas não naquela manhã. O que estava acontecendo bem diante dos seus olhos, no vestiário, era algo absolutamente normal, ele sabia. Mesmo assim sentiu os músculos tencionarem e as pernas ficarem duras. Os olhos não sabiam para onde olhar.

Ainda não acreditando que tinha pego Kagami no flagra, tão silencioso como entrou, saiu daquele lugar. Inacreditável. Tetsuya simplesmente não conseguia processar o ocorrido. Não que estivesse em meio a uma crise de pudor ou algo do gênero, mas achava que Kagami era um rapaz sensato o suficiente para não se masturbar num lugar de acesso público para todo o colégio, e ficou no mínimo estupefato. Professores, funcionários, o time de basquete inteiro e até mesmo a treinadora. Qualquer um poderia entrar lá.

Atravessou a quadra de basquete a toda velocidade que poderia usar sem chamar a atenção de nenhum passante. Queria se afastar da “cena do crime” o mais rápido possível. Realmente inacreditável. E o pior é que, mesmo sendo uma testemunha, Tetsuya se sentia o próprio culpado.

De repente, quando já estava saindo da quadra, ouviu vozes se aproximando. Olhou por cima do ombro; pela segunda entrada da quadra entravam um grupo de rapazes. Um grupo bem grande. Pelas roupas reconheceu ser o time de futebol – parando para pensar, o vestiário deles estava interditado. E agora? Eles veriam Kagami. Talvez fosse mais prático só dar o fora e mandar os votos de boa sorte para o amigo, mas isso não seria certo. Seria, pelo menos no universo dos rapazes de sua idade, antiético.

Se queria impedir que Kagami fosse descoberto, teria de pensar rápido. Só viu uma solução. Retrocedendo o caminho, dessa vez correndo com todo o sangue (mais do que jamais correu antes), alcançou a porta do vestiário, abrindo-a com um estrondo. O barulho seria o suficiente para avisar Kagami da presença de outras pessoas. Para sua surpresa, assim que abriu a porta, deu de cara com o dito cujo já vestido e de sacola às mãos, encarando-o com um olhar interrogativo.

Ótimo. O safado se masturbava no meio da escola e Tetsuya seria o único a parecer esquisito.

- Ei, o que foi Kuroko? – perguntou, sem o mínimo de vergonha na cara.

- Nada – respondeu.

Junto a uma meia volta, deu um longo suspiro. Nunca mais se preocuparia com Kagami, jurou para si mesmo.

- Ei, que resposta agreste foi essa? – Kagami se exaltou, irritado.

- Nada – repetiu, seguindo seu caminho e fazendo a melhor cara de paisagem que tinha.

Deram licença ao time de futebol que passava, em silêncio, mas assim que saíram do caminho, Kagami voltou a incomodá-lo.

- Cara, hoje você tá ainda mais irritante. Tá fazendo de propósito?

Tetsuya se surpreendeu. Quando foi que virou um livro aberto? Principalmente para Kagami, que era consideravelmente idiota além dos conteúdos relativos a basquete e cozinha.

- Talvez – anuiu. O rosto continuou 100% liso.

Kagami fez a maior carranca que Tetsuya já tinha visto, e teve vontade de rir, mas se conteu só para irritar o outro ainda mais. Era meio divertido irritar alguém com os nervos à flor da pele, pensou. Além do que, essa era sua pequena vingança pela situação que Kagami o fez passar.

- Mas, sabe – Tetsuya se pronunciou – agora acho que entendi o que a treinadora quis dizer sobre o seu “potencial”.

Kagami desfez a careta e esboçou um olhar de pura confusão. Não entendeu o que Tetsuya quis dizer. Tudo bem, era melhor assim. Essa seria sua nova piada interna pelo resto do semestre.