A Filha Do Sol - Parte II escrita por Taty B, Let B Aguiar


Capítulo 11
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Vocês já devem estar cansados de tantos pedidos de desculpas, né? Pois aqui vai mais um pedido de desculpas!!! Gente, eu imagino que vocês estudem, façam um estágio, trabalhem, façam cursos extra curriculares e etc, e sejam capazes de entender que as vezes precisamos nos dedicar de verdade a essas coisas. O que resulta numa demora nas atualizações. Está longe de ser de propósito; é apenas uma necessidade... Enfim, o capítulo, ao meu ver, está legal e gostoso de ler. Espero que vocês não estejam se desanimando pela demora. Boa leitura!



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CAPÍTULO X

       PATTIE

Acordei com o barulho de uma sirene insuportável. Bem, se meu cérebro não trabalha muito bem nem quando estou acordada, imagina quando estou sonolenta... De princípio, eu não dei a mínima para a sirene. Apenas resmunguei e me espreguicei todinha naquela cama maravilhosa e espaçosa. Será que meus irmãos haviam trocado meu colchão e não me disseram nada?
Quase voltei a dormir de novo, esparramada no colchão incrivelmente macio em que me encontrava deitada. Mas por instinto, resolvi abrir os olhos e me assustei com o que vi.
Eu não estava no chalé de Apolo. Não mesmo. As paredes eram cinza e deprimentes, e estantes de ferro repletas de bugigangas e ferramentas se estendiam por elas, disputando lugar com um armário e um baú. Um pôster da Scarlett Johansson de biquíni e outro da Eva Mendes estavam pendurados numa parede que possuía uma porta. Não vi nem sinal de algum espelho. Aprumei-me na cama, sentindo um desconforto subir pelo meu corpo. Na soleira da mesma, um Xbox e uma televisão de plasma se faziam embutidos. Deuses, que porra de lugar era aquele? Eu fui abduzida durante o sono e levada para o quarto de um mecânico tarado?
Oh-oh.
Levantei da cama em um pulo, tropeçando em um par de calçados que jazia ao lado da mesma. Andei desgovernada até a única porta do ambiente, que por estar entreaberta, vi que levava a um banheiro.
Eu não sei se sou capaz de explicar a magnitude do grito que dei quando me olhei no espelho acima da pia. Eu era Leo. A voz que escapou das minhas cordas vocais era exatamente a dele, grossa e rouca. Coloquei as mãos em cima da boca, refreando mais um grito agoniado. Eu deveria estar sonhando ainda, é claro. Isso tudo não fazia sentido. Eu iria acordar a qualquer instante.
Fechei os olhos com força e pedi para que o pesadelo acabasse. Porque obviamente, eu estava no meio de um pesadelo de muito mau gosto, levando em consideração a briga que tivemos no dia anterior.
Abri os olhos, o coração acelerado pela esperança. Nada mudou. Eu continuava encarando o reflexo descabelado e recém-acordado de Leo no espelho. Eu grunhi de frustração e bati a cabeça no vidro diversas vezes. Deuses, eu queria morrer!
Respirei fundo e voltei meu olhar para baixo. Preferia não ter o feito. Leo usava uma samba canção xadrez horrorosa e estava sem camisa. E... pelos pavões de estimação de Hera... se eu de alguma forma entrei dentro do corpo de Leo, isso significava que eu tinha um pênis.
- Por que? Por que comigo? – eu voltei a falar, a voz de Leo ecoando no banheiro vazio. – O que eu fiz para merecer isso? Caguei no trono de Zeus?
Eu ignorei a necessidade matinal de fazer xixi. Eu precisava achar uma solução para esse problema, se é que eu não estava delirando.
E foi aí que eu fui capaz de raciocinar um pouco... Se eu estava no corpo de Leo, ele só podia estar no meu.
No meu corpo, de camisola de cetim, fazendo o que bem entendesse com os meus atributos.
Sair daquele quarto estranho tornou-se uma prioridade, assim como encontrar Leo (que deveria estar no chalé de Apolo. A não ser que ele tivesse sido abduzido) e tentar entender que bulhufas aconteceu conosco durante a madrugada. Então eu voltei para o dormitório e subi na cama, clicando loucamente em cada botão do painel de controle que fazia as vezes de criado mudo. Liguei a televisão, o vídeo game, o ar condicionado, mudei a luz ambiente, acionei o sistema de massagem da cama, música começou a sair de pequenas caixas de som acopladas à estrutura da mesma, mas não fiz nenhuma porta aparecer ou um buraco surgir no teto.
Fui tomada por uma claustrofobia incompreensível, até que apertei o último dos botões do painel. A cama tremeu e começou a subir, e uma abertura surgiu no teto, retraindo-se devagar como a lente de uma câmera. Juro que essa foi uma das sensações mais estranhas da minha vida.
Quando a cama parou de subir, eu me vi no meio de várias beliches altamente tecnológicas, também repletas de painéis e instrumentos estranhos. As paredes tinham um tom terroso e eram abarrotadas de armas e projetos inacabados. Uma escada mais à frente levava a um andar subterrâneo e um mastro de bombeiro descia de um segundo andar não visível. Todos os habitantes do chalé já deveriam ter levantado, devido à movimentação que eu escutava no andar debaixo e ao barulho de chuveiro que vinha do banheiro. Só um chalé do acampamento teria tais aparências: o chalé de Hefesto.
Lembrei que eu (ou devo dizer Leo?) estava de cuecas e enrolei-me nos cobertores. Que diabos eu planejei antes de içar a cama?
Um garotinho abriu a porta do banheiro e eu lutei para lembrar o nome dele. Mustang? Camaro? Seu nome tinha algo a ver com marcas assim...
- Bom dia, senhor. – ele me saudou com um sorriso. – Hã, o que deu em você para subir desse jeito...?
- Você precisa me ajudar! – eu exclamei esganiçada, o que soou bem bizarro na voz do meu amigo. Eu cobria o peitoral de Leo como se ele tivesse seios, porque a sensação de estar seminua estava me enlouquecendo.
- Te ajudar? Como assim, Leo? Você tá bem? – o garoto continuou seu caminho até um dos beliches.
- Harley! É esse seu nome, não é? – questionei, ainda expressando a minha agonia através da minha voz. O pobrezinho franziu a testa e me encarou com estranheza.
- Leo, você esqueceu meu nome? Você tomou óleo de motor sem querer?
- Eu não sou o Leo! – elevei mais ainda o tom de voz. – Eu sou a Pattie, filha de Apolo, sabe? Eu estou presa no corpo do seu irmão! Você viu se alguma coisa estranha aconteceu durante a madrugada? Porque eu simplesmente acordei no chalé de vocês!
Harley continuou me encarando como se Leo estivesse acometido por uma doença gravíssima. Mas em questão de milésimos seu rosto se iluminou e ele começou a rir.
- Suas brincadeiras ficam cada vez piores! Há! Escuta essa, Sarah!
Uma garota corpulenta desceu pelo mastro de bombeiro que ficava no hall do chalé. Ela usava um colete jeans esfarrapado, calças de moletom e a blusa laranja do acampamento. Seu rosto era tão maltratado que mal conseguia olhá-la diretamente.
- O que foi dessa fez? Qual a piada sem graça? – sua voz retumbou. Eu nunca havia a visto antes, mas sua pose de machona e a carranca mal humorada não me causaram uma boa impressão.
- Leo está dizendo que trocou de corpo com a Pattie! – Harley contou, entre risos.
- Nem um pouco engraçado, Valdez. – a tal Sarah bufou e saiu andando para o banheiro. Eu me levantei da cama agarrada aos cobertores, desesperada por ninguém estar me levando a sério.
- Eu não estou tirando com a cara de vocês! É verdade, eu troquei de corpo com o Leo! Por favor, me escutem!
Harley não deu a mínima para o que eu disse, apenas continuou rindo e passou a mexer no painel de controle de seu beliche.
- Gente, não é possível que vocês não possam acreditar... Vocês acreditam em unicórnios e deuses, mas não podem acreditar que eu e Leo trocamos de corpo? – dessa vez eu berrei, atordoada e sem paciência.
- Que gritaria é essa, Leo? – Nyssa subiu as escadas do andar inferior. – O que está acontecendo! ?
- Eu já falei que eu NÃO sou o Leo! – rebati, e ela me lançou um olhar tão agressivo que até dei um passo para trás.
- Hoje não é primeiro de abril. Guarde suas travessuras para o ano que vem.
- Nyssa, pelo amor de Apolo, você tem que me ouvir! Eu e Leo fomos vítimas de algum tipo de loucura olimpiana! – eu não sabia escolher o que me atordoava mais: a voz de Leo saindo pelas minhas cordas vocais ou a descrença de seus irmãos.
- Cale a boca, Leo. Já te pedimos para não exagerar nas suas brincadeirinhas estúpidas. Agora vá se trocar, você está fazendo papel de ridículo.
- Ora, vou te falar quem é rid...
Fui brutalmente interrompida pelo barulho da porta sendo escancarada por eu mesma. De camisola de cetim amarela. Descabelada. E de pantufas.
- EU...QUER DIZER... VOCÊ ATRAVESSOU O ACAMPAMENTO INTEIRO ASSIM? – eu gritei, perdendo o pouco da sanidade que me restava.
- Nós acabamos de ter nossos corpos TROCADOS e você ESTÁ SE IMPORTANDO COM ISSO? – Eu... Argh, Leo no meu corpo devolveu na mesma intensidade.
Os irmãos dele nos olhavam assustados. Johnny e Will também invadiram o chalé de Hefesto, ofegantes.
- Pattie, você está louca de sair correndo vestida nesses trajes? – Johnny exclamou incrédulo. Leo não lhe deu atenção.
- Johnny, o Leo está no meu corpo! – grunhi. – E eu estou no dele. É difícil entender algo tão simples?
- Vocês estão me deixando louco! Chega disso! – Will tentou colocar ordem na algazarra.
- Eu vou deixar todo mundo louco até eu entender que porra está acontecendo! – Leo berrou. Minha voz saiu tão estridente que machucou os ouvidos.
- JÁ CHEGA! – Jake Mason surgiu das escadas. Eu não o conhecia muito bem, mas ele não me pareceu tão invocado nas poucas vezes em que nos cruzamos. – Que palhaçada! Não acredito que vocês dois combinaram de pirraçar seus irmãos a troco de nada! Parem já com essa idiotice, não tem graça.
- Isso aí! – Johnny incentivou.
- Johnny, eu vou acabar com você! – eu tentei ir para cima dele, mas Nyssa me segurou.
- Tá doido, fera? – meu irmão arregalou os olhos. – O que eu te fiz pra você querer me bater, duende do papai noel?
- EI! – foi a vez de Leo se invocar. Toda a situação estava me dando dor de cabeça. Eu sabia que ele estava em meu corpo, mas todas as suas ações pareciam minhas aos olhos dos outros. Nunca imaginei que eu fosse tão masculina quando irritada. – Repete o que você disse, seu branquelo do caralho!
- Espera aí, Pattie... O QUE? CARA, vocês estão retardados e estão me deixando retardado também! – Johnny colocou as mãos sobre a cabeça.
- Acho melhor deixar os dois sozinhos. – Will se pronunciou. – Quem sabe dessa maneira eles possam refletir sobre o que estão fazendo conosco e parem com essa besteira. Vamos, pessoal. Não vamos perder mais tempo com tamanha bobagem.
Todos nos olharam com desprezo e saíram do chalé. Antes de dar as costas, Johnny falou:
- Já ouviram falar de gardenal?
Eu quis tacar um objeto pontiagudo no meio da testa dele, mas nem Kallistei estava ao meu alcance. Tinha a colocado debaixo do travesseiro antes de dormir. Leo me fitou e pela primeira vez tive noção de como meu olhar de raiva era ameaçador. Levaria algum tempo para me habituar a falar comigo mesma e observar minhas próprias expressões. E eu rezava para que não precisasse me acostumar com isso. A final do torneio aconteceria dali três dias e eu perderia feio se Leo continuasse ocupando meu corpo.
- Certo. – eu resolvi quebrar o silêncio. – O que aconteceu com a gente? Como vamos fazer para voltar aos nossos corpos? Leo, eu não posso ser você, e nem quero ser! A final do torneio...
- Pattie. – ele hesitou, analisando seu próprio corpo com uma expressão desgostosa. – Você acha que eu também quero continuar sendo você? Eu tenho meus projetos para continuar e não tô a fim de levar uma surra do Percy! E não quero ser cantado a todo instante por outros campistas... homens. Nós... nós precisamos achar uma solução para essa bizarrice.
Pude notar que se encontrava tão desesperado e abalado emocionalmente quanto eu. Teríamos que achar uma solução para nosso ‘probleminha’ o mais rápido possível.
- Quem poderia querer ferrar a gente desse jeito? – reclamei, passando uma mão pelo rosto. – Achei que passaria o resto das minhas férias em paz...
- Para de fazer essas caras, por favor! – Leo me repreendeu. – A mão na cintura não está ajudando! Parece que eu vou ter um ataque de pelanca e explodir em purpurina a qualquer instante! E você está afinando minha voz!
- Ah é, Valdez? – cruzei os braços, me aproximando do meu próprio corpo. Droga, a situação cada vez ficava mais estranha... – Então, por favor, corrija sua postura e levante esses ombros, eu estou parecendo um gorila!
- Quem disse que você não é um? – Leo provocou e eu dei um chute na sua canela. Melhor dizendo, minha canela.
- Ai! Sua tonta, você está batendo em si mesma! E... caramba! Vai colocar uma roupa, não é legal se ver de samba canção sabendo que todos seus irmãos acabaram te vendo assim!
- Faço de suas palavras as minhas! Onde você estava com a cabeça para sair de camisola do chalé? Não tem noção da vergonha que me fez passar?– ele rolou os olhos e foi me empurrando de volta para sua cama.
- A situação era e ainda é desesperadora! Agora é sério, se troque e me encontre na frente da casa grande! Precisamos conversar com Quíron, o cara sabe tudo... Leo me fez sentar na cama e clicou num dos botões do painel. A cama passou a descer para o subterrâneo.
- Valdez! Nada de ir ao banheiro enquanto você estiver no meu corpo! E não se atreva a olhar no espelho quando estiver se trocando... – eu fiz questão de dizer.
- Não vou fazer xixi nas calças só porque estou no seu corpo, moça. – ele respondeu. O teto retrátil já se fechava sobre mim. – Se arrume, rápido. Nada de deturpar minha aparência.
- Impossível, sua aparência já é deturpada. – me senti na obrigação de provoca-lo. Eu não havia esquecido nossa briga. E sim, continuava ressentida com ele. Não perderia nenhuma oportunidade de devolver a grosseria da noite passada. Se ele me xingou, eu não pude escutar. Assim que a cama se estabeleceu no chão, eu corri para o armário e peguei uma camiseta do acampamento limpa e uma bermuda de sarja. Procurei por um sapato decente no seu baú e achei uma bota marrom antiga e bastante suja. Provavelmente, ele a usava para trabalhar nos projetos mais pesados... Me vesti (ou vesti a Leo?) evitando olhar para baixo (a samba canção já era suficientemente atormentadora sem dar atenção ao que se escondia dentro dela), e fui até o banheiro para tentar dar um jeito nos cabelos e no rosto de Leo.
Ele não deveria fazer a barba há alguns dias, pois uma penugem fina cobria seu queixo e formava um bigode que só dava para ser notado olhando bem de perto. Leo também tinha alguns cravos em volta do nariz e na testa. Sem falar que nunca, em seus dezessete anos de vida, deve ter considerado a possibilidade de tirar a sobrancelha.
Veja bem, não é que eu o achasse feio... Pelo contrário. Eu via uma beleza em Leo que as pessoas não costumavam ver. Gostava do tom de pele dele, dos seus olhos castanhos vivos, dos seus lábios... Mas não havia a possibilidade de ignorar o fato de que ele não cuidava da própria aparência.
Eu era capaz de mudar Leo Valdez. E já que estava no comando de seu corpo, isso seria uma tarefa fácil.
Quinze minutos depois, eu terminei de raspar sua barba sem causar nenhum ferimento (não foi mais difícil do que depilar as pernas), espremi seus cravos mais tenebrosos (admito que foi nojento), arrumei uma pinça e fiz a sua sobrancelha (lógico que não a deixei fina como a de uma garota), e até aparei algumas pontas queimadas do seu cabelo. Complicado foi pentear aqueles cachos sem forma e colocá-los para trás, usando um pouco de gel para cabelo que encontrei no armário do banheiro. O toque final se resumiu a uma bela quantidade de desodorante e algumas gotas do único perfume que ele detinha.
Mudanças tão simples deram outro visual a Leo. Se eu não estivesse no seu corpo e o visse arrumado dessa forma, não responderia pelos meus atos.
Droga. Porcaria. Eu precisava desesperadamente afastar esses pensamentos insanos. Não fazia nem três semanas desde que terminei com Ryler. Leo era meu melhor amigo, o cara mais legal do mundo, e eu não podia perder sua amizade devido aos meus instintos sem noção.
Balancei a cabeça e dei uma última olhada no espelho antes de sair da Leo caverna. Lembrei de pegar seu cinto de ferramentas, que fora pendurado na cabeceira da cama. Esperava que ele também lembrasse de Kallistei. Eu achava o cinto exagerado ao extremo, mas se o carregasse na mão, estranhariam. Então o coloquei na cintura de Leo.
Saí do chalé, mas não me sentia confortável andando no corpo de Leo e muito menos vestindo aquela bermuda nada atraente. Para minha sorte, eu tive uma ideia genial.
Acreditava que Leo e eu vestíamos o mesmo manequim, porque tínhamos basicamente a mesma altura e minhas pernas eram mais grossas que as dele. Corri sorrateira até o chalé 7 para colocar meu plano em ação. Meus irmãos estavam tomando café-da-manhã, então a área estava livre. Entrei no meu quarto e peguei uma calça skinny preta de dentro do baú. Surpreendentemente, a calça ficou melhor em Leo do que em mim. Deixei a bermuda dele em cima da cama. Pude observar o reflexo de Leo no espelho de corpo inteiro do chalé e decidi arregaçar e dobrar as mangas da camiseta. Concluí que já havia feito tudo que estava ao meu alcance e rumei para a casa grande. Não esperava outra interrupção no meu caminho. E muito menos esperava que essa interrupção atendesse pelo nome de Daisy.
A garota loira descia a colina quando deu de cara comigo. Parou no mesmo instante e abriu um sorriso.
- Bom dia, Leo. Adorei seu visual! Deveria se vestir assim mais vezes!
Acho que nenhuma palavra é capaz de descrever a maneira como meu sangue subiu e todos meus órgãos borbulharam de raiva ao escutar as palavras de Daisy. Eu fiz toda uma cena no Bunker para espantá-la e a garota continuava a não se tocar!
- Bom dia, Daisy. Bom... não que eu precise me arrumar sempre para me acharem bonito, não é? A Pattie que o diga... – respondi, cruzando os braços e encarando Daisy, que ficou totalmente constrangida.
- Hã...Me desculpe?
- Olha, Daisy... Não sei se você percebeu, mas eu e a Pattie temos um lance juntos. Eu não queria ser estúpido e nem queria esfregar essa informação na sua cara, mas é que você não pareceu captar o motivo dela ter sido tão rude com você no Bunker... Ciúmes, sabe? – ela não sabia onde enfiar a cara. Suas bochechas assumiram um tom rosado e ela passou a colocar os cabelos para trás das orelhas com frequência.
- Uau... – Daisy conseguiu dizer. - Foi mal de verdade, Leo. Não imaginava que você e a Pattie... bem, de qualquer forma, você consertou meu secador?
- Claro que sim. Eu te entrego ele mais tarde, beleza? Se você não se importar... – apesar do fora explícito, Daisy continuava olhando o corpo de Leo com interesse. Qual é, será que eu teria de tomar uma atitude mais drástica?
- Tudo bem. Até mais, Leo... – a loira continuou seu caminho e eu não fiz questão de olhar para trás. Segui rumo à casa grande para me deparar com um Leo, preso no meu corpo, óbvio, boquiaberto e estarrecido.
- O que você acabou de falar para a Daisy? – ele exclamou e mais uma vez me assustei com a finura de minha própria voz. – Você não pode arruinar a única chance que tive em eras com uma garota!
A única coisa que fiz foi dar risada.
- Leo, você é ridículo. Eu não disse nada demais para a garota. Ela só veio me perguntar se o secador dela estava pronto.
- E o que você respondeu? – eu passei a prestar atenção na roupa que meu corpo estava vestindo. Leo vestiu a camiseta mais larga do acampamento que eu tinha, uma bermuda de praticar caminhada que ia até depois dos joelhos e fizera um rabo de cavalo tão desestruturado em mim que eu estava parecendo uma doida. Sem contar que me fez calçar um tênis em vez de botas.
- Que sim! O que você fez comigo? Que cabelo é esse? – foi a minha vez de questioná-lo.
- Eu não sei ser mulher, tá bom? – Leo se defendeu. – E eu é que te pergunto que diabos você fez comigo! Espera aí... Você tirou minha sobrancelha? Aparou meus cabelos? E essas calças! Caramba Patricia, você assaltou o guarda-roupas dos seus irmãos!
- Quem dera! A calça é minha. Pois é, ela serviu em você! – a expressão de horror que Leo esboçou no meu rosto foi impagável.
- Muito obrigado por afundar ainda mais a autoestima do seu querido amigo aqui. – ele bufou e cruzou os braços. Até que eu era fofa quando fazia essa careta.
- Não pense que eu já me esqueci de ontem. Eu só estou falando com você porque é necessário. – rebati, soando mais fria do que o previsto. Leo balbuciou e finalmente disse:
- Vamos logo falar com Quíron. Ou você quer passar o dia inteiro sendo eu?
Adentramos a casa grande. Nossos passos ecoaram pelo chão de madeira até chegarmos ao escritório de Quíron e eu bater com leveza na porta. O centauro imediatamente a abriu, sorrindo. Vi Annabeth sentada numa das cadeiras da escrivaninha.
- A que devo a visita de vocês, Leo e Pattie?
Quíron vestia uma camiseta azul clara com estampa de cavalos em movimento e seu cabelo grisalho estava cuidadosamente penteado. Pude escutar minha própria voz dizer:
- Nós estamos com um probleminha, Quíron. Eu e Pattie trocamos de corpo.
Quíron repetiu a cara que todos nossos irmãos fizeram. E assim como eles, deu risada.
- Ora Pattie, que bobagem. Vocês não vieram até aqui para brincar comigo, não é?
- Jamais, Quíron. Por favor, deixe-nos entrar.
O centauro fitou-nos de maneira inquisidora, mas nos deu passagem. Talvez nunca ouvira Leo falando com tanta seriedade. Mal sabia ele que meu amigo não detinha nenhum poder sobre seu corpo.
- Gente, vocês estão bem? – Annabeth perguntou. Ela deveria estar analisando documentos junto a Quíron, pois vi vários espalhados à mesa.
- Não, Annabeth. Algum deus ou feiticeira pregou uma peça na gente. – Leo falou. Sorte que estava no meu corpo. Não sei se Annabeth acreditaria nessas palavras vindas da boca dele. – Eu e Pattie trocamos de corpo. Digo eu e Pattie porque eu, Leo, estou no corpo da Pattie, e ela está no meu. Nenhum dos nossos irmãos nos deu ouvidos. Ninguém quer nos dar razão. Vocês precisam nos ajudar, não viríamos aqui apenas para atazanar os outros.
A loira não comentou nada. Ela e Quíron, que ficou parado à porta, trocaram um olhar intenso e cheio de mensagens silenciosas. O centauro tornou a falar:
- Há uma maneira de saber se vocês estão mentindo ou não. Vou chamar o sr. D e ele irá analisa-los.
Nós assentimos e Annabeth puxou cadeiras para nos sentarmos. Ela continuava a nos fitar como se tivéssemos cometido um crime em primeira instância.
- Se vocês estão mentindo e incomodaram o sr. D a troco de nada, ele não vai pensar duas vezes antes de amaldiçoa-los...
- Annabeth. – eu a interrompi, séria. – Não estamos de palhaçada. Eu preciso voltar ao meu corpo imediatamente. A final do campeonato está se aproximando...
- Não entendo como uma coisa dessas pode ter acontecido... Uma troca de corpos é fruto de um feitiço ou maldição extremamente poderosa... – a filha de Atena não continha sua integração. Se a garota mais inteligente do acampamento não conseguia encontrar respostas para o ocorrido, eu e Leo não possuíamos a menor chance de conseguir!
- Feitiço. – Leo versão Pattie ponderou, colocando a mão direita no queixo, como fazia quando precisava de concentração. – Annabeth, você acha que...
Ele não completou a frase, pois Quíron e o sr. D fizeram-se presentes no escritório. O sr. D vestia uma camisa de botões com estampas de uvas, shorts cáqui e uma pantufa de leopardo. Se fosse um pouquinho mais brega, estragava.
- Penny Valdoso e Lennon Vasquez... – o deus do vinho pronunciou nossos nomes (errados) com calma, nos devorando com seu olhar acusador. Aproximou-se de nós, coçando a barbicha distraidamente. – Vocês estão dizendo que tiveram seus corpos trocados, é?
- Sim. – respondi, não desviando meus olhos dos de Dionísio.
- Vocês tem noção de que se estiverem me enganando, eu os transformarei em duas parreiras Norton? – o sr. D rosnou.
- Essas parreiras dão um bom vinho? – Leo soltou uma de suas provocações. Mas como estava dentro do meu corpo, o sr. D atribuiu a audácia a mim.
- É melhor se comportar, Penny Valdoso... Se quer que eu dê o meu veredicto sem prejudica-los. – ele ameaçou, crispando os lábios. Ainda bem que Leo optou pelo silêncio.
Sr. D ficou cara a cara com nós, que já tínhamos nos levantado das cadeiras. Primeiro, ele pegou o meu rosto com uma mão, encarando-o com tanta avidez que se fosse alguns centímetros para a frente, encostaria seu nariz no meu. Depois, fez o mesmo com o rosto de Leo e eu pude ver um brilho arroxeado em suas íris, além de sentir um leve aroma de uvas. O cara podia ser amedrontador quando queria.
- As almas estão trocadas. Me dá até gastura ver a alma de um ferreiro maltrapilho dentro do corpo dessa jovem ensolarada. – ele deu a sentença final. As sobrancelhas de Annabeth se juntaram como se a informação fosse demais para ela.
- Mas quem poderia ter feito uma coisa desse tipo? – Annabeth balbuciou.
- Eu sinto o cheiro de magia poderosa. Sinto o cheiro da magia de Hécate. – sr. D completou, voltando a coçar a barbicha.
Um estalo fez minhas entranhas se revirarem. Se havia um chalé naquele acampamento que me odiava mais que o de Ares, era o de Hécate. Eu joguei a sua meia-irmã poderosíssima no tártaro, derrotei seu representante no torneio de esgrima e vivia sendo alvo de blasfêmias da parte desses aspirantes a Harry Potter. Eles tinham mil e um motivos para pirraçar comigo.
- Com licença. – falei educadamente e passei pela porta do escritório sem olhar para trás, determinada a alcançar o chalé de Hécate o mais rápido possível.
Porém, esqueci-me de um sórdido detalhe: eu continuava presa no corpo de Leo.


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Notas finais do capítulo

E então? Hahaha essa Patricia Veloso é louquinha da silva. Se eu fosse chutar, diria que o defeito fatal dela é a impulsividade. Ah, preciso dar um aviso a vocês, queridos leitores:
Preparem-se psicologicamente para o capítulo 11. Das duas uma: ou vocês vão me amar muito, ou vão querer me matar. Espero que a primeira opção prevaleça!
Beijinhos e até a próxima!
Taty Xx



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