A torre - aquela torre alta, sem portas, sem saída - sempre fora clara. Até de noite, luzes eram praticamente desnecessárias, pois a lua iluminava -a de forma que parecia até mágica. Mas naquela noite, a torre parecia particularmente escura, quase que beijada por trevas. Eu tinha certeza que não tinha nada a ver com a falta de iluminação.
–Gothel! Você tem que me deixar ir! - gritei frustrada - É o meu último ano, a última chance que eu tenho de ser uma garota normal!
A mulher que estava sentada na minha frente (Mãe Gothel, se você preferir) finalmente perdeu a paciência. Ela se levantou bruscamente, chutando a cadeira em que estava sentada longe. Jogou os cabelos escuros atrás dos ombros e berrou de volta para mim:
–Você NÃO é uma garota normal, Rapunzel! Quando você irá enfiar nessa cabeça oca que você nunca será como essas crianças que vão para Hogwarts?
–Mas eu quero ser como elas! Querer é poder! Se você apenas me deixar...
–JÁ DISSE QUE NÃO, RAPUNZEL! CHEGA! Essa é a minha palavra final. Você nunca vai sair dessa torre!
Gritei de raiva. Essa monstra (monstra sim, nenhuma mãe faria isso com a filha) me prendia aqui nesse inferno desde que eu me dava por gente. Só que até minha carta de Hogwarts chegar, eu nunca havia dado tanta importância para isso. Mas desde então, eu fazia do impossível possível para sair daquela prisão pessoal e ir para a escola que, mesmo sem nunca ter ido, era minha casa.
A única coisa no meu caminho era ela. Gothel. A mulher que se aproveitava de mim para manter sua juventude. Toda vez que ela pegava aquela escovinha maldita e me forçava a cantar aquela música que soava cada vez pior nos meus ouvidos eu me sentia usada.
Mas esse era o fim. Aquela ela a palavra final dela, mas não a minha.
–Não. - murmurei.
–Não o que, Rapunzel? Pare com os resmungos. Você sabe que eu odeio os resmungos...
–Não. - falei mais alto e com mais clareza - Chega de você abusar de mim. Chega.
Corri até a janela mais próxima e com um soco, eu a quebrei. Nem liguei para o sangue escorrendo do meu punho. Peguei um caco no chão, e antes que pudesse me arrepender, cortei todo meu cabelo fora.
O que foi que eu fiz?