Despertei preguiçosamente, com dificuldade em abrir os olhos devido a claridade do quarto. Espreguicei- me devagar e olhei ao redor; era um quarto grande, sem muitos móveis e a cama era enorme! Olhei para o lado e só então percebi que havia um cara dormindo de forma desengonçada, apenas com uma cueca box de cor escura, ao meu lado. E eu estava com uma blusinha turquesa e uma calcinha branca e delicada. Apertei os olhos para tentar identificar e aos poucos fui conhecendo aqueles traços familiares: o cabelo grande e escuro, o queixo quadrado bem marcado, os lábios grossos e os olhos pequenos e puxados... Suspirei quando vi quem estava ao meu lado e sorri de uma forma quase absurda: era o garoto dos meu sonhos! Me aproximei devagar e o observei dormir por alguns segundos.

A mesma expressão de carência, carinha de cachorro sem dono, daquelas que faz a gente ter vontade de apertar e nunca mais largar, mas agora, a barba contornada seu rosto e o deixava mais irresistível. Mas ainda assim, conseguia me lembrar da boca trêmula e de todo o nervosismo de quando conversávamos na nossa pré adolescência, das risadas e da vergonha, de quando me observava atentamente e das inquietantes mexidas no cabelo, das vezes que fugi por não conseguir controlar o nervosismo, das cartinhas em que ele falava de mim para uma amiga, e que acredito que até hoje, ele não saiba que eu li e me encantei por todas... Entretanto, também me lembrava do aperto no coração que senti aquela primeira vez que o vi chorar por minha culpa, de quando seu irmão mais novo disse que não gostava de mim porque eu era a culpada por ele passar a noite chorando, e principalmente da vez que me disse que eu havia estragado a sua vida e que me odiava...

Não resisti e comecei a contornar o rosto dele com a ponta dos dedos, ainda sorrindo e gravando cada pedacinho dele na memória. Quando estava com os dedos próximos a sua boca, de sobressalto ele tentou morder meus dedos, me surpreendendo. Levando em consideração que sou a pessoa mais fácil de ser assustada que conheço, com um gritinho, virei para o lado contrário à ele, com o coração acelerado. Ele riu com certa dificuldade em abrir os olhos, que agora estavam ainda menores, e me abraçou por trás com a cabeça enterrada em minhas costas. Virei para ele que sussurrou algo me fazendo sorrir, acredito que disse "bom dia" ou algo do gênero. Carinhosamente, beijou minha testa, depois selou nossos lábios e se ajeitou por cima de mim com uma expressão de "está presa, se renda a mim". Ficamos nos olhando.

De repente, fiz com que trocássemos de posição, estava por cima; sorri sarcástica. Minha blusa consequentemente escorregou um pouco, mostrando minha barriga e parte dos meus peitos; sorrimos igualmente maliciosos. Ele me beijou com carinho e ter seus lábios nos meus era uma sensação indescritível! Durante o beijo, semicerrei os olhos e pude vê-lo com os olhos fechados me beijando e apertando-me cada vez mais intensamente. E eu sentia o frio na barriga, as leves mordidas nos lábios, as pontadas de tesão e suas mãos passando por todo meu corpo me proporcionando choques de prazer...

E aí eu despertei assustada e com frio, procurando meu edredom que estava na ponta da cama. Puta merda, tudo aquilo tinha sido apenas um sonho! O sonho mais real que já tive na vida, tanto que se fechar os olhos e me concentrar tenho as mesmas sensações do toque, beijo; mas não deixa de ser um sonho... Hoje, eu não sei o que ele sente em relação a mim, ódio ou amor, ou se é apenas um desejo incontrolável de me provocar e fazer com que eu não me esqueça tão cedo de tudo que aconteceu, e de tudo que deveria ter acontecido entre a gente. É claro que, ficaria totalmente satisfeita se no final desse brincadeira de "esperar o outro reagir primeiro" nós ficássemos juntos, de verdade, como era pra ter sido se eu não fosse tão covarde, mas sinceramente, eu não acho que valha a pena criar esperanças, afinal, ele não é mais o meu garoto de doze anos que estava pouco de importando para o que as outras pessoas achavam e que queria ser feliz sendo quem era, e agora ele é só mais um desses babacas que liga demais para a aparência. As roupas que veste, os amigos, as garotas que fica, o estilo: tudo é questão de status e francamente não acho que valha a pena gostar de uma pessoa tão fútil, e espero que meu coração dê conta disso o mais rápido possível...