Após algum tempo de discussão se a Srª Noriak ia ou não nos acompanhar na viagem, resolvemos esperar pra começarmos a caminhada no dia seguinte, ao amanhecer. Os preparativos incluíam um arco e uma aljava cheia de flechas, uma espada, e três punhais.Tínhamos uma capa pra cada,mas a minha ficava bem curta,já que era uma capa para anões.Estávamos levando um pouco de comida,mas caçaríamos durante o percurso. E, tenho de admitir, que tudo isso me deixava com medo.

No próximo dia a viagem começa. Pegamos (nós três) uma trilha que ficava um pouco mais escondida,atrás da casa.Ela deve nos levar ao Grande Rio,e seguindo ele,chegaremos em Cair Paravel,onde o rei poderá me dizer o caminho de volta para casa.

O que me preocupa é a possibilidade do rei Franco não saber como ir embora. Se ele permaneceu aqui em “Nárnia”,é porque talvez ele tenha tentado,mas sem êxito,fugir dessa terra de doidos.Essa ideia fica me apertando os miolos,mas tento sempre terminar pensando positivamente.

Durante a caminhada, Noriak ia me dando algumas instruções com seu jeito mal-humorado:

— Primeiro e mais importante: Não saia da trilha — ele começa — Mesmo que você se perca, não saia da trilha, ou ,quando chegarmos ao Grande Rio,não se distancie da margem, em hipótese alguma!

— Sim senhor — eu ouvia atentamente

— Segundo: Caso você se perca, fique no mesmo lugar, que voltaremos pra te buscar. — ele para,olha pra mim,e levantando uma sobrancelha me entrega um punhal — Caso precise sair do lugar,marque algumas árvores com este punhal.Se ficar com muita fome e não puder esperar ,uma maneira rápida de pegar peixinhos pequenos é usar sua capa para improvisar uma rede sob a superfície da água e cuspir nela. Peixinhos são atraídos pelo cuspe, pensando que é comida. Quando eles se agruparem em frente de você, puxe a capa para fora da água. Você pode comê-los ou usá-los como isca para pegar peixes maiores.

—Certo — eu respondo

Quanto à orientação do corte nas árvores, eu penso em Dâmara, e nos possíveis machucados que posso fazer numa dríade e pergunto:

— Não existem dríades por aqui?

— Esta parte da floresta é muito fechada, e longe de qualquer corpo d’água, elas não gostam de lugares assim. — ele responde.

— Então pode deixar, eu seguirei as instruções — digo

— Quem disse que acabou?— ele continua, sempre ranzinza — Caso já esteja anoitecendo,e você esteja com frio,ou precisando cozinhar, um fogo no buraco pode ser sua salvação. Basicamente, você cava dois poços lado a lado no chão, com um túnel conectando-os. O fogo está em um poço, e o outro poço permite que ar chegue até a fogueira através do túnel. É o jeito mais eficaz de proteger o fogo de um vento muito forte, ou passar despercebida do agente da maluca da Jadis.

— Entendi. Buraco,rainha maluca, nada bom.Mas acho que é mais fácil eu simplesmente não me perder,não acha? — pergunto sarcasticamente

— Não fique tão confiante. — ele responde — O imprevisto sobrevém a todos.

Eu não discordo. Afinal,quem diria que meu pai, que tinha saúde pra dar e vender,morreria de tuberculose?! Ou quem diria que eu — em um momento levando uma carta para Connet, no outro em Nárnia — estaria recebendo instruções de um anão?

Continuamos sempre no mesmo passo, só parando quando o sol começa a se por.