O Que Te Faz Grande escrita por isabelalina12


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Ok. Ok. Eu sumi, não me matem!

De fato, ainda me considero sumida, pois não tenho mais tempo pra escrever NADA! Essa One estava nos meus arquivos e decidi postar ^.^

Aproveitem! Mais detalhes no final!



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"Me contou do lobisomem, da mãe d'água e do Tajá

E disse do Jurutaí que se ri pro luar

Ah ah que se ri pro luar...

Ah ah que caboclo falador" (Uirapuru-Waldemar Henrique)

Quando foi que, antes de hoje, ele já sentirá isso? Essa mistura confusa de ansiedade, angústia, incerteza, nervosismo e -por que não?- medo. Talvez em seus anos de juventude, quando não sabia ao certo o que seria dele, já tivesse se sentido dessa forma, mas não podia dizer com certeza.

Ao pensar isso, sua mente subitamente trouxe à tona uma memória dos seus primeiros dias de vida, em que um homem -cujo nome e rosto não se lembrava- lhe explicava quem ele era, dizendo "Me escute, guri, tu és a segunda colônia de Portugal, assi como a primeira colônia tens um tamanho incrível, por isso estás a chamar-se Grã. Não esqueces, tu és a colônia de Grã-Pará e Maranhão"

Naquele momento, ele tinha se enchido de orgulho. O pequeno Grã-Pará (tão paradoxal...) tinha achado que ser 'grande' era o mesmo que ser 'melhor'."Eu estou a ser o melhor!" ele era tão ingênuo...

"Se quiser saber de mim

De onde venho, pra onde vou

Tem que primeiro aprender

O que o rio me ensinou" (Carinho Nativo-Eduardo Dias)

Ainda assim, mesmo depois de ter perdido o "Grã" do nome, ele ainda era famoso como "o grande", e os seus irmãos mais novos muitas vezes até lhe chamavam assim, claro, com exceção de Amazonas.

Talvez fosse por isso que aquilo o incomodava tanto, ele não era o melhor (ao menos, em contexto nacional) mas realmente gostava de ser conhecido como "o Grande Pará-que tinha largas riquezas e inúmeras florestas". Gostando ou não, era daquela forma que quem era de fora o via, da mesma forma que o Brasil era visto pelos gringos como "o país do carnaval e futebol".

O que seria do Brasil sem o carnaval e o futebol? Perderia a sua identidade? Era isso o que aconteceria com ele caso seu povo decidisse pelo 'sim'?

"Pois é, pois é

Eu não sou de igarapé

Quem montou na Cobra Grande

Não se estrancha em puraqué" (Esse rio é minha rua- Paulo André Barata)

Aquele maldito plebiscito! Não dormia direito desde que as campanhas começaram, só de pensar que se o 'sim' vencesse ele teria seu território dividido em três. TRÊS! E ele -o dono original- ficaria com só míseros 17% e o resto seriam os dois novos Estados: Tapajós e Carajás.

De lá pra cá, tinham sido dias difíceis, assistindo o seu povo se dividir, os que apoiavam o 'sim' e os que queriam o 'não' sempre discutindo, e as pesquisas nunca davam uma grande diferença entre os dois, então, podia dar qualquer coisa. Seus dramas internos tinham chegado em seu ápice hoje, no domingo das votações do plebiscito.

Afinal, como se não bastasse todas as suas preocupações, todos os Estados tinham invadi... hum... se hospedado na sua casa para ver os resultados, já que a possível criação de dois novos 'irmãos' interessava a todos. O problema era que Pará temia que o prédio acabasse caindo.

–Caaaara, essa é a geladeira mais completa que já vi!- disse a garota morena entusiasmada, com uma porção de embalagens na mão.

–Rio, de que deserto cê saiu?

–Do mesmo fim de mundo que tu!- respondeu ao ver que o rapaz não desviava os olhos do notebook um segundo sequer- Sai desse vício mané!

–Ei! QUEM FOI que fez um meteoro no banheiro? Eu não vou desentupir AQUILO! - Disse um rapaz com feições européias

–Caralh*! Já entupiram o vaso?! - A garota ruiva que parou no seu lado olhou com nojo para a porta do banheiro

–Aquele târ de "tucupi" num deve de ter descido bem em alguem...

–Qui bom qui eu num cumi, então... Mi disseram qui é veneno!

–Cala a boca aê! Ta na hora da novela! - Gritava um rapaz moreno do sofá

–Ta passando Vale a Pena Ver De Novo!

–E isso importa? É novela!

E o anfitrião observava tudo da sacada do apartamento, sem conseguir evitar um riso pela confusão da qual normalmente faria parte, por um lado... era bom tê-los aqui. Com esse pensamento, ele se ajeitou melhor na sua rede e voltou a olhar para a paisagem repleta de prédios, na qual, bem ao longe, se via um rio com águas marrons.

"Embarca, morena, embarca

Molha o pé mas não molha a meia!

Viemos de nossa terra

Fazer barulho na terra alheia!" (Festa de siriá e carimbó)

–Ei Pará! Tu tem Jesus aqui?- se aproximou o Maranhão da rede do moreno, com o calor ele estava acostumado, mas por que raios não ventava naquele lugar?!

–Não... tu sabes que não vende aqui- respondeu sem prestar muita atenção nele- mas eu tenho Garoto se tu quiseres

–Se é guaraná pra mim serve...- respondeu ele, mas ao invés de se afastar, o maranhense se aproximou do irmão. Apesar de não serem da mesma região os dois eram muito próximos, afinal, tinham sido companheiros de comércio desde os tempos de colônia, então Maranhão estranhou o comportamento do vizinho, todo aéreo como se sua mente não estivesse ali.

–Tu tá tão acomodado...- perguntou ele, apoiando-se na rede em que descansava Pará- o que foi?

O mais velho olhou para o irmão e ficou calado por um bom tempo, como se decidindo se poderia ou não falar o que lhe incomodava, mas Maranhão era teimoso feito uma mula e Pará sabia ele não lhe deixaria em paz se não dissesse. Por fim, deu-se por vencido.

–Só se tu prometer que não vai rir de mim.

–Não sei não... sou teu irmão, vivo pra rir de você!- brincou o garoto, que só recebeu um olhar mortal de Pará- Brincadeirinha! Tá, eu prometo. Credo, desde quando tu é aziado desse jeito?

–É que eu to num dia ralado...

–Reparei! Tu é sempre todo forte e metido a um barraco, e agora tá aí caladão e no mundo da Lua, parece até que ta filosofando- disse Maranhão sem rodeios- que problema é esse que conseguiu derrubar o nosso grande Pará?

A terra do carimbó se surpreendeu com o chute certeiro da terra do bumba-meu-boi.

–É verdade, estou mesmo filosofando- disse Pará- sobre esse plebiscito.

–Aaaah e qual é o problema?- perguntou o garoto- tu não vai desaparecer nem nada, claro, vai perder certo dinheiro e poder... mas desde quando tu liga pra isso, piqueno?

Pará sabia que "pequeno" nas terras dele significava 'colega' ou 'amigo', mas ainda assim a palavra só piorou a sua situação.

–Não... é isso... bem, mais ou menos- continuou- eu tava pensando, eu sempre fui o "grande Pará" certo? É dessa forma que todo mundo me vê, égua até eu me vejo assim! é minha identidade. Se... eu for dividido, eu vou perder tudo o que eu sou...

"Quem vai ao Pará

Parou

Tomou açaí

Ficou" (Vai ao Pará parou)

...E Maranhão bate a sua testa -Marrapá, não sabia que tu era tãaaao abestalhado assim!

–Abestalhado?!- disse o paraense sentando-se abruptamente na rede

–É! e além de abestalhado ainda é qualira(gay)! Doido, só pra começar, de onde tu tirou que tu só é conhecido pelo teu tamanho?- e assim começou o sermão de Maranhão- tu pode perguntar pra qualquer um daqui, podem falar do açaí, da castanha, até da floresta mas... do teu tamanho? Ficou louco? Isso não vai mudar quem você é.

Ele deu uma pequena pausa mas como Pará não parecia conseguir dizer nada, continuou.

–Então põe nessa tua cabeça que território não tem nada haver com identidade, é a sua cultura e tradições, ESSE é você. Se o Pará deixar de ser a terra do açaí e do carimbó, se deixar de ter um povo que diz "égua" o tempo todo, aí tu pode vir me dizer que perdeu a tua identidade.

Pará expirou como se estivesse prendendo a respiração todo aquele tempo, ainda refletindo, o mais velho voltou a olhar a paisagem de sua cidade.Maranhão tem razão... é claro que tinha, seus irmãos pareciam sempre acertar em cheio quando se tratava de assuntos como aqueles.

–Mas cê é mesmo folote(frouxo) hein Pará?- disse uma voz que até então os dois Estados não tinham reparado estar ali.

–AMAZONAS?!- gritou Pará se levantando bruscamente da sua rede.

Eis ali a última pessoa que ele queria que soubesse... a morena que aparecia no vidro da sacada com um sorriso travesso no rosto.

–Quem diria que 'o maioral' aí ia fazer todo esse drama existencial- disse Amazonas- mas também, o que esperar de alguém com um coração de menina?

–Tu nunca vai parar de me azucrinar por isso, né?- disse Pará, para logo depois sorrir com arrogância- mas não me importa se eu tenho 'coração de menina', já que o meu coração ainda é a metrópole da Amazônia. E não teve Zona Franca que conseguisse mudar isso!

–Ah cala a boca!

Maranhão, de repente deixado de lado, sorriu com satisfação. Tudo tinha voltado ao normal.

"Belém, Belém, menina morena

Vem Ver-o-Peso do meu cantar

Belém, Belém, és minha bandeira

És a flor que cheira no Grã-Pará..." (Flor do Grã-Pará)

Algumas horas depois, muito da cobertura do Pará já tinha sido quebrado ou estragado, seus vizinhos estavam loucos, reclamando da bagunça e interfonando o tempo inteiro, com certeza ele teria que achar um outro lugar pra morar, mas na verdade ele já esperava por isso...

–O que isso quer dizer?!

–C-calma Brasília!- Goiás tentando acalma-lo.

–Calma?! Eram documentos importantes!

–Ué, então por que cê esqueceu?- São Paulo não perdeu a chance.

–Er... bem...- A encurralada capital virou a cabeça de um lado para o outro tentando achar uma saída quando os dois do Norte e o nordestino entraram na sala- Pará!

–Parar o que?- perguntou Mato Grosso, que tinha acabado de chegar, mas foi ignorado.

–Mande um recado para o seu chefe, sim? DIGA PRA ELE NÃO CONTRATAR INCOMPETENTES NA SECRETARIA DO ESTADO!- gritou Brasília ao ficar frente a frente com o dono da casa.

–Acalma-te tche!

–Capitar, ainda achô qui há di ter sido um regionalismo...

–É por ter tantos incompetentes que esse país não vai pra frente!

–Tu sabe que tá se incluindo nessa, né Sampa?

–Ei! To tentando ver a minha novela! Será que dá pra CALAREM A BOCA?

–Cê já viu mermo...

–Peraí -disse o anfitrião fazendo um sinal de 'tempo' com as mãos- tu num me dê uma mijada (sermão) sem eu nem saber o porque!- reclamou com a capital

–Eu liguei para a sua Secretaria -disse Brasília respirando fundo para se acalmar- para que eles me enviassem os documentos dos possíveis novos Estados, perguntei quando iria chegar e o atendente me disse... disse QUE CHEGARIA DEPOIS DA CHUVA! EU LÁ SOU HOMEM DO TEMPO PRA SABER QUANDO VAI CHOVER!

Um instante de silêncio entes que as risadas de Pará enchessem a sala.

–Aaaaah é só isso? Relaxa capital, vai chegar no fim da tarde.

–No fim... da tarde?

–Hahahahaha e no final tudo foi culpa dos dizeres estranhos desse idiota!- riu Amazonas

–Olha quem fala! E não é minha culpa se chove todo o dia na mesma hora!

–i eu num disse qui era regionalismo?

–Cara, sua chuva tem hora?!- disse um incrédulo São Paulo- depois eu que sou o certinho desse país...

"Aloê Oleleô

Eu vou falar com meu bem

Depois da chuva que cai

Todo o dia em Belém" (Depois da chuva)

A chuva já tinha acabado quando saiu o resultado das apurações, todo o Brasil estava aconchegado na sala, atentos a televisão. Pará estava sentado ao lado de Amazonas e Maranhão, que tinham se posicionado ali propositalmente devido ao que acontecera horas atrás.

"Eu ouvi...

O grito do Juruparí...

O dono da casa agradecia o esforço dos dois, pois apesar de ter tido seus problemas existenciais resolvidos, seu orgulho seria massacrado se ele fosse "trocado" por seus próprios habitantes, seu próprio povo...

Na febre, o cansaço... a dor...

Lutei sem cessar e consegui

Pará tomou um susto quando Rondônia pôs a mão em seu ombro, por trás de si, e ao lado dele estavam Amapá, Acre, Tocantins e Roraima -seus irmãos- dando um apoio silencioso. A terra do açaí sorriu, não importava o que acontecesse, ele não estaria sozinho.

–Então com 66,08% dos votos válidos, o resultado é...

Hoje tenho certeza... de mim

Não para a criação do estado de Tapajós e com 66,59% Não para a criação do estado de Carajás.

Mas eu sei que não vou demorar

Nas florestas do além-habitar

E pisando esse chão quero estar

Quando Deus resolver me chamar"

"Sou filho do Norte, sou forte

Eu piso este chão com amor

Sei que a minha sorte é a morte

Sou caboclo e não sei o que temor" (Alma cabocla – Eduardo Dias)

–X-

Fala povo liiiiindo!

Essa minha primeira fic de Hetalia, e por consequência também dos Estados. Já tinha vontade de escrever algo dos Estados há muuuuuito tempo, desde que me viciei neles!

Já que sou uma paraence apaixonada por sua terrinha, é claro que eu TINHA que escrever sobre o Pará, né? Além de que as dúvidas dele se assemelham as minhas na época do plebicito...

Então, gostou? não? críticas construtivas?

Kiss


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