Sempre fui julgado pelas minhas ações, pelos meus erros. Mas isso nunca teve um grande peso na minha consciência, porque eu nunca me importei. Geralmente as pessoas que faziam isso eram completamente insignificantes. Dessa vez é diferente, porque é com alguém que eu morreria para salvar. Alguém para que vale a pena mudar, mesmo que seja impossível deixar de ser o que sou.

Era ela. A garota dos sonhos. A escolhida. A amada. Mulher que eu casaria. Poderia dizer inúmeras características para descreve-lá. Mas prefiro encurtar tudo em uma palavra: Perfeita. Elena é a minha perfeição. A cura de todos os meus problemas, das minhas idiotices e da minha dor.

Aquela simples garota com os cabelos voando pela ventania, com os olhos lindos e recheados de pureza agora estava repleto de ódio e tristeza. Aquela boca perfeita, que antes tinha uma delicada curvatura permitindo que seus dentes aparecessem, agora estava quase soltando um grito de terror.

Eu poderia dizer que eu a amava, que daria meu coração para ter aquele lindo sorriso de volta. O sorriso que me cercou durante tanto tempo... O sorriso que talvez nunca ganhasse de volta, poderia nunca mais ser direcionado a mim.

—Você não é real! Isso não é real! -Elena gritava sem parar. Aquela voz era delicada até quando estava apavorada. 

Então eu percebi que se estivesse no lugar dela, também ficaria com medo. Mas o que Elena não sabe é que isso dói. Dói saber que ela preferia que eu não fosse real, nem meu amor por ela. E dói saber que ela esta chorando, gritando comigo porque meu corpo estava manchado de sangue que eu mesmo derramei. Sangue que não pertencia a mim e eu deveria ter para sobreviver. 

Por décadas eu derramei sangue para viver e não parei para pensar no que poderia causar, no estrago que eu poderia fazer. Elena já não chorava mais, mas ainda estava horrorizada com a cena que viu. Ela ainda não sabia que eu era um vampiro, não sabia quem realmente esta dentro de mim. A merda que eu sou. Acho que ela sentia nojo de me ver. 

Poderia fugir ou força-lá a esquecer (o que eu tive que me obrigar umas vinte vezes para não fazer isso), mas eu não conseguia. Olhar para os olhos dela e ver que eu sou um monstro. Um animal. 

Então antes que eu tentasse explicar, se é que isso é possível, ela correu. Correu o mais rápido que pode. Algo que era inútil. Se eu quisesse, conseguiria alcançar em segundos. Mas o que isso iria adiantar? Elena só ficaria com mais medo de mim. 

Pensei em fazer o que seria sensato no momento, ou seja, não fiz nada. Fui para a minha casa. Deitei na cama e tentei relaxar, não funcionou. Lembrei de Elena e de seus olhares. Agh isso me torturava! Não ia agüentar ficar sem ela. Não! Eu já teria a eternidade para vagar sozinho por ai, mas a única vez que eu tenho a oportunidade de amar alguém, não poderia deixa-lá ir. Não sem ao menos tentar.

Resolvi então ir até a casa dela, desci as escadas e abri a porta. Mas isso não foi necessário. Ela já havia vindo ao meu encontro, seus dedos estavam quase se encostando à campainha e Elena deu um pulo quando eu abri a porta. 

Olhou para mim, desconfiada e menos assustada que antes. Estava mais fria do que antes.

—Tens uma chance de explicar. Ou então vai me perder de vez e eu nunca mais vou querer ver você. –Elena impõe e fica batendo o pé no chão, impaciente. -E o seu tempo esta passando.

Ela fica tão linda estressada. E como ela era confiante... Chegar à casa de um assassino desse jeito. Ah era por isso que eu a amava!

Como eu iria explicar para ela o que eu sou. “Sou um vampiro que mata para sobreviver. Não tenha medo de mim, eu só tenho quase dois séculos. Já perdi as contas de quantas vilas eu devastei, quando eu nasci, nem sua bisavó era nascida. Não vou te machucar. Ah, e já mencionei que você é exatamente igual a minha ex-namorada vampira?”

Não tinha como explicar para ela. Foi ai que eu percebi que Elena não queria explicação nenhuma. Minha amada só queria saber se os meus sentimentos por ela eram reais. Se eu a amava o tanto que ela me amava.

Eu me aproximei dela e nossos lábios se juntaram e nos beijamos de uma maneira agradável. Nada mais foi necessário para me fazer feliz. Porque quando ela olhou para mim de novo, eu vi aquele sorriso que só ela tinha. Aquele que me faz enlouquecer.