Capitulo sete.

Acordei com um facho de luz na minha cara.

Enfim quarta feira. Hoje seria a prova do vestido com a Cenoura.

- Vou matar o Percy.

Andei em passos longos até o banheiro pronta para fazer a minha higiene pessoal.

 

- Se comportem!- exclamou Percy depois de sairmos da casa.

E fomos em direção ao carro preto que nos esperava. Não que eu tenha muita experiencia com carros, mas aquele era do tipo bem caro.

- É bom que eu volte viva, se não te assombro a sua vida inteira- sussurrei para Percy enquanto Rachel entrava no carro.

- Relaxa Sabidinha, como diria Shakespeare, "tudo dá certo no fim"- inventou ele.

- Percy, me avise quando for falar algo tão idiota assim da próxima vez que eu me preparo antes.

- Mas tudo deu certo no fim dos seus filmes!

- Percy, eram livros e se você considera a morte dos protagonistas algo "certo", pelo amor de Deus, Percy, aproveite e vá ler um de seus livros!

Ele riu e atrás de mim pude ouvir Rachel reclamar.

- Ainda temos que dar carona as madrinhas, ficaria feliz se se apressasse, querida- disse Rachel tentando (sem muito esforço) parecer gentil ou não tão falsa.

Me dirigi até a porta da limusine e acenei discretamente para Percy.

Quando o carro começou andar Rachel se virou para mim com o seu melhor sorriso falso.

- Então você conheceu Percy- disse Rachel como se fosse algo que ela não queria saber a resposta.

- Sim?- disse num tom obvio.

Meu celular apitou e tremeu anunciando que eu havia recebido uma mensagem.

"Sinto muito não poder me despedir, sei que o seu dia será corrido hoje, vou tentar te encontrar a noite.

Charlie."

- E vejo que também já reencontrou meu querido irmão- disse ela com descaso.

- Sim, eu vi Charlie- respondi pensando em como seria o relacionamento dela com o irmão. Nunca tinha pensado nisso.

- E vocês andaram transando.

Eu quase me engasguei com a minha própria saliva depois da afirmação da Cenoura.

- Oi?

- Ele me...- Ela hesitou em continuar- Ele sempre se sente mais... Eu vi como ele ficou mais "alegrinho", se me entende, quando você apareceu na sala ontem de manha.

Fiquei me perguntando se era realmente comum irmãs observarem os instrumentos reprodutores dos irmos ao ver a sua ex namorada se aproximar.

- Nossa...

- Imagino que com isso você tenha se afastado de Percy...

E então a compreensão me preencheu. Rachel tinha manipulado tudo aquilo. Ela sabia que Charlie reagiria assim ao me ver novamente e usou a situação para mim me afastar de Percy. Vadia.

- Escuta aqui sua vagabunda, se você acha que vai me afastar de Percy usando seu irmão com o quíntuplo de atrativos que você, desculpe, mas está enganada.

- Desculpe, o que disse?- perguntou ela a contra gosto, tentando se controlar.

- Isso mesmo o que você ouviu- disse decidida- Você não pode e não vai controlar a amizade com o meu melhor amigo. Pode ser um choque, mas ele já me pediu em casamento antes mesmo de te conhecer.

Claro que isso não tinha realmente acontecido, mas não era uma "mentira completa". Quando nos conhecemos eramos tão próximos que nos nomearam o casal de noivos do sexto ano e tivemos que nos "casar" numa cerimonia caipira da escola. Concluindo que eu e Percy eramos, de certo modo, noivos a mais tempo.

Por outro lado Rachel engoliu a raiva e se virou para frente.

- Acho que ainda não se recuperou da produção oferecida por mim no quarto ano?- provoquei.

- Não vai estragar o meu casamento, você não significa nada para Percy- disse ela tentando controlar a voz, mas aquilo parecia soar como uma pessoa sem autoestima tentando se consolar e o que devia sr uma afirmação pareceu uma duvida.

- E então eu não deveria estar aqui, com tudo pago por ele. Quero dizer, ele já pagou uma vigem na primeira classe para você? Não que eu não tivesse condições (e nós duas aqui sabemos que eu tenho)- disse sentindo a necessidade de esfregar na cara de pato dela tudo o que eu sentia.

- Ele nunca... Ah, você não vai me fazer cair em seus joguinhos ridículos

O carro parou e uma garota incrivelmente problemática de tão feliz entrou no carro e depois mais uma e mais outra, distraindo Rachel.

 

Foi uma mistura de idiotice com felicidade. As madrinhas de Rachel não paravam de comentar o quão linda ela supostamente estava no vestido branco-quase-rosa que ela usava que nem perceberam quando eu provei o vestido de dama de honra do outro lado da loja.

Me olhei no espelho e não conseguindo evitar, chorei silenciosamente sabendo que aquela seria uma produção para o ninguém. Luke, meu "noivo" gay? Não, ele não me amava e eu também não. Charlie? Não, tudo não passou de um contato físico, eu não o amava e ele não tinha a intenção de aprofundar o sentimento. E tinha Percy.

Ah Percy, porque logo você?

Este sim eu amava de verdade e queria que ele sentisse o mesmo. Mas não. Afinal era para o seu casamento que eu estava me vestindo. Eu havia o perdido.

Me joguei no chão sem me importar muito com o vestido ou com a maquiagem já borrada.

Do que adiantaria confrontar Rachel se ela mesmo já havia ganhado?

- Senhorita? Tudo bem?- perguntou a mulher que me atendia abrindo uma frestinha do cortinado.

- Eu... Euacho que...

Ela ignorou a minha gagueira e abriu o cortinado, depois fechou-o assim que entrou. A morena se ajoelhou ao meu lado e começou a acariciar meus cabelos.

- Me chamo Silena, o que está acontecendo, querida?

Ela parecia ter a minha idade, talvez um ou dois anos mais velha, mas era sem duvida, uma das mulheres mais lindas que eu já vi.

E depois de um surto de depressão, decidi despejar toda a minha "historia de amor" ao estilo drama.

- Sou apaixonada pelo meu melhor amigo que se casara em menos de um mês com a garota que eu mais odeio na face da terra e irmã do cara com quem eu transei a um dia atras e pra ajudar, espalhei ser noiva de um cara que na realidade é gay.

Silena ficou parada por um minuto digerindo a grande bosta que eu deveria chamar de vida.

- Isso daria um ótimo romance- disse ela escolhendo as palavras com cuidado.

- Talvez, mas não ajudaria o fato de ainda estar apaixonada.

Ela riu e seus olhos azuis encontraram os meus através do espelho.

- Se apaixonar não é algo tão ruim assim, eu mesma estou apaixonada!

Eu olhei o anel dourado em sua mão e conclui que ela era casada.

- Ele também era o meu melhor amigo, claro que ele não ia se casar, mas eu consegui o conquistar de vez.

- Mas você é linda, isso não seria tão difícil.

- Você é linda também, na verdade eu não consigo entender o motivo de tanta agonia, ele deve estar "caindo" por você.

- Não, ninguém está "caindo" por mim.

- Se serve de consolo- ela disse se levantando e ajeitando a sua roupa de atendente-, se eu fosse um homem ou lésbica, estaria tentando te agarrar agora.

Eu ri e ela me acompanhou.

- Seu sorriso é lindo e garanto que entre todas, ele é a sua melhor arma.

Eu a acompanhei com o olhar quando ela foi ate o cortinado e saiu.

- No fim tudo vai dar certo, garanto- ela disse antes de dar uma piscadinha e sair.

 

Rachel e as madrinhas decidiram comer em um restaurante metido a besta e caro, e como não estava para isso, fui até o centro da cidade e me contentei com um cachorro quente.

Ainda estava pensando no que Silena tinha me dito. Talvez eu devesse mesmo continuar a tentar seduzir Percy, mas depois de dez anos tentando e nunca tendo resultado, você acaba desanimando.

Talvez fosse parte do meu destino ser uma velhota solteirona que iria todas as tardes para a praça da cidade alimentar os pombos e passear com seus vinte e dois gatos. Mas nada contra gatos. Eles não me trocariam por cenouras, porque gatos não comem cenouras.

- E a senhorita me permite?- perguntou um homem atrás de mim.

Era só o que faltava. Mais um na minha vida?

- Desculpe, o que?

- Me acompanharia na minha digestão?- perguntou educadamente.

Me virei para trás e me deparei com um homem alto, meio branquelo e magro demais com uma camisa polo vermelha e calça jeans e com o rosto marcado por uma cicatriz.

- Luke!