Noite De Verão escrita por Bea


Capítulo 1
Capitulo Unico


Notas iniciais do capítulo

Antes que lessem, gostaria de pedir um favor um tanto estranho: Me critiquem!
Por favor. Nada de "nossa, que merda", mas digam o que não gostaram e aquelas coisas de sempre.
Obrigada.



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Andava apressada enquanto se enrolava abraçada ao seu enorme casaco. Abriu a porta e se colocou para dentro do local. Sentiu que havia pares de olhos fitando-a, mas não os encontrou. Sentou-se sozinha em uma mesa ao fundo.

Abriu o cardápio e escolheu por qualquer coisa. Olhou para a bolsa em seu colo e logo retirou dela seus fones de ouvido. Adentrou no universo de Capital Inicial enquanto apenas o seu suco de laranja estava em sua mesa.

– Posso me sentar com você? – Uma voz perguntou, mas ela mantinha os olhos fechados enquanto tudo que ouvia era Birdy. Ele sentou-se. - Olá. – Disse e estralou os dedos para chamar a atenção dela.

Em um pulo ela tirou um dos fones.

– Ahn, oi.

– Desculpa ir sentando assim, você não estava ouvindo. – Explicou. – Você se importa?

– Claro que não. – Ela engoliu em seco. Pegou seu copo na mão e deu dois longos goles. – O que te traz aqui?

Ele deu um meio sorriso pra ela e riu. Jogou os cabelos para trás e esperou a reação dela. Ela piscou algumas vezes.

– Você é louco? – Perguntou colocando seu copo na mesa. Fez o sorriso dele se desmanchar.

– Ah, tudo bem... Você não se lembra mesmo. – Ele se levantou e voltou para sua mesa.

Incrédula, se perdeu em pensamentos até ouvir o barulho de seu prato ser colocado na mesa.

– Obrigada. – Disse ao garçom.

Aumentou o volume do fone, sonhando com o doce piano da Valsa pra Lua. Demorou para começar a comer, não parava de olhar para o cara que havia sentado em sua mesa. Pegou um guardanapo e fez uma das coisas mais idiotas que poderia.

O garoto se assustou quando um papel atingiu seu rosto, pegou-o nas mãos e desdobrou. “Quem raios é você? Eu... Te conheço. Enfim, apenas me explique logo. Vou te esperar em algum banco na praça qualquer dia desses, me procure”. Ele deu uma risada e olhou para a mesa dela, entretanto ela já tinha deixado o estabelecimento.

Aquela noite os dois tiveram uma forte insônia e mal dormiram. Ao amanhecer do outro dia ele já estava de pé, bagunçou os cabelos e saiu de casa. Deu algumas voltas pelo bairro e a viu perto de algumas árvores, um sol fraco batendo. Um dia raro naquela temporada fria: o clima se matinha um pouco ameno.

Ela segurava uma garrafa com água e tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo. Caminhava logo cedo. E depois de um longo gole sua boca secou ao ver o rapaz se aproximar.

– Bonjour. – Disse timidamente. – Seu sonho ainda é aprender francês?

– O que você sabe sobre mim? – Disse ela irritada dando as costas para ele. Caminhou até um banco qualquer e se sentou. Ele a acompanhou.

– Vamos outra vez. Bom dia.

– Eu não achei que viria mesmo. - Ela suspirou.

– O que você sabe sobre mim? – Riu ele. Ela fechou a cara.

Um silencio veio junto com um vento gelado. Ela cruzou os braços.

– Ainda gosta que te chame de Ana Bastos? Continua tendo frescura em relação ao seu segundo nome? – Ela continuou em silencio. – Não vai conversar comigo Ana Beatriz Bastos? – Provocou.

– Porra, é difícil falar Ana sem falar o resto dessa merda? – Reclamou.

Ele riu um pouco mais.

– Ainda é brava. – Colocou uma das mãos em seu bolso. Tirou um colar com um delicado pingente de tartaruga. Deixou-o dentro de seu punho fechado antes que ela pudesse notar que ele segurava algo. – Passou para advocacia, como sempre sonhou? Ou devo dizer, como sua mãe sempre sonhou?

– Não, passei em Letras. – Ela pareceu cuspir as palavras e depois bufou. – Me fala logo o seu nome e de onde eu te conheço! – Berrou.

– Como sabe que me conhece? – Perguntou ele.

Mais um momento silencioso se seguiu até ela conseguir responder algo.

– É, você tem razão. Eu não te conheço. – Ela mantinha seus olhos vidrados no outro lado da rua, como se houvesse algo muito interessante, porém era apenas medo de encarar os olhos dele e perceber que aquela cor amêndoa da íris dele já tinha aparecido em algum de seus estranhos sonhos, ou mesmo em algum de seus textos sem pé nem cabeça.

– Sua banda preferida ainda é Soad? Seu pintor preferido ainda é Picasso? Agora que você não tem mais aulas de química os devaneios acabaram ou você esta tendo um agora mesmo? – Ele fez perguntas sem parar, ele sabia muito sobre ela o que a mantinha assustada.

– Ah, o que você disse? Não estava prestando atenção. – Respondeu ela.

– Já respondeu a última pergunta. – Ele riu.

– Você caiu, bobinho. – Agora ela quem riu. Estava tentando se equiparar a ele, não queria ficar pra trás nessa brincadeira. – Vamos, diz logo quem é você!

– Ah, se eu disser quem sou a conversa vai se limitar a isso e você vai embora, como da outra vez. – Isso a fez perder o fôlego. – Tenho saudades daquela noite.

“Noite? Que noite? Será que eu me droguei e transei com esse pedófilo? Ai meu deus!” Sua cabeça latejou e teve medo que sua memória voltasse naquele momento.

– Eu vou pra casa. Adeus. – Ela disse se levantando, mas ele a segurou pela camiseta branca.

Os olhos dela olharam para o brilho no olhar dele, parecia um cãozinho fazendo cara de triste.

– Eu to precisando de algo como aquilo de novo. – Ela engoliu em seco ao ouvir. - Você ainda é capaz de ser aquela garota?

– Não, não sou cara. Me larga! – Disse ela batendo na mão dele que segurava sua camiseta. – Me deixa em paz. – E deu as costas.

– Ana! Ana volta aqui! Ana! – Ele saiu correndo atrás dela e a abraçou pelas costas. – Por favor, eu não quero nada demais de você, vamos nos divertir como da última vez!

Ela se debateu em seus braços desesperadamente, tinha medo, tinha ódio, mas ela não conseguia se lembrar de ter feito qualquer coisa com aquele cara.

– Olha, se eu fiz burrada com você quando era mais nova, eu não vou fazer de novo. Eu não vou ir pra cama com você! – Disse ela rangendo os dentes. – Agora me larga.

Ele a soltou e começou a rir.

– Não lembra mesmo do que aconteceu, né? Nós não fizemos nada, ta tudo bem! – Ele deu um leve sorriso pra ela.

– Mas... – Ela gaguejou e ao mesmo tempo suas bochechas viraram tomates. A risada dele era encantadora. – Bem... Eu pensei que...

– Ta tudo bem, Ana. – Ele parou de rir por um instante. – Vem, vamos dar uma volta.

Eles começaram a andar um pouco pela cidade e novamente o silencio pairou no ar, mas nenhum dos dois estava incomodado com isso. Apesar disso Ana retomou a conversa.

– Eu dei um tempo em musicas como as de System of a Down. Tava procurando umas melodias com piano nos últimos meses. Mas eu ainda tenho os CD’s, as camisetas, colares, bottons e tudo que eu encontrava sobre eles.

– Ah, fala sério, eu tenho certeza que quando você não ta bem fica ouvindo escondida! – Brincou ele.

– Você é sempre idiota assim? – Perguntou ela rindo.

– Só nos tempos livres.

– E quando não está livre é o que?

– Sou filho de família mineira, sou um amante de números e um humilde Chefe de Cozinha. – Respondeu.

Os dois pararam por um momento. Ana não conseguia mais se controlar e finalmente indagou sobre o assunto.

– Se... Bem, se não dormimos junto, o que raios fizemos na tal noite? – Sua voz foi sumindo no meio da frase e as últimas palavras quase não foram ditas por ela.

– Ah, Ana. – Ele suspirou. – Era seu primeiro ano do ensino médio, você tava fugindo de alguma festa de quinze anos idiota naquele verão, se escondeu em um telhado da vizinhança. Eu tava mal por causa de uma garota ai e sai pelas ruas com uma garrafa de vodka na mão. Não demorou muito pra nos encontrarmos. – Ele olhou nos olhos dela e ela desviou o olhar. Um suspiro da parte dele. – Bom, a gente começou a beber, cada gole que se dava tinha que contar alguma coisa da sua vida. Você falou como sobre ser foda ter mudado pra uma escola só de mulheres, eu contei como era a sensação de ser traído, você falou das brigas com a sua mãe por causa da sua carreira e eu falei de como o primeiro ano na minha faculdade tava sendo uma merda. Depois de reclamar de tudo que podíamos começamos a falar sobre vários assuntos.

Ana cruzou os braços, ficou de bico e segurou pra não chorar de fúria.

– O que há com você?

– E por que você lembra e eu não?

– Ah... – Ele tentou segurar, mas a risada escapou. – Quando te encontrei o efeito do que eu tinha bebido estava passando. E a hora em que estávamos bebendo... Eu meio que não queria esquecer o que tava acontecendo. Só colocava a garrafa na boca e não bebia nada. Você virou aquela garrafa sozinha, deve ter passado por uma ressaca horrível ou mesmo vomitado horrores. Mas eu não te conhecia o suficiente pra arrancar a garrafa da sua mão e evitar isso.

– Ta, então eu te conheci anos atrás, você me embebedou, eu não lembro de nada e só? Ah, cara, fala sério. – Ela descruzou os braços e o encarou por um instante.

A cidade ficou silenciosa naquele momento, uma brisa leve balançou os cabelos dela e ele se perdeu na imensidão azul dos olhos dela. Mal notaram quando seus corpos se aproximaram e conseguiam sentir a respiração um do outro. Seus lábios se encostaram timidamente, e um calor intenso foi passado por aquele toque. Eles se afastaram, notando o que tinham feito. Ela cruzou os braços novamente e passou a olhar para o chão. Ele suspirou antes de dizer uma última coisa.

– Ta bom, eu admito. Rolaram uns beijos. – Ele disse. – Tava com saudade do seu toque também.

– Ah, era só isso o tempo todo. – Ela pareceu entender tudo naquele momento. Mas estava entendendo tudo errado.

– Não era só isso, Ana. Se fosse... – Ele fez uma pequena pausa. – Cara, você pediu pra ir pra minha casa e depois dormiu nos meus braços! Eu podia ter feito o que eu queria, garota! Cara...

– Ta tudo bem. – Refletiu por um momento. – Não tem problema. – Disse dando as costas.

– Ana... Ana, não fica brava!

– Eu não estou. – Ela disse alguns passos já adiante. Ele deus alguns também para ela não se afastar muito. – Parece que fomos um caso de verão. Ao menos saímos do clichê: Amor de verão. – Ela deu um riso triste.

– Ei, Ana, ainda quer saber meu nome? – Ele fez uma última tentativa.

– Não. – Respondeu sem pensar duas vezes. Mantendo seu andar calmo ela apenas continuou a frase. – Se disser seu nome a conversa acaba. Talvez a gente se cruze por ai um dia desses. – Ao terminar de dizer, outra vez a brisa passou, bagunçando seus cabelos.


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