P.O.V Peg

Acordei com a cabeça latejando, sem ser capaz de lembrar o que aconteceu nas últimas horas. Minha cabeça doía muito, mas pude perceber que estava deitada e que havia mais alguém comigo.

– Quando ela vai acordar? - reconheci a voz de Jamie, com um tom preocupado.

– Não sei, mas não devia estar demorando tanto. - a voz de Melanie respondeu. - Acho melhor você não estar aqui quando ela acordar. Deve ser demais para ela. - completou mas sua voz estava mais distante, ela não falava mais com Jamie.

– Tudo bem. Só me avise quando ela acordar. - Ian. Era a voz de Ian, do meu Ian. Porque Melanie estava mandando-o embora?

Então tudo voltou como flashes à minha cabeça. A imagem de Ian jogado aos meus pés, sangrando... Meu Ian. Não aguentei e soltei um soluço agudo, enquanto lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos ainda fechados. Jamie e Mel vieram ao meu encontro e Jamie me abraçou forte, enquanto eu encharcava sua camisa com meu choro. Logo me acalmei um pouco, absorvendo o carinho do abraço de Jamie e o conforto das palavras de Mel, que acariciava minhas costas. Quando meu choro se tornou apenas em lágrimas silenciosas, me afastei do colo de Jamie e olhei para os dois seriamente.

– Onde está Ian? - perguntei com a voz um pouco trêmula.

– Precisamos conversar, Peg. - Mel disse séria. Olhei para Jamie e ele tinha o semblante preocupado.

Olhei em volta e só então percebi que estava no hospital, Jared, Doc, Aaron e Brandt estavam na porta, parecendo montar guarda. Essa visão me assustou um pouco e eu tremi.

– Peg... - a voz de Melanie me tirou de meus devaneios. - Você lembra o que aconteceu ontem?

– Ontem? – perguntei, confusa. - Dormi por quanto tempo?

– Quase um dia inteiro. - respondeu Jamie - Estávamos preocupados.

– Lembra-se ou não? - Mel retomou o assunto com a pergunta.

E as lembranças vieram como uma enxurrada de dor novamente. Lágrimas encheram meus olhos e voltaram a escorrer e eu voltei a liberar soluços por meus lábios. Incapaz de responder com palavras, apenas assenti. Jamie voltou a me abraçar, agora menos forte. Mel esperou eu me acalmar para voltar a falar.

– Ian e Cal foram baleados e os ferimentos foram... Graves. - ela fooi direto ao ponto. Soltei outro soluço e fechei os olhos. - Nate ficou desesperado e quase nem pensou antes de agir... - completou.

– O que quer dizer? Não entendo - falei, ainda mais confusa.

Ela me olhou com cautela antes de continuar.

– Quando Jared começou a tentar tirar a bala do peito de Ian, Nate apareceu com Cal nas mãos e colocou-o dentro de seu corpo enquanto Jared curava o ferimento.

– Como? - indaguei, sem conseguir acreditar no que estava ouvindo.

– Jared conseguiu tirar a bala do peito de Ian, mas ele não acordou. Ainda estava vivo, mas não consciente. Então Nate apareceu com Cal e fez tudo tão rápido que não fomos capazes de impedi-lo. - ela me explicou calmamente, com medo de minha reação.

– Cal está no corpo de Ian. - murmurei baixinho. Não soou como uma pergunta.

– Sim. - confirmou Jamie, a voz ainda mais baixa que a minha.

O que isso queria dizer? Ian estava... morto? Não. Isso não.

Eu precisava vê-lo, falar com ele, ter seus braços à minha volta, mas nada disso seria a mesma coisa se não fosse Ian a fazê-lo. Coloquei a mão na cabeça, de repente me sentindo tonta.

Um sentimento terrível de culpa me invadiu. Era eu quem devia ter levado aquele tiro, não ele. Apertei meus olhos com força, tombando para o lado e sentindo os braços de Jamie me sustentando para que eu não caísse.

– Peg, escute... - chamou Melanie e eu lutei para manter-me consciente e ouvir o que ela tinha a dizer.- Eu, Jamie e Jared pretendemos sair logo em uma incursão para pegar um novo corpo para Cal.

Me acalmei um pouco com essa informação, mas não consegui ficar exatamente feliz, pois Ian ainda podia não acordar depois que Cal saísse de sue corpo. Não aguentei me permitir a essa ideia e as lágrimas voltaram a escorrer.

– Preciso vê-lo. - pedi, a voz baixa.

– Tem certeza? - perguntou Doc da porta - Acho que você deveria descansar um pouco antes de... - não o deixei terminar.

– Eu preciso vê-lo agora! - elevei o tom de minha voz, talvez ficando um pouco exaltada demais.

– Vou chamá-lo. - falou Jared, saindo em direção ao corredor. - Tem certeza de que está pronta para isso? - perguntou Mel, baixinho, perto de meu ouvido para que só eu ouvisse. Neguei com a cabeça.

Depois de alguns minutos, Ian - ou Cal - entrou seguido por Jared e meu coração se apertou ao olhá-lo e ver o feixe de luz prateado tão conhecido por trás de seus olhos, que outrora eram do tom azul que me mantinha nesse planeta. Nunca pensei que veria aquilo naqueles olhos.

– Oi, Peg. - ele disse e meu coração se afundou ainda mais. Era sua voz, mas não eram suas palavras.

– Oi... Cal. - respondi, meio relutante, a voz baixa e trêmula.

– Você está bem?

– Um pouco confusa... - e com medo, e despedaçada por dentro. Eu queria dizer isso, mas não disse. Não podia dizer. - E você?

– Me sinto estranho... Estava naquele corpo a tanto tempo... É difícil se acostumar. - respondeu, sorrindo um pouco. Aquele sorriso me deu vontade de sair correndo e me esconder em algum lugar, mas eu não podia fazer isso. Eu tinha que perguntar...

– Você... o ouve aí dentro? Como eu podia ouvir a Mel, quer dizer. Pode senti-lo de alguma forma? - perguntei, um pouco ansiosa demais.

– Sinto muito Peg... Não sinto Ian comigo e não senti em nenhum momento. - ele falou. Abaixei a cabeça e fechei os olhos, deixando as lágrimas rolarem soltas, marcando meu rosto, - Mas ainda é cedo. Quer dizer, estou nesse corpo há apenas 24h, pode ser que ele apareça em algum momento.

Em algum momento.

Quando, nem eu nem ninguém sabia dizer.

Assenti e me levantei, saindo do abraço fraco que Mel ainda me dava. Andei em direção à porta e vaguei lentamente pelos corredores escuros das cavernas. Parei só quando cheguei no quarto que outrora eu dividira com Ian. Fitei o vazio que era aquele lugar sem ele ao meu lado. Tudo era vazio sem ele. Saí do quarto e me encostei na parede áspera ao lado da porta, desejando que tudo isso fosse só um pesadelo e que eu acordaria com o meu Ian ao meu lado, me reconfortando.