O Retorno escrita por Isabela e Thaís


Capítulo 11
Capitulo 10




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Um pacificador me leva por algumas ruas, não me direciona uma palavra sequer, só me arrasta como se eu fosse só mais uma das milhões de pessoas que ele prende por dia, extraindo todas as suas esperanças de liberdade, mas não a minha. Sou esperta, sou forte, sei lutar mais do que imaginam. Costumam pensar que eu sou o cérebro e minha irmã é a força, mas ambas temos um pouco de cada, só que eu não costumo mostrar minha força e a impulsividade de Katherine faz não parecer que seja muito inteligente, mas é.
Eu não sei aonde estão me levando, se é uma prisão, um lugar qualquer escondido ou talvez um prédio abandonado com grades ao invés de portas. Mas sei que vão me prender, e sei que não importa onde seja, vou encontrar Rue e Finnick e dar um jeito de escapar. Ainda estou amadurecendo a ideia de atacar o pacificador com a faca que está no meu bolso agora ou quando chegarmos lá, mas acho vou ganhar mais se esperar para atacar, pois vou saber a localização e quando for embora posso achar Rue e Finnick e leva-los comigo.
Por um breve momento pensa isso vai dar certo, se as chances de conseguirmos são mesmo razoáveis ou são somente fruto da minha constante tentativa de otimismo, que anda falhando muito ultimamente. Um passo em falso e tudo pode acabar, Panem condenada a novos anos de ditadura, o pais novamente comandado por alguém que tem a frieza necessária para matar inocentes em uma arena. Não. Não posso me deixar acreditar nisso, a nossa derrota não é um opção, é fato pré estipulado. E não por o quão longe tenhamos de ir, que dê em guerra, que resultem algumas mortes, mas não deixamos alguém tomar conto de nosso povo e obriga-los a se matar mais uma vez. Eu não vou deixar
Olhar as ruas da Capital me lembram de minha infância... Mas eu devo esquece-la, não tive uma infância justa, não que houvesse alguma injustiça contra mim, mas sim contra as outras crianças que perdiam suas vidas enquanto eu era obrigada a assistir, mas o sangue frio jamais me contagiou, jamais contagiará.
Acho que já se passou algum tempo enquanto enchia minha mente de pensamentos, pois minhas pernas estão doendo e parece que chegamos ao nosso destino. Entramos em um edifício, não é novo como a maioria, a segurança já esta falha e a pintura descascando, fazendo os tijolos ficarem aparentes por trás da tinta branca. Entramos no hall do edifício e não há porteiro, nem decoração, não há nada além das portas de um elevador, não se parece com um prédio da Capital.
O pacificador entra comigo no elevador e entre os vinte botões ( um prédio na Capital só com vinte andares? ) ele aperta o numero dezoito e o elevador começa a subir, algo dentro de mim diz que devo falar alguma coisa, qualquer coisa:
– Para onde está me levando? – digo com a voz seca e encarando a porta do elevador.
– Você vai ver- diz ele, nunca tinha notado como a voz dos pacificadores fica abafada dentro do capacete, talvez porque nunca os tenha ouvido falar
– Isso não responde minha pergunta – digo com um pouco de raiva, quero que ele perceba que não vai ser fácil me controlar, quero todos, principalmente Plutarch, percebam isso. Mas ele não me responde e o silêncio permanece até chegarmos no décimo oitavo andar.


As portas se abrem e entramos em um corredor simples com duas portas brancas de cada lado, a pintura está como o lado de fora do prédio: descascando e deixando tijolos alaranjados a mostra. Ele tira uma chave do cinto e a coloca na fechadura da primeira porta a nossa direita que se abre sem esforço.
Fico atônita, o que é isso?.Eu fui arrastada por inúmeras ruas com algemas em minhas mãos esperando ser levada para uma prisão onde encontraria Rue e Finnick e ao invés disso sou levada para um apartamento residencial com vista para a cidade? Só pode ser brincadeira.
– O que? Você me algema e não me leva pra uma prisão? Ou isso aqui vai ser algum tipo de prisão domiciliar? – digo indignada, é bom não estar trancada em uma cela, mas sinto que isso não vai durar e eu queria encontrar meus amigos.
– Você ainda não é uma prisioneira de Plutarch, por enquanto – diz ele enquanto tira o capacete, seu rosto tem os traços duros, cabelo castanho escuro e olhos cinzentos que brilham como o mar em tempestade com raios, do tipo que fuzila alguém, mas que também podem ser reconfortantes.
– Eu sou Charlie, mas acho que você não se lembra de mim – diz ele
–Ahn... Eu sou...
–Alice, eu sei quem você é.
–Não tenho tempo para apresentações, Charlie – digo, seu nome me lembra alguém... – Se não vai me prender então, por favor, me leve até onde você me encontrou.
– Infelizmente eu vou te prender, só não vai ser hoje- ele é muito confuso, ele fala confusamente e percebo que é jovem, talvez da minha idade ou um ano mais velho
– Se vai me prender de qualquer jeito então me leve logo pra lá! O que viemos fazer aqui, afinal?- grito, isso já está me irritando.
–Alice, sente-se, eu sei toda sua história, e sei como tudo que está acontecendo é muito mais perigoso para você e Katherine. Você tem que me escutar.

* * *

Acordo com Katherine me chacoalhando
– Levanta projeto de padeiro!
– Ahn... O que...- olho o relógio em meu pulso – Katherine são cinco horas da manha, por que você está aqui?
– Ela não esta sozinha, Cinna, não me viu? – Diz Prim do fundo do lado de minha cama, as duas estão de pijama e com os cabelos bagunçados, mas mesmo assim Prim está linda.
– Ah, bom dia Prim – digo sorrindo, depois volto com minha expressão de sono – Ok, mas agora vocês podem me explicar por que estamos acordados as cinco da manha?
– Seu pai e sua mãe chegaram ontem e conseguiram trazer Haymitch, ele está bêbado, mas isso não é nenhuma surpresa, levaram ele para conhecer a sala de treinamento e ele desmaiou lá, bem, na verdade não sabemos direito se ele desmaiou ou dormiu... De qualquer jeito, estamos indo pra lá agora para dar um jeito de acordá-lo e vamos começar a treinar o mais cedo possível- explica Katherine
– Tudo bem, então vamos – digo, ainda meio inseguro com o fato de que teremos que acordar aquele que sempre dorme abraçado a uma faca.
– Tenho que chamar Alan, só um minuto- diz Katherine
– Devíamos chamar Lisa também, acho que seria bom se ela também fosse treinada caso alguém descubra nosso esconderijo e ela precise lutar – diz Prim, tomando cuidado com as palavras
– Lisa? Deixa aquela tonta cuidando dos feridos e pronto! Eu não vou treinar com ela – Diz Katherine com raiva
Quando Prim falou sobre alguém encontrar nosso esconderijo, perguntas se formaram em minha mente, e fico intrigado demais para não perguntar. Esse tipo pergunta eu faria a Alice, mas ela não está aqui, então vou arriscar perguntar a Katherine
– Katherine, sobre esse abrigo... Como vocês o acharam? Quem fez ele? Parece perfeito demais para a nossa situação, vocês que fizeram isso? – a última pergunta soa um tanto idiota, elas não teriam tempo de construir tudo em tão pouco tempo.
Ela me fuzila com olhos primeiro, hesita e então responde
– Esse abrigo é bem antigo, foram pessoas do distrito 1 que construíram, quando ainda haviam os antigos Jogos Vorazes. Quem construiu devia ter uma família grande ou muitos amigos, pois o quarto é grande tem vários beliches. Eles provavelmente viviam escondidos para não terem que participar dos jogos.
– E como vocês o encontraram? – pergunto
– O distrito 3 é bem perto daqui... nós andávamos na floresta e o encontramos, só isso – diz ela.
Não sei se foi o jeito como ela explicou essa historia ou as falhas em sua voz enquanto falava, mas algo me fez não acretidar em tudo que ela disse, mas prefiro não questionar, dizer a Katherine que ela está mentindo é a mesma coisa que se jogar de um precipício: Morte certa
Tento apressadamente mudar de assunto
– Então, vamos acordar Alan?
Prim fica parada ao meu lado e Katherine simplesmente se vira e puxa o braço de Alan do outro beliche, fazendo-o cair no chão e acordar com um susto, ele passa a mão na lateral do corpo, onde foi atingido ao ser atacado e jogado para fora da cama
– Katherine, isso doí – diz ele ainda com sono
– Estamos indo treinar, se você quer sobreviver ao próximo passo do nosso plano é melhor vir com a gente. As dores que você vai enfrentar vão ser piores do que cair de um beliche
– Eu durmo no colchão de cima, Kath! –diz ele indignado, mas sem raiva alguma, acho que ele gosta de como Katherine age.
– Não me chame de Kath. Eu e Prim estamos indo para o centro de treinamento. Vocês dois, tentem abrir os olhos direito e vão direto pra lá – ela puxa o braço de Prim e as duas vão em direção a porta
– Alan, isso foi estranho – digo
– O que? Nunca viu um cara ser jogado do topo de um beliche por uma garota furiosa?- diz ele sorrindo, ele consegue amar Katherine mesmo com ela sendo extremamente agressiva
– Na verdade, acho isso normal, mas o estranho é que Katherine normalmente é gentil com você, quer dizer, gentil do jeito dela- digo
– É, eu notei que ela anda me tratando bem duramente algumas vezes, não sei se ela está com raiva de mim ou sei lá o que pode ser.- diz Alan
– Pode ser raiva... Ou ciúmes, Prim comentou sobre Lisa pouco antes de ela te acordar desta maneira.
Alan me olha, confuso, então seguimos até a sala de treinamento, não nos preocupamos em tirar os pijamas, isso não importa.


Quando entramos lá, Haymitch está acordado e cambaleando de um lado para o outro, Katherine está com um expressão de raiva e Prim de decepção, me aproximo dela
– É serio? Esse cara vai nos treinar? Vai nos ensinar a matar o inimigo com uma garrafa de cerveja?- diz Prim
– Acho que ele pode ser mais inteligente do que aparenta ser, talvez se o deixarmos sóbrio- digo sorrindo
– Acho isso uma ótima ideia, hoje mesmo vamos tirar qualquer garrafa que esteja perto dele, mas agora vamos ver o que ele pode nos ensinar sob o efeito do álcool.
Nos juntamos ao resto do grupo, formando uma fila de frente para Haymitch, e Katherine já está gritando quando chego
– O que? Você devia nos ajudar a formar um plano! Planos são jeito eficiente de alcançarmos nossos objetivos. E então o plano que você nos oferece é simplesmente descobrir onde Rue e Finn estão presos e atacar todos os pacificadores que tentem nos impedir?! Você tem noção de como isso é arriscado e de quantos de nós podemos perder a vida com isso?!- Grita ela
– Queridinha, você por acaso tem alguma ideia mais eficiente? Acho que não. Então tratem de treinar muito e sobreviver ao ataque.
Katherine não responde, mas está furiosa, como se a cor do fogo estivesse não só em seus cabelos mas também em seus olhos. Haymitch me parece uma versão bêbada e masculina de Katherine, mas sem todas as habilidades coma armas que ela tem, por causa da bebida ele não parece ser alguém no qual eu confiaria entregar uma faca ou qualquer outra arma, não que eu confie em Katherine, mas é um medo diferente.
– E quanto vamos resgata-los? Temos quanto tempo para treinar? – pergunta Alan
– Vamos invadir o lugar em três dias, e eu já tenho uma suspeita de onde fique o esconderijo. Agora, se os pirralhos já acabaram de me encher com suas perguntas, eu vou arranjar um beliche e algo para beber - Então ele sai e nos deixa lá sozinhos, atônitos
– E... O que fazemos agora? – digo
– E você ainda pergunta, projeto de padeiro? Vamos treinar, só temos três dias- diz Katherine


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