Campeões Do Caos - Interativa escrita por Bibi Bolseiro


Capítulo 4
Godzilla Versus Bambi


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu, queridos leitores, renascida do Tártaro e a todo vapor!
Sim, eu sei, eu sou um ser humano horrível. Em outras palavras, uma vaca. É que eu estava em provas, e tive uns probleminhas de saúde. Mas agora estou de férias, e por isso podem contar comigo para postar capítulos.
Por isso, vou deixar uma escolha para vocês. Quero compensá-los com um capítulo especial, um PoV que vocês escolherão. Mas, olha, não vale pedir um PoV dos seus próprios personagens, okay? Pode ser um da Pepper, um do Tony, um da Madelline, um de um dos personagens que vocês conhecerão no próximo capítulo... Não precisam votar AGORA AGORA. Pode ser até no próximo capítulo, quando vocês conhecerem outros personagens. Apenas vão pensando nisso.
Espero que gostem!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/386546/chapter/4

Jay Abrantsov Reece

Antes de mais nada, uma coisa que você quer saber sobre mim: Eu devia estar morto.

É essa a conclusão a que cheguei quando descobri a enorme cicatriz que carrego no peito. E há um ferimento de saída nas minhas costas, então, sim, alguma coisa me atravessou. E ainda assim estou vivo, então, pode me chamar de... Sei lá... O Cara que Devia Estar Morto.

E isso, juntando ao fato de que não tenho memória alguma de quem eu sou, de como cheguei à Casa dos Lobos, e de em que ataque de azar eu conheci Dylan e Wally. Só sei que meu nome é Jay Abrantsov Reece. Eh, muito prazer.

Estimo que minha idade seja de uns dezesseis anos. Mais ou menos. Eu não saberia dizer com certeza. Não tenho certeza de como começar isso, então vou filosofar da melhor maneira que posso. Ou seja, de tudo que eu já ouvi com Apolo, é isso o que eu consigo fazer:

Desde o início dos tempos, as pessoas se perguntam de onde nós viemos, qual o nosso objetivo na vida, quem nos criou e qual o sobrenome da Penny em The Big Bang Theory. Já eu me pergunto, desde o início dos tempos onde está a comida.

Dylan é diferente de todo mundo. Ele se pergunta: “Como eu posso conquistar essa garota?”.

Então, quando uma gata de cachos escuros, olhos verdes brilhantes e lábios vermelhos carnudos se aproximou dele e o convidou para ir em um boliche legal, ele não pensou duas vezes na hora de dizer sim.

Eu, no entanto, sou muito mais precavido. Pensei que três semideuses, viajando da Casa dos Lobos até o Acampamento Romano – aliás, estamos a um dia de viagem apenas, sem muitas armas além de uma espada enferrujada, um cara que faz fogo com as mãos e outro que pratica parkour (eu sei, grande ajuda)... Seria um prato cheio para qualquer monstro super bonito de plantão.

No caso, esse não é o cara do parkour, o Wally Na verdade, ele é até feinho. O problema é a gata de cachos escuros.

Eu não tive escolha, porque Dylan (o cara do fogo. Nem dá pra adivinhar de quem ele é filho *sarcasmo*) nem me deu uma. Apenas continuou a andar com as costas empinadas e os olhos vidrados na mulher. Wally foi atrás dele, então, que escolha eu teria senão segui-los também?

O convite aconteceu em um McDonalds cheio. Quer dizer, a mulher apareceu. E fez o convite. É. Isso. Você me entendeu. Ela surgiu, sentou-se ao nosso lado e começou a conversar sobre futilidades – coisas como o excesso de molho no sanduíche. No próximo segundo que vi, Dylan e Wally a seguiam. Eu fiquei com os meus pés fincados no chão.

Foi estranho. Sabia que havia algo de errado. Havia um cheiro de morte no ar. E não, não era o cheiro do veneno de rato que provavelmente estava na Coca-Cola. Era algo que me deixava em estado de alerta, e sentindo como se garras frias arranhassem minhas costas.

– Vem logo, Jay.

– Eu não quero ir não, cara. Eu vou ficar esperando aqui. Quando acabarem, voltem aqui para que continuemos a nossa viagem.

– Por que não quer ir, doçura? – a mulher virou-se para mim. Suas unhas pintadas de preto mais me pareciam garras. – Vocês não precisam viajar hoje. Podem seguir viagem amanhã...

– Eu estou... Ahn... Esperando pela minha namorada. Quanto a viagem, precisamos ir amanhã sim. Senão nossa mãe ficará preocupada e acabará chamando a polícia. – deixo bem claro que há quem procure por nós, caso ela seja algum tipo de psicopata assassina.

– Ah. – seus olhos mostram uma faísca de interesse. - Onde ela está? A namorada, quero dizer.

–Ela foi no banheiro. Sabe como é, garotas quando vão no banheiro demoram um século. – dou uma risada.

– Qual o nome dela?

Dou uma tossida e digo algo inteligível. Algo como “Efigênia Rodrigues”. Dylan e Wally me olham com caras incrédulas, e eu dou de ombros.

– E o seu nome, qual é?

– O meu nome? Sou Libby. Mas temos que ir agora. Senão o boliche fechará antes que cheguemos lá! E não queremos que isso aconteça, certo? – Libby passa um dedo longo pelo rosto de Dylan, e me dá vontade de vomitar.

Os dois a seguem sem dar uma última olhada para mim. Quando eles vão embora, eu continuo sentado e bufo para o meu cheeseburger. Devia ter ido com eles. Droga. E se for um monstro mesmo? Só eu tenho uma espada. Entre todos nós, só eu tenho uma espada.

Se bem que tem o Dylan. Qualquer coisa ele queima a vadia e os dois saem correndo. O Wally corre como ninguém.

Ai, deuses. Que merda eu fiz?

Largo o sanduíche e deixo o dinheiro da conta na mesa. Estou me levantando quando uma garota chega e me para.

– Por que não termina o seu sanduíche?

Olho para ela. Seus olhos faíscam em um tom engraçado de roxo. Os cabelos são longos e escuros, os mais escuros que eu já vi. É como se eles fossem quase... roxos. A pele é pálida demais, e os lábios vermelhos. É como se fosse a versão real e um pouco arroxeada da Marceline, de A Hora da Aventura.

– Ah, deuses. Eu não aguento mais muitas mulheres bonitas chegando por aí tentando mandar em mim. Se está aqui tentando me convidar para outro boliche, já vou avisando que não estou interessado. Minha namorada, a Efigênia Rodrigues, está no banheiro e não gostaria de me ver conversando com qualquer uma...

A garota, me ignorando completamente, se senta na cadeira a minha frente, pega o resto do meu sanduíche e corta o pedaço mordido.

– Ai, cala a boca. Eu estou aqui para te...– abocanha o resto. – Pelos Glúteos Máximos de Júpiter! Se existisse um deus dos hambúrgueres, o panteão romano já teria sido derrubado faz um tempão.

– Ela está aqui para te ajudar. É isso o que ela quis dizer. – um outro cara apareceu do nada (literalmente do nada, ele simplesmente se materializou na cadeira ao lado da garota), tirou o canudo da minha Coca, colocou outro e continuou a beber.

– Vocês também são... – não ouso continuar a frase. Sento-me a frente deles e levanto as sobrancelhas, e aponto para mim mesmo. Como se isso dissesse muita coisa.

– Garotos? Não, eu sou uma garota. – ela responde, parecendo realmente se esforçar para me entender. – Meu nome é Bee.

– Ei, me dá um pedaço do hambúrguer. – o cara pede a ela, mas a garota se esgueira e inclina o corpo para o lado da mesa, enfiando o resto do hambúrguer na boca.

– Não. Rá!

– Bee? Como em... Abelha?

– Sim, tem um problema? – ela diz, de boca cheia, parecendo séria repentinamente. Seus olhos faiscaram, o que me deixou mais ou menos com medo. Mais ou menos.

– Não, nenhum. Mas eu sei que você é uma garota. O que eu quero dizer é...

– Ainda bem que você sabe. Primeiro, isso é bem lisonjeiro, e segundo, seria péssimo se eu tivesse que provar, se é que você me entende.

– Você é igual a mim?

– Não! Cara, você é esquisito. Ela já não te disse explicitamente que é uma garota? GA-RO-TA. – o cara respondeu por ela. – E eu sou um GA-RO-TO. Meu nome é Marcus.

O cara é, sem outra palavra para descrever, sinistro. Sinistro no sentido mais literal possível da palavra. O cabelo estava cortado em um penteado moicano, era cheio de cicatrizes e os olhos azuis elétricos me encaravam com raiva. Encaravam tudo com raiva.

– Marcus, acho que ele é meio lento.

– Você acha? Eu tenho certeza. – ele balança o copo de Coca para ver o quanto ainda tem.

– Espero que a sua Coca-Cola esteja cheia de veneno de rato. – reclamo.

Ele faz uma careta para mim. Eu inspiro e expiro.

– Semideuses. – eu sussurro, mas um daqueles sussurros bem audíveis, com pouquinha/muita impaciência. – Vocês são semideuses assim como eu?

– Aaaaah tá! – Bee diz, e Marcus também. Ambos levantam os braços como se, ah, tá, agora sim isso faz sentido. – SEMIDEUSES!

– SEMIDEUSES!

– Shiiiu! – eles estavam gritando. Algumas pessoas ao nosso redor viraram-se para nos olhar, curiosos. Eu completo, também alto, para disfarçar a situação: – É. É sobre isso o nosso trabalho da escola.

– Então. Eu vou te explicar tudo. – Bee faz um movimento com a mão e todos viram os rostos para onde quer que estivessem olhado antes. Eu tento imaginar de quem essa garota é filha. – Eu e Marcus somos semideuses do Acampamento Júpiter, e estamos aqui para degolar, queimar, esquartejar, esfaquear, estapear, trucidar, exterminar, assassinar, enfim, aquela mulher com quem você estava conversando. Ou morrer tentando.

– Ah. Isso explica tudo.

– Ela é uma Lâmia. Bruxas sinistras metade cobras que atacam viajantes e sugam o seu sangue. Mas essa se juntou com suas irmãs e, segundo nossas fontes, organiza jogos ilegais entre semideuses e monstros capturados.

– Tem até um banco de apostas. – Marcus comenta, fazendo barulho enquanto suga o restinho de Coca-Cola que tinha no copo. – Muitos semideuses têm desaparecido já faz algum tempo.

– É, mas eles só conseguiram achar o covil das Lâmias com a minha ajuda! – alguma ­coisa disforme, preta e voadora saiu do meio do cabelo de Bee e ergueu os braços no centro da mesa, bem na minha cara. Eu grito, mas então finjo que é uma risada quando todos no McDonalds me olham. A coisinha disforme, que por alguma magia, tem dois olhos bem expressivos e braços e tudo, vira-se para Bee e diz: - Que cara doido. Seu histérico.

A última parte ele respondeu com o rosto virado para mim, e depois mostrou a língua. Sim, de algum lugar da massa disforme saiu uma língua.

– Esse é o Kuro. Ele é um Lar. E pode se transformar em qualquer coisa. Não ligue para ele. – Bee explicou.

Como se para demonstrar, Kuro voou até o lado da mesa e se transformou em um Husky siberiano cinzento e latiu para mim, a língua para fora como se fosse um cãozinho normal. O garçom o viu e parou ao seu lado.

– Não é permitido animais dentro do restaurante...

– Vai se foder, filho de uma puta. – Kuro respondeu.

– Júpiter todo fabuloso! – Bee exclamou. Um trovão ribombou no céu lá fora. Ela balançou a mão e o garçom continuou a andar, como se não tivesse visto. Kuro transformou-se novamente naquela coisa disforme e voltou para o cabelo de Bee. – Se você fizer isso de novo, eu nem sei...

– Fica quieta que eu estou te ajudando a capturar três Lâmias! Não uma, não duas, mas TRÊS.

– Fica quieto que eu estou te ajudando a salvar a sua dona.

– Bargh! – Kuro fez uma careta e voou até o pescoço de Marcus. – Eu gosto mais dele. Se eu pedir, ele te mata!

– Blá-blá-blá! – Bee revira os olhos e abre e fecha a mão. – Enfim. Jay. Sim, eu ouvi o seu nome lá de longe. Você aceita nos ajudar? Porque, você sabe né, Wally e Dylan podem já estar em problemas agora.

– Quem são Wally e Dylan? – Marcus está confuso.

– São aqueles dois coleguinhas dele!

– Por Marte, mulher, você tem um ouvido só pra ouvir fofoca.

– Cala a boca. – Bee bate no ombro de Marcus.

– Mas... Eles já devem estar lá, certo? Agora já devem estar lutando com alguém, ou sei lá... Cara, eu devia ter ido com eles. – eu passo a mão na cabeça, pensando na merda que fiz.

– Relaxa. Você lá ou não faz pouca ou nenhuma diferença. Não é como se você fosse tão importante ou bom assim. – Marcus concede para mim um sorrisinho maligno.

– Não ligue para a delicadeza de Marcus. Mas o atraso não é um problema. Eu tenho um ótimo meio de transporte.

Eu devo ter perdido alguma coisa. Algum tipo de sinal ínfimo entre os dois, ou sei lá, porque daí em diante os dois se levantaram ao mesmo tempo e ficaram em pé, um do lado do outro. Bee tirou algo de sua bolsa e segurou na mão. Ela virou-se para mim e sorriu, puxando minha mão.

Isso foi estranho. Pela primeira vez, eu segurei mãos com uma garota.

– Não se assuste. Ah, não deixe os fantasmas te pegar. E... Não morra, tá? – ela tentou me tranquilizar com isso, mas não deu muito certo. Além disso, tinha o olhar e o sorrisinho maligno de Marcus para mim me assustando de qualquer jeito, o que me deu vontade de dizer: “Nem se incomode em tentar me acalmar. Eu estou pirando aqui de qualquer jeito”.

Então vi o que ela segurava. Era uma coroa, algum tipo de diadema ou sei lá, feito de prata. Era algo intricado e bonito, mas pareceu extremamente idiota nela quando ela o colocou sobre a cabeça. Segurei uma risada.

Daí tudo ficou escuro.

Pode ter durado um segundo. Ou dois. Ou uma hora. Ou um dia. Ou bem menos do que tudo isso. Eu sei que vi tudo escuro, ouvi sussurros no pé do meu ouvido, dedos fantasmagóricos se arrastando em meus braços e me puxando. Quando olhei de novo, estava em um beco escuro sentado no chão tentando me recuperar.

Até Marcus estava um pouco abalado, apoiado com as costas na parede. Bee parecia intocada, no entanto, respirando com facilidade, as mãos na cintura como se estivesse se preparando para alguma grande aventura, e estivesse muito animada com isso.

– Já sei o que faremos. Eu fingirei ser sua namorada. Eu sou Efigênia Rodrigues.

– Você ouviu até isso? – pergunto.

– É claro.

– Ela é uma fofoqueira. – Kuro comentou. Mas, ao receber uma olhada sinistra de Bee, voltou correndo para a jaqueta de Marcus, que se limitou a rir.

– Lâmias são bem mais interessadas em casais. É tipo um combo. Dois pelo preço de um! – ela riu, mas notou que não era engraçado, então parou. – Pois é.

– Você sabe que isso é errado, né? Você é completamente indefesa, e esse panaca não vai te ajudar. Bee, só tem quatorze anos. – Marcus comenta.

– Mentira! Quer dizer, verdade! Mas eu vou fazer quinze logo. E eu consigo acabar com qualquer um.

Bee me agarra pelos braços e me levanta. Ela põe um braço em volta do meu e sorri.

– Se você me beijar, eu arranco os seus lábios.

– Não se preocupe com isso. Antes que tenha a chance, Jason vai enterrar esse cara vivo. Não, acho que enterrar seria muito legal. Provavelmente daria ele para os corvos. E depois jogaria os restos no próprio Tártaro. Nem entregaria a sua alma a Tânatos, seria delivery direto no Abismo Sem Fim. – quando olho para Marcus assustado, me pergunto quem diabos é Jason, ele me responde fazendo o símbolo de Ok e piscando um olho. – Tratamento VIP.

– Esse cara é sombrio, né? – comento.

– Você não faz ideia.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, Marcus desaparece.

– Ele tem um brinquedinho. – Bee explicou, vendo minha cara de surpreso.

Bee me conduz até a calçada, e vemos Dylan, Wally e Libby andando calmamente a nossa frente. A Lâmia está quase falando algo, quando Bee sai correndo e põe as mãos nos ombros de Dylan.

– Pessoal! Calma aí! Como assim? Eu vou no banheiro por cinco minutos e quando volto, vocês me deixam sozinha com o Jay?

Eu corro também e, quando paro, ponho um braço em volta da cintura de Bee. Dylan e Wally me olham com olhos arregalados, e eu posso até ouvir o que se passa na mente de Dylan. “Onde arranjou essa gata?!”.

– Eu e Effie decidimos vir aqui atrás de vocês. – respondo para Libby, quando ela fica me encarando com os olhos venenosos. Só agora notei suas pupilas suavemente estreitas.

– Effie?

– Efigênia Rodrigues, muito prazer! – Bee estende uma mão para Libby, que não a pega de volta. Libby limita-se a virar-se e abrir a porta do boliche.

E é aí que eu apago completamente.

***

– Acorda, assombração. Acorda, que o seu sapato tá pegando fogo! – escuto a voz de uma mulher no meu ouvido. Não me mexo, sinto todos os meus membros doendo. Ouço um xingamento, ou pelo menos algo dito no tom de um xingamento. – Pôneis rosas! Acorda, que o Doritos acabou!

– NÃO! – levanto-me apressado. Olho ao redor e vejo algum tipo de gaiola escura e fedida. Está escuro, e o máximo de luz que há no ambiente é uma chama roxa que vem da mão de Bee.

– Santa Mãe de Dragões! Amém que você acordou. Venha aqui. – ela caminha até uma das paredes e pressiona um ouvido contra a parede.

Eu faço o mesmo e me surpreendo com o que escuto. São gritos, o som de labaredas, latidas de cachorros e rugidos de monstros. Reconheço a voz de Dylan, e ele grita distintamente “NÃO! POR QUE É QUE ELAS TIVERAM QUE COLOCAR O TUTU LOGO EM MIM, HEIN?!”.

Wally, no entanto, ria e gritava. Não fazia a menor ideia do que ele fazia, mas pude ouvir seu grito: “EU SEMPRE QUIS TER UMA LANÇA DESSAS! HÁ-HÁ! NUNCA MAIS VERÁ ISSO, MALDITO PROJETO DE EDWARD!”.

E aí uma voz desconhecida gargalhou no meio e disse: “Cookie. Mata.”. E depois só ouvi um rugido monstruoso e gritos desesperado. Só tive um pensamento: “Fodeu”. Aposto que Bee pensou a mesma coisa, mas o que ela falou foi diferente.

– Smurfou.

Sinto um tremor na parede e dou um pulo para trás rapidamente. Puxo Bee também, e ela quase cai quando eu faço isso. A parede é erguida lentamente, e meus olhos lacrimejam diante de toda a luz que invade meus olhos. E meus ouvidos também ficam incomodados com todos os gritos que aparecem.

É uma maldita arena. Seu chão é feito de terra batida, e há um pouco de areia prendendo na pele. As arquibancadas estão cheias de seres mágicos. Todos os tipos deles. Vejo ninfas, fantasmas, Lares, licantropos, malditas lâmias, um urso gigante e até mesmo uma galinha.

Mas isso nem é o mais estranho.

Dylan está usando uma saia de bailarina rosa por cima da calça jeans, e ela surpreendentemente combina muito bem com a sua blusa xadrez vermelha. Ele corre em círculos, fugindo de um enorme monstro que é literalmente O Godzilla. Há um outro monstro também, mas esse é um lobo gigante que me lembra Fenrir, da mitologia nórdica. E, por fim, o tal do Cookie, que no final de Cookie não tem nada – é um urso gigante cinzento - no momento corre até um homem alto demais para ser humano que está encarando Wally.

Wally, para início de conversa, está parado como se fosse o Homem Aranha em cima da parede que delimita a arena, e por sorte, distante o suficiente da plateia irritadíssima com o seu sucesso para não ser atingido por nenhum golpe baixo.

E, por fim, o mais estranho de tudo, é a garota em pé em posição de ataque no centro da arena. Primeiramente, ela tem cabelo azul. Curto, repicado e desigual. Ela canta em alguma língua sinistra. Em sua testa está uma coroa feita de três fios enrolados, um de prata, outro de ouro e um de bronze. A coroa segura parte de sua franja que insiste em cair sobre os olhos que, por sinal, são de cores diferentes. Um é roxo, e o outro dourado. Ambos, entretanto, são penetrantes e assustadores. Há uma cicatriz em sua testa, e ela usa roupas esfarrapadas. Está ferida, obviamente, o faz com que eu me pergunte há quanto tempo ela está lutando nessa arena.

Enquanto observo, Cookie estraçalha o homem com quem Wally estava lutando agora a pouco, e então começa a encará-lo ameaçadoramente. Eu me preocupo com isso e corro para dentro da Arena. Por todo o seu perímetro, espalhados no chão estão armas aleatórios. Eu agarro uma lança e atiro-a no Godzilla, e vejo-a sendo desviada drasticamente em minha direção. Desvio para o lado, e luto para me levantar quando vejo que dois homens de areia estão se formando.

Para a minha sorte – e a sorte de minha garganta, uma lança atinge o que estava mais próximo de mim bem entre seus olhos, onde uma letrinha estava entalhada. Então a areia se torna areia de novo. Ou seja, ela não quer me matar.

Olho para trás e descubro que quem jogou a santa lança foi Wally, ajoelhado no chão da arena a vários metros de mim. Preciso de um segundo para pensar “Cara, ele é bom.”.

Viro-me para trás e pego um gládio que estava na areia. Outro homenzinho de areia se aproxima de mim, segurando uma maça de guerra. Mas antes que ele faça qualquer coisa, Bee se mexe atrás dele.

É estranho ver uma garotinha de quatorze anos pegando um minúsculo pedacinho de metal, agitá-lo no ar até que se torne um grande machado de guerra. Pelo menos você acha isso. Daí pensa que é a coisa mais normal do mundo quando ela atinge as costas do bicho de areia e faz com que ele se desintegre.

– Depois eu te explico. – Bee diz para mim.

– Esse babaca tentou matar o meu bebê, Herdeira de Troia! Eu vou mata-lo junto com o Godzilla aqui! – a garota do meio da Arena gritou.

– Não faça isso!

– Quem é você?

– Eu não sou ninguém! Eu sou... – ela parou para pensar, lançando um feitiço em um bichinho de areia que apareceu do outro lado da arena. – Bellatrix Lestrange!

– Não! – Dylan sussurrou, embora ainda conseguisse continuar a correr e tacar bolinhas de fogo no Godzilla. – Você... Você...

– Sim, sim... – ela deu uma gargalhada histérica e louca, pulando de um lado para o outro como a Bellatix fez no filme. Imitou sua voz, dizendo: - Eu matei Sirius Black! Eu matei Sirius Black!

– Já está bom, Renée!

– Humpf. – ela pareceu magoada, e então soltou um feitiço em minha direção.

O problema é que Dylan estava correndo na frente na hora, então, ele foi atingido sem querer e...

– Ai. Meu. Deus. – Renée começou a gargalhar. – Desculpe, Bambi!

Dylan tinha se transformado em um cervo com pintinhas brancas nas costas. Ele continuava a correr, seguido pelo Godzilla. Seus chifres eram pequenos, mas mesmo assim pegavam fogo. Ou seja, ele era um Bambi pegando fogo usando um tutu rosa.

– Eu vou tentar não ficar ofendido. – digo, pegando uma espada que me atraiu particularmente no chão. Ela era escura e lânguida, não exatamente do formato de uma espada. Tinha as extremidades irregulares, um pouco ondulada e extremamente afiada. – Eu quero matar essa coisa.

– Ela é filha de Trívia. Não é exatamente a pessoa mais equilibrada do mundo. – Bee explicou. Ela segurou seu machado enorme e se preparou para correr. Mas, antes disso, virou-se para mim.

– Só gostaria de avisá-lo que... Eu sou filha de Baco. Então, quando eu disser “Abaixe-se e tampe seus ouvidos”, é bom você fazer isso. Senão vai virar torradinha.

Com esse aviso otimista, comecei a correr em direção ao Godzilla e ao meu amigo, o Bambi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então... O que acharam? Estou redimida? Ou só depois do capítulo especial?
Estou de férias agora, UHUUU!
O que acharam do Jay? Renée?
Finn, eu prometo que o Wally vai aparecer BEEM mais no próximo capítulo. Só posso pedir paciência. :S
Gente, muito obrigada a quem enviou os personagens desse capítulo. Eles são incríveis.
O que acharam?
Comentem, favoritem, recomendem e tals!