A sexta feira havia chegado, e com ela uma chuva que caia sobre a cidade de Londres ininterruptamente desde cedo, já haviam se passado das 7 da tarde e a mansão Hellsing encontrava-se em considerável silêncio, exceto pelos dormitórios dos Wild Geese. Integra já havia terminado o pouco que tinha de ser feito em seu escritório e aproveitou a tarde para por a leitura em dia. Saiu da biblioteca e foi direto para seu quarto aproveitar o banho que Walter já havia deixado preparado, permaneceu em seu banho uns 40 minutos e agora estava enrolada em seu roupão com os cabelos úmidos soltos, fumando um de seus charutos favoritos enquanto observava a chuva pela janela de seu quarto.

Há muito tempo não tinha um período de calmaria, não tinham tido casos de aparições de ghouls e freaks na semana, até Alucard tinha poupado sua sexta e não tinha vindo perturbá-la com suas gracinhas, frases de duplo sentido e provocações verbais. Pegaria as chaves de seu carro, e iria dar uma volta em Londres sem se importar com a chuva fina que ainda teimava em cair.

Saiu de perto da janela, apagou o charuto no cinzeiro em cima do criado mudo, abriu seu guarda-roupa e escolheu para vestir uma blusa preta de mangas compridas e prendeu uma gravata vermelha, colocou uma calça preta mais justa que o costume, calçou um scarpin preto e vestiu as luvas brancas. Olhou-se rapidamente no espelho ajeitando os cabelos com as mãos e saiu de seu quarto, terminava de descer as escadas quando encontrou Walter no hall:

_Vai sair senhorita?

_Sim, pegue minhas luvas para direção e as chaves da Ferrari 360 Modena e me encontre na garagem.

_Entendido – e saiu para cumprir a ordem.

Integra pegou um guarda chuva e saiu para encontrar Walter, enquanto passava pelos dormitórios dos Wild Geese ouviu barulho de algo se chocando, música de fundo, conversas e risadas altas. Logo em seguida Alucard materializou-se próximo a ela e foi se abrigar debaixo do guarda-chuva que ela segurava. Ele examinou-a com o olhar de cima em baixo, mantendo um sorriso nos lábios, já havia anoitecido e a única coisa que ela enxergou direito foi às íris âmbar do vampiro:

_Vai sair? – perguntou

_Apesar de não ser da sua conta, sim.

_Não quer que eu vá junto para o caso de acontecer algo?

_Não, hoje não é dia de levar o cachorro para passear... Aliás, o que você faz aqui?

_Ganhando na sinuca – Integra ergueu uma sobrancelha, ele realmente não tinha mais o que fazer – Quer jogar também?

_Não, agora me dê licença – o vampiro bloqueou a passagem da loira.

_Vamos fazer o seguinte, você joga, se ganhar eu deixo você ir e desapareço do seu campo de visão o resto do final de semana, sem provocações e gracinhas. Se eu ganhar, bom...

_Não estou negociando com você.

_Nesse caso irei com você – Integra sabia que ele não iria deixa-la em paz independente do que ela dissesse e entre ter que dividir o ar com ele em um carro debaixo de chuva e tentar ganhar dele na sinuca... e a proposta dele não era de todo ruim, se ela ganhasse teria completa paz por um fim de semana inteiro, se perdesse suas provocações só ficariam piores, nada que ela já não tivesse aguentado antes ou descarregar uma quantidade considerável de balas no peito dele não resolvesse.

_Isso é uma aposta?

_Se quiser colocar dessa maneira...

_Não quero saber nem da sua presença depois.

_Quem disse que você vai ganhar? – ela não respondeu, virou-se e foi em direção à porta dos dormitórios com seus cabelos platinados balançando em suas costas conforme caminhava, Alucard passou à frente dela e abriu a porta para que a loira entrasse sorrindo como se escondesse algo, ela deixou o guarda chuva ao lado da porta e foi para o salão de jogos dos dormitórios com o vampiro atrás de si.

A sala em que entraram era composta pela mesa de bilhar ao centro, algumas poltronas espalhadas e uma tv de plasma na parede, as duas pessoas presentes no local além dela e o vampiro eram Seras Victoria a serva de seu servo e Pip Bernadotte o capitão dos Wild Geese.

Seras estava sentada no colo de Bernadotte de uma maneira que ia contra as leis da física parecendo que os dois eram quase um só, assim que viram com quem Alucard tinha voltado não esconderam o espanto por vê-la ali. Se fosse possível Seras teria ido do vermelho ao branco em uma fração de segundos, já Bernadotte engasgou com a própria respiração quando o olhar da Hellsing pousou sobre eles. O vampiro caiu nas mais sinistras gargalhadas, enquanto Seras mudava para um posição mais decente sentando-se no braço da poltrona em que estivera agarrada a Bernadotte alguns segundos atrás. A Hellsing mantinha-se impassível observando os dois.

_Podemos começar? – Integra perguntou virando-se para Alucard e pegando um dos tacos em cima da mesa

_Vai jogar contra o Master Integra-Sama? – Seras perguntou, já imaginando como seria a disputa.

_Sim, ache Walter e peça que ele traga whisky e gelo.

Aquela era uma situação inimaginável para Bernadotte, que jamais imaginou Sir Hellsing jogando sinuca, ainda mais com um vampiro, e nos dormitórios dos Wild Geese! Pensou se ela teria fumado algum charuto vencido que teria afetado seu senso para estar ali, levantou-se e foi ajudar Alucard a arrumar as bolas em cima da mesa ‘’ Dane-se as razões dela, isso com certeza será algo interessante de assistir’’ pensou por último.

Seras voltou com Walter que já estava a par de tudo. O mordomo preparou a bebida para sua senhora entregou a ela e se retirou, Integra pegou o copo bebeu metade e depositou-o na beirada da mesa:

_Vamos acabar logo com isso, não tenho a noite toda – o vampiro pegou um taco e se posicionou no lado oposto da mesa – Quem começa?

_Você, damas primeiro Condessa – ela revirou os olhos, debruçou-se sobre a mesa e acertou com precisão a bola branca, derrubando a primeira bola da sequencia. Foi a vez de Alucard e só então ela reparou no vampiro: ele não estava com seu pesado sobretudo vermelho, apenas usava as calças pretas e uma camisa branca de mangas compridas com dois botões propositalmente abertos, os cabelos negros bagunçados soltos.

Mesmo jogando muito bem, Integra precisaria muito mais que suas habilidades para ganhar de Alucard, afinal ele jogava isso há mais de um século. Seras e Bernadotte observavam o jogo como se aquilo fosse a final de um importante campeonato e ás vezes deixavam escapar algum comentário ou exclamação, eles jogavam muito bem e era quase visível a bolha de tensão entre os dois por pensamentos ou provocações não verbalizadas. A partida se aproximava do final, ''Jogou muito bem Integra, mas não o suficiente para me vencer'' Alucard disse na mente de Integra que pensou em resposta ''Saia da minha mente agora seu sanguessuga idiota'', ele acertou a ultima bola e sorriu para ela como o Gato de Cheshire, antes que ele começasse a enchê-la por ter ganhado, a loira apenas deixou o taco em cima da mesa refreando o desejo de trespassá-lo em Alucard e saiu andando na chuva de volta a mansão o que deixou sua roupa úmida.

''Foda-se'' pensou, agora terei um Alucard insuportável o resto do fim de semana, devia ter o mandado ir drenar o sangue de alguém em vez de aceitar apostar com ele. Assim que entrou na mansão um relâmpago clareou tudo, seguido do barulho do trovão e da queda da energia elétrica. ‘’ótimo, era o que faltava’’ Integra pensou enquanto tirava seu isqueiro do bolso para acendê-lo. Subiu até seu quarto, assim que abriu a porta a energia voltou, a primeira coisa que viu foi Alucard sentado em sua cama, não demonstraria seu desagrado por vê-lo lá:

_Se continuar com essa sua mania de não bater em portas, amarro um gizo no seu pescoço, agora saia que vou trocar de roupa.

_Eu não me incomodo de ficar, não é nada que eu já não tenha visto – a loira expirou o ar com força.

_Você ganhou Alucard e já que vai me perturbar o resto do fim de semana pelo menos me deixe trocar a porcaria da roupa – antes que percebesse ela estava entre a parede e o vampiro.

_E quem disse que se eu ganhasse eu iria perturbá-la? – os pelos da nuca de Integra se eriçaram com a proximidade. Ela tentou empurrá-lo com as mãos sem sucesso.

_Saia da minha frente agora!

Alucard sorriu malicioso, segurou-a pela cintura com uma das mãos e com a outra desamarrou a gravata dela e abriu dois botões da camisa de Integra que não fazia movimento algum, passou os lábios pela parte exposta do pescoço e a pele dela se arrepiava onde o frio entrava em contato com o quente, parou no canto na boca onde beijou de leve. Deixou o rosto a centímetros do de Integra, enquanto escutava seu coração acelerar e sua respiração se alterar, sentia a respiração quente dela contra si. Esperou que os dois se normalizassem. Depois como se não estivesse estado ali desapareceu.

Integra piscou duas vezes recompondo-se. Atrevido, insolente a Hellsing pensava ao pegar um charuto, acender e sentar-se em sua cama. O que aquele vampiro pretendia afinal? Um arrepio que não era de frio a percorreu ao se lembrar do que Alucard fizera minutos atrás. Se a intenção dele não era perturbá-la, não gostava nem de imaginar o que ele tinha em mente. Sabia que aquilo fora apenas uma demonstração. Melhor estar preparada. O fim de semana estava apenas começando.