Tive um sonho lindo.

Sonhei que o vento batia no meu rosto e mexia meus cabelos, sonhei que alguém me abraçava, alguém com um cheiro incomum e delicioso e o sol nos cobria com seu calor.

Sorri e abri os olhos, pronta para abandonar aquela sensação, mas, quando minha visão clareou, vi tudo, menos o que eu esperava ver. Onde estava meu quarto? Meus lençóis brancos? Meu edredom macio? E meus travesseiros? Tudo o que havia era a paisagem maravilhosa de Londres ao amanhecer e o céu claro sobre ela. Levantei minha cabeça da coisa macia em que estava deitada e me surpreendi ao encontrar aquele garoto ali, com os cabelos pretos embaraçados, a cabeça pendendo de lado, a expressão sonolenta com um filete de saliva pendendo dos lábios. Eu me desvencilhei de seu abraço, meio boba, meio envergonhada e meio em pânico. Ele estava encostado, pouco confortável na parede de uma casinha com a porta aberta para o elevador e ele era lindo até mesmo naquele estado indigno de puro cansaço e sono. Não consegui deixar de sorrir para as lembranças daquela noite, daquele amanhecer que passamos juntos, os melhores momentos da minha vida. Me sentia como se estivesse num conto de fadas; “a princesa e o roqueiro”. Muito diferente do que eu tinha imaginado para mim, das minhas ilusões com um certo loiro que me trocara por uma roqueira qualquer no show.

Eu ainda estava ressentida com Naruto, por ele ter se separado de mim achando que eu não sentiria sua falta, mas estava feliz por ele ter me dado aquela oportunidade única de conhecer alguém incrível. 

- Uchiha Sasuke. – murmurei baixinho rindo comigo mesma. ‘A pessoa mais incrível que conheci’

Toquei seu rosto com delicadeza e ele uniu as sobrancelhas e se moveu engolindo a saliva.

- Itachi... Apague a luz... Idiota... – disse irritado se deitando no chão.

Me abaixei sorrindo.

- Sasuke-kun? – chamei em seu ouvido.

Ele abriu os olhos imediatamente precipitado e surpreso e se sentou ereto.

- Céus! Hinata... – sorriu relaxado – Você me assustou. – disse limpando a baba.

Sorri.

- Assustei?

- Bom... Não no sentido ruim. – garantiu bocejando logo depois – O que quer comer?

Comer... Café da manhã... Céus! Os Uzumaki deviam estar loucos atrás de mim! Me levantei num salto.

- Preciso ir.

- Mas já? – ele se levantou preguiçosamente – Vamos lá? Que tal um café da manhã?

Mordi o lábio. Ele era tentador, tudo o que eu queria era não ter acordado, ter continuado com a cabeça sobre seu peito dormindo ao som das batidas do seu coração. Ele era tudo o que eu queria, ele era a independência, era a diversão e era a droga que eu sabia que ficaria viciada e que aquilo poderia me levar para um beco sem saída onde apenas ele fazia sentido, mesmo assim, mesmo sabendo das contraindicações de aceitar seu convite, eu o queria e nada mais importava, mas eu ainda não podia dizer.

Ele abafou uma risada e segurou meu pulso.

- Vem. – disse me arrastando para o elevador, tomando a decisão que eu queria.

Nós entramos e ele apertou o número sete sem largar meu pulso.

Descemos em silencio até as portas se abrirem para um hall com uma única porta. Ele me arrastou para fora e abriu a porta do apartamento.

- Ér... Ignore a bagunça, certo? – pediu.

Mas assim que entrei meu queixo caiu. Havia caixas de pizza, latinhas de refrigerante, garrafas de cerveja, um sushi não terminado, almofadas espalhadas pelo chão e até mesmo algumas roupas.

- Você mora aqui? – perguntei, pasma, duvidando que alguém pudesse morar naquela zona.

- Com meu irmão. – ele disse – Fique à vontade Hina, só vou trocar a camiseta... – disse indo para um corredor escuro.

Ele não demorou, voltou rápido colocando uma camisa do Led Zeppelin.

- Hei! – uma voz que vinha do fim do corredor o fez parar e se virar – Onde está indo?

- Vou levar uma amiga para tomar café. – ele explicou, meio irritado, já segurando meu pulso.

Um homem alto surgiu da escuridão, vestindo calças moletom, com os pés descalços e os cabelos castanhos presos na nuca, quando ele fixou o olhar em mim eu notei que eram tão escuros quanto os de Sasuke e era tão bonito quanto, a pele mais bronzeada e as olheiras marcantes. Imaginei quantas garotas não dariam tudo para estarem no meu lugar com os dois irmãos Uchiha.

- Eu conheço você... – ele uniu as sobrancelhas.

Parei de respirar. Ele veio para mais perto me analisando.

Sasuke revirou os olhos.

- Esse é meu irmão mais velho, Uchiha Itachi. – apresentou.

- Sou Hinata. – me apresentei

Ele estendeu a mão para mim e eu a peguei. Ele me encarou por uns segundos e beijou minha mão.

- Hinata-sama... – ele reverenciou.

Mordi o lábio, receosa, não queria que soubessem quem eu era, não ainda. Então Itachi me surpreendeu, sorriu e piscou.

- Tome conta do Sasuke-kun, certo? – pediu casualmente soltando minha mão.

Sorri e assenti. Ele ia guardar meu segredo. Movi os lábios de maneira a formar um silencioso ‘obrigada’ que ele apenas respondeu com um aceno de cabeça e foi para outro cômodo, andando como um zumbi.

- Certo, vamos antes que ele volte. – Sasuke disse me puxando para fora.

Nós descemos para a garagem, ele desligou o alarme do camaro preto, nós embarcamos, e ele deu a partida.

Paramos em frente a um café comum de Londres, nos sentamos numa das mesas e logo fomos atendidos.

- O que sinto mais falta do Japão são os maid-cafés. – ele suspirou – Eram tão divertidos...

- Você morou no Japão?

- Nasci aqui. – ele deu de ombros – Mas vivíamos de lá para cá, entende? A última vez que fui para lá foi há algumas semanas, para gravarmos a abertura de um anime.

- Bleach? – pensei rápido.

Ele sorriu.

- Você gosta?

- Adoro. – sorri.

- Você é uma garota interessante, Hinata.

- Sou?

- É... É o que parece...

A garçonete chegou com meu chocolate quente e o cappuccino dele.

- Não querem mais nada? – ela perguntou gentilmente.

- Não, obrigada.

Sasuke não respondeu então ela saiu e nos deixou a sós.

- Não quer comer nada? – ele perguntou.

- Não... E você, não vai comer?

- Só tomo café. – disse apenas.

- Achei que ainda fosse ensaiar... – comentei casualmente bebericando da minha xícara.

- Vou. Almoçamos juntos na casa do Gaara hoje... Quer ir? – ergueu os olhos para mim.

Me senti muito, muito tentada a aceitar, mas...

- Não, preciso mesmo ir para casa... – suspirei.

Ele sorriu e continuou bebendo seu café.

Quando terminamos, ele pagou e disse que ia me levar para casa, mas quando chegamos lá, ele parou o carro e olhou para mim perplexo. 

- Você mora aqui mesmo?

Uni as sobrancelhas.

- Está impressionado? Seu apartamento também é bem luxuoso...

Ele sorriu e balançou a cabeça.

- Não estou dizendo isso, é que... Esta é a casa de um amigo meu...

- Amigo seu?

- Uzumaki Naruto. – ele disse buzinando e abrindo a porta do carro.

Olhei para a casa, Kushina-san tinha saído para ver quem era e ao reconhecer o carro abriu o portão, gritou por Naruto e veio cumprimentar Sasuke com um beijo na testa.

Respirei fundo e saí do carro.

- Precisa cortar esses cabelos... – ela estava dizendo, mas então se interrompeu ao me ver e seu queixo caiu alguns centímetros.

Esbocei um sorriso sem jeito, indo até ela, mas Kushina-san abriu um sorriso enorme e me acolheu em seus braços como a filha prodiga.

- Céus, Hinata! Estávamos loucos atrás de você! – ela suspirou aliviada.

- Eu a encontrei num café hoje... – Sasuke mentiu – A reconheci do show...

Então um grito alto chamando meu nome irrompeu da casa e Naruto correu na minha direção me abraçando como se eu tivesse ressuscitado.

- Naruto-kun... – não consegui deixar de sorrir.

Ele se afastou segurando meus ombros.

- Onde esteve? Procurei por você a noite toda!

Mordi o lábio, insegura.

- Ela também procurou por você, babaca. – Sasuke disse descontraído com as mãos nos bolsos da calça.

Naruto o cumprimentou com um aperto de mãos.

- Você a trouxe? – perguntou unindo as sobrancelhas.

- Eles se encontraram num café, querido. – Kushina alisou os cabelos do filho, sorrindo satisfeita.

Naruto arqueou uma sobrancelha.

- Onde passou a noite, Hina-chan?

Abri a boca para falar, mas o olhar de Sasuke me impediu.

- Ela procurou por você a noite toda, não sabia o endereço daqui, então dormiu num hotel, não é Hinata?

Assenti, agradecida. Ele mentia com tanta naturalidade que ninguém poderia acusá-lo.

- É verdade. – disse.

Naruto suspirou e me olhou como se a fixa só tivesse caído agora. Seus ombros relaxaram e ele me tomou novamente em seus braços.

- Fiquei louco de preocupação... – confessou.

Mas para mim aquilo não parecia passar de uma angustiante culpa.

Vi Sasuke revirar os olhos com um sorriso torto nos lábios.

- Bem, então, estou indo, tenho um ensaio daqui a pouco... – anunciou.

- Não quer ficar para o almoço, Sasuke-kun? – Kushina-san o convidou.

Ele olhou o relógio e depois para Naruto como se pedisse permissão. Naruto balançou a cabeça negando.

- Hm... – Sasuke sorriu – Acho que seria bom comer algo que não venha encaixotado... – meditou.

Kushina sorriu.

- Ótimo! – disse entrando.

Sasuke ligou o alarme do carro, fechando-o automaticamente.

Naruto bufou irritado.

- Achei que fosse meu amigo.

- Pois é... Não temos tudo o que queremos... – Sasuke disse divertido e lançou um olhar rápido para mim.

Corei.

- Então... Se encontraram num café? – Naruto especulou – Achei que não se conheciam.

- Eu a reconheci do show... – Sasuke deu de ombros.

- Hm... – Naruto resmungou desconfiado.

- Sério. – Sasuke riu – Ela me disse que estava procurando um idiota loiro de olhos azuis, chamado Naruto, então eu soube imediatamente onde levá-la.

- Idiota.

- Babaca.

- Drogado.

- Certinho.

- Certinho? – Naruto se ofendeu.

- Minha cabeça não está funcionando muito bem ainda... Não me recuperei da noite. – ele sorriu como se estivesse lembrando.

Mordi o lábio contendo um sorriso. Sim, a noite fora maravilhosa.

- Ainda não dormiu?

Sasuke afastou os cabelos dos olhos.

- Ahn... Não como deveria...

- Com quem passou a noite?

Sasuke me lançou um olhar furtivo.

- Com uma garota incrível.

Naruto bufou.

- Ei, quer ir ao ensaio hoje? – Sasuke convidou de repente.

Quase soltei um inconsequente ‘sim’.

- Ir a um ensaio? – Naruto uniu as sobrancelhas – Achei que fossem restritos.

- Ah, hoje não.

Naruto olhou para mim como se pedindo permissão.

- Você se importaria?

- É um convite aberto. – Sasuke acrescentou.

- E então? – Naruto me pediu como uma criança entusiasmada.

- Vamos. – dei de ombros sorrindo – Vai ser legal.

Um rock alto nos interrompeu, o solo violento de uma guitarra.

Sasuke vasculhou o bolso da calça, tirou dele um celular e fitou o visor que piscava incansavelmente.

- Hei, preciso atender, desculpem. – pediu se afastando um pouco.

Naruto e eu ficamos em silencio, ambos curiosos.

- Ahn... – Sasuke resmungou – Cirurgia, é? Quanto tempo?... Entendo... Não! Não passe para o Gaara! – implorou – Droga! – resmungou baixinho e fez uma longa pausa ouvindo com uma careta, como se estivesse levando uma bronca – Ah, qual é Gaara? – ele sorriu – Fique calmo ok? Estarei aí até as duas horas. – outra pausa, mais caretas – Não grite, cara... Você tem outro baixo, fique frio... Vai dar tudo certo... – reprimiu um sorriso, mais uma pausa – Sério Gaara, não tem escolha, chegarei aí até as duas horas, aguente firme! – disse desligando sob os protestos altos do colega.

Ele se virou para nós no momento em que Kushina-san nos chamou para o almoço.