CAPÍTULO 02 : THE PAST

10 de Abril - 1912

A noite já havia chegado, e hoje estava especialmente brilhante devido à lua cheia e às imensas constelações. Era sem dúvida a noite ideal para Rebekah sair do seu dormitório que dividia com o irmão mais velho e passear pelo navio. Durante aquele ano longe de casa e da família, ela refugiava-se nas noites de céu limpo que permitiam deixar à mostra as inúmeras estrelas existentes no céu. Tinha o hábito de abrir a janela e se sentar enquanto mirava as estrelas e conversava com elas como se a pudessem ouvir. Ela acreditava que sim, até porque para a loira aquela era a única forma que arranjava de comunicar frequentemente com os seus irmãos. Um ano inteiro com cartas de dois em dois meses era sem dúvida um desespero, pois ela tinha de esperar dois meses para saber se a sua família estava bem.

A zona do exterior do navio não estava muito movimentada visto que a noite estava a tornar-se fria, mas isso não impediu que Rebekah saísse para ficar um tempo sozinha. Continuou a caminhar e quando avistou o sítio ideal para mirar o céu estrelado, sentou-se num dos bancos ali presentes. Olhou as estrelas e sorriu como se estivesse a cumprimentá-las.

– Mais cinco dias e eu e Nik estamos de volta. – Falou ela alegremente para as estrelas, acreditando que daquela forma os seus irmãos a ouviriam. Era uma fantasia que ela tinha criado para sofrer menos com a distância e a falta de novidades frequentes. Com o tempo foi-se tornando real e confortante, tal como ela desejava.

Estava tão perdida na conversa que mantinha com as estrelas, que nem deu pela presença da chegada de um jovem de cabelos loiros que se sentou num banco ao lado. Ele parecia não ter notado a presença da loira também, pois estava com um ar pensativo e perdido em memórias do passado. Só percebeu que não estava sozinho quando ouviu a voz alegre e o seu riso contagiante de Rebekah que naquele momento, tinha arrepiado o rapaz loiro que rapidamente se desligou dos pensamentos. Ele já não ouvia àquela voz à imensos meses, seria possível que aquela voz pertencesse à pessoa que invadia os pensamentos do jovem todas as noites?

Ganhou coragem para voltar o rosto para o lado de onde vinha a melodiosa voz que ele tanto amava, e quando viu a luz da lua iluminar aquele rosto angelical, nem quis acreditar no que os seus olhos estavam a ver. Depois de ter sido obrigado a afastar-se daquela rapariga que ele tanto amava, e após tantas noites de insónia imaginando como seria a vida dele do lado da mulher da sua vida, conseguiu reencontra-la precisamente no momento em que já estava sem esperança alguma.

– Rebekah? – Chamou ele com a voz a falhar, levantando-se do seu banco e caminhando com as pernas bambas até ao banco onde a rapariga loira estava.

Quando Rebekah ouviu aquela voz, levantou-se num ápice do banco e voltou o seu corpo para poder olhar a pessoa que havia chamado pelo seu nome. Ela sabia quem era, pois seria impossível não reconhecer a voz daquele homem perfeito que ela tinha tido oportunidade de conhecer quando trabalhava na mansão da família Gilbert em Inglaterra. Ele era o melhor amigo de Jeremy Gilbert, o filho mais novo da senhora e do senhor Gilbert, e por isso mesmo visitava a família com frequência.

– Matt? És mesmo tu? – Chamou ela duvidosa, tentando olhar nos olhos azuis do rapaz.

– Desculpa-me Rebekah. – Pediu ele aproximando-se receoso, tendo medo da reação dela. Afinal de contas ele tinha desaparecido sem lhe dar uma justificação. – Eu não queria que as coisas tivessem sido feitas deste jeito.

Tudo o que a loira conseguiu fazer foi acabar rapidamente com a pequena distância que havia entre os dois, e quando o alcançou, juntou os seus lábios nos dele. Ambos sonhavam em sentir os lábios um do outro novamente sem ninguém para destruir os seus sonhos e vontade de ficarem juntos. Desde o primeiro dia em que se tinham visto que sentiram algo especial que foi crescendo com o passar do tempo e se transformou em um amor impossível. Matt começou a frequentar a casa dos Gilbert ainda com mais frequência, quase todos os dias, para poder ver Rebekah e encontrar-se com elas às escondidas. Viveram um romance perigoso e secreto durante um pequeno curto espaço de tempo, até que os pais de Matt descobriram e o proibiram de ver a rapariga novamente.

Enquanto beijava o homem da sua vida, colocava os seus braços à volta do pescoço do rapaz e abraçava-o com força como se aquilo a confortasse e mata-se todas as saudades. Matt abraçava-a pela cintura e correspondia ao beijo com todo o amor e carinho que tinha guardado para a mulher que amava. Ele esperou por aquele dia desesperadamente, e sentia-se o pior homem existente à fase da terra por ter abandonado a mulher da sua vida. Se o tempo voltasse atrás, ele faria tudo de maneira diferente.

– Estava com tantas saudades tuas. – Murmurou Rebekah afastando-se dele e olhando-lhe nos olhos com ternura e uma certa mágoa. – Pensei que nunca mais te iria ver.

– Eu também tinha saudades. Pensava em ti todas as noites e no dia em que nos voltávamos a reencontrar, e como me sentia um animal por te ter abandonado sem dizer um último adeus ou dar uma justificação. – Respondeu Matt soltando um suspiro e fazendo uma leve caricia no rosto da amada. – Peço que me perdoes por todo o sofrimento que te fiz passar. E quando estiveres preparada para me perdoar e eu te merecer de volta, estou aqui à espera da tua segunda oportunidade.

– O que me garante que não me abandonas novamente se os teus pais voltarem a proibir-te de me ver? – Perguntou Rebekah olhando séria para ele, ainda que a mágoa estivesse presente.

– Se eu pudesse voltar atrás fazia tudo de maneira diferente, só percebi que o amor que sentia por ti era realmente forte e importante quando te perdi e sentia a tua falta todos os dias da minha vida. – Falou Matt olhando-a de forma sincera e amorosa que não dava para esconder que ele falava aquilo que sentia. – Os meus pais não me controlam mais, Rebekah. Já sou maior de idade e independente, tenho o meu trabalho, o meu ordenado, a minha casa, e também quero ter a minha família.

– O beijo que te dei não significa que te perdoo ou que te quero de volta. Simplesmente fiz aquilo que o meu coração me pediu porque necessitava de o consolar depois deste tempo todo quebrado. – Respondeu Rebekah dando de ombros. – Preciso de tempo para pensar, e também preciso de ir embora porque já está a ficar tarde e depois o meu irmão fica preocupado.

– Só te peço que não saias deste navio sem falar comigo. – Pediu Matt olhando-a desesperada.

– Até depois, Matt. – Isso foi tudo o que ela disse, antes de voltar as costas e sair o mais rapidamente que conseguiu.

Por mais que Rebekah não tivesse dado uma resposta, Matt não ia conseguir perdê-la de vista e correr o risco de a perder para sempre. Agora que a tinha encontrado, não iria deixar que ela saísse daquele navio sem antes conversarem.

[…]

Caroline estava no seu quarto sentada numa cadeira em frente ao espelho enquanto olhava bastante séria para o seu reflexo que demonstrava claramente a infelicidade que era a sua vida. Nada no futuro traçado para ela fazia realmente sentido, toda aquela história de casamento forçado para manter o estatuto era um autêntico atentado à felicidade da loira. Ela não conseguia conformar-se com o facto de a sua própria mãe se importar mais com o dinheiro, as joias e todas as coisas materiais, do que os sentimentos e felicidade da sua própria filha. É suposto uma mãe querer a felicidade da filha, e não usá-la para atingir os seus objetivos e satisfazer os seus prazeres.

Alguém bateu à porta e Caroline nem precisou de dar autorização para que entrassem, ela foi imediatamente aberta e através do espelho ela conseguiu ver quem havia adentrado pelo seu quarto. Não se surpreendeu muito ao ver Tyler com um sorriso zombeteiro e maldoso no rosto. Na mão trazia uma pequena caixa quadrada de veludo num tom azulado que de certa forma despertou a atenção de Caroline.

– Boa noite minha querida. – Cumprimentou ele chegando até ela e ficando em pé atrás da cadeira onde Caroline estava sentada, fintando-a através do espelho tal como ela fazia. - Trouxe um pequeno presente para ti.

Quando Tyler abriu a pequena caixa azul de veludo, Caroline arregalou os olhos completamente abismada não somente com tamanha a beleza da joia, como também a quantidade de diamantes que possuía. Era um colar com uma impressionante pedra azul de diamante em forma de coração. Sem dúvida nenhuma que devia ter custado um balúrdio, pois era das joias mais caras do mercado.

– Meu Deus! É lindo. – Exclamou Caroline olhando para a joia que agora estava a ser colocada no seu pescoço por um Tyler sorridente. – Deve ter custado uma fortuna.

– Eu posso oferecer-te isto e muito mais, Caroline. É só tu quereres e abrires esse coração para mim. – Respondeu Tyler acabando de colocar o colar no pescoço de Caroline, pousando de seguida as mãos sobre os ombros da rapariga. – Dá uma chance para mim, tenho a certeza que não te vais arrepender.

– Não penses que é comprando joias caras que vais conquistar o meu coração. Podes comprar todas as mulheres do mundo que quiseres, mas comigo as coisas não funcionam assim. – Respondeu Caroline sacudindo as mãos de Tyler e levantando-se da cadeira.

– Não foi isso que pareceu. Eu vi os teus olhos brilharem quando abri a caixa e viste essa relíquia que agora trazes no pescoço. – Disse Tyler soltando um sorriso de lado. – Vocês mulheres são muito fáceis de agradar.

– Esse foi o teu erro! Achares que eu sou como as outras mulheres que estás habituada a conhecer. Mas fica sabendo que eu estou longe de ser elas. – Respondeu Caroline rispidamente olhando séria nos olhos do noivo que ela tanto odiava. – Agora faz-me um favor e sai do meu quarto. Preciso de dormir, estou realmente muito cansada de te ouvir falar.

– Como queiras querida. Não te esqueças de usar o meu presente no jantar de amanhã. – Visou Tyler dirigindo-se para a porta, abrindo-a e olhando uma última vez para a noiva. – Boa noite e bons sonhos.

Quando Tyler saiu do quarto de Caroline, ele sentiu uma fúria a invadir-lhe o corpo e num ato impulsivo levou a mão ao colar e arrancou-o do seu pescoço atirando violentamente para cima da cama.

Caminhava de um lado para o outro enquanto respirava fundo e se tentava acalmar e esquecer das palavras do seu futuro noivo. Ela não conseguia arranjar uma forma de sobreviver ao lado daquele homem insuportável. Ele dizia que a amava, mas tudo o que Caroline achava era que aquilo era somente uma obsessão e vontade de ter uma mulher submissa. Mas se ele estava a espera que Caroline seria esse tipo de mulher que ele quer para o resto da vida, estava completamente enganado. Ela era uma jovem rebelde e muito diferente das outras da sua sociedade. Nada naquela vida fazia sentido ou caracterizava a jovem que se revoltava por se sentir injustiçada e por lhe roubarem a possibilidade de ser feliz. Ela só queria ser uma rapariga normal e casar com um homem que amasse verdadeiramente para assim formar uma família e ser feliz para toda a sua vida. Ela queria encontrar esse homem um dia, e talvez ele estivesse no mesmo navio que ela, mas o facto de estar a caminho da América para se casar com o arrogante e egoísta Tyler Lockwood, destruía todos os sonhos dela um dia ser realmente feliz ao lado de um homem que a amasse e respeitasse como ela tanto merece.