Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 72
- Sacrifícios.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Apesar de enojados com o resultado daquele dia, não havia nada mais capaz de causar tanto distúrbio para os moradores de Mystic Falls quanto o que presenciavam ao vivo. Alguns pais tapavam os olhos de suas crianças e as levavam para longe.

Que pouca vergonha. Uma moradora disse, refletindo o pensamento de toda população.

A distância da praça, onde todos estavam, para a porta da delegacia era apenas uma rua e outra grande e larga calçada. Mais do que o bastante para seus olhos capturarem com exatidão o beijo que era trocado pelos dois pecadores que se tornaram o assunto preferido de se falar e de reprovar.

Mas não se beijavam para provar algo para aquelas pessoas. Para quem eles precisavam provar já fora provado. Beijavam-se de saudade, se beijavam em comemoração, se beijavam em alivio, se beijavam em amor.

Ainda sem acreditar, Elena o abraçou mais forte contra seu corpo. Queria sentir cada sensação que a liberdade trazia. Estavam ali sem medo, expressando o que sentiam e sem se incomodar com quem olhava. Algo que era inédito para eles enquanto estavam em Mystic Falls.

Separaram-se recebendo um resplandecente sorriso um do outro.

— Eu tô muito feliz. – Ele afirmou com convicção e ao mesmo tempo certa seriedade na voz. – E o mais insano é que quando eu penso na razão número um disso não é nem SÓ estar livre. É estar livre pra ficar com você. Eu te amo e te amo muito. – Disse, enquanto depositava um beijo em uma das mãos da garota.

Como se fosse possível, o sorriso de Elena ficou maior.

— Sabe que teve um momento que eu me perguntei como seria a nossa vida sem tudo isso. Sem todas essas restrições, sem segredos. No começo eu achava que seria a melhor sensação do mundo, mas depois eu fiquei tão acostumada que pensei que seria estranho. – Damon se identificou, já havia pensado dessa forma. – E aqui estamos nós, com a cidade inteira olhando pra gente, sem nada que segure isso e... Eu sinto como se fosse as duas coisas: bom e estranho. Ao menos por enquanto, até eu me acostumar de novo.

 - Mas você gosta dessa sensação?

Nem ao menos hesitou em responder.

— Mais do que tudo. – Colou sua testa à dele, lhe acariciando o rosto por cima da barba já em evidência. – A gente batalhou tanto. É bom um pouco de sossego às vezes. – Soltaram um leve gargalhar.

Mas ele voltou a ficar sério. Separou-se dela, alguns centímetros, queria olhá-la profundamente nos olhos para falar. Aos poucos as borboletas que os adolescentes tanto falam no primeiro amor, eram sentidas por Damon. Não sabia se achava patético de sua parte ter aquilo ou se julgava como algo que os jovens provavelmente dariam o nome de ‘’fofo’’.

— Olha pra mim. – Pediu ainda naquele tom duro que tinha, mas sem grosseria ou nada parecido. Ela o fez. - Eu sei que se a gente comparar essa relação houve muito mais sacrifícios pra você do que pra mim. O que é estranho já que, os riscos eram bem maiores pra mim. Mas você teve que passar por muita coisa pra chegar até aqui, fez muitos sacrifícios. Muitos mais do que eu. – Ele tomou um pouco mais de ar. Elena o encarava um tanto sem expressão, querendo adivinhar sobre o que Damon falava antes mesmo do próprio terminar. – E apesar de tudo ter servido pra você crescer e amadurecer, e ter que te beneficiado de certa forma, eu não sou cego e eu sei que a maioria dessas coisas você fez por mim. – Mas é claro. Por quem mais eu faria? Elena pensou. Entretanto não o interrompeu, sua percepção via que ele queria falar dessa vez. – E pelos desafios terem sido menores pra mim, pode parecer que eu não faria o mesmo, ou que eu não sinta o mesmo ou que... O que eu sinto é menor do que o que você sente. Eu sei que pode dá essa impressão, mas eu não quero que...

— Não, não quero que pense desse jeito. – Cortou o assunto tentando tranquiliza-lo. O abraçou forte.  – Não quero que pense que me deve alguma coisa, porque não deve. Está errado.

Apesar de sentir sinceridade, Damon não havia se convencido.

— O meu erro foi achar que tudo cairia pra cima de mim e acabar esquecendo que... Enquanto eu fugia, as coisas caiam em cima de você. – Continuou mantendo-a em seus braços. Não queria tirá-la de si nunca mais.

Não pediria desculpas com palavras, porque ela diria que não havia o que desculpar, mas ele sabia que sim. Havia. Teria que provar diariamente de agora em diante.

Ainda envolvidos na mistura das sensações do enlaço quente que trocavam com a recém-liberdade adquirida, a proximidade de um corpo foi imperceptível para eles captarem. 

Isobel limpou a garganta em alto som, para que percebessem. Aos poucos se separaram.

Elena de imediato sentiu o embaraço adentrar. Vergonha pelas palavras que disse ainda dias atrás, mas talvez se não houvesse dito o que disse, Isobel não teria feito o que fez. Sabia que aquele encontro no asilo havia tido forte influência na decisão da mãe hoje.

Quis agradecer, mas não sabia nem ao menos como fazer isso.

Silêncio. Apenas se encaravam. Por algum motivo ela foi até eles, significava que também possuía algo a dizer, mas também não sabia como.

— E o John? – Damon tomou a iniciativa. – Ele fez alguma coisa contra você? Vimos que ficou bravo e não era pra menos.

Isobel não parecia mais se importar com ele. A única coisa que havia feito era chama-la de fraca e dizer que era o homem mais feliz do mundo por não ter mais que acordar consigo de ao lado. Já havia ouvido piores coisas de John.

— Nessa hora deve estar indo pra rodoviária pegar um ônibus pra Richmond e depois tomar um voo pra Nova Iorque. – Limitou-se em dizer.

Mais silêncio. Dessa vez Elena viu que deveria ser ela a tomar a iniciativa.

— Acho que eu devo te agradecer. Eu não esperava, de verdade. – Disse sincera. Era o máximo que conseguia. Ao menos por agora, quem sabe um dia poderia retomar os laços com a mãe.

— Não fiz mais que minha obrigação, eu acho. – Nisso Elena concordava. Tanto ela quanto Damon conseguiam reparar que Isobel prendia algo em sua garganta. Como se estivesse tomando coragem para falar. – Damon será que eu posso falar com você? Em particular.

Ele e Elena se entreolharam. Ela mais incompreendida que Damon. Esperava de certa forma uma conversa, em algum momento e Elena também, só não entendia o porquê de ser a sós.

— Elena, porque você não vai falar com a Rebekah e a Bonnie? Elas não foram interrogadas, mas deram depoimentos. Acho que você devia agradecer. – Ele sugeriu.

Elena rolou os olhos por tamanha desculpa. De qualquer forma ele tinha razão, uma hora deveria fazer isso. Sem dizer nada, ela saiu deixando-os com o espaço que queriam.

— O que acha de irmos até meu consultório? Está vazio e eu não quero falar sobre isso com a cidade inteira do outro lado da rua.

Pelo visto era algo de importância, de mais importância do que julgou. Não havia como negar.

— Sim, podemos ir.

—--x---

Foi preciso doze chamadas até que Tyler atingisse seu último nível de paciência e atendesse ao telefone. Estendeu o braço até o criado mudo, com o animo zero para sequer se mexer. Sua cama e lençóis agora eram como um refúgio de sua realidade fracassada.

Não precisou olhar o visor. Já sabia de quem se tratava.

— Alô. – Atendeu em voz sonolenta.

— Você vai me pagar caro por isso.

Nem ao menos um ‘’ O que aconteceu?'' foi perguntado. Para John não interessava.

— Olha aqui, se insistir mais uma vez que eu participe dessa merda, saiba que não vou colaborar. – Fez questão de ser tão ameaçador quanto ele. - Então me deixa em paz, não tenho mais nada que possa te ajudar.

John fingiu uma gargalhada falsa.

— E quando foi que você me ajudou? Acabou de dar o maior prejuízo da minha vida seu mimadinho de lixo. – Mas que droga de ônibus atrasado. Pensava John, enquanto falava ao telefone. Tanta raiva em sua mente quanto em seu tom de voz. A rodoviária estava em completo vazio. Nada além dele e sua mala.

— Acabou John. – Disse o outro, após bufar. Queria voltar a dormir e hibernar até que a aceitação da perda de Elena viesse.  – Continua com a sua vida que eu vou continuar com a minha. Se o advogado de um pobretão te destruiu no tribunal, o de um mimadinho, riquinho de lixo, pode fazer muito pior. Você como alguém bom no seu serviço sabe muito bem que uma briga jurídica entre nós não vai dar em nada, já que tanto eu quanto você, temos dinheiro.

John não havia ligado para ameaçá-lo. Tyler estava correto no que dizia. Tudo aquilo não iria parar em lugar nenhum caso resolvessem brigar de acordo com a lei. Apenas queria expor o quanto ele foi um tolo em desistir por ser um covarde. Mas para sua surpresa, o garoto parecia mais conformado do que imaginou.

— Só liguei mesmo pra desejar felicidade na vida medíocre de cidade pequena que te aguarda. Você é fraco demais até quando é pra se fazer o certo. Apodreça. – Desligou, com o mínimo de dignidade por ter dado a última palavra.

Com o farol de um ônibus já começando a brilhar no horizonte, John respirou em alivio. Sentia-se livre das algemas que Mystic Falls representava. Por outro lado, Elena era uma preocupação que o fazia querer continuar acorrentado. Cuidou dela com todo zelo possível, enquanto Isobel apenas culpava sua filha por seus fracassos. E agora, a mãe de ouro errava outra vez ao jogá-la nos braços de um alcoólatra.

Pesquisou cada canto da ficha criminal desse rapaz. Um típico rebelde perdedor que a arrastaria para o bueiro na qual vivia.

Mas recapitulando toda a situação, agora mais calmo e conformado, do que adiantaria no final? Em menos de um ano sua filha se tornaria maior de idade, apesar de já viver como uma e trabalhar desde cedo, usufruindo de seus próprios ganhos. Aquela era uma batalha perdida desde o início e estava cego demais pra ver. Em qualquer outro caso, enxergaria desde o primeiro momento, só que se tratava de sua filha. O que explicava sua ilusão.

Já melhor com seu erro, adentrou ao ônibus pronto para esquecer-se cada metro daquele pedaço de fim de mundo.

—--x---

Desconfortável, Damon passeou os olhos em volta da pequena sala em busca de algo que o chamasse atenção. Seu plano era achar, comentar sobre isso, quebrar o silêncio e encerrar o estranho clima que o ambiente inalava. E não só pra ele.

A linguagem corporal de Isobel também deixava em claro seu embaraço. Braços cruzados em altura do peito, respiração forte, olhos girando para todos os lugares, menos na direção de quem estava ali.

Em qualquer situação, esperaria pelo surgimento do assunto, ou até ela ter a coragem, mas estava agradecido mais com Isobel pelo último grande favor, então seria sua obrigação tentar fazê-la confortável.

— Sabe que... Eu ainda lembro a primeira vez que eu vim aqui. – Sorriu, olhando em volta novamente. – Me senti o cara mais sortudo do mundo. Bem na hora do aperto você aparece.

Ela balançou a cabeça em negação.

— Nem me fale daquele dia. Você veio em uma dentista e acabou quase tendo que ser meu psicólogo.

Ambos riram.

— Péssimo psicólogo. Sempre fui uma negação em consolar.

Silêncio. Dessa vez se encararam. Isobel não parecia mais aflita. Os braços já estavam em normal posição e Damon poderia jurar que conseguia enxergar um pouco de carinho na maneira na qual ela o fitava.

— Eu não menti quando disse que gostei de você, e que tive uma ótima impressão logo quando nos conhecemos. – Disse sincera, mas também com um decoro exagerado em sua voz. – Acho que por isso que eu acabei concordando com o John e a tramoia inteira do baile. – Seu tom mudou para dor. – Exatamente pela estima que eu tinha por você que a decepção foi tão grande e eu fui capaz daquilo.

O curioso de ouvir aquelas palavras para Damon era descobrir que seu maior erro durante seu relacionamento fora justamente o que julgava ser o mais correto: O segredo.

— O importante é que você não foi até o fim. – Tentou confortá-la, apesar de não saber se havia sentimentos de culpa ou não da parte de Isobel. – É um pouco estranho falar isso, até porque você fez uma coisa errada e eu ajo como se fosse por algo correto. Mas eu não sou um vilão nessa história, eu não sou. – Disse com toda sua certeza. – Você não tá diante de um cara que sentiu desejo pela sua filha e resolveu leva-la pra cama. Você tá diante de um homem que, mesmo no erro, tentou ser o mais responsável possível. E isso jamais teria acontecido se o que eu sentisse não fosse algo que valesse a pena.

Ao ouvir essas palavras, Isobel recordava-se de sua ultima conversa com Elena, onde a filha lhe disse a mesma coisa. Um sentimento que valia o risco. Apesar de que Damon agora discorria sobre as mesmas coisas, só que sem os insultos de Elena.

— E se eu não tivesse desistido? E se tivesse ido até o fim e o juiz ficasse do meu lado? Assim sim valeria a pena? – Questionou com uma curiosidade quase que desesperada. Realmente, Elena estava certa, não conhecia esse sentimento.

Damon nem ao menos hesitou em sua resposta.

— Ainda sim teria sido o ponto alto da minha vida.

Já em posição confortável para seguir em direção ao assunto pelo qual o chamou, Isobel prosseguiu.

— Damon o quão bem você conhece minha filha? O quão bem sabe sobre ela?

Ele franziu as sobrancelhas, sem compreender a razão, não só para aquela pergunta, mas também pela mudança tão súbita de tema.

— É difícil dizer. – Exclamou confuso. Pensou um pouco antes de escolher seus próximos vocábulos. – Conheço a personalidade dela em geral. Mas não sei se conheço a história o suficiente ainda. – Disse, ganhando tristeza em suas palavras ao longo da frase. Nunca havia parado para pensar sobre aquilo antes. – Mas essas coisas vêm ao pouco em uma relação, eu acho. – Ainda um tanto ambíguo, tentou manter a esperança sobre sua afirmação. Aquilo não poderia ser um motivo suficiente para desestabilizar o que tinha com Elena.

— Eu e minha filha temos uma história complicada. Na qual nem eu mesma sabia o impacto que isso teve nela. – Isobel explicou um tanto sôfrega. – Mas essa parte é algo que no futuro, ela irá te contar. Talvez já pretenda, não sei.

Um pouco farto das citações com duplo significado, Damon resolveu adiar toda aquela enrolada cama de gato. 

— Onde você tá querendo chegar, Isobel? – Foi firme, apesar do cuidado para não ser rude.

— O que eu quero dizer é que ela tem bloqueios. Tem decisões, que a Elena ainda tem que enfrentar. – Sua voz ia ganhando confiança. Desejava que Damon fosse compreensivo o bastante para captar o porquê de terem essa discussão. – Eu sei que Elena amadureceu muito nesse meio tempo. Por você. Mas ela ainda precisa restaurar outras coisas, outras dúvidas, outros sentimentos que ainda estão trancados ou quem sabe, ainda pra se descobrir. – Vendo claramente a falta de entendimento na expressão do rapaz. Isobel ponderou em um exemplo. – A relação com o pai. A relação comigo. O que ela quer no futuro, além de viver bem o namorado. Resumindo, a vida toda.

Damon assentiu em concordância.

— Eu entendo e concordo com você. – Por acaso Isobel duvida que eu queira isso para Elena tanto quanto ela? Ou ela pensa que estou atrapalhando? Sua mente começava a criar suposições. – E eu posso ajuda-la com isso até.

Isobel bufou em frustração.

— Damon você não entendeu. Eu há poucos minutos atrás disse que ‘’ Ela fez mudanças por você’’. Mas ela não fez COM você. – Colocou toda sua ênfase no ‘’ com’’.

— E não seria a mesma coisa? – Aos poucos ambos começavam a ficar levemente estressados, embora ainda tentassem manter esse sentimento em controle.

— Não. Tudo que Elena fez foi te priorizar. Me alegra que ela tenha se encontrado com um outro lado das coisas, mas... – Parou. Sua voz estava alta demais. Precisava respirar e poder pensar também. Acalmou seus nervos e seu tom, não o chamou para uma briga. E precisa ter isso claro para si mesma. – Eu vou ser bem sincera com você, Damon. Eu sinto como se a minha filha nesse momento estivesse com a vida inteira voltada pra esse sentimento que ela tem por você, do que pra ela mesma.  – De repente, ele viu sua pergunta ser respondida. Isobel pensava que estava atrapalhando Elena. Apesar da dor causada pelo que concluiu, disfarçou. Ela precisava falar e não queria interrompê-la por perceber sua reação. – Elena precisa crescer e não só no amor. Ela tem só dezessete anos, Damon. – Falou com um tom de choramingo, mas sem lágrimas. Apenas para que ele pudesse ter em mente o sacrilégio que eram seus dizeres. Isobel segurou o choro, engasgada. – Ela precisa estudar e ela largou a escola por você. Ela precisa se achar na profissão que escolher e que não é limpar a calçada de um asilo, mas que ela tá fazendo por você. Consegue entender isso? – As primeiras lágrimas dela vieram. Damon já desejava poder brotar as suas. Queria argumentar contra, mas era impossível quando até mesmo ele se via em concordância com cada coisa que Isobel dizia. Como não impediu aquilo antes? – Se você se manter perto agora é o que vai acontecer. E também tem a sua vida. Onde você vai trabalhar depois disso? Você tem uma casa própria? Seus vícios estão controlados ou depois da primeira briga de casal vai beber e cair nisso tudo de novo? – De imediato, Damon virou-se em direção à janela, ficando contrário a ela. Duas pequenas águas vieram de seus olhos, sendo limpas logo em seguida. Havia conversado com Elena sobre sacrifícios em menos de meia hora atrás, já ciente de seus erros com a mesma. Ela como sempre o confortou, afirmando que não importava. Mas agora conhecia as consequências que isso causou de outra perspectiva. Era difícil saber pela própria Elena, pois ela sempre fez com todo o gosto e sem hesitar. Só que apesar disso, ainda sim eram consequências na qual quem mais amava estava pagando as suas custas. – Damon, eu acredito que vocês se gostam, mas como mãe eu não posso ignorar o que está bem na minha frente.

Damon virou-se, expondo a vermelhidão de seus olhos quase tanto quanto a angústia que sentia.

— E o que você me sugere que eu faça, posso saber? – Inquiriu com ódio, mas não dela. De si mesmo.

Isobel manteve a compostura.

— Elena precisa encontrar o caminho dela, fazer suas escolhas por si só, ter novas experiências agora como à garota mais madura que está. E você acabou de ter sua vida quase destruída e precisa se reerguer. E também precisa fazer isso com as próprias pernas. – Ele quis virar-se outra vez, mas desistiu ao perceber um choro que nem ao menos sentiu chegar. – Deixe-a ir pra Nova Iorque, voltar a morar lá. – Ela disse firme. Dessa vez ele a encarou. Só podia estar ouvindo errado. Gritava dentro de si. Mas Isobel mantinha-se com postura irredutível. – Deixe-a voltar pra vida de antes, poder comparar com outra cabeça. Você também precisa sair dessa cidade, aproveitar suas escolhas longe daqui. Elena precisa disso e você também. Só que juntos é difícil porque ela tá completamente voltada pra você. – Damon continuou atônito, negava-se em aceitar o que ouvia. – Os dois não estão na mesma página. Espere uns anos e... Se ainda sentir o mesmo, procure-a. Vai saber onde encontra-la. – Esperando um retorno do rapaz, Isobel calou-se. Apesar de sentir-se incapaz de oferecer uma resposta, em razão de não saber o que poderia articular, Damon optou pelo indeferimento. Como confiar nas afirmações de Isobel, sendo que a mesma só se informou no último minuto do segundo tempo? Como jogar ao lixo o que ele e Elena tiveram, deixando-a ir embora, por conta da opinião de alguém que não estava presente? No fim, o que ele e Elena decidissem era o que realmente importava. Pediria perdão há Isobel mais tarde, e seria eternamente grato a tudo que ela fez, mas não podia deixar-se levar por meras frases e ignorar todo um sentimento. Por essa razão, optou pelo silêncio. Ela não merecia receber as grosserias que estava calculando internamente. Com o vazio vindo de Damon, Isobel apanhou sua bolsa e apagou o restante de suas lágrimas. Ele fez o mesmo; já ambos prontos para ir-se. – Eu fiz a minha parte e já confessei o que eu penso de tudo isso. – Respirou fundo. Havia sido mais difícil do que julgara. – Não vou exigir nada de você, além que pense pelo menos. Isso tudo não foi uma ordem, foi só um conselho.

Guiado por seu último milímetro de educação, Damon sorriu sem mostrar os dentes.

— Obrigado. Eu vou pensar. – Limitou-se em dizer, enquanto seguia com ela até a porta.

Com o corpo já em automático para saírem, Damon e Isobel não contavam com a paralisação dos próprios pés.

Estáticos, se entreolharam perplexos com a figura de olhos inchados e avermelhados por um choro de provável desespero. Seu rosto estava contorcido em asco e derrotismo, tudo em um só.

Elena havia concordado em ir agradecer Bonnie e Rebekah, enquanto Damon e Isobel iam conversar, mas ao vê-los adentrarem ao consultório vazio, presumiu que se trataria de algo sério. A curiosidade venceu-a por completo e não pôde evitar em segui-los ou ouvir por trás da porta.

Ele iria abandoná-la outra vez.

A tortura emocional daquele pensamento virava física. Seu peito doía como se uma faca houvesse sido atravessada bem ao meio. Suas mãos eram similares a um aparelho vibratório qualquer, tremendo como se estivessem sido expostos a uma temperatura tão baixa até mesmo para os padrões do Alasca.

Quis gritar com todos à sua frente e desejou poder quebrar qualquer objeto que atravessasse seu campo de visão.

— Elena? – Damon se fez desentendido, falhando em parecer convincente. – Há quanto tempo tá aqui?

Em passos cautelosos, foram em direção à menina com os olhos fixos em cada reação dela. A cada movimento dos pés dos dois para frente, Elena ia para trás em direção à parede, parecendo cada vez mais enojada. Como se nem a presença deles a agradasse. 

Ela demorou em responder, até conseguir ser capaz de falar sem soluços a intercortado.

— Há tanto quanto vocês quase. – Mesmo sem gritar, o furor em sua voz era perceptível. – Mas é melhor a gente pular as perguntinhas clichês. – Disse irônica. – Vai me deixar é isso? Vai? – Dessa vez extravasou. 

Damon respirou fundo antes de responder.

— Elena, você pode ter ouvido algo pela metade e...

— JÁ disse que estou aqui há tanto tempo quanto vocês. – Elena o interrompeu ainda em alto tom. Virou-se para a mãe, que continuava em estado de paralisação. – Mas é claro justo quando eu achava que queria me ajudar. Falsa. Claro que não faria isso de graça, claro que não.

— Elena, para. – Foi à vez de Damon usar sua garganta. Colocou-se em frente de Isobel para poupá-la dos olhares da filha. – Se estava aqui há tempo suficiente sabe muito bem que eu não respondi ou garanti nada. E sabe também que tudo que a sua mãe fez foi me aconselhar, em nenhuma parte dessa conversa ela disse que estava me exigindo alguma coisa. Então, fique quieta e se acalme. – Antes que ela pudesse respondê-lo, continuou com a mesma firmeza e controle. – Isobel, vá pra casa. Eu fico aqui com ela e fecho o escritório, deixe a chave.

A mãe iria perguntar se ele tinha certeza, mas Damon não parecia estar com o humor para aceitar questionamentos.

Em um ritmo mais lento que o convencional, pelo choque surpreendente em presença da filha, deixou a chave em cima do balcão de mármore, como ele havia pedido. Ou talvez até, exigido.

— Bom... É... – Tentou articular algo. – Obrigada pela conversa, Damon. – Sem dizer mais nada, saiu. Preferiu não fitar sua filha, não iria suportar aqueles olhos de rejeição para si de novo.

Houve uma curta pausa. Dessa vez os olhos de rejeição de Elena, estavam nele. E tanto quanto Isobel, Damon odiava aquela sensação. Mas tinha que manter-se forte no momento e capturar aquele lado seu, mais firme e imponente que interpretava em seu trabalho.

— Porque quando se trata de nós, a gente sempre regride mais e mais, até quando a gente acha que tá avançando? – Ele questionou retoricamente.

Mas Elena estava disposta em dar a última palavra.

— Poderia ser diferente dessa vez. Mas você não parece querer colaborar. – Já não gritava mais, nem chorava. Apenas sobrara a rouquidão de sua garganta e o vermelho de seus olhos.

— Você sabe que foi errado o que você fez. Independente da conversa, sua mãe deixou bem claro que era comigo. Isso foi infantil da sua parte e até me ofende, porque se confiasse em mim não faria o que fez.

Elena elevou a sobrancelha, como se ele houvesse dito algo que denunciasse suas intenções, planos ou qualquer outra coisa que a mente dela criava.

— Já sei o que quer fazer. Agora vai falar que por eu ter feito isso, significa que eu sou imatura e que precisamos dar um tempo. Vai usar isso como desculpa. – Proferiu cada frase, como uma acusação.

Damon a mirou, sem acreditar.

— Nem ao menos vou levar a serio esse absurdo. – Em uma troca de papéis, ele soou enojado. – A única coisa que sua mãe fez aqui foi tentar me mostrar que você tem outras perspectivas de vida. Nada, além disso.

— Mas será que você não entende que a minha perspectiva de vida agora é você. – Disse voltando a chorar.

Houve uma longa pausa para assimilação.

Por mais que para os ouvidos de muitos, aquilo pudesse ser algo próximo a uma declaração de amor. Para Damon não foi. Elena desejou que ele entendesse como tal, mas não conseguiu. Não após a conversa que teve com Isobel, onde ela lhe dizia exatamente a mesma coisa. Estava sugando-a, a ponto de a mesma esquecer-se de si própria Estava fazendo isso com uma menina de apenas dezessete anos. Estava jogando-a para cima de um sentimento que poderia ser tóxico e dependente.

 Sem o receio de Elena se afastar, andou até ela na velocidade de um furacão. A menina por estar ocupada demais, encarando o chão e limpando seus olhos, não o viu em primeira instância. Apenas sentiu aqueles braços a tomando com toda força e calor, sem deixar-lhe escolha.

Não queria corresponder, mas também não era capaz de negar nada para o que sentia.

Damon quis chorar, mas tinha que ser o líder entre os dois. Quando sua conversa com Isobel se encerrou, estava disposto a jogar cada conselho dela para fora de seu sistema, simplesmente por ser fraco demais para abandoná-la e por ser egoísta o bastante em não querer. Mas aquele olhar tão desesperado e implorador, bem diante de si, somado a declarações de que era a grande prioridade na vida de alguém com tanto futuro, escolhas e oportunidades pela frente. Como continuar cego?

Ao senti-la mais calma, separou seus corpos aos poucos.

Poderia olhar Elena para sempre. Pensou quando suas visões encontraram-se.

— Melhor? – Damon sussurrou, enquanto seus dedos limpavam o restante das águas dela. Ela não respondeu. – Se eu te fizer um pedido agora. Você aceitaria? Sim ou não? Nada além. – Novamente, pensou que não obteria um rebatimento. Prestes a questionar outra vez, Elena o calou assentindo positivamente. – E se eu te deixar na casa da sua mãe? - O fitou assustada, pronta para uma nova discussão. – Calma. Calma. Escuta. – Disse, na defensiva. – O que eu sugiro é que vá pra lá. Pergunta se pode ficar; ela vai responder sim com certeza. Fique com seus irmãos, faz tempo que não tem isso. Eles devem sentir sua falta. – Eu também sinto. Elena pensou. – Coma alguma coisa, toma banho, retome suas antigas coisas. Já disse, um milhão de vezes que a sua mãe só me aconselhou. Não me exigiu nada e é ridículo você tá tendo essa reação sendo que você mesma ouviu. Entende? Juro que passo lá mais tarde pra te ver. Posso te pedir isso? – Damon franzia as sobrancelhas em cada movimento de sua boca.

— Pode. – Elena aceitou, apesar de contrariada. – Mas faço por você.

Mesmo com o sim vindo dela, foi impossível para ele alegrar-se. Faço por você. Aquilo ficou preso. De novo, seu nome, suas vontades, tudo seu era o que Elena colocava em primeiro lugar.

—--x---

— Alô. – Damon atendeu ao telefone, sem visualizar o nome na tela.

Precisava prestar atenção ao volante e o fato de ter consentido ao aparelho já era o bastante para ter que focar-se em quem era.

— Damon? Queria saber se está tudo bem. Onde estão? – Nem ao menos precisou dizer quem era. Ele reconheceria a voz de Rose mesmo com o sinal defeituoso.

— Eu agora to dirigindo. Deixei a Elena na casa da mãe dela, é possível que ela até durma lá. Então não precisa se preocupar com nada. Onde você está? – Não havia visto ninguém após o veredito. Tudo que lembrava era de abraços apertados vindo em sua direção e Elena deixando-o sem escolhas ao lhe puxar para fora. Ela, tanto quanto ele, não gostavam da energia de uma delegacia.

— Em casa mesmo. Mas já que está sozinho, queria te pedir uma coisa.

— Pode falar. – Disse sem colocar muita atenção.

— Preciso que venha aqui. Tenho uma coisa importante pra falar com você, consegue vir?

Apesar do descanso que sentia seu consciente implorando, seria injusto seguir a intuição e inventar uma desculpa qualquer.

— Tudo bem. Chego em dez minutos, ok? – Avisou, desligando em seguida após Rose responder com um sonoro ‘’ok’’.

Por imaginar que não se trataria de nada de maior gravidade, tentou não criar suposições. A única coisa que deixou seu pensamento tomar conta no caminho foram das ruas e curvas. As vezes, Elena pulava em sua mente junto a mais preocupações. Mas ela estaria em boas mãos. Ficar em sua antiga casa, com sua antigas coisas e seus irmãos seriam um bom passo para esfriar a mente da menina. Ao menos esperava. 

A cidade, apesar, do grande ‘’ evento’’ pela manhã, já parecia estar de volta ao seu habitual ritmo. A rotina havia regressado como se nada houvesse acontecido.

Perguntava-se seria dessa mesma forma, caso o resultado houvesse sido outro.

Antes de conseguir responder a si mesmo, chegou à casa de Rose.

Ela lhe abriu a porta com um sorriso cortês.

— Demorou bem menos de dez minutos. – Rose ironizou, enquanto seu rosto se aproximava para um beijo de cumprimento.

Sem cerimônias, Damon adentrou ao apartamento.

— Se importa se eu deitar no seu sofá? Estou cansado. – Devido a intimidade de ambos não se envergonhou com a audácia de sua boca.

— Claro que sim. Quer que eu abra o sofá/cama?

Ele negou com a cabeça.

— Tá ótimo assim. – Esperou o corpo se aconchegar ao estofado para que iniciasse o tema. – Tá tudo bem? Porque me chamou? – Os olhos do rapaz estavam fechados, aproveitando ainda mais a sensação de repouso.

Por não vê-la, não conseguia identificar a insegurança de Rose. O que ela agradecia mentalmente.

— Bom, já que prefere ir direto ao assunto... – Ela levantou-se do sofá, ao lado de Damon, caminhando para longe.

O movimento, o fez abrir os olhos e enxerga-la, abrindo uma gaveta de um armário de pequeno porte. Rose regressou com um envelope grande em mãos.

— O que é isso? – Damon inquiriu confuso.

Ela sentou-se ao lado dele novamente.

— Pega. – Disse, lhe estendendo o objeto. – Pode abrir.

Ainda em estranhamento, Damon abriu-o em hesitação. Não esperava muita coisa, na verdade não esperava nada. Analisou-a antes de verificar do que se tratava. Rose mantinha-se na linha tênue entre animada e incerta. O que segundo a experiência dele acontecia quando ela estava feliz com algo, mas não tinha certeza da reação que o outro teria. A conhecia bem para entender cada detalhe.

Quando o campo de visão do rapaz foi dominado pelas notas verdes de valores altos foi que entendeu a razão para a incerteza de Rose. Agora sim sua mente trabalhava em possibilidades para o conteúdo daquele envelope, mas não as refletiu. Preferiria saber mais rápido.

Fitou a mulher, atônito.

— Pra quê isso?

Com a voz dele sem aparentar felicidade, Rose tentou-se lembrar do discurso que havia preparado antes. Mas já esperava aquela reação, Damon e seu orgulho só aceitavam ajuda na hora de serem carregados de um bar.

— É pra você. – Falou com certo medo. – Na verdade é seu. – Ele não pareceu compreender. – Essa é sua parte de tudo que a gente juntou nesses anos. O dinheiro ficava comigo e agora eu estou te devolvendo, afinal você agora precisa. Vai poder seguir sua vida e com uma pessoa nova, é justo.

Apesar de sua explicação ser a mais bem detalhada possível, a ambiguidade continuou estampada dele.

— Mas eu não entendo. Eu achava que com esse dinheiro você pagava o Marcel. Mas como é que tá tudo aqui então?

Droga. Rose pensou. Elena vai me matar.

Esforçou-se com toda sua vontade para conter suas reações típicas de mentira descoberta. E uma delas era não demorar em responder.

Fale a primeira coisa que pensar. Fazia nesses momentos.

— Eu usei a herança que eu ganhei dos meus avôs recentemente. – Disse ainda um tanto pensativa e não tão convincente como desejava. 

Para sua sorte, Damon interpretou inaptidão para o momento como nervosismo.

— Então eu não posso aceitar Rose. Você usou o seu dinheiro pra me ajudar, pra te pagar de volta só mesmo deixando isso com você. É seu. – Entregou o envelope de volta para a mulher.

De novo, previsível. Deveria ter ido por outra desculpa.

Mas eu nem sequer tinha outra desculpa. Pensou.

— Damon, não aja como se você não precisasse. Eu não paguei o Marcel por nada, você precisava. – Nem ao menos se deu ao ato de apanhar o envelope. – Você também já salvou a minha pele em tantas outras roubadas. O que é eu fazer uma?

— Estávamos juntos antes.

— Ainda estamos. – Relutou quase como ofendida com a afirmação dele. – Ainda somos parceiros e você ainda significa pra mim. Não nos devemos nada. Da mesma forma que você não vai aceitar esse dinheiro eu também não. Então o que fazemos com isso? – Rose insistiu mais ao perceber que estava convencendo-o. – Está em condições para isso?

Ele soltou um longo suspiro, emburrado com a própria falha de seu orgulho.

— Só vou aceitar, porque vem de você. Entendeu? – Disse em seriedade, olhando tão profundamente para ela que Rose julgava que aquilo era o mais importante segredo para ele. – Você é muito importante pra mim, de verdade.

Emocionada, ela sorriu o enlaçando em um abraço forte que Damon correspondeu de bom grado.

— Eu amo você. – Rose exclamou confortante. Era diferente de outras vezes que ela lhe disse essas palavras, não soava romântica ou em clima de declaração. Apenas como dois irmãos ou amigos de longa data, proferindo por acaso como rotina.

Para Damon era igual.

— Eu também. – Falou no mesmo tom amistoso.

Separaram-se.

— E o que vai fazer com esse dinheiro? – Pronunciou animada, com um riso solto na face.

— Vou sair da cidade.

A convicção que ele usou em sua resposta a surpreendeu. Aquilo não era um plano para ele, era uma certeza.

— Você e a Elena? – Perguntou como se já soubesse o ‘’ sim’’ que viria em seguida. Mas para a surpresa dela, Damon não transpareceu essa resposta.

Com o peito cheio pelo estresse e precisando desabafar, contou o ocorrido na saída do tribunal para Rose.

Ela o ouviu, atenta, questionando apenas nas brechas que ele dava.

— E vai mesmo fazer isso? – Perguntou, após escutar cada detalhe.

Damon balançou os ombros, em expressão de que não tinha escolha.

— Não ia, mas hoje quando ela abriu a porta e eu consegui vê só no jeito que ela olhava, com tanto medo, com tanto desespero. Tudo isso confirmou o que a Isobel me contou. – Explicava com pesar.  – Estamos vivendo em uma relação abusiva que nenhum dos dois percebeu. Ela precisa desse tempo, pra conhecer outras pessoas, pra crescer, pra se valorizar.

 Apesar da dor de ter que admitir, era irônico para Damon enxergar o paradoxo e toda essa intensidade da personalidade de Elena. Quando a conheceu era uma garota egoísta que não via nada além de seu reflexo no espelho e agora, era capaz de amar em um nível na qual a própria não importava. Era isso que ela precisava nesse meio tempo: Encontrar equilíbrio para sua vida.

Antes da conversa com Isobel, havia tido uma conversa com Elena, onde haviam tratado de sacrifícios. Sentia que não havia feito o bastante por ela e agora se via perante o maior de todos que eles já tiveram: Deixá-la ir. Deixá-la crescer. Deixá-la viver.

Rose queria poder entregar à ele uma palavra de consolo, mas como expectadora e como alguém que viveu com Elena nos últimos meses, não poderia negar a razão de Isobel. Por mais que conhecesse Damon e por mais que ele estivesse ciente do que precisava fazer, havia um instinto egoísta gritando para sair e um conselho positivo seu, poderia desencadear esse impulso que ele necessitava.

— A Elena já sabe da sua decisão?

Aquela pergunta era o que mais o martirizava.

— Prometi que iria hoje de noite até a Isobel pra vê-la. – Disse, com desanimo, tristeza, tormenta e qualquer outro sentimento de dor existente.

Rose olhou o relógio em seu pulso.

— Bom, já passou das quatro. – Falou surpresa. Não viram o tempo passar. - Porque não vai pra sua casa, tira um cochilo de umas três horas, toma um banho e depois vai pra lá? Precisa estar descansado se for mesmo fazer isso. – Ela simulou uma massagem nos ombros do rapaz. Tentativa fula de fazê-lo diminuir o estresse.

De novo, Rose tinha razão.

— É melhor eu ir então.

—--x---

Seu corpo era disputado entre a ansiedade e o tédio. A televisão era como uma tela branca sem vida. As imagens estavam sendo exibidas com o som paralisado pelo poder de um pequeno botão do controle remoto. A única coisa capaz de entretê-la, além do quadro pendurado na parede, que Damon lhe deu de aniversário, era o cd com sua playlist predileta ecoando pelo quarto através de um rádio no criado mudo.

Angels – Robbie Williams.

Tudo estava do jeito que deixou quando se foi. Suas roupas, suas maquiagens, suas futilidades. Poderia estar enganada, mas era provável que até o conjunto de cama que repousava seu corpo naquele momento, era o mesmo da última noite que esteve ali.

Isobel há recebeu da maneira na qual torceu que recebesse. Em silêncio. Apenas a própria perguntou

 ‘’ Posso ficar aqui hoje?’’.

‘’ Claro’’. A mãe estava claramente feliz com seu pedido.

Apenas fez o que costumava fazer quando ainda morava sob aquele teto. Subiu para seu quarto, tomou um relaxante banho quente, vestiu uma camisola e fez dos cobertores um ninho. Jeremy e April não estavam. Provavelmente revoltados com os pais pelo que aconteceria hoje, foram para a casa de Anna ou de alguma outra amiga. Ao menos esse era o palpite que Elena tinha.

Arrependia-se de tê-lo enfrentado, arrependia-se de tudo. Mas não conseguiu evitar. Como Damon fazia isso após todos os desafios que vieram no caminho? Justo quando estavam livres?

Não era justo com tudo que construíram.

‘’ Eu vou pensar Isobel’’ Ele havia dito.

Isso lhe causava tormenta. Ele pensando, analisando. Enquanto não estavam ali, juntos. Era isso que Damon provavelmente se ocupava e segundo sua lógica, e já tinha experiências ruins o suficiente para ter de cor e salteado que o lado racional de Damon era sempre contra o que tinham e sentiam.

Apesar da canção alta e em seu ápice, conseguiu ouvir a batida leve na porta. Quis responder que não poderia entrar. Apesar de ter prometido para ele uma conversa com Isobel, ainda não se sentia pronta para isso. Talvez pela manhã, já com o corpo frio e já sem a adrenalina que corria em suas veias.

A estrutura de carvalho foi aberta, devagar e hesitante. Já estava pronta para protestar, mas engoliu seu desejo de solidão com a presença que se revelou.

Ao menos havia prometido quando disse que vinha.

Até pensou em dizer tais palavras, mas não foi capaz. Foi completamente nocauteada no octodromo assim que o viu.

Damon também articulou alguma coisa internamente, como um ‘’ Sua mãe me deixou subir’’ para iniciar o tópico, mas desistiu.

Após alguns segundos de nada além de olhares de desculpas das suas partes, Elena respondeu seu impulso correndo até ele com toda a velocidade de suas pernas. A distância pequena causou um impacto na hora que se chocaram.

Mas a porta aguentou.

Ele recebeu as pernas dela em sua cintura e Elena, com os pés, as prendeu no quadril de Damon.

— Desculpa. – Ela choramingou, com o rosto totalmente afundado na curvatura do pescoço do rapaz.

Em resposta, Damon lhe acariciou os cabelos com uma das mãos.

— Só estava nervosa. Já tá tudo bem, não estou mais bravo. – Garantiu, desejando tranquiliza-la.

Mas só havia uma coisa capaz de domina-la por completo. Deixando clara a intenção em sua face, Elena o encarou. Ainda carregada por Damon no colo.

— Só tem um jeito de você me provar. – Disse ela, enquanto sua mão descia até a fechadura da porta que repousavam as costas de Damon. Trancou-a, com uma volta.

Já era o suficiente.

Ele sabia o que Elena estava tentando fazer; Caso sua resposta fosse ‘’ É melhor seguirmos o conselho de sua mãe’’, ela tentaria fazê-lo desistir usando sexo. Se sua decisão fosse outra, queria deixa-lo ainda mais certo.

Apesar de consciente sobre com quem estava lidando e por mais obstinado que estivesse em revelar sua decisão e convencê-la, nada seria o bastante para negá-la aquele pedido.

Juntaram seus lábios com calma. Com muita calma. O desejo saltava só que não poderia mostrar-se tão fácil e tão em mercê de uma menina e também não era capaz de iludi-la, pois assim que terminassem tudo suados em cima da cama, sua palavra final se manteria.

O gemido solto por Elena enquanto ainda se tocavam apenas com a boca, foi o estopim que Damon precisou para agir. Ele a tomou com mais força pela cintura e andou cegamente pelo dormitório, pelo fato de ambos estarem de olhos fechados.

Apesar de alguns trancos com pequenos objetos, chegaram à cama e separaram suas línguas, sendo substituídas já por uma respiração acelerada. Ainda de olhos fixos e provocativos, Damon arrastou seus dedos para a alça preta da camisola que a tampava. Ombro direito primeiro, ombro esquerdo depois.

Por mais que fosse fã da versão mais simplória de Elena, não podia negar a falta que fez senti-la por cima daquelas camisolas em seda de garotinha rica.

Ela estufou o peito para facilitar que a peça escorregasse para baixo, até o abdômen. Os seios foram expostos e Damon, suavemente passeou a ponta dos dedos na área circular.

— Ah. – Elena não conseguiu evitar gemer pelo arrepio. As mãos dele, tão gélidas, deixavam a sensação mais intensa. Jogou a cabeça para trás e fechou os olhos.

Para Damon, aquelas reações já eram como o suficiente para satisfazer-se. A boca entreaberta, o tórax em movimentos de vai e vem e os dedos contraídos, tudo que ela lhe entregava naqueles momentos eram equivalentes a o mais forte afrodisíaco das ilhas latinas.

Ainda em provocação, abaixou-se e trocou suas mãos pelos lábios. Assoprando ou usando a própria língua. O feedback dela era enviado através da força das unhas em seus ombros.

A música estava alta o bastante para fazê-lo agradecer que Isobel não iria ouvir o que estaria prestes a se suceder.

Tennessee Whiskey – Chris Stapleton. Acabava de iniciar-se, com sua rouquidão country típica.

Ah, as canções do sul. Sempre apropriadas para fazer amor. 

Sem avisá-la, deitou-a sobre os lençóis, com um leve empurrar, e levou a camisola ainda mais para baixo, até escorrega-las pelas pernas de Elena.

Com a ausência da roupa intima por baixo, ela se revelou nua.

— Abre. – Ele exigiu.

Elena não pensou nem ao menos uma vez, ou por meio segundo. Não possuiu vergonhas, nunca teve desde o primeiro dia. Jamais poderia sentir diante de alguém que amava tanto.

Acatou a ordem lhe dada.

— Você gosta? – Perguntou, fingindo uma inocência que claramente não tinha.

Ela assistiu prazerosa cada parte do corpo dele ser dominada pelo fogo do momento. Na mesma provocação, Elena caminhou as mãos cada vez mais para baixo, tocando-se em movimentos lentos ao chegar onde intencionava.

Gargalhava mentalmente com o autocontrole que Damon lutava para manter.

Que se dane. Pensou o rapaz, retirando sua camisa branca.

Um tanto violento, retirou os dedos dela de onde estava e os invadiu com seus lábios. Elena não reclamou, pelo contrário, um som incompreensível foi repercutido. Mas com certeza não era de protesto.

‘’ Isso’’

‘’ Desse jeito’’

Falava incentivando, com a voz carregada conforme os minutos passavam-se e seu prazer crescia-se junto com a velocidade.

— Agrh. – Seu ultimo suspiro foi dado ao sentir aquela sensação já conhecida vir. Apenas ele conseguia fazê-la chegar com tanta veemência.

Assim que Damon afastou-se e ajoelhou sobre a cama, Elena imitou-o, só que se mantendo sentada. Com a diferença propicia das alturas, ela estava com a face direcionada para a região do ventre dele. Sendo a vez de sua boca se aventurar, Elena o provou com a mesma paixão da primeira vez. Mordidas, beijos, sugadas. Tudo na intensão de marca-lo. Não só em físico como na memória.

Ao percebê-lo com o folego descontrolado, foi até o cinto e o zíper da calça do rapaz que tanto já lhe perturbava.

— Isso você deixa pra depois. – Damon a puxou pelos cabelos, com delicadeza. – Não aguento mais.

Ela, apesar da contrariedade inicial dele, virou-se ficando por cima. Com a ajuda de Damon livraram-se da calça e da peça intima de baixo junto.

Ainda estava tomando seus remédios e se prevenindo de acidentes.

Quando posicionou seu corpo por cima do dele para poderem juntar-se parou, com um riso perverso. 

— Tá com tanta pressa assim? – Estavam em uma distância torturadora, ao quase de unir-se.

Damon a encarou um tanto perplexo.

— Não é um pouco obvio? – Disse entredentes.

Novamente o papel de desentendida veio à tona. Ainda na mesma intenção, roçou-os devagar chegando a adentra-la alguns centímetros.

Ela engasgou, sendo traída pela própria armadilha. Não foi capaz de suportar, por mais que a vontade de estender o jogo fosse tentadora.

Apesar de Elena estar por cima, Damon coordenava com as mãos os movimentos do quadril dela. Gostavam de começar devagar, ganhar velocidade e quando estivessem próximos do ansiado momento, diminuíam outra vez para uma lentidão perturbante.

Foram no roteiro planejado, já não eram capazes de ouvir a música. Só atentavam-se aos sons que viam um do outro. Ele a trouxe para mais perto de seu corpo, para que os seios tocassem em seu peitoral. Cada contato por mínimo que fosse, valia.

Era diferente para Damon naquela noite. Algo profundamente o avisava que aquela seria a última vez em um bom período de tempo. Não fazia ideia do quanto, mas já sentia falta. Sentiria falta mesmo que fosse por 24 horas.

Já perto, pela terceira vez naquela noite, Damon a guiou de costas para trocarem a posição. Dessa vez, de lado, deixando as pernas quase que entrelaçadas umas nas outras. Ele aumentou seus gemidos, Elena ficava ainda mais apertada quando sentida de lado.

Com o folego já em falta, entraram ao consenso de pararem. Intuindo que ela queria o controle, Damon cedeu à ela e deixou Elena tomar as rédeas para chegarem ao fim da linha. Ela movimentou-se em direções circuladas, como se estivesse dançando e usando-o apenas como um suporte. Damon gostou do que viu. O quadril feminino sendo trincado em diferentes lados, como uma verdadeira profissional de dança do ventre, enquanto alternava para mexidas ritmadas.

Oh, sim. Ela estava dançando. 

— Isso... Continua. – Ele a encorajou sedutoramente. A imaginação naquele momento ajudava acelerar o processo.

Mais duas voltas daquela com a cintura e foi o que precisavam para as estrelas não estarem mais tão longe.

—--x---

Apesar prazer incrível de meia hora atrás, bastou poucas palavras dele para que o estresse viesse à tona, apesar de em menor intensidade. Esperava o convencer do contrário, mas no fundo já conseguia identificar que era uma missão além de suas capacidades.

— Mas eu não quero ficar longe, eu não consigo. – O abraçou com mais força. Ainda estavam despidos, cobertos apenas pelos edredons da cama.

— Sua mãe tem razão, Elena. Vai ser bom pra você. – Ao contrário da discussão no consultório, não havia gritos ou grosserias. Manifestavam-se de maneira pacifica e apenas uns tons acima do comum. Mas esse crédito não era por nenhum tipo de maturidade das partes e sim pela falta de forças. – E não vai ser pra sempre. – Damon a acariciava no rosto. – Não pense que é fácil pra mim, é a coisa mais difícil que vou ter que fazer.

Elena contorceu-se em uma expressão birra, com um bico.

— Mas não parece. – Para completar a postura menina mimada, cruzou os braços.

Com a paciência intacta, Damon arrumou sua posição, usando a mão fechada como suporte para sua cabeça.

— Olha pra mim. – Pediu. Gentil, mas exigente. Apesar de relutante, ela o fez. – Eu também tenho coisas que resolver, mas você vai estar em Nova Iorque. Sabe onde o Stefan mora, minha mãe vai estar lá.

— Vamos nos falar?

— Não. – Ela emburrou-se outra vez com a resposta. – Não podemos Elena. Senão qual seria o sentido disso?

Inconformada, a menina sentia sua pele começar a ruborizar-se. Era a aflição regressando. 

— E o que acontece? Você se envolve com outras pessoas no meio tempo? – Tentou não gritar, mas era complicado com aquele pensamento. 

Para Damon, aquela possibilidade era a mais complexa de se aceitar.

—  Se acaso você se apaixone Elena. Não há nada que eu possa fazer. - Lutou para conter o ciúme. Isso aparecia raramente, mas não significava que era nulo. Apesar do que sentia, era de sua responsabilidade assumir aquele papel de madurez. Era o adulto.- E Eu não sei, não vamos planejar nada muito além. A única coisa que eu vou pedir pra você é que viva, que seja feliz, que faça as coisas necessárias pra amadurecer. Eu também preciso fazer isso, eu também estou repleto de problemas.

— E porque não podemos resolver juntos? – Contrapôs indignada.

— Porque vai nos consumir, Elena! Não vamos durar um minuto. – Ambos não percebiam seu tom alterado.

Silêncio. Elena sentiu-se farta, completamente sem forças para lutar sobre algo que já estava decidido. Não poderia contê-lo. Houve uma curta pausa. Julgando que novamente não chegariam a um consenso, Damon preparou-se para levantar-se. Ela não seria convencida nunca e abandoná-la não era uma possibilidade para si.

Quando criança, costumava sonhar com um labirinto de paredes apertadas, lhe esmagando e era exatamente como se via agora. 

— Quanto tempo? – Elena Perguntou com lágrimas nos olhos.

Interrompendo seu ato de levantar-se no meio, ele voltou um tanto sem acreditar.

— O que disse? – Era preciso ouvir mais de uma vez para ter certeza.

Se esse é o sacrifício que Damon quer que eu faça por ele, eu faço.

— Perguntei quanto tempo?

Ele suspirou aliviado. Mas sem uma resposta para dá-la. Não havia pensado nesses detalhes.

— Bom, a capsula do tempo tá marcada pra cinco an...

— Não vou esperar cinco anos.  – Interveio, antes que sua ira crescesse. Pensou em uma possibilidade. – Um ano.

Damon quis rir, mas julgou que seria desrespeitoso. Ela não parecia estar brincando.

 - Vamos ao meio termo. – Pensou por breves segundos. – Três anos. – Ela iria protestar, mas interrompeu-a. – Estaremos juntos na abertura da capsula. E eu juro que estaremos juntos em exatos três anos. Não três anos e um dia, três anos. Prometo.

Antes de qualquer concordância, Elena o abraçou liberando suas lágrimas. Doía e doía profundamente. Também despido de mascaras ou de roupas, Damon liberou suas águas, já mais conformadas que as dela.

— Eu não entendo porque as coisas tem que ser assim. – Elena reclamou abafada pelo corpo dele.

Por mais que quisesse consolá-la, Damon muito menos conseguia compreender.

— Um dia vale a pena, meu anjo. Um dia vale. – Disse ele, tentando parecer otimista por ela.

Sempre por ela.


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Notas finais do capítulo

Confesso q escrevi esse capítulo bem as pressas, por isso to desconfiada de q talvez n tenha ficado tão bem. To tendo um mês um pouco estressante, mas vcs me aliviam. O que acharam?

Sdds de certas leitoras. Comentem meninas, é nossa reta final juntas.



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