Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 70
- Grace.


Notas iniciais do capítulo

Nossa meninas, sei nem com que cara eu volto aqui. De verdade, fui muito irresponsável. Escola ultimo ano, etec, enem, tudo me saturou de um jeito absurdo. Tive uma folga nesse último mês, mas... Fiquei sem pc, só tava com celular mesmo. São desculpas que não valem muito, mas espero que vocês não tenham abandonado. Quer dizer, muita gente abandonou, estou com muito poucos leitores em comparação a antes, mas acho que mereço. De qualquer forma, aproveitem. Acho que vcs nem lembram mais direito sobre o que estava acontecendo. A fic tá acabando, proximo cap é o julgamento e após isso acho que farei só mais 3 ou 4 caps, não tãooo grandes.
Espero q gostem.



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1 MÊS DEPOIS.

Por mais que a escova, repleta pelo melhor produto de limpeza, insistisse em tentar, não havia nada bom o bastante para exterminar a mancha daquela bata que infelizmente tinha que ser branca. Teria de dizer para Jo que era desperdício de tempo tentar salvá-la.

'' Jo, botei ela pra lavar três vezes e estou esfregando há horas, não sai''. Pensou em suas palavras, satisfeita com o que articulou.

Nada mais que a verdade, se pensar mais profundo. 

O estoque estava particularmente cheio nas últimas semanas, o que costumava ser um tanto incomum para os padrões que a loja tinha. Conseguia ouvir as vozes do lado de fora de quem provava algo e recitava os defeitos para a vendedora. Talvez não fosse uma boa hora para ir até lá, mas logo seria seu horário de almoço e hoje ele viria para comerem juntos. Não se atrasaria por nada. 

— Jo. - Ela saiu da porta ao fundo com a blusa ainda em suas mãos, chamando a mulher que parecia concentrada demais com uma cliente em frente ao espelho.

— Não tenho certeza. - Dizia a freguesa, insegura. Elena, então, pela primeira vez a olhou não podendo evitar uma careta.

A mulher usava uma blusa preta e branca de listras horizontais, junto a uma legging preta que ia só até metade da panturrilha, completando com uma sapatilha amarela. Poderia ser um visual bom o bastante para outra pessoa, mas não para uma acima do peso como a que se olhava no espelho. Mesmo ciente do fato das peças não estarem bem distribuídas, Jo como toda vendedora, dizia o contrário de sua mente como seu trabalho exigia.

Ela não pareceu perceber sua presença há poucos metros dali.

— É o primeiro encontro que eu vou ter com esse cara, quero estar bem. Mas não to me sentindo assim. - Explicava-se enquanto dava voltas no espelho tentando encontrar um ângulo favorável.

Não vai encontrar, pensou Elena cada vez mais encontrando falhas naquele conjunto para ela.

— Mas você está linda. - Dizia Jo. - Homem não repara nessas coisas, o que ele vai reparar é nas suas curvas e não na sua roupa.

— Essa é a questão, eu queria poder disfarçar as minhas '' curvas'' e não destacá-las. - Lamentou, ainda com a decepção voltada para o espelho.

— Mas isso todas nós mulheres queremos. - Jo simulou uma risada, olhando para os lados em procura de algo para sair daquela situação. Encontrando uma Elena, quieta e observando a ocasião centrada. Nem havia visto. - Elena. - A chefe a chamou, fazendo-a sair de seus pensamentos. - Marta, essa é a Elena minha assistente. Elena diz pra Marta o quanto essa roupa tá incrível nela.

A espera de uma resposta positiva, Jo a encarou em súplica enquanto a outra mulher esperava por mais um '' você está ótima'', totalmente contrário ao que sentia.

Diferentemente há outras situações, a mentira não conseguiu chegar a sua expressão. Entortou os lábios e balançou a cabeça negativamente recebendo um olhar mortal de Jo.

— Tá vendo nem ela acha isso. - Marta bateu os pés no chão, pronta para entrar naquela cabine e ir embora. - É melhor eu vou voltar outro dia e...

— Não. - Elena exclamou assustando-as. - Você não entendeu. - Tentava explicar, enquanto Jo parecia pronta para querer demiti-la. - Só porque essa roupa não fica bem, não quer dizer que não precise procurar mais nada.

Marta suspirou derrotada.

— Menina, eu já tô aqui há horas. Isso foi o máximo que eu consegui. - Olhou ao redor provavelmente procurando sua bolsa.

— Vem. Quero te mostrar uma coisa. - Elena pediu gentilmente, apanhando a mulher pela mão.

— Elena pelo amor de deus. - Jo tentou intervir. 

Mas a menina ignorou.

— Cinco minutos e eu prometo que não vai se arrepender.

Sem expectativas, Marta deixou ser guiada por Elena que tinha um sorriso astuto no meio do rosto. Tanto ela quanto Jo seguiram para uma área no fundo do estabelecimento, com a mais nova na frente quase que saltitante. Pelo visto, estava certa de algo e queria provar seu ponto.

Ao pararam, ela se dirigiu até as araras em uma caça frenética por um alvo que sabia que estava lá.

— Achei. - Entoou vitoriosa, retirando um vestido consigo.

Marta de imediato sorriu ao ver a peça, azul em um tom quase como se fosse um jeans, com botões na parte da frente do inicio até, quase que a barra. A alça era grossa, mas ao mesmo tempo não possuía mangas. Era lindo, mas o riso logo se fechou ao imaginá-lo em seu corpo.

— Experimenta. - Elena disse lhe estendendo.

Envergonhada, Marta desviou o olhar.

— É melhor não.

— E por quê? - Dessa vez Jo quem falou. Elena estava com o olhar de quem também tinha a mesma dúvida.

Em sua mente, Marta já imaginava aqueles botões se quebrando no meio do jantar. Era melhor ligar e cancelar com ele. A mais nova, percebendo todo aquele dilema só na expressão da mulher, resolveu intervir.

— Só dá uma chance, se não gostar deixaremos você ir. - Disse ela, controlando sua vontade de soltar um sermão.

Somente para prová-la do contrário, Marta aceitou. A etiqueta a impediu de bufar e bater os pés no caminho, mas era nítida para a vendedora sua falta de interesse. Ao vê-la adentrar ao trocador, Jo voltou para a assistente.

— Está louca? - Sussurrava para não ser escutada pela cliente, embora a fúria em sua voz fosse clara. - Essa compradora é antiga minha, se acontecer dela não gostar não volta nunca mais.

— Jo, mas...

— Mas nada. - Interviu. - Eu realmente não quero ouvir nada, pelo menos até a Marta ir embora. Depois disso resolvemos sua situação. - Disse ela, indo-se em seguida para o balcão, longe de Elena.

A mesma ficou onde estava tentando transparecer confiança nos seus atos. Embora por dentro, um medo era inevitável que não existisse. Tanta coisa dependia de sua continuidade naquele emprego e não podia perdê-lo.

Para agravar sua angústia, Marta pareceu estar provando mais de sete vestidos dentro daquela cortina vermelha. Tanto ela quanto Jo já estranhavam a demora.

Quando ela finalmente saiu, revelando uma dúvida no rosto Elena sentiu o corpo desmoronar por dentro. Junto com Jo, tentaram parecer tranquilas e manter um sorriso positivo na face, apesar de não ser forçado por completo. O vestido havia lhe caído maravilhosamente.

— Nossa Marta. Você está ótima, ficou muito bom. - Jo aproximou-se, impressionada com sua própria sinceridade, sem o papo de vendedora de antes.

— Ela tem razão. - Elena endossou, embora um tanto triste. Marta não parecia tão segura quanto achou que estaria.

A cliente voltou-se para o espelho outra vez, ainda apreensiva.

— Você não parece tão feliz. O que houve? - Elena foi até ela.

— É que... Agora eu não tenho mais desculpas. - Jo e Elena se entreolharam, ambas não entendendo. - Antes eu estava com medo e ficava criando suposições pra cancelar e a roupa era a principal. Só que agora não tenho mais, eu gostei. Gostei muito.

— Então por que quer cancelar com ele? - Jo perguntou.

— Medo que ele não goste de mim.

— Ele te convidou. Significa que ele já gosta. - Elena sorriu lhe apertando os ombros, em conforto.

— Mas esse é o primeiro encontro. E no resto? Vou ter que usar esse vestido pra sempre?

A mais nova se colocou na frente dela.

— Sabe qual é o problema das lojas hoje em dia? Eles contratam vendedores pacientes, que saibam atender, vender. Mas não contratam pessoas que entendam de moda, aí uma mulher vai e acaba saindo com uma peça que é bonita, mas que a desvaloriza e então quando ela vê a roupa no manequim ou em uma modelo... A autoestima vai lá pra baixo. Às vezes mais ainda. Mas nessa loja é diferente. - Saiu da fronte da mulher, indo para sua direita. Queria que Marta visse a si mesma no espelho e que apreciasse também. - No seu corpo, quando não se está muito acima do peso, eu recomendo vestidos que sejam a cinturados por que disfarça. Nunca use nada largo demais ou apertado demais, tem que ser do seu tamanho. Você tem que conhecer o seu corpo e nem me vem com essa de preto sempre. Tem que usar cores fortes, escuras sim. Mas fortes. Estampas, eu aconselho as pequenas, aquelas delicadinhas. Nada de onça, zebra, nem muito menos horizontais. E se quiser tirar a atenção do tronco, usa um sapato bem legal, chamativo. Calças, leggins sempre até o fim da perna pra te alongar, nunca na panturrilha por que achata e vestido não muito curto. Na altura do joelho só um pouco acima tudo bem, mas só.  

Elena afastou-se trazendo uma paleta de roupas consigo que poderiam ter bom caimento para Marta, que assistia tudo em silêncio por estar desacostumada com aquele tipo de tratamento, tão dedicado e profissional em uma vendedora. Uma outra mulher que ali estava e aos poucos se tornava mais atenta pelas palavras de Elena, aproximou-se perguntando que tipo de vestido seria adequado para mulheres mais altas. Do mesmo modo que fez com Marta, ela lhe explicou e lhe deu opções do que escolher. Meia hora após isso, as duas partiram com uma satisfação estampada em si na qual Jo, em todos esses anos, nunca havia visto em nenhuma cliente ao deixar o estabelecimento.

Impressionada, Jo naquele momento lembrou-se de quem estava trabalhando consigo. Por alguma razão as clientes não pareciam perceber, provavelmente pelas roupas humildes na qual Elena agora trajava. Sentiu que lhe devia uma desculpa por ter ameaçado de demissão. Estava preparando as palavras que iria dizer, quando um assobio soou na calçada, era o namorado. Elena, de imediato, correu deixando apenas um '' Tchau, Jo. Vou almoçar''.

—--x---

Damon surpreendeu-se com o sorriso tão efusivo que Elena veio até si, sendo que estariam para receber uma notícia hoje, na qual o estavam angustiando tinha algum tempo.

Abraçaram-se forte e ele lhe depositou um beijo no topo da cabeça.

— Parece contente. O que aconteceu?

Elena deu os ombros, como se nada tivesse ocorrido.

— Fiz uma coisa boa hoje. Só isso. - Disse simplesmente, antes de seguirem para o restaurante a poucas quadras dali.

—--x---

Esperaram o pedido trocando palavras sobre o dia. Elena contou sobre a anedota seguida na loja, esquecendo-se por completo das palavras de Jo antes de Marta sair do provador. A satisfação dela e surpreendentemente de outra cliente que a observava, apagou aquele momento.

Observando feliz, a animação de Elena, Damon lhe beijou uma das mãos.

— Gosto de te vê assim. - Lhe acariciava os dedos.

Ela adorava a maneira como ele lhe tocava mesmo no silêncio.

— Queria te vê hoje de noite. O que acha? - Ela expôs seu bom-humor, mas não recebeu dele a mesma reação.

— Adoraria, mas sabe que hoje é impossível. O Ric e a Meredith só viajam próximo fim de semana e você sabe. - Exclamava Damon, repetindo o mesmo roteiro que Elena já conhecia.

— É que eu sei o quanto você tá nervoso pra hoje. - Explicava-se, esperando que ele mudasse de ideia. - Queria te acalmar, te fazer uma massagem. Algo assim.

Ele sorriu, voltando a apanhar sua mão.

— Por enquanto, sua companhia em um almoço é o suficiente. - Disse, provocando um suspiro em Elena que no mesmo instante se aproximou para grudar seus lábios em um beijo calmo, mas demorado.

Hoje seria um dia de decisões importantes, logo que aquele telefone tocasse eles teriam a resposta que tanto poderia decidir seus futuros, o de Damon principalmente. Tentou transmitir para ele todo calor que pudesse naquele simples beijo, mostrar que estaria ali com seu corpo e alma, fosse qualquer a resposta que tivessem.

Os movimentos se intensificaram e Elena lhe puxou pelos cabelos para poder senti-lo ainda mais firme junto ao seu corpo, mas foi só Damon lembrar-se do lugar público que estavam para diminuir o ritmo novamente. Ela lhe puxou os lábios inferiores com os dentes, terminando o contato entre as duas bocas.

Não houve tempo para que nenhum deles dissesse algo, fosse um elogio ou uma ironia, foram interrompidos pelo toque do celular.

Sobressaltado Damon olhou o visor, onde o nome escrito conseguiu deixá-lo pior.

Elena não precisou de mais nada, já sabia do que se tratava.

— É ele, não é? - Tentou controlar seu medo, Damon assentiu devagar. - Atende. Não vamos adiar mais isso, vai.

Não havia como discordar das palavras dela, olhou-a pela última vez se sentindo em paz. '' Nada vai mudar'' Elena sussurrou, passando a segurança que precisava. Respirou fundo e levou o dedo até o lado verde de seu aparelho, que seguiu rapidamente para a orelha, trazido por uma mão direita que suava incansavelmente.

— Oi Marcel. - Atendeu de modo aparentemente normal.

— Oi Damon, estou aqui em Los Angeles. Como você está?

— To esperando, na verdade. Esperando por você.

Damon tentava identificar algo na voz de Marcel, para ter a reposta para si adiantadamente. Enquanto isso, Elena segurava suas mãos sem fazer ideia da quantidade de força que estava colocando nelas.

— Desculpa ter demorado, tinha te prometido uma resposta pela manhã, mas só fui comunicado agora. - Explicava-se, um tanto envergonhado.

— E então...

Houve uma curta pausa.

— E então que você é um desgraçado de sorte. - Marcel sorriu do outro lado. - Vamos a um júri de tribuna, meus parabéns.

O riso junto com um suspiro de alívio havia sido a resposta que Elena precisava, ele de imediato a mirou enquanto Marcel continuava a falar sobre o porquê o juiz optou pela tribuna. Mas não lhe importava. Tudo o que conseguiu fazer foi mirar a mulher ao seu lado e retribuir o aperto que ela dava em sua mão.

— Eu sabia, eu sabia. - Elena murmurava, com os olhos repletos por pequenas lágrimas. - Parabéns meu amor. - Não esperou que ele interrompesse a ligação, o puxou pelos lábios novamente, dessa vez em um selinho apenas. - Te amo, te amo. - Disse contra os lábios dele.

Damon sorriu em resposta.

— Marcel, muito obrigado. - Voltou à ligação. - Você tá fazendo um ótimo trabalho, preciso desligar agora.

E assim fez, após ouvir algumas palavras de despedidas vindas do outro lado da linha, abraçou Elena que lhe recebeu carinhosamente.

— Vai ficar tudo bem, você vai vê. Tá tudo dando certo. - Lhe dizia aquelas palavras encorajadoras em seu ouvido, com toda confiança que podia.

— Quero você do meu lado, Elena.

Estaria do seu lado mesmo que não quisesse. Ela pensou, inalando o cheiro do pescoço do amado. A oportunidade de estarem juntos em momentos assim fazia todo o restante do dia valer a pena. Nesse último mês tudo o que sua memória conseguia captar com clareza eram quando chegava a casa para colocar o peso do dia na sua cama que também era sofá.

Gostavam daqueles almoços de duas vezes por semana. Um sábado sim e um sábado não, se encontravam para passar a noite juntos na casa de Alaric. Normalmente nos dias de encontro que ele e Meredith tinham, já que só voltariam pela madrugada. Ela sempre ia embora bem cedo, em um dos primeiros raiares do sol.

Com essas circunstâncias era impossível possuírem a vida sexual que qualquer casal deseja, mas a relação já estava muito mais aprofundada do que só nesse quesito. Sentiam mais falta da intimidade que o ato trazia do que até mesmo do prazer em si.

‘’ Você é livre pra viver sua vida, Damon. Mas querer que eu finja que aprovo seu relacionamento é algo que não posso fazer. Isso é um tiro no seu próprio pé’’, Alaric disse quando pediu sua opinião.  ‘’ Não me intrometo, mas não aplaudo’’. 

Mas Damon não pedia mais que aquilo de ninguém e Elena, muito menos.

— Tá com sal demais, não acha? – Ela questionou, enquanto seu paladar sugava os restos do alimento que foram para a garganta.

Damon não estava se concentrando naquilo.

— Não senti nada estranho. – Deu os ombros, assumindo uma expressão séria em seguida. – Sabe o que andei pensando? – Elena se atentou em fita-lo, como um sinal de ‘’ continue’’— Marcel está fazendo um ótimo trabalho. Rose deve estar pagando horas extras... Todas essas coisas. Ela tem reclamado de alguma conta ou falta de dinheiro?

A maneira concentrada como ele a encarou, ansiando por sua resposta, lhe fez agir rápido e camuflar sua expressão para que encaixasse com sua mentira.

— Ela não tem falado nada. Também não parece preocupada. – Damon tranquilizou-se, tinha ciência de quão observadora Elena era. Com o assunto em questão, ela sentiu um fio de uma antiga curiosidade sua renascendo. Já queria ter perguntado aquilo antes, mas temeu que ele se intrigasse pela pergunta e investigasse. De qualquer forma, Damon lhe entregou o álibi que necessitava. – Mas porque não se preocupa? Quer dizer, se fosse qualquer outra pessoa te pagando advogado, você talvez nem aceitasse por orgulho. Porque aceita com a Rose? – Tentou não transparecer ciúmes em sua voz.

Para sua sorte, ele não pareceu perceber.

— É um pouco complicado. Eu sei que com o dinheiro que a Rose tá fazendo isso, é um dinheiro nosso. Que eu e ela juntamos por anos, então não sinto que estou me aproveitando ou fazendo qualquer coisa do tipo. – Falava com uma tranquilidade obvia. – O Marcel, no passado, Ric me ajudou. Mas ele não pagou tudo e também era um caso muito mais simples e mais barato. Agora seria diferente, já pensou você pagando advogado pra mim? – Sendo que eu quem te colocou nessa situação. Pensou em dizer, mas calou-se. Não queria começar uma discussão.

Elena muito menos, preferiu não argumentar. Embora a resposta houvesse lhe deixado apreensiva. Seguiram o almoço na mesma sintonia, repleto de risadas, conversas e carinhos vagos, até ele lhe levar novamente para a loja na qual sustentava o tão competente advogado sem o acusado saber.

—--x----

DIAS DEPOIS.

Um estalar alto de suas costelas denunciou seu cansaço, encerrando a farsa de seu consciente em tentar fingir que poderia aguentar mais um pouco. Olhou a pilha de roupas já passada sentindo que seu esforço valera a pena. Faltava apenas mais um paletó e encerraria por hoje.

Por alguma razão parecia mais esgotada naquela noite, deveria ser seu emocional entrando em conflito com o físico. Seu filho iria para um tribunal sob uma acusação grave. Ainda era difícil para sua mente calcular algo assim.

Gostava de Elena, mas se tivesse o poder de escolha em suas mãos, desejaria que um nunca houvesse aparecido na vida do outro. Agora quem teria que aguentar o peso de todas essas consequências seria ele e apenas ele. Com as tarefas domesticas acumulada, esqueceu-se de acender a vela para seus santos em pedidos por seu filho.

Como de costume, apanhou os bolsos do paletó em procura de algo para se retirar dali, aquele ato era mais automático do que qualquer coisa, já que raramente encontrava algo. Hoje por exemplo, não havia nada. Com exceção daquele momento. Assim que sua mão tateou o lado esquerdo, a textura de papel logo foi sentida. Estava dobrado, apenas uma vez, não o bastante para ser amaçado.

Estranho, Giuseppe normalmente mantinha essas coisas em sua maleta.

Leria apenas para saber onde colocaria. Se na maleta ou no lixo. Já havia passado da fase de desconfianças ou ciúmes, se fosse um segredo, não lhe importava. Parou a muito tempo de se importar com aquele matrimônio. Nada além de convenções sociais e estabilidade a prendiam ali.

Seus olhos foram caindo sobre o impresso com estranheza. Era um tipo bom de papel. Grosso e poderia dizer que era reciclável, apesar de não ter conhecimento necessário sobre isso para fazer tal afirmação. Mas ao abrir, foi quando desejou não ter conhecimento sobre nada, principalmente sobre letras e em como juntá-las para que formassem uma oração. Desejou que toda sua escolaridade, mesmo que pouca, estivesse errada e que aquelas seriam outras palavras ao invés da que estava lendo.

Não, não. Não pode ser.

Não conversou com Giuseppe sobre o que estava a situação de Damon, na verdade não conversava com ele sobre nada há um bom tempo, mas dentro de si optaria por acreditar que ele não se intrometeria no que estava acontecendo.

Não percebeu quando suas lágrimas começaram a vir.

— O que está fazendo, Grace? – Uma voz grave soou em direção a porta.

A mulher virou-se de imediato, seu corpo e expressão em puro choque e fúria.

— Estava passando sua roupa. – Disse fria. – Como faço sempre.

Um sorriso cínico nasceu no rosto de ambos. Ele sabia o que ela tinha na mão.

— Ou seja, fazendo sua obrigação de boa esposa. – A encarou de cima abaixo. – Só não é praxe de boa esposa xeretar, não acha?

Grace estava saturada demais para perder tempo com jogos. Queria bate-lo, mas seu temperamento e personalidade a impediam de ir tão longe.

— Só fui checar seu bolso, como sempre faço. Pra lavar e pra passar. Só não esperava encontrar isso. Encontrar algo tão sujo. Depor contra o seu próprio filho no tribunal? Pra quê? 

A carta de intimidação, para o esposo, em sua mão foi ao piso, não aguentaria segurar aquilo por mais um minuto sequer.

— Pra quê? Ele é um criminoso, eu vi. Tenho como provar. Só estou cooperando com a justiça, nada, além disso. – Adentrou com mais conforto ao quarto, retirando o casaco em cima da cama, sentando-se na mesma.

 Grace continuava imóvel, enquanto o marido friamente já se livrava dos sapatos.

— Você sabe muito bem a história. Ele errou, mas não quer dizer que é um monstro. Não é mais fácil não se meter nisso? – Falava literalmente com as paredes, em direção a elas, tudo para não o encarar.

— Grace, chega ok. Nada do que você falar vai mudar isso. Eu aceitei colaborar e a carta já chegou, o julgamento é logo logo. Se eu negar, quem vai está cometendo um crime sou eu. Posso ir pra cadeia por isso.

Dessa vez o encarou, tomada por uma onde de coragem que nunca em sua vida havia sentido. Suas veias saltaram e sua garganta prendeu-se, deixando seu coração palpitando. Necessitava liberá-lo e apenas sua voz poderia fazer.  

— Um pai de verdade seria preso pelo próprio filho. Mas seria exigir demais de você que agisse como um homem de verdade. Isso você não é há muito tempo, na verdade eu duvido se um dia já foi.

Ela já sabia o que estava por vim. Não acreditou em sua própria boca, que um dia teria coragem de dizer algo assim, não acreditou nem ao menos em sua própria mente, que um dia teria a independência de pensar por si própria.

Giuseppe demorou em caminhar até Grace. Veio lento, muito lento. Com intenção de tortura-la apenas com seu andar. Não parecia abatido e nem expressivo, apenas vinha como uma pantera nas sombras. A única coisa que passava na cabeça da mulher era aguentar, junto as rezas para sobreviver até o fim da noite, mordeu o lábio esperando pelo tapa.

Veio um soco. Em um de seus olhos.

— Quem você pensa que é? – Gritou, em fúria. - Resolveu desafiar? Depois de 40 anos sendo uma monga? Um pouco tarde pra isso. – Sem dar tempo para Grace virar o rosto em impacto, ele o segurou com uma das mãos, levando-a até a parede em segundos. Fazia anos que ele não a batia, mas parecia continuar cada vez mais forte. Ou talvez ela que tivesse enfraquecido. – Sabe que no passado eu até tinha pena de te enfiar a mão, você tinha um rosto tão bonito. Eu evitava. Mas agora eu não vou ter pena. – Gritou em exaltação, apertando o queixo dela. – Já ficou velha e já tá se acabando, é muito mais fácil pra mim. Então não ouse em tentar me responder outra vez. Entendeu cadela?

Grace assentiu com dificuldade, pela pressão dos dedos dele em seu rosto.

— Bom, acho muito bom – Sussurrou desafiadoramente, soltando-a em seguida. Ela tossiu por breves segundos, enquanto ele seguia de volta para a cama. – Agora desça e faça meu leite, tenho que acordar cedo amanhã. Alguém tem que manter essa casa.

Não disse nada, sentiu que nem respirou. Saiu do quarto, sem nem ao menos possuir noção de seus passos. Mas dessa vez sentia-se distinta, por mais que toda partícula de seu corpo implorasse que não fizesse nada, que deixasse a correnteza seguir, sabia que agora era diferente. Não se tratava dela, se tratava de seu filho. Tratava-se de agir pelo bem dele, se tratava de fazer algo que não fez no passado e que se arrependeu amargamente.

Chega, chega, chega, chega. Seu coração explodiu.

Preferiu agir rápido para que a fonte da coragem não se esvaziasse. Fez o leite, como boa beata e esposa fariam. Não estava nervosa, surpreendentemente. Seu impulso simplesmente lhe gritava o que tinha que fazer e não contestava.

Ano passado sofreu uma grave insônia por conta de um acidente ocorrido com seu irmão, que morava fora do país. Quando ele se recuperou, seu sono voltou a se regular, mas os remédios que usou de tratamento continuavam dentro do prazo de validade. Quando não precisou mais deles, transferiu-os da gaveta do criado mudo para a gaveta da cozinha.

E agora eles iriam ajuda-la outra vez.

Dissolveu apenas meio comprimido na bebida. Eram fortes e sabia que mesmo assim, Giuseppe teria de acordar cedo amanhã como todos os dias.

Quando voltou para o quarto e o assistiu engolir cada gota, surpreendeu-se por sua própria frieza. E se fosse veneno ali? Talvez essa vontade já estivesse engasgada há muito tempo.

— Tá diferente. – Foi tudo o que ele disse, mas sem desconfiança.

— Acho que coloquei pouco açúcar. Já estava querendo cortar a algum tempo.  

Deitou-se ao lado dele, como de costume. Sentindo um enojamento como nunca antes. Esperou, esperou e esperou.

Permitiu-se colocar na mala poucas roupas, não tinha muitas e também não queria que quando ele acordasse, visse que não tinha mais nada ali, acabaria descobrindo cedo demais. Optou por apenas dois pares de sapatos, um fechado e um aberto. Priorizou apenas roupas intimas e os álbuns de foto de seus filhos. Junto também o presente de Damon e de Stefan, quando o mais velho foi para Nova York.

O bilhete que deixou foi simples.

‘’ Tive que sair bem cedo. É dia de feira e quero pegar as melhores frutas, estamos precisando. Quando chegar do trabalho já terei voltado para casa. Seu almoço está na geladeira e sua roupa em cima da poltrona como sempre’’.

Fez tudo exatamente como o bilhete dizia, separou e dobrou a roupa pela última vez com os mesmo modos de antes. Lembrou-se de como conheceu Giuseppe, era da cidade vizinha. Trabalhava como garçonete no restaurante que ele costumava almoçar em horário de trabalho. O Grill naquela época não servia comida. Ele não mentiu quando disse que era muito bem afeiçoada.

Lembrava-se da quantidade de convites que recebia de todos os clientes, em principal os operários de onde ele trabalhava. Era uma espécie de fetiche entre todos aqueles pares de calça, na qual quem a ganhasse seria o vencedor. Mesmo sabendo disso caiu.

Ele parecia diferente. Não a olhava tendencioso, talvez fizesse por suas costas. Sempre a chamava de senhorita, com muito respeito e jamais falava alto. Demorou em perceber que aquela era apenas uma tática para que pudesse tê-la e exibir-se aos seus amigos.

Apenas seus filhos para não fazê-la arrepender-se de ter dito sim quando ele perguntou se poderia segurar sua mão, logo antes de convidá-la para sair pela primeira vez. Aquele gesto lhe encantou tanto na época. Hoje aquela mesma mão lhe golpeou, mas seria pela última vez.

Seu carro não era velho, portanto não era do tipo barulhento. Mas também com o calmante e com a distância do último andar para aquela garagem, ele não ouviria nada. A luz intacta do quarto confirmou sua teoria. Deu partida. Só para isso usava aquele carro, para ir ao mercado quando o marido não estivesse.

Não era a melhor motorista, mas ele serviria por aquela noite.

—--x---

— Está me distraindo. – Damon murmurou, enquanto suas costas nuas eram entupidas pela macia boca de Elena. Ao menos agora ela estava de pijama, seria ainda mais difícil mexer aquele macarrão, com ela seminua.

— Não finja que não gosta. – Ela lhe mordeu. Por mais que estivesse de costas poderia sentir a faceta sedutora que Elena estava mantendo naquele momento.

O apartamento estava vazio naquela noite. Meredith de plantão e Alaric aproveitando para visitar os pais. Damon sabia que eles faziam de propósito, para que pudesse ficar sozinho. Ou quase sozinho. Poderia não fazer sentido para quem estivesse fora, afinal tinha seu próprio quarto na casa. Suficientes para ele e Elena estivessem à vontade e longe das vistas de ambos, mas entendia. Alaric não queria ficar perto do que estava acontecendo.

— Temos que dormir. Não quero que você pegue a estrada amanhã com sono. – Avisou, com seu tom de responsável.

Antes que Elena pudesse dar uma resposta irônica, citando mil e umas razões pelas quais não iriam dormir tão cedo, a campainha soou, para a estranheza dos dois. 

Olharam-se, um tanto assustados.

— Será que é a polícia? – Ela sussurrou, desprendendo-se do abraço.

Uma coisa era certa, não poderia ser Alaric ou Meredith, eles tinham a chave da própria casa. E era um horário um tanto incomum para visitas.

— Acho que alguém viu você entrando. Devem ter avisado. – Pensou em voz alta, repreendendo-se em seguida. Não queria assustá-la.

— Vou me esconder.

— Elena espera... – Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela foi para o quarto em passos acelerados.

Merda. Damon pensou, em nervoso.

Mas isso era o que menos deveria aparentar naquele momento. Caminhou até a porta, relembrando a anedota de um psicopata que tinha restos de suas vitimas em seu porta malas. A polícia deteve seu carro, por um procedimento de praxe. Estavam procurando o tal assassino e deveriam revistar todos os carros que passassem por aquela fronteira. Quando o carro dele parrou, sua tranquilidade e bom humor foi tão bem fingindo que os próprios oficiais desistiram de inspecionar seu veículo. Considerando impossível que alguém que fosse suspeito de algo tão bárbaro manteria tamanha serenidade em tal situação.

Talvez devesse tentar fazer o mesmo. Assim, quem sabe, poderia haver uma pequena probabilidade de não invadirem o local em busca de sua ‘’ vitima’’. Estava em condicional e qualquer erro, o mandaria de volta.

Colocou-se sob o olho mágico, sendo capturado por um choque ainda maior. Não estava mais eufórico, apenas voltou ao seu modo natural de reação por coisas bizarras.

Abriu a porta de imediato, sem consegui disfarçar sua expressão.

— Mãe? – Questionou, sem entender. Em voz alta. – Aconteceu alguma coisa? - Não perguntou isso apenas pela visita em horário inapropriado, mas também pelos olhos vermelhos que estava do outro lado da porta, junto a uma mala grande de viagem. – Entra, vem. Entra.

Ela o fez.

— Desculpa aparecer assim. Devo ter te assustado. Está sozinho? – Antes que ele pudesse responder sua pergunta, Elena apareceu na porta do quarto, vindo para a sala. Grace bufou um tanto irritada, mas manteve a educação. – Oi Elena. – Disse baixo, olhando para o filho.

— O que houve com o seu olho, mãe? – Damon aproximou-se para lhe tocar o rosto. Analisou cuidadosamente.  – Não. Nem precisa responder. Dá pra vê quem foi. – Segurou os próprios punhos em sinal de ira.

— Fazia um tempo que não acontecia.

— Isso nunca devia ter acontecido. Nem antes e nem agora. – A interrompeu, corrigindo.

Elena preferiu o silêncio, mas entendia sobre o que e sobre quem estavam falando. Foi até o fogão e desligou o fogo.

— Onde estão Alaric e Meredith? – Grace perguntou olhando ao redor, tudo parecia tão silencioso.

— Não estão. Só eu e Elena estamos aqui. – Disse ele, ignorando o olhar de repreensão que veio dela. – O que faz com essas malas? O que aconteceu?

Houve uma longa pausa. Antes que pudesse responder, foi invadida por lágrimas que a fizeram fraquejar. Damon a abraçou fortemente.

— Eu fugi. Ia pegar meu carro e ir pra algum lugar por aqui perto, mas... Acabaria voltando. Não tem nenhum lugar que eu possa ir sem que ele saiba. A casa da minha irmã é fora de cogitação, ele me acharia em dois segundos. – Falava em um misto de atordoamento e vergonha. – Percebi que eu não tenho pra onde ir e... Não quero te deixar sozinho.

Sem saber exatamente o que falar, Damon continuou mantendo-a em seus braços. Ela precisava disso.

— Grace. – Elena começou a desenvolver algo. A mãe a encarou curiosa por sua fala, soltando-se do filho em delicadeza. – Perdão, mas... Porque resolveu ir embora? Afinal, pelo que entendi não foi à primeira vez que isso aconteceu. O que houve?

A outra respirou profundamente, não queria contar isso a Damon. Não queria que ele soubesse o tipo de pai que tinha e o tipo de marido que um dia apoiou.

— Estava passando roupa e encontrei no paletó dele uma carta do juizado.  – Gaguejava algumas palavras. – Ele vai depor contra você no tribunal, Damon. Brigamos e... Aconteceu.

Irritava-o que Grace resolveu colocar o ponto final nas coisas por ele. Por que Giuseppe resolveu compactuar com sua ida para trás das grades. Ela deveria ter feito por si mesma, há muito tempo.

Mas não discutiria aquilo agora. Ela precisava de suporte em um momento tão frágil.

— Onde ele acha que está agora? – Resolveu perguntar algo.

— Está dormindo, coloquei um calmante na bebida dele e deixei um bilhete dizendo que iria pra feira. Vai acordar bem cedo, pensando que eu saí antes dele.

Bom plano. Pensou Elena, com uma ideia nascendo em sua mente. 

— Não acho que tenha problema para encontrar onde ficar. – Elena exclamou um tanto obvia. – Tem um lugar onde ele não te encontraria.

Damon franziu o rosto.

— O que está falando, Elena?

Por um momento ela teve medo de sugerir o que estava planejando. Mas era tarde demais.

— Porque não vai para Nova Iorque? Viver com seu filho. Giuseppe não sabe onde Stefan mora. Porque não começar uma vida nova, sem medos, longe, onde se sinta em segurança e esteja cercada por outro tipos de pessoas? O que acha? Está muito claro que não pode ficar aqui, ele te acharia. Você mesmo falou. – Sugeriu com a voz carregada pelo otimismo e segurança que queria que ela se contagiasse.

Mas não aconteceu.

— Não sei... – Suspirou hesitante. – Mudar assim do nada, é muito arriscado. Eu nem tenho dinheiro pra passagem de avião, tudo que tenho na mala é umas economias básicas caso faltasse comida de repente. – Sua cabeça balançava negativamente em ritmo nervoso.

Elena conhecia esses toques. Medo de mudança. Nada muito diferente do filho. O jeito racional de não querer nunca se precipitar, ela via agora de quem ele tinha herdado.

Respirou fundo, mantendo a ansiedade adormecida, para que pudesse mostrar para Grace outra visão das coisas. Tinha conseguido com o filho, por que não com ela também?

— Grace, o primeiro passo você já tomou. Você merece parabéns por isso, porque muitas mulheres não fazem pelo mesmo motivo. Mas você conseguiu. – Falava com tranquilidade. – Mas agora você tem uma chance. Conheceu o seu limite e se continuar aqui, em breve, cedo ou mais tarde, tudo vai voltar a ser igual. É isso que a comodidade faz com a gente, sempre. Você está inventando desculpas, por medo do acaso. Mas... Olha pra você, com uma mala na mão. O pior passou e você vai desistir justo na parte mais fácil?

Grace calou-se, sem respostas. Toda sua argumentação havia sido jogada pela janela. Quis chorar mais uma vez por ser tão tonta, por ser tão submissa a tudo em sua volta. Mas como aceitar ir embora do lugar onde viveu a vida inteira, logo agora. Velha e acabada, como Giuseppe havia dito.

Observando as dúvidas ainda continuas na expressão da mais velha, Elena voltou a falar.

— Eu tenho como te ajudar a ir. Mas a pergunta é: Você tá disposta a dizer sim? Se você quiser, posso te fazer embarcar ainda hoje. Mas a escolha é sua. – Resolveu calar-se.

— Mãe, se por um acaso você tiver dúvidas por conta minha, fica sossegada. Eu vou ficar bem aqui, tenho um excelente advogado e estou otimista sobre o julgamento. – Damon endossou, apanhando as mãos gélidas de Grace. Conseguia sentir a indecisão da mesma, como se estivesse na própria mente dela.

Não deveria pensar tanto, caso pensasse, desistiria e ficaria cercada por arrependimento no futuro. Não poderia fazer aquele dia todo em vão. Já estava ali, com a porta da oportunidade aberta à sua frente. Tentou não pensar no que haveria do outro lado, qualquer coisa que pudesse lhe aguardar em Nova Iorque, não poderia ser pior do que tudo que já viveu em Mystic Falls.

— Eu aceito. – Disse, enquanto respirava fundo, esvaziando todo seu peito do passado. – Eu vou.

—--x---

Elena resolveu não intervir naquela despedida. Ambos se abraçavam com uma força capaz de quebrarem os próprios braços. E mereciam aquilo. Não saberiam a próxima vez que iriam se vê. Aquela era última oportunidade para tantas dúvidas que o acaso traria.

Ligou para Jeremy, do telefone da casa de Alaric. Há um mês, ele e April haviam retomado com o recebimento de suas mesadas. Explicou para ele a situação e Jeremy concordou em fornecer o que tinha. Ao contrário de si, seus irmãos sempre foram bons em economizar.

Passagens para Nova Iorque agora apenas de ônibus. O acaso estava mesmo ao favor de Grace, era madrugada de quinta para sexta feira e sexta era logo o dia de passagens mais comerciais na rodoviária. Infelizmente a rodoviária de Mystic Falls não fazia esse caminho, por isso teriam que ir até Richmond para conseguir a viagem das dez horas. Conhecia aquele itinerário de cor. Inúmeras foram às vezes que cogitou a ideia de fugir de casa desde que se mudou. Tecnicamente hoje iria fazer metade do que tanto planejava, afinal seria ela quem levaria Grace até a rodoviária. Damon por estar sob o julgamento não podia sair da região.

Trocou de roupa. 

Deixou-os lá, aproveitando seus últimos momentos enquanto esperava por Jeremy no quarto. John voltaria apenas na quarta feira para a cidade então seria fácil para ele escapar naquela noite.

Ficou um tanto pensativa em questão do carro de Grace. Iriam com ele até Richmond, mas e depois? Voltaria com ele para a mansão dos Salvatores?

Grace havia dito que o carro estava em seu nome e estava assegurado. O que facilitou a entrada dessa ideia na cabeça de Elena. Após chegar em Mystic Falls, iria jogá-lo de algum barranco e Grace receberia um novo em Nova Iorque, após inventar que o mesmo teria sido roubado e comunicar a concessionária de seu novo endereço.

Anotou os dados da maradia de Stefan em um papel para ela, fazendo a melhor letra que conseguia. Assim que Grace chegasse, entregaria esse papel ao taxista e ele a levaria até lá. 

— Grace. – Elena a chamou, enquanto voltava para a sala. Eles separaram-se do abraço. – Se importa se tirar uma foto sua?

A expressão dos presentes contorceu-se em agonia.

— Pra quê? – Ela perguntou.

— Preciso tirar foto do seu hematoma. – Explicou calmamente. – A lei permite que quando alguém é vitima de violência domestica, outra pessoa pode fazer a denúncia caso a mulher não queira ou não tenha coragem. Vou fazer essa denuncia em seu nome. – Mas a outra não pareceu concordar. Por mais que estivesse deixando seu marido, não desejava para Giuseppe algo assim. Era o preço que pagava por viver com alguém por tanto tempo. Empatia. Mesmo que não quisesse. – Preciso fazer isso Grace. – Elena a repreendeu ao perceber suas dúvidas. – Com essa denúncia contra o Giuseppe o depoimento dele contra o Damon não irá valer de nada. Nenhum juiz irá considerar. Faça pelo seu filho.

Faça pelo seu filho. Aquela palavra lhe prendeu. Por mais empatia que tivesse, ela nunca era capaz de competir com o amor incondicional de uma mãe. Não havia nada em ser feito a não ser aceitar.

Assentiu calmamente e tirou a foto. Após o clique, o chiado de um interfone soou.

— É o Jeremy. Temos que ir. – Avisou Elena.

Pensou em avisar o irmão de que o portão estava quebrado e que o interfone era apenas uma decoração, mas era melhor que descessem de uma vez ao invés dele subir. 

— E seu trabalho amanhã como fica? – Damon pareceu lembrar-se daquele detalhe de repente.

Elena torceu o lábio. Não havia pensado naquilo.

— Vou ligar e dizer que estou doente. – Tinha trabalhado bastante ultimamente, como duvidava que um dia qualquer funcionária da Jo houvesse trabalhado. Até conselheira de moda de suas clientes se tornou. Um dia de falta ela teria que aceitar.

Olhou o relógio. Três da manhã, as seis provavelmente estariam em Richmond, ficaria com ela o tempo até o ônibus chegar. Esperaria que pudessem conversar nesse meio tempo, afinal sabia que ultimamente a opinião de Grace sobre seu relacionamento com seu filho deveria ter caído bons pontos. De qualquer forma, não faria isso para obter aquela aprovação de volta e sim porque queria ajuda-la.

Despediram-se de Damon, com o mesmo lhe mandando mil recomendações de como tomar cuidado na estrada. Grace não parecia mais tão nervosa, embora sua linguagem corporal mostrasse não acreditava que isso estava realmente acontecendo.

No corredor do prédio, um pouco antes de chegarem até a calçada onde Jeremy lhe esperava, ela com seu toque calmo e nervoso, lhe parou.

Os olhos azuis lhe encararam com um agradecimento que jamais recebeu na vida.

— Obrigada. Muito obrigada. – Murmurou, segurando-se em lágrimas. Antes que Elena pudesse lhe responder qualquer coisa, foi cortada por um forte e irrecusável abraço. – Meu filho tem muita sorte. Muita mesmo.


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Notas finais do capítulo

por favor, comentem quero saber quem continua acompanhando. Beijos



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