Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 44
- Cada vez pior. Part 2


Notas iniciais do capítulo

VOLTEEEEEEI. Sim, sim, sim... estou de volta e mais feliz do que nunca pelo apoio que vocês me deram. Obrigada Vick Somerhalder, Dreams Delena e MissSamantha Petrova pelas recomendações e obrigada tbm pelas meninas que favoritaram; Mais cinco e chego a meta de 100 favoritos (lembrem-se, se essa é uma de suas fics favoritas, mas vc esqueceu de favoritar. Faça e me ajude por favor)
Enfim, vcs já esperaram demais, tá ai. Obrigada a todos pelo apoio novamente.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/386259/chapter/44

O desejo principal pregado por Jesus Cristo era, ao mesmo tempo muito simples e ao mesmo tempo muito árduo: Ame ao próximo como a ti mesmo. E tanto Elena como qualquer pessoa que conhecia ao seu redor, por mais respeitosa que fosse aos mandamentos divinos, nunca havia conhecido alguém inteiramente seguidora daquele pedido.

Todos possuíam sua exceção. Todos tinham aquela pessoa na qual é impossível de amar, gostar, ou até, em casos extremos, respeitar. Ainda mais como a ti mesmo; Isso então, para os mais vaidosos poderia ser visto como impossível. Gostar de alguém não te faz amar, ainda mais como a ti mesmo.

Elena não sabia o porquê de estar pensando nisso, no exato momento quando Mason cuspiu aquelas palavras diante de si.

Talvez por sentir tamanha raiva que para ela era provável que fosse um sentimento sobrenatural. Algo desconhecido na qual não se pode ser explicado com palavras, no máximo expressões faciais ou metáforas confusas.

Mesmo sem ver seu rosto, tinha a absoluta certeza de que estava vermelha pelo ódio. Vermelha pelo sangue que subia a comparando com uma bomba, prestes a explodir. Não só Mason como tudo que a rondava no momento.

Ao contrario de sua pele, conseguia sentir o rubor do arder que seus olhos estavam. Como um incêndio acontecendo em seu globo ocular. Enquanto seus olhos ardiam em fogo, sua face mantinha-se dura como o gelo.

Aquele era seu orgulho, de não cair e demonstrar seu medo perante Mason, lutando com toda aquela fúria e vontade pelo ataque.

– Tá blefando. – Acusou esforçando-se para não aumentar muito o tom. Mas ao mesmo tempo, sentia como se não possuísse forças para gritar. Mason sorriu pelo obvio. Já esperava por aquela reação.

– Eu não blefei quando disse que sabia do namorinho de vocês dois... Porque eu blefaria falando que vou denuncia-lo?

– Se quisesse denunciar, já teria denunciado – Rebateu nervosa, sentia cada vez mais o relógio que controlava a bomba dentro de si, diminuindo seu tempo. – Se fosse REALMENTE fazer, você não viria aqui antes. Mas você veio. E eu conheço muito bem esse joguinho.

Mason pareceu surpreso, embora tudo que esboçasse fosse a mesma pose descarada.

– E que joguinho é esse? – Sussurrou atrevido, aumentando ainda mais a vontade de Elena de lhe descarregar um tapa.

– Chantagem. – Disse ela, levantando as sobrancelhas fazendo-se igualmente petulante quanto ele. Também sabia jogar, e iria mostrar isso a Mason. – Quer me chantagear. Por isso tá aqui, por isso fez esse teatrinho inteiro. Eu não sou tão burra quanto você pensa.

– E quem disse que eu pensei que você fosse burra?

– Faz-me rir, tá legal. Já falei que eu sei qual é teu jogo; Dinheiro que não é, porque isso você tem. O que é então? Vingança pelo que aconteceu com a Rose? É isso que te assombra tanto e que você não supera de jeito nenhum? É?

– Isso não é da sua conta. – Respondeu de olhos fechados, canalizando a raiva para dentro de seu corpo. Não era hora de perder o controle. Elena sabia que atingiria o ponto fraco dele; Que em uma infeliz coincidência, era o mesmo que de Damon. – A questão é que se você não fizer o que eu mandar, ele dança. E você é esperta o suficiente pra não arriscar.

– Você não tem provas, meu querido. Se enxerga ok? Eu nego tudo, o Damon nega tudo. E sem provas, o caso é arquivado; E assim que o juiz ficar sabendo que ele te tirou uma mulher vai achar que isso tudo não passa de uma tentativa fula de vingança por mais um homem machista que não consegue superar um chifre. Entendeu agora?

Elena assistiu a cada movimento do rosto de Mason reagindo em seus argumentos. Para sua total surpresa, nenhum foi como esperou. Ao contrario do que acreditava, o rapaz manteve-se sereno, pensativo, pacato em uma a uma de suas palavras. Aquilo ativou ainda mais seu medo, ele não só sabia como também possuía planos e ideia do que fazer a cada situação que tentasse o colocar contra a parede.

Dependendo do que fosse, sabia que não era bom.

– Tem uma coisa muito importante que você se esquece, Elena. Mesmo sendo tão inteligente e cheia de manha. Sabe o que é? – Antes para mostrar que estava no controle, assumia a voz forte. Agora, mantinha-se manso, como um torturador profissional, na qual dentro de si não moradia nada além da falta de remorso. Elena não respondeu a pergunta, não por ter sido retórica, mas sim por não querer exibir o medo que sentia, através de sua voz. – Você se esquece do lugar onde você mora. E isso te prejudica muito. – Houve uma pausa. Mason esperava que ela dissesse algo, mas isso não aconteceu. – Você mora num lugar onde não importa se algo é mentido ou desmentido. Quando acontece uma fofoca, a cidade inteira comenta, olha torto, fala pelas costas. Você não tá mais em Nova Iorque, onde cada um se preocupa demais com seus próprios problemas ou onde cada rosto é desconhecido. Aqui é assim, minha cara. Cada um sempre acaba cuidado da vida do vizinho e todo mundo conhece todo mundo. – Elena já havia entendido onde Mason queria chegar. Mas mesmo percebendo, ele não interrompeu sua fala. Queria mostrar seus argumentos com orgulho da mesma forma que ela fez. Tentando humilhar. – Agora você imagina: Uma denuncia dessas, numa cidade pequena vai atrair fofocas. Suspeitas. A escola, não querendo escândalos e por precaução vai demiti-lo. Ele não vai pra cadeia por falta de provas, mas vai ficar sem trabalho. E como o Damon mora na sua casa, sua mãe também, pra sua prevenção vai pedir pra que ele se retire, porque pelo que eu vi ela parece ser bem protetora. Ou seja, sem emprego, sem casa. Porque a família dele... Tá nem aí. Eu muito menos. E mais pra frente pra ele tentar arrumar trabalho de novo vai ser difícil, afinal vai precisar de referencias e a escola daqui vai ter que informar a escola de lá sobre o que aconteceu e porque ele foi demitido... E duvido que alguma instituição vá querer contratar um professor que se envolveu com uma aluna. – A bomba na qual Elena sentia dentro de si, veio a estourar. Mas ao invés da raiva que pensou que extrairia dessa explosão, veio em forma de uma solitária lágrima. Lágrima pequena de canto de olho, que na qual trouxe a certeza de que Mason precisava. Ele havia vencido. – E não vou nem comentar que o fato de você ser famosa pode atrair muita mídia pra essa história, mas isso você deve tá cansada de saber, não é?

Não disse nada. Novamente ele esperava por uma resposta sua, mas só veio o silencio. O olhar de Elena se prendeu ao vazio, enquanto se concentrava em não lacrimejar. Tudo na qual Mason havia dito eram coisas na qual já tinha imaginado acontecer, e provavelmente Damon também. Era tão diferente na realidade. Damon lhe disse tantas vezes que na realidade as coisas boas conseguiam se tornar melhores do que na imaginação. Ele só havia se esquecido de dizer que as coisas ruins também se tornavam piores quando vividas no mundo real.

– Você venceu. – Murmurou derrotada. – Só ainda não me disse o que você quer. Já disse seus argumentos, agora só falta à chantagem. O toque final.

Que eu já imagino qual seja. Pensou ela, revirando seus olhos. Não pelo tédio, mas sim pela perda. O fato de saber o que ele iria vir a exigir ajudava a si mesma a preparar seu coração. Não era pelas palavras ditas por Mason que agora sentia medo, e sim pelas palavras e ações que teria com Damon.

– O que eu quero é muito simples. – Garantiu o rapaz, já de pé. Arrancando-lhe de seus pensamentos. Não havia visto quando ele levantou-se da beirada da cama; Melhor assim. Quanto mais longe, Mason estivesse melhor. Mesmo que a distância não fosse tanta como desejava. – Eu quero que você... Diga pro Damon que não tem mais volta. Que não quer nada e que não tem a mínima chance de vocês ficarem juntos de novo. Que você nunca o amou, quero que diga coisas na qual faça o cara sofrer, até chorar se quiser. Que você nunca mais quer vê-lo de novo.

Elena riu sem humor.

– Acho que você se esqueceu de que ele é meu professor e inquilino lá de casa. Eu vou ter que vê-lo de um jeito ou de outro. – Disse sarcástica. Mason havia mesmo se esquecido daquele detalhe. Detalhe importante, mas estava tão envolvido pelo momento de poder finalmente se vingar.

– Tá essa última parte, você esquece. – Suspirou em tédio. – Mas é só isso e nada mais, o resto eu quero. E você vai ter que falar. Vou te dá um gravador pra você gravar essa conversa e me mostrar depois inteirinha.

– Como é que é? – Não conteve o grito. Indignada era pouco para o que sentia.

Esperava que fosse uma piada, mas a expressão de Mason dizia totalmente o contrario.

– Isso mesmo. Um gravador, se você tá pensando que acha que pode me passar à perna, tá errada. Eu quero gravado, e quero ouvir tudo. Entendeu?

– E posso saber onde eu vou arrumar um gravador? Caso você não tenha percebido eu não sou uma detetive criminalista.

– Seu celular não tem pelo amor de Deus? – Indagou obvio.

Aquela pergunta fez Elena pensar. Não no fato do gravador e sim numa outra coisa.

– Ainda tenho que vê o que aconteceu com ele. Não sei se quebrou alguma no acidente, sei nem como ficou meu carro. – Refletiu preocupada. Era a primeira vez que calculava em algum tipo de prejuízo, além de sua própria vida.

– Então eu dou um jeito de... Mandar pra você; Ainda hoje pelo menos.

– HOJE? – Repetiu abismada. – Hoje eu vou me recuperar ainda, eu to com dor. Minha família não vai sair da minha cola, é impossível eu ter uma conversa dessas com ele e ser convincente. Você tá louco, só pode.

– Ok então. Eu dou um jeito de você receber hoje e... Você faz o que tem que fazer no máximo em três dias. Pronto. Três dias é o prazo. – Vendo que não conseguiria adiar nem um dia sequer, Elena concordou em silêncio.

A dor viria depois, ao ter que imaginar o que diria. As reações, os atos. E essa mesma dor intensificaria ao ter que realmente fazer. Não viria a imaginar nada por enquanto, optou em deixar a mente em branco para não sofrer por antecipação. E não era necessário raciocinar muito para saber que sofreria. E que Damon também viria a sofrer.

– Mais alguma coisa, capitão? – Perguntou retoricamente ao homem.

Para a surpresa de Elena, havia.

– Na verdade tem sim uma coisinha. – Sua mente ascendeu-se pela memória. Quase, por pouco, havia se esquecido. – Quero que você volte com o Tyler.

– Não. Isso eu não faço, nem pense. – Negou de imediato, soando mais como uma garantia do que uma resposta.

– Como se você tivesse alguma escolha. Vai sim. Eu to mandando.

Elena conteve uma gargalhada.

– Meu filho, quem você tá pensando que é? Você não é meu dono. Não vem confundir as coisas, achando que agora manda em mim pra tudo, e eu te obedeço. Porque não é assim não. Não comigo.

– Mas...

– Mas nada. – Interrompeu rudemente. – Quero só vê se eu contar pro Tyler que eu to com ele porque o irmão tá me chantageando. Quero vê se ele gosta. Eu perco o Damon, mas você o Tyler. Então não me venha com abusos, eu vou fazer o que você me pediu e depois te quero fora da minha vida.

– Sobre isso você não precisa se preocupar. Eu vou sair da sua vida.

– Acho bom mesmo. – Disse seca. Sem receios de expor sua vontade, embora fosse obvio, principalmente para Mason. – Agora vai. Vai, que daqui a três dias a gente conversa de novo.

Para ele também era mais do que na hora de ir. Não havia conseguido que ela voltasse com Tyler, mas ao menos de tudo isso; Uma ida a um hospital transformou-se numa perfeita oportunidade de vingança. O Tyler que se ferre. Pensou ele saindo em direção ao corredor. Não se aprontou em olhar Elena de volta.

Ainda teria de dar um jeito de comprar um gravador até o final da tarde; Não iria aparecer na casa onde Damon estava morando. Pensaria com mais calma primeiro para depois agir. Hoje já havia sido agitado o suficiente.

Seguiu para a lanchonete do hospital para avisar a família da garota que sua vizita chegara ao fim. Após isso iria para a casa, onde a cama seria a testemunha de suas ideias do que fazer dali pra frente.

–--x---

Querido diário.

Um dia se passou desde que ouvi Damon dizer que me ama. Desde que Mason me ameaçou.

Com o zelo exagerado de minha família, logicamente ficou impossível de conseguirmos nos falar. O que era bom de certo modo, pois não quero de jeito algum ter essa conversa com ele.

De noite, chorei pensando no que viria a acontecer. Mas também sorri quando me lembrei do que ele me disse, enquanto eu ‘’ dormia’’. Cada palavra escolhida e dita com tanto carinho, tanta sinceridade. Isso dificultava ainda mais quando eu mesma tinha de pensar no que falar.

Nem houve tempo pra eu pensar no que fazer em relação aquele grupinho. Caroline hoje no intervalo veio falar comigo, perguntar como eu estava. (Sim, eu tive que ir pra escola, a médica me liberou, infelizmente). Eu contei que estava bem, mas fui seca. Sem demonstrar nenhuma emoção. Tyler também veio e eu o respondi do mesmo jeito.

Depois disso não vieram falar comigo.

Meu corpo ainda doía um pouco com movimentos muito bruscos, então não ensaiei com o time. Como a coreografia era minha, eu já havia decorado. Então agora era com o resto das garotas aprenderem. Os remédios que estou tomando são horríveis, mas a Doutora Fell disse que em três semanas já estarei livre deles. Também estou tendo que dormir mais cedo para ter mais horas de sono, e assim fico livre do repouso. A quantidade de maquiagem que estou usando é que é absurda. Estou com alguns machucadinhos bem pequenos no canto esquerdo da bochecha e no queixo. Mas consigo os disfarçar; O problema é meu pulso, na qual sofreu uma luxação fraca, mas em compensação o machucado fora grande. Está coberto com facha, igual ao meu pescoço, mas mesmo assim estou tendo que usar casacos e blusas longas para não exibir. Demorará um pouco mais de duas semanas pra cicatrizar totalmente.

O que pra mim é tempo demais. Quero todas as lembranças de acidente fora de mim o quanto antes.

A boa noticia nisso tudo? Vou ter que comprar um carro novo. Não que o meu esteja ruim, está apenas amassado na frente por conta da batida no poste (e o mecânico disse que dá pra concertar), mas eu, como uma boa menina mimada, quis um novo.

Provavelmente em três semanas compro um novo. Até lá minha mãe é minha carona.

Meu celular estava na minha mochila no banco de trás ou no banco de passageiro (não lembro muito bem) então ficaram tudo a salvos. Mesmo assim, o gravador que Mason disse que me daria veio hoje. Durante a aula de francês, uma assiste da diretoria foi até a classe e me chamou entregando uma sacola, que tinham deixado pra mim na secretária. Imaginei que fosse algo que minha mãe me mandou, mas me lembrei de que meus remédios estavam todos numa nécessaire dentro da mochila.

Resolvi abrir quando chegasse em casa e para minha infelicidade, era o que eu menos queria. Aquilo me lembrou do quanto esse momento era real, o quanto eu tinha que fazer por estar nas mãos dele. Será que um dia, quando tudo isso acabar, Damon e eu poderíamos ficar juntos? Não só por um ficar ou um namoro breve. Algo que possa ir pra frente; Morar juntos (tudo bem já moramos, mas sozinhos) quem sabe até casar, ter filhos?

Afinal eu tenho dezesseis anos. Quem conhece o amor de sua vida aos 16? Tem gente que casa. Fica casado por anos e anos e um dia o divórcio acontece. Não acredito nisso de que todo mundo têm uma alma gêmea. Aquela pessoa certa com quem você vai passar os restos dos seus dias.

Claro que não, afinal há pessoas no mundo que morre sem encontrar o amor; O que eu tanto falo é... Daquelas exceções; Aqueles que casam e só a morte separa. E quando a morte separa o outro vive, mas nunca esquece ou deixa de amar aquele que se foi. Tem gente que nasce pra ser eternamente um do outro, mas é raridade. Que nasce pra passar a vida ao lado daquela pessoa. Como nesses casamentos de antigamente na qual duram até hoje, na vida ou na morte.

Será que eu vou ser uma dessas pessoas? Será que... Vou viver isso com ele? Ou com um futuro homem na qual ainda nem conheci? Ou já conheci só que ainda não é hora?

A questão é que se for outro alguém, eu terei de amar muito. Porque é impossível pra mim me imaginar numa vida onde o homem do meu destino, se é que eu tenha um, que não seja o Damon.

Cada célula, cada átomo, cada partícula ou qualquer coisa que fosse. Cada centímetro meu grita que aquele homem é o meu destino.

Se no final eu estiver certa, pelo menos tudo isso terá valido a pena.

Parou a escrita sentindo seus olhos pesarem em desejo do sono. Manteve o diário guardado a gaveta de seu criado mudo esquerdo. Não se atentou em ler nada, nem em corrigir ou acrescentar alguma coisa. Estava com um pouco de dor e o relógio indicava que era hora de tomar mais um remédio. Esses comprimidos a deixavam mais relaxada, bastava um para a vontade de se jogar numa cama se intensificar. Aquele era o problema; Tinha que estar bem disposta para o que iria fazer. Tanto que tomou duas xícaras de café, minutos após o remédio. Não tinha certeza se aquilo fazia bem ou não, eram em outras coisas que sua preocupação tomava prioridade.

Sem falar que também precisava de uma ocasião para falar com ele. Não poderia ser no meio da madrugada ou com o risco de alguém os ver. Focava demais nas palavras e na dor, que se esquecia dos detalhes. Ao fim, não conseguia pensar em nada.

– Mas eu fico muito feliz que você já tá assim tão bem. – Exclamou Anna, em frente ao fogão. A intimidade da garota com a família se intensificavam cada vez mais; Tanto que estava ali, cozinhando para Elena na própria cozinha dos Gilbert.

Anna era uma ótima garota e todos gostavam muito dela.

– Nem me fale. – Suspirou Elena, aliviada. – Podia ter sido muito pior e não foi. Ainda bem.

– Nem pensa nisso. Mas o que foi que aconteceu? Você tava correndo? Tava com sono?

– Não, eu não tava correndo. Nem tava bêbada se é isso que você tá pensando. – Riu de modo sarcástico. De certa forma, Elena também se esforçava para lembrar os detalhes. Nada além de flashes conseguia recordar com exatidão. – Eu me lembro de alguém gritando ai depois um cachorro correu pra frente do carro. Pra desviar eu virei, acabei virando demais e bati num poste.

– Ai você desmaiou? – Perguntou Anna, embora soasse mais como um palpite pelo que aconteceu em seguida.

Elena não tinha muita certeza disso, pois se lembrava das vozes das pessoas perto de seu carro, tinha flashes de estar sendo levada ao hospital.

– Eu não sei direito. Acho que sim.

– Ainda bem que você tava de cinto.

– E que o carro tinha airbag. – Completou, repetindo as palavras da Doutora Fell – Isso também ajudou muito.

No fim tudo ajudou. O acidente em si ter acontecido, via como um azar do acaso. Mas o fato de ter saído praticamente ilesa, era considerado sorte. Estar acordada para conseguir ouvir de Damon que a amava, também era sorte. Mas o detalhe de Mason a chantagear, no mesmo dia, era azar em igual.

Aquela era sua duvida do momento: Estava ela num momento de sorte ou de azar?

– Prontinho. – Cantarolou Anna colocando o prato a sua frente, na mesa.

Elena a olhou em agradecimento.

– Brigada Anna. Tem noção do quanto eu tava morrendo de fome?

– Comida de Hospital? – A menina fez uma cara de nojo. Em resposta, Elena fez a mesma expressão e assentiu. – Você precisa aprender a cozinhar Elena. – Disse ela, sentando numa cadeira ao lado. Elena já engolia cada pedaço do que lhe fora servido. – Daqui a pouco quando a Jenna voltar pra casa dela... Sua mãe chegar mais tarde, chegar cansada. Tem que aprender.

– A April sabe fazer umas coisinhas. – A voz saiu embaçada pela comida, que descia garganta a baixo. Esperou engolir tudo, até recomeçar a falar. – E provavelmente... Quando eu for embora daqui, vou ter uma empregada. Então não tem porque aprender, se eu não vou poder cozinhar nunca. Concorda?

Anna hesitou um pouco em responder.

– Mas e se você casar. Tiver filhos? Não dá pra contar com uma empregada o tempo inteiro.

– Então duas empregadas. Cinco se for preciso. – Respondeu naturalmente. – Em Nova Iorque a gente tinha duas cozinheiras, um copeiro, duas faxineiras, dois motoristas e três empregadas. A minha mãe na época do divorcio, teve que fazer um curso de culinária porque ela não cozinhava há quase vinte anos... A April sabe algumas coisinhas porque ficava de amizade com o pessoal da cozinha, mas ela só sabe o básico; Miojo, ovo, no máximo um hambúrguer. Agora pede pra ela fazer uma coisa mais complicadinha? Não sabe. O Jeremy muito menos. Reclamam que eu sou a mimada, mas não sou só eu. Povo é hipócrita demais, sabe?

Em resposta, Anna preferiu optar pelo silêncio. Ouvia por horas e horas tanto Jeremy quanto April reclamando das atitudes da irmã mais velha. O quanto ela agia como se fosse uma princesa, mandando e desmandando em tudo durante a vida inteira. O que era estranho, pois Jeremy e April possuíam personalidades e valores de certa forma muito parecidos, assim como Isobel. E Elena parecia ser o oposto da família inteira. Começava a se perguntar, se algo havia acontecido com ela para ser tornar dessa maneira. Como a futura psicóloga que sonhava em ser, aquilo aguçou a curiosidade de Anna.

– Mas então... Você vai no campeonato da sinuca essa noite? – Perguntou tentando desviar aquele pensamento de si mesma.

As sobrancelhas de Elena se elevaram.

– Campeonato da sinuca? Quê isso? – Inquiriu, enquanto deliciava seu apetite com mais uma garfada.

– É uma competição de sinuca, obvio. No Grill, obvio de novo... Que tem todo ano, e é hoje de noite. Você vai?

Elena não a encarava. Seus olhos e sua atenção eram apenas focados em sua comida. A Doutora havia dito que os medicamentos poderiam aumentar a fome, só não esperava que viesse a ser tanto.

– Você pode perceber que eu nem sabia da existência desse troço. Se dê eu dou um jeito de ir, não quero ficar aqui sem fazer nada só por causa desse acidente. Nem pensar.

– Bom... Vai começar às 20h00min. – Avisou, incomodada pela falta de contato. Ao mesmo tempo constrangida com o modo rápido que Elena devorava o alimento. – Como você tá sem carro, se quiser ir com a gente pode ir. Minha prima vai levar.

– Quem é sua prima? – Fingiu-se por interessada.

– Ela não é da escola. É maior de idade, você não conhece.

– Eu acho que eu vou. Mais tarde quando tiver perto de vocês virem buscar meu irmão, eu resolvo isso.

Não mentiria pra si mesmo a ponto de dizer que não havia pensado na possibilidade de Damon poder estar lá. Elena não era a personificação de garota que mente pra si mesma, e ela própria orgulhava-se de ser dessa maneira. Embora mentisse muito para os outros.

Mais até do que de costume.

Anna foi embora logo em seguida, junto de April para passarem o dia na biblioteca. Elena tentou dormir o resto da tarde; O sono estava lá. O cansaço e a preguiça também, mas simplesmente não conseguia. Ao fim, perdeu a conta de quantas vezes o nome Damon se tornou o tópico principal de seus pensamentos. Na felicidade ou na tristeza, ele sempre acabava tomando conta de cada espaço de sua mente; Era irritante, mas ao mesmo tempo não queria nem por um segundo parar de pensar nele. O que desejava realmente era que houvesse mais momentos alegres. Mais razões para sorrir ao invés de choro e preocupação.

– Elena? Tá acordada? – Perguntou Jeremy batendo levemente a porta.

– Entra. – Disse ela ajeitando-se a cama, após enxugar algumas de suas lágrimas.

Ao invés de entrar, Jeremy somente expôs o rosto ao interior do quarto.

– A Anna ligou avisando que tá vindo. Vai mesmo querer ir?

Mesmo que hesitante Elena sabia que tinha de ir. Assentiu devagar, fechando os olhos e respirando fundo. De certa forma torcia para que ele não estivesse lá, mas sabia que isso acontecesse não teriam outra chance de conversar de novo e isso causaria problemas maiores por conta de Mason.

Sabia que Damon sofreria. Logo agora; Nunca pensou que um dia viria a querer isso, mas seria tão mais fácil se ele não a amasse.

– Só me avisa quando ela chegar. – Pediu em completo desanimo.

Ficou ali mais um pouco após Jeremy sair. Deitada, encarando o teto. Teto esse que em auxilio as paredes, cobrem e protege diversas famílias de tempestades. Mas o que resguarda essas pessoas quando estão lá fora à mercê de um pé d’água?

O que protegeria? O que protegeria Damon desses e outros futuros aguaceiros que viriam? Se tanto as telhas amigas recusavam abriga-los. Quem dirá as desconhecidas.

O pensamento de que aquele era apenas o inicio da chuva a assustava. Sairiam não só sem telhados e paredes, mas também sem o mais importante: Um ao outro.

Levantar até o banheiro era como se arrastar para o corredor da morte. Tomou um rápido banho, pois sabia que se demorasse demais, acabaria distraindo-se demais e pensando demais. Não queria pensar em nada.

Vestiu-se com um vestido/sobretudo branco, optou por uma meia calça preta em tonalidade transparente e uma bota cano longo também preta e em camurça. Não demorou muito para se trocar, o que ocupou a maior parte de seu tempo fora na maquiagem, na qual tinha de cobrir os seus machucados no rosto, que embora pequenos a incomodavam sem igual.

Mas de longe, a pior parte de todas, fora quando guardou o gravador em sua bolsa.

Mesmo sem Jeremy a chamar, desceu as escadas, recebendo os olhares confusos que esperava.

– Vai sair Elena? – Isobel estranhou.

– Vai ter um campeonato hoje de sinuca no Grill e eu quero ir.

– Mas... Elena você sofreu um acidente anteontem. Tem que ficar de repouso. – Explicou Jenna, coesa a Isobel.

Elena revirou os olhos, entediada.

– Ai gente, eu não to morta; E, o Jeremy e a April vão comigo. Vou ficar bem.

– Você saindo com seus irmãos? – Isobel espantou-se, embora aquilo a fizesse feliz.

Jenna parecia ainda mais surpresa.

– Desde quando você sai com eles?

Desde que meus amigos se mostraram um bando de traidores. Pensou Elena em amargura. Não queria relembrar aquilo. Indignava-se ao perceber que as coisas na qual menos queria pensar, mais não conseguia esquecer.

– Eu sei lá. – Deu os ombros, tentando disfarçar seu incomodo. – Só sei que eu não vou ficar nessa casa mofando.

– Eu concordo. – Uma voz feminina soou atrás de si. April descia as escadas, com Jeremy logo atrás. – Quando mais rápido a gente deixar isso pra trás, melhor. E isso incluí voltar a viver como antes e seguir em frente.

– E quem vai levar vocês? – Perguntou Isobel, aos três. Depois, voltou-se para os filhos mais novos. – Porque Vocês dois ainda não dirigem. – Em seguida para Elena. – E nem morta que eu vou deixar à senhorita tocar num volante tão cedo, quanto mais no do meu carro.

Jeremy adiantou-se em falar.

– A prima da Anna vai levar a gente. Ela tem dezenove anos, tem carro e ainda não tem idade pra beber. Ou seja, nada de bebida e direção junto. Fica tranquila.

– Deixa eles, Isobel. Deixa eles se divertir. – Jenna sorriu, tentando a convencer.

A mãe desistiu de tentar contrariar e concordou. Normalmente não era daquela maneira. Numa cidade tão tranquila e pequena como Mystic Falls, onde a taxa de criminalidade era praticamente inexistente, os pais deixavam as preocupações de lado e os filhos sempre acabavam chegando em casa mais tarde ou saindo sem precisar de toda aquela cerimônia. Claro, os filhos dos mais contemporâneos; Já que os conservadores, ainda tinham suas restrições, qualquer fosse o lugar onde vivem. O que preocupava Isobel era mesmo Elena, um dia apenas havia se passado desde que recebeu alta e já vê-la assim era loucura. Sua mãe costumava dizer que Elena seria uma daquelas pessoas que nada nem ninguém conseguem impedir de fazer o que quer. Só não esperava que fosse de uma maneira tão literal.

Logo o carro buzinou do lado de fora e todos saíram normalmente.

Fora o mais social possível no carro com Marjorie, a prima de Anna. Dava para notar que ela estava nervosa com sua presença no carro, haviam se visto pouco desde que Elena chegou à cidade, já que fazia faculdade longe dali. Apesar de ter sido curta com suas palavras, não foi grossa. O caminho se passou rápido, quase dormiu no momento em que encostou sua cabeça a janela. Odiava aqueles remédios; Deixavam-na com sono, deixavam-na com fome. Sentia como se não estivesse comendo o bastante, nem dormindo o bastante. Talvez chorado o bastante. Ou até mais do que o bastante, com toda certeza.

Adentraram ao local e logo o grupo foi se dissipando. Marjorie seguiu para o encontro de algumas amigas que a esperavam e Anna continuou ao lado de Jeremy e April numa das mesas.

– Vou tomar um suco. – Avisou Elena antes de sair, em direção ao balcão. Pediu sua bebida e sentou-se observando o lugar; Estava cheio. Se Damon estivesse ali, só conseguiria vê-lo procurando com muita atenção.

O campeonato na qual era a razão para todas aquelas pessoas, ainda não havia começado. Por enquanto, todos circulavam ao redor com cerveja, risos e alguns passos de dança, ritmados outros não, de música country típica da região.

– Não entendo porque você não se inscreveu esse ano. – Bufou Alaric enquanto estacionavam o carro.

– De novo isso? – Damon reclamou. – Já disse, eu esqueci. Chega.

– Vou fingir que não sei o motivo do seu esquecimento.

– Será que dá pra você escolher um assunto que eu queira falar? – Estava a ponto de se irritar com Ric. Desde que visitou Elena no hospital e todas aquelas coisas que aconteceram, o amigo não parava de enviar indiretas. E indiretas maldosas.

Ao mesmo tempo em que precisava dele para lhe dar cobertura, também precisava que fosse crível para Alaric que não possuía mais nada com Elena. O jeito era engolir as palavras e fingir que não havia escutado.

– Como? Se ultimamente você não quer falar de nada. – Revidou Alaric. Damon não respondeu, não queria se estressar mais ou encher-se por outras explicações mal feitas. – É melhor a gente entrar, vai. Daqui a pouco começa e eu não quero perder ponto.

Damon preferiu que assim fosse.

– Tá. – Concordou em voz baixa, quase inaudível.

Saíram finalmente do carro e abordaram à calçada, onde algumas pessoas fumavam um cigarro ou falavam no celular com alguém. Lá de fora já era possível ouvir o compasso country contagiante com Keith Urban cantando somebody like you.

Só almejava que nenhum rosto indesejado estivesse lá dentro.

– Não vai beber hoje, não é? – Perguntou Alaric antes de entrarem. Estava preocupado.

– Hoje não. To com uma nova técnica pra me ajudar a controlar.

Alaric franziu as sobrancelhas.

– Qual? – Não se lembrava de Damon começando um novo tratamento.

– Abstinência. – Sorriu presunçoso. Alaric sorriu também, só que zombeteiro.

– Como se você conseguisse.

– Pra sua informação eu já to há mais dois três sem nada. To indo bem.

– Você nunca consegue passar de cinco, Damon. – Disse acusador. – Você falou que ia começar a beber ocasionalmente, o psicólogo te autorizou, lembra? De duas em duas semanas, no máximo um copo de cerveja. Só cerveja.

– Quando o Mason me expulsou eu parei o tratamento, fiquei sem dinheiro. Você sabe disso que coisa mais chata. – Respondeu prestes a se exaltar. Odiava quando Ric se fazia de desentendido, obrigando-o a falar sobre coisas que o fazia mal – E depois que a Rose foi embora eu comecei a faltar, beber de novo. Quase saí do controle algumas vezes. Agora eu to bem; To sem dinheiro, não dá pra voltar a me tratar agora. – Ao ver a expressão culpada de Alaric, Damon acrescentou. – Se eu consegui voltar um dia e o Doutor me autorizar, eu bebo um golinho de vez em quando. Agora não dá. Eu não posso. – A ultima coisa que queria era sair do controle sem acompanhamento médico.

– Damon. – A voz acusadora retornou. – Eu vejo você cheirando a bebida dos outros. Só não fica sofrendo, se martirizando a toa.

Damon desviou os olhos para os lados.

– Não quero falar disso também. Melhor a gente entrar.

Como esperado, o visual lá dentro eram o mesmo na qual se acostumaram a ver em todas as festas. Estava lotado, mas ainda sim possuíam a sensação de que tinham menos pessoas naquele ano. Em menos de meia hora a competição se iniciaria; Eram jogos familiares, com no máximo dez participantes todo ano. Esse em especifico, sete.

– Lembra aquele ano que você vomitou bem no meio da mesa de sinuca? – Alaric soltou um leve gargalhar. Embora Damon odiasse aquelas lembranças, não pôde deixar de sorrir.

– Eu tava muito bêbado. Muito.

Ric continuou a rir.

– Eu me lembro do Klaus limpando tudo com o Mason depois. Você era tão novinho, tinha nem dezoito anos direito, era uma peste.

– Peste? Eu era um prototico de um futuro sem teto. Isso sim.

Interromperam a sessão de recordações, ao avistarem Connor acenando para os dois numa das mesas. Ele estava com um grupo grande junto, sem falar que Meredith após seu expediente viria os encontrar. Definitivamente não caberiam a todos.

– Vou pedi alguma coisa pra mim. Daqui a pouco eu volto. – Sussurrou para Alaric, desviando-se da mesa e partindo em direção ao balcão há alguns metros.

Se anteriormente parecia mais vazio do que nos anos anteriores, agora era como se os que antes faltavam resolveram aparecer. Ignorou as reviradas de olhos de alguns alunos assim que o viram passar, se tinha algo na qual estava a costumado, além do encontro de um copo com sua boca, era aquele ato.

Dirigiu-se até seu lugar de costume, após expulsar alguns estudantes que o ocupavam.

– Vai querer vê o cardápio, Damon? – Perguntou um atendente assim que ele se sentou.

– Não, não. – Negou depois de pensar um pouco. – Me dá o especial do dia mesmo, Leon.

– Pra beber? – O homem perguntou num tom sugestivo, na qual não agradou ao gosto de Damon.

– Um suco. – Respondeu em seco. – De limão.

– Sim senhor.

Claramente envergonhado, o atendente se afastou do balcão seguindo para os fundos. Aquele também não era um tratamento na qual era novidade, mas ainda sim tinha de impor sua autoridade. Mesmo não aguentando mais o peso da imagem que as pessoas tinham sobre si, sobre seu irmão e sobre coisas na qual, na maioria das vezes, não se é possível controlar; Como seu vicio. Aprendeu que se quisesse superar algo e provar para si mesmo que é forte e que realmente consegue, bastava não se importar com as coisas negativas que as pessoas dizem de você.

Na interrupção de seus pensamentos, um apito baixo vindo de seu bolso tocou em meio a musica alta do lugar. Apanhou o telefone em suas mãos e olhou no visor, sentindo de imediato todo seu corpo dividir-se entre a ansiedade e a hesitação.

Mensagem de texto, de: E. Avisava a tela.

Ainda dividido entre os dois sentimentos, demorou a criar coragem e ler o que estava escrito. Sim, precisava desesperadamente falar com ela; Fora impossível ontem, após sua saída de hospital. Isobel nem havia ido trabalhar para poder zelar por Elena, ali ao lado dela. De certa forma, Damon desejava muito poder fazer o mesmo. Ficar lá, segurando sua mão, mimando-a ou até ajeitando o travesseiro até que ela se sentisse confortável e dormir ao seu lado. Internamente, culpava a si mesmo de ter esses desejos, mas estava cansado de se esconder e não admitir.

Precisamos conversar... Olha pra lateral direita do balcão. Dizia a mensagem.

O balcão em forma de quadrado havia três lados. Direito, esquerdo e frente; A parte de trás era coberta e acoplada para onde ficava a cozinha. Banco do meio na frente era o lugar na qual Damon tinha o costume de ficar, por ter sido sentado ali que tomou seu primeiro gole de álcool. Até hoje não se recordava o que fora, afinal qualquer bebida que fosse havia consumido mais de duas garrafas, inteiramente sozinho. Passou os olhos, desviando-se de diversas cabeças alheias espalhadas e debruçadas a frente do destino da mensagem. Encontrou o que esperava encontrar.

Elena sorria minimamente. Um sorriso mona lisa, escondido. Damon pelo contrario, não conseguiu segurar o seu ao pôr os olhos nela. Perguntava se era realmente verdadeiro o mito sobre amor à primeira vista; Era como se sentia. Como se aquela fosse à primeira vez que a visse e tivesse se apaixonado no momento que o encontrão de seus olhos fosse parar com os de Elena.

Posso ir aí? Ela perguntou muda, apenas mexendo os lábios e apontando para o lugar ao lado do de Damon. Ric estava em cima; Se fizesse isso e atraísse os olhos dele, a sessão de perguntas, desconfianças e acusações viriam no dia seguinte.

Melhor não. Ele respondeu, após olhar para trás. Em direção à mesa na qual o amigo estava sentado junto ao grupo que veio com Connor. Meredith já estava lá e todos pareciam estar se divertindo. Que ir lá pra fora? Inquiriu em sugestão.

É melhor ir quando o campeonato tiver acontecendo. Ela disse, mas ele não entendeu. Repetiu e mais uma vez, Damon não conseguiu ler seus lábios.

Em percepção, achou melhor enviar suas palavras por mensagem.

É melhor que a gente vá quando o jogo tiver acontecendo. Assim vai tá todo mundo aqui dentro, se divertindo e não tem perigo de alguém vê.

Em concordância, Damon preferiu que fosse daquela maneira. Terminou de ler o conteúdo na tela e assentiu positivamente para a garota. Elena era uma das pessoas mais detalhistas que já conhecera, mas ainda sim, não conseguia dizer se aquilo era um defeito ou uma qualidade dela.

Poucos minutos depois, o antigo atendente voltou trazendo seu pedido, na qual de certa forma por pouco se esqueceu. Optou por tentar comer o mais rápido possível antes do campeonato der inicio. Não queria demorar demais e desperdiçar o tempo que teria com Elena. Era um esforço para ele não a encarar. Sabia que se olhasse uma vez, não conseguiria parar. Trazendo de volta todos aqueles sintomas de nervosismo e ansiedade junto. Mesmo que por dentro todo seu corpo estivesse no auge de uma combustão, por fora ainda tinha de continuar sendo quem era. Ou ao menos aparentar, ser.

Foi aberta o inicio da competição poucos minutos antes de terminar sua refeição. Não estava mais hesitante em ir falar com ela, tudo que estava era nervoso. Embora que, dessa vez, a ansiedade fosse maior do que o medo.

Ainda comunicando-se por leitura labial, decidiu-se que cada um sairia por um lado. Damon seguiu pela porta da frente e Elena pela lateral na qual estava próxima. Já que a maioria das pessoas dirigia-se para os fundos, onde as mesas de sinuca situavam-se, não houve corpos em seus caminhos dificultando suas passadas.

Antes de sair, Elena apanhou o gravador certificando-se de que estava ligado. Ignorou as lágrimas. Se chorasse, sabia que não iria conseguir nem ao menos falar. Simplesmente, se entregaria aos braços de Damon e selaria seus lábios sem pestanejar.

Todo esse pensamento ganhou mais força dentro de si, assim que seus corpos se viram. Ele numa ponta, ela na outra. Nos filmes quando isso acontecia, mocinho e mocinha normalmente correm um para os braços do outro acabando com a fome que existiam pelos lábios de cada um. Pensou. Elena quis correr para Damon. Damon quis correr para Elena. Mas ao invés disso, apenas andaram. Passos lentos, tímidos. Onde cada um encarava ao chão.

Segurou as lagrimas novamente, dessa vez ao se pôr diante dele. Ao finalmente pararem e encontrarem-se no meio.

– To surpreso de você tá aqui. – Ele quebrou o silencio. Embora se dizendo surpreso, parecia muito feliz com o fato. – Pensei que você ficaria mais tempo de repouso, mas pelo visto nem um acidente consegue te segurar numa casa sem fazer nada. – Sorriu em fraco.

Elena concordou sorrindo também.

– Minha mãe deve ter pensado a mesma coisa.

– Não duvido nada. – Concordou ainda simpático. Houve uma cura pausa. – Você não tem noção do quanto eu fico feliz por você tá assim. Tá bem, tá disposta. Depois daquele susto horroroso, é um alivio.

Ainda que já tivesse ouço as mesmas palavras enquanto fingia seu sono, o som que tinham em seus ouvidos era atemporal. Sentir o quanto Damon se preocupava, que havia percebido que a amava; Tanto desejou ser correspondida, que só veio a suceder justo quando não podia consumar o que estava acontecendo. Em linha aquele pensamento, seu sorriso sumiu. Junto a qualquer expressão de felicidade.

Seja forte. Seja forte. Pedia para si mesma.

– Eu acho que a gente precisa conversar. – Tentava não gaguejar.

Damon assentiu após um pesado suspiro.

– Isso é meio obvio. O difícil é consegui.

– Consegui o quê? – Perguntou Elena, sem o compreender. Damon suspirou novamente.

– Consegui falar, quando o que a gente menos quer é usar palavras.

Foi em vão a tentativa de Elena de desviar os olhos para os lados. Não conseguia. O brilho que carregava nos seus eram o bastante para entregar o quanto o queria da mesma maneira. De certa forma o medo a atingiu; Medo de Damon perceber que algo estava errado e não acreditar em suas palavras. Afinal, como crer no que falava, se os olhos dizem algo totalmente oposto.

O silêncio reinou por mais alguns segundos.

– Quando duas pessoas terminam um namoro... Essas duas pessoas tem consciência de que estavam num relacionamento. Um relacionamento sério. E eu sinceramente não sei como terminar isso, já que nem eu e nem muito menos você sabíamos o que a gente tinha.

– Então não termina. – Rebateu em voz alta. Quase que até antes da própria encerrar sua fala.

– Como não? – Murmurou rouca. Estava prestes a chorar. – Nós já terminamos há séculos. Nem estamos juntos. E mesmo assim, quando é pra pôr um ponto final à gente continua nessas incertezas. Continua no mesmo drama por um ‘’relacionamento’’ – Elevou as mãos em forma de aspas. –... Que por pouquíssimo nunca existiu.

– Nunca existiu? – Tentou ao máximo não gritar. Aquelas palavras haviam o atingido como uma estaca bem ao meio de seu peito. – As pessoas só fingem que alguma coisa nunca existiu, quando não querem lembrar. Se for a sua opção se esquecer da gente, só fala. Não precisa ficar omitindo. Olha na minha cara e fala e não se faz de covarde. – Já sentindo a dilúvio de lagrimas vir por seus olhos, Elena encarou o chão. No esforço para prendê-las. – Olha na minha cara, Elena. – Ele exigiu, embora ela sentisse que parecia mais como um desafio.

Os lábios dela tremeram em função da água que tentava segurar.

– Eu não quero te fazer sofrer Damon... Mas eu também já to cansada de me fazer sofrer.

– Pois você não é a única que já apanhou nessa vida. – Rebateu, sem poupar voz em sua garganta. Elena ainda não o encarava. – Enquanto você ta aí descobrindo esse sentimento... Eu... Eu Infelizmente, já sou um profissional. Desespero? Conheço. Choro? Conheço. Conheço tudo, e não foi só por amor não. Não foi só por UM motivo. Foi por vários. – Disse carregado por honestidade. – Fiz muita gente sofrer, mas eu também já sofri por causa de muita gente. Gente que não valia nenhuma lágrima se quer. E eu, burro, dei mais de dez. Dei quase a minha vida inteira na mão praticamente. – Ignorou a lembrança e continuou a falar – Só que nenhuma das vezes eu tive a chance de perdoar e de ser perdoado. E hoje eu quero essa chance. Eu quero isso pra minha vida e eu quero começar por você. Começar com você. – Apontou firmemente na direção dos ombros da garota. Abrandou a voz, até que estivesse mais calmo. Sentindo a tranquilidade o dominar, sussurrou sem medo: – Dá essa chance pra gente, Elena? Você quer? – Esperou por um retorno que fosse, mas não ele chegou. – Você quer Elena? – Perguntou outra vez, chegando mais perto dela.

Embora que não o encarasse, com a proximidade de seus corpos, era possível que sentisse o cheiro dele. Fechou os olhos apertando-os o máximo que conseguia. Ao finalmente abri-los e afrontar o azul tão cintilante, ansiando pelo seu sim. Era o seu basta. Despejou o aguaceiro para fora sem poupar uma gota. Estava ali; Chorando em frente a ele mais uma vez.

– Eu não posso. – Respondeu num esforço. Numa voz tão baixa que só se tornou audível por Damon estar tão próximo de si.

Estava tão confusa pela montanha de pensamentos que sua mente formava que não havia percebido quando ele a abraçou. Ao mesmo tempo em que delicado, estava também preciso a ajudá-la.

– Tá mentindo. Não consegue nem olhar na minha cara, Elena. O que tá acontecendo? Porque você tá mentindo pra mim?

– Não to mentindo. – Negou tentando se afastar dos braços dele, que não permitiu. Sabia que Elena estava escondendo algo.

– O que tá acontecendo, Elena? Fala o que tá acontecendo. – Fora mais firme dessa vez.

Em rebate, Elena apenas fechou os olhos com mais força enquanto balançava a cabeça negativamente.

– Não tem nada acontecendo. Que droga. Eu só não quero mais, que saco.

Ela tentou escapar outra vez.

– Para de gritar, Elena. Fica calma.

– Tá me machucando, me larga. – Acusou em estridência.

Damon não deixou por comover-se. Sabia qual era a estratégia dela.

– Não. Eu não to te machucando, você sabe que não. Nem fazendo força eu to. Tá escandalizando porque quer mudar de assunto, isso sim.

– Me solta. – Falou mais calma dessa vez.

– Só se me contar o que tá acontecendo.

– SOLTA. – Já em desespero, acabou gritando. Não sabia mais o que fazer para persuadi-lo.

– CONTA.

‘’– Não tem nada que droga’’. ‘’ – Não mente pra mim, Elena. Conta’’. ‘’ – Não tem o que contar. Para, para. Tá me machucando’’. ‘’ – Para com isso, Elena. Fala pra mim, para com isso’’. Gritavam ele, ela, ou ambos ao mesmo tempo. Enquanto Damon devagar balançava os braços da garota para frente e para trás segurando contra suas palmas. O movimento não a machucava. Damon nunca a apertava para doer, mas não era por isso que Elena chorava.

– Chega. – Ela berrou exausta, abraçando-se ao corpo de Damon, chegando a soluçar. Após descarregar todas as lágrimas, se afastou dos braços do rapaz. – Entende pelo amor de Deus. Não tem a mínima chance de a gente voltar. A mínima, nenhuma. Eu não quero ficar mais numa relação que o sentimento não é recíproco.

– Mas é recíproco, droga. Eu te amo.

Silencio. Silencio esse na qual Elena pôde assimilar a dor. Sentia como se estivesse levando um beijo e uma mordida ao mesmo tempo. Dois extremos completamente apostos; O bom e o ruim, de qualquer sentimento que fosse. Ambos corriam em sua direção e a atingiam bem no meio do peito. Estava prestes a fazer uma das coisas mais difíceis de sua vida, após ouvir o que mais quis ouvir da boca do homem que amava.

– Mas eu não amo. – Respondeu, tentando parecer o mais seca possível. Ao invés disso, apenas soou hesitante. Aquele era seu limite.

Dessa vez eram os olhos de Damon os marejados, mesmo que ele também segurasse suas lágrimas. Até melhor do que ela.

– O que? – Sussurrou sem querer acreditar.

– É isso. – Disse simplesmente. – Achei que eu amava e não amo. Se eu amasse eu voltava, mas eu não sinto nada. Não consigo sentir mais, acabou.

Seguindo uma sequencia involuntária, as mãos de Damon partiram para sua boca, como se a impedisse de cair. Segurando em baixo do queixo enquanto a outra a mão se contorcia pelo tecido de sua calça limpando seu suor. Em seguida, as duas partiram para seus cabelos. Os puxando para trás onde de alguma forma ele tentava assimilar o que escutara. Ao fim, as mãos se guardaram nos bolsos de seus jeans, junto com as lagrimas em seus olhos.

– Então... É isso? Não ama mais? De um dia pro outro... Sumiu tudo?

Desejando para que tudo aquilo fosse um pesadelo, Elena tateou o gravador disfarçadamente por sua bolsa. Conseguiu sentir; Ainda estava lá, infelizmente aquele momento era real.

– Acho que você tinha razão quando falava que era só uma coisinha platônica, bobinha de adolescente.

A vista de Damon ficou embaçada, mas nenhuma lágrima saltou de seus olhos.

– Platônico? – Repetiu aquelas palavras sem acreditar. Seus olhos passeavam pelo chão das ruas, completamente perdidos e sem rumou ou direção certa. A estaca que sentiu em seu peito, vingou-se. E fora mais fundo do que imaginara. – Mas você disse que...

– Não importa o que eu disse. – Interveio, grosseiramente. – Importa o que eu sinto. E eu não sinto nada. Eu tenho uma vida inteira fora dessa cidade. Ou você acha o que? Que eu vou ficar de vez aqui pra sempre... Não, não vou. Eu quero a minha vida de volta e eu quero mais do que essa cidade, mais até do que eu já tinha antes. E ficar com alguém como você, com todos esses dramas de vida uma vida perdida seria muito inferior ao que eu quero e ao que eu mereço.

Elena preferiu que assim fosse. Falar tudo de uma vez, mesmo que tivesse que atropelar suas próprias palavras. Sem pausas. Tinha medo de fazer uma pausa se quer, e olhar aos olhos dele. Caso isso acontecesse, não conseguiria prosseguir e pronunciar algo mínimo que fosse.

Damon não disse nada. Seus olhos queimaram através de suas lágrimas, como um fogo ateado no oceano salgado. Respirou fundo absorvendo tanto a água quanto o fogo. Apenas o fogo ficou; Recuperando-se de qualquer sintoma de dor e vergonha pelo que acontecia.

Mesmo que não quisesse, ou admitisse. Elena esperou por uma resposta vinda dele. Uma palavra que fosse para ascender uma esperança em si de que futuramente se aquilo tudo acabasse... Uma chance ainda existir. Mas ao invés disso, o que aconteceu era o que tanto ela temia.

O silêncio.

– Acho melhor eu... Ir. – Sussurrou, de modo desajeitado. Em meio a movimentos curtos, ajeitou a bolsa em seus ombros e deu as costas para o rapaz.

Nessa simples virada, tanto as lágrimas presas dele, quanto as antigas lágrimas dela, vieram a se soltar. Elena esforçava-se para não balançar os ombros por conta de pequenos soluços que já anunciavam sua presença. Não queria que ele soubesse que chorava. Já Damon, tentava manter o som alto de sua respiração falha escondida; Ou seja, ambos não queriam demonstrar sua tristeza. Talvez não por orgulho, mas sim por vergonha.

Era tão estranho. Pensava Damon completamente perdido e afundado em si mesmo. Elena havia dito que estava cansada de viver um amor não correspondido. Isso antes de Damon se declarar; Ou seja, ela não sabia de seu sentimento e mesmo assim o acusou de tal maneira como se ele próprio fosse o que não amava; E quando finalmente disse, os papeis se inverteram?

Primeiramente Elena me acusa de não correspondê-la e quando me declaro, ela que não me ama mais?

Não... Tem alguma coisa errada.

A mente de Damon guiava-se de volta pela desconfiança anterior. Elena lhe usou um pretexto e quando o mesmo se tornou invalido, ela opõe com outro argumento completamente oposto, de maneira que ela sabia que iria esmagar seu coração. Era isso. Estava certo. Ela estava realmente lhe escondendo algo. Não estava somente disposto a lutar por ela, mas também iria lutar COM ela. Descobrir o que estava havendo e a razão por trás de ela estar agindo daquele modo.

Fora burro de deixá-la escapar outras vezes e isso não se repetiria agora.

– Elena. – Gritou em alto para a menina que caminhava, em passos lentos, de volta ao bar. A mesma havia dito para si mesma enquanto andava que não olharia para trás nenhum minuto se quer. No momento que ouvira o chamado dele, todas suas juras caíram ao chão.

Parou os passos sendo dominada pela preocupação do porque Damon ter lhe chamado num tom de voz tão urgente como aquele, na qual lhe semelhou mais com um pedido de socorro do que com um chamado. Confusa, girou levemente a cabeça para trás onde sua visão fora captada pela sombra ao escuro do homem que corria, devagar, quase que em câmera lenta, em direção a si.

Das inúmeras perguntas que sua mente formava a que ganhava principal destaque era a simples duvida do que estava acontecendo. Embriagada pela imagem dele, junto aos nós que prendiam sua capacidade de pensar, era como se o tempo tivesse congelado para que não conseguisse mover-se do chão. Ao longe, mesmo que no escuro da noite que em volta os cobriam, Elena conseguia enxergar os olhos desesperados dele enquanto seus passos pequenos viam-se a frente. Agora conseguia entender. Ele queria falar mais, conversar. Provavelmente a duvida de antes o atingira novamente. Damon estava certo de que algo estava acontecendo e nada do que dissesse o faria se contrariar.

Sem escolhas, Elena se viu pegando o atalho da opção mais obvia que tinha: Fugir. Caso fugisse para o bar ao meio das pessoas, aonde Damon, por conta de seu medo de desconfianças, não iria ao menos se aproximar um centímetro de si. Dominada pelo instinto, aos poucos seus pés foram se movendo outra vez, mais ainda sim sua cabeça era voltada para trás onde conseguia olha-lo.

– Onde você tá indo? – Ele gritou novamente, quando ela recomeçou a andar. Apressou o passo para poder alcança-la, mas, como se previsse seu pensamento, Elena acelerou sua corrida e adiantou-se mais a frente. – Elena volta. – Disse Damon no mesmo tom. Parou seus pés por alguns segundos na esperança de que ela faria o que pediu.

Mesmo contrariada pela vontade, Elena continuou a correr.

Com toda aquela avidez em fugir de si, fora o suficiente para Damon ter a confirmação precisa de que Elena lhe escondia algo. Guiado não só pela emoção, mas também pela razão Damon fez o mesmo e logo seus pés corriam frenéticos pela rua escura. Qualquer um que os visse, teria a certeza de que estaria perseguindo uma pobre menina para coisas horríveis vir a fazer ao conseguir.

Elena não o olhava mais. Não queria que sua vontade falasse mais alto pelo que tinha de fazer, era necessário que assumisse de volta a postura racional na qual sempre teve. Quando seus pés vieram a alcançar a calçada do bar, seu corpo vibrou na esperança de que Damon viria a desistir. Num movimento rápido seus olhos se dirigiram ao chão, onde a sombra do homem se mantinha mais perto do que desejava. Ele não estava disposto a desistir e pelo jeito o medo pela desconfiança das pessoas não iria o parar.

Estava completamente sem saída. Olhou para trás, por poucos segundos, e confirmou seu pensamento. Sentindo o cansaço a abater, ignorou-o de imediato e continuou a percorrer a calçada lateral até se dirigir a porta da frente na virada de esquina, dessa vez mais rápida.

Cambaleou até a porta jogando seu peso a cima do objeto. Adentrou sem diminuir o ritmo, tanto de seus pés, como de seus olhos. A área de entrada estava praticamente vazia, com exceção de algumas pessoas que circulavam com bebidas a mão. O mesmo bar lotado de quando chegou agora se mantinham no fundo do local, que era onde a competição acontecia. Sem dificuldades, conseguia ouvir as risadas e gritos de animação pelo jogo, vindo de lá.

Das poucas pessoas que ali estavam Elena não veio a perceber quem era cada uma delas. Continuou a correr até o centro do local, dessa vez sem tanta pressa para não atrair nenhuma desconfiança ou estranheza de quem estava ali. O som da porta se abrindo novamente veio a despertar suas pernas a andar mais depressa. Ao contrario dela, Damon não diminuiu seu ritmo.

Acabou. Pensou Elena entrando em desespero. Parou de correr e continuou somente a andar. Pelos olhares diante de si, Damon fez a mesma coisa. Mesmo assim não se deixou decepcionar, afinal agora não teria mais como ela fugir.

Vendo que Elena desistiria, parou seus passos e esperou que ela viesse em sua direção e contasse o que estava escondendo.

– Um de laranja, dois de abacaxi e um maracujá. – Pediu Tyler ao atendente no balcão. A voz dele em contato com seus ouvidos, fora como uma âncora de Elena para fora do desespero.

O olhar antes perdido em direção ao chão se dirigiu para o garoto há alguns passos dali. Novamente voltou a olhar Damon, enquanto a ideia de como fugir daquela situação se desenvolvia dentro de sua cabeça. Ao encontrar-se com o rosto dele, outra vez fora como se seus pés colassem ao chão. Como um aviso do tempo a impedindo de andar e fazer o que sua mente mandava fazer.

A expressão pidona do rapaz, sem entender nada e ao mesmo tempo faminto para querer entender tudo. Conseguia ver a dor dele, mas também conseguia enxergar a esperança que ele tinha de que ela estaria mentindo e que o amava.

Elena fora contagiada por aquela dor. O encarou no silencio, no arfar da respiração dos dois sendo soltos por toda aquela correria insana. Não existia mais a música do ambiente, não existia as vozes lá ao fundo, não existia ninguém. Apenas um abismo gigantesco no meio de duas montanhas. Montanhas essas na qual cada um se mantinha no topo de uma, querendo desesperadamente se encontrar e ficarem juntos.

Já o abismo... Cada metro de distancia desse abismo representava não só a dor, como todos os sentimentos dilacerantes que os habitavam pelo peso do que estava acontecendo.

Não seria hoje que conseguiriam construir uma ponte.

Elena não sabia mais qual era a escolha certa ou a errada. Ainda encarando um ao outro, fechou os olhos com medo de que só com um olhar ele a compreendesse e não conseguisse esconder mais nada.

Abriu os olhos, já com sua escolha feita.

Damon franziu todo seu rosto pela mistura de sentimentos que estava sentindo. Confuso, ele deu um passo à frente na intenção de poder de alguma forma se aproximar e a levar para outro lugar, na qual Elena fosse lhe contar o que escondia. No mesmo segundo na qual ele adiantou-se para frente, ela arrastou-se num passo para trás. Em reflexo, Elena observou Tyler distraído mexendo ao celular, ainda no balcão enquanto esperava seu pedido. Ele não parecia perceber a presença dos dois ali.

Era a hora. Pensou Elena prendendo as lagrimas em seus olhos. Da mesma forma que odiava chorar, estava começando a odiar ter de segurar seu choro. Segurar a dor.

Antes mesmo que Damon pudesse desvendar a expressão de mistérios, duvidas, angustia de Elena. A mesma adiantou-se em voltar a correr. Dessa vez o esforço nem fora tanto afinal à linha de cruzada estava bem próxima a si. Agora também não corria sem direção, pelo contrário. Tinha um alvo.

Freou os passos descarregando a mesma pressa, antes, de seus pés para suas mãos. Na qual, agarrou o rosto de Tyler selando seus lábios num beijo selvagem na qual os casais só quando estão sozinhos entre quatro paredes no auge do desejo. No primeiro segundo, a boca do rapaz travou-se por não compreender o que estava acontecendo. Mesmo assim, não demorou muito para entregar-se os lábios que o devorava.

Agora Damon conseguia entender. Era isso que ela escondia; Havia voltado com o Tyler e por isso não queria voltar... Com pena de magoa-lo. Era difícil para ele definir o que estava sentindo; Desviou os olhos para baixo na esperança de que quando olhasse outra vez aquilo não estaria acontecendo. Engano seu.

Justamente quando dá mais uma chance a seu coração, já esmagado por Rose, ele se é pisado outra vez. Não iria perder tempo dando ênfase a sua dor com palavras e choros. Sentia-se tão sem esperança que qualquer tentativa de dar explicação ao que sentia era um total desperdício.

Damon nunca encontraria a palavra certa. Não conseguiu antes em situações tão dolorosas como aquela e não seria agora que obteria tamanha façanha. Sua miséria seria sempre uma incógnita ao vocabulário. Precisaria que fosse caçado por todos os dicionários já produzidos, ou talvez até inventado.

Quando Elena finalmente interrompeu com o beijo, ele não estava mais ali.

–--x----

Em movimentos lentos, Damon finalmente adquiriu a coragem para sair do carro. Sabia que no momento em que encostasse a cabeça ao travesseiro sua mente não pararia mais de pensar. Reviraria seu quarto inteiro em busca de um calmante se fosse necessário, mas naquela noite pensar poderia vir a ser seu pior pesadelo.

Tudo se voltaria às desgraças do passado e consequentemente as do presente. Procuraria um calmante, tomaria um chá, assistiria a um filme de terror, tudo para que distraísse a si mesmo de formular o nome da garota na qual tanto fugiu, e que agora o destruiu.

A casa em normalidade ao horário se mantinha silenciosa e escura. A última vez que Damon olhou ao relógio, há alguns minutos, eram um pouco mais de onze horas. Fez o caminho rotineiro da sala até a cozinha, ainda de maneira lenta para adiar o previsível.

Ao longe conseguia ver a luz acesa da cozinha, o que de certo modo era incomum, pois normalmente quando todos se deitavam a casa inteira mantinha-se escura. Provavelmente fora diferente hoje por Elena não estar em casa.

Droga. Refletiu ele amaldiçoando-se por pensar naquele nome.

Suspirou em ódio pela falta de lucidez na qual se encontrava. Precisava de um banho. Quem sabe a água o tiraria de toda aquela desordem na qual se afogava.

Alcançou a soleira da cozinha, ainda no mesmo desanimo de sua expressão e sentimento, coçou a vista um pouco turva pelas lágrimas que havia chorado anteriormente.

Parou.

– Isobel? – Disse ele, confuso pela mulher estar ali. – O que ta fazendo acordada? – Todos sabiam que Isobel dormia cedo. E pelo sono pesado que tinha, era improvável que havia acordado ao meio da noite.

Em resposta ao estranhamento dele, a mulher sorriu rapidamente.

– To fazendo um chá pra mim... – Elevou a xícara do balcão alguns centímetros a cima, exibindo a ele sua razão. Depois, voltou-a outra vez para baixo. – Quer um pouco? – Perguntou.

Atordoado, Damon só fora responder segundos depois.

– Não. – Sussurrou balançando a cabeça devagar. – Tem certeza que tá aqui só pelo chá? – Perguntou, embora soasse mais como uma sugestão. Sentou-se num dos bancos em volta ao balcão, oferecendo sua compreensão para ela.

Em entendimento pelo olhar de Damon, Isobel bufou em desistência.

– Não consigo esconder nada de você, não é? – Sorriu sem graça, Damon retribuiu o riso. – É a Elena... Ela saiu com os irmãos e não consigo dormir enquanto ela não chega.

Dominado pela vontade de ajuda-la, Damon tentou ao máximo não se abalar pelo nome pronunciado. Fechou os olhos, contando até três lentamente para que quando os abrisse a força de manter aquele pensamento distante vencesse.

– Sabe o que eu acho? – Ela o encarou. – Eu acho que você não devia privar a sua vida, nem a vida da sua filha, por causa de uma coisa ruim que aconteceu. É normal. Todo mundo passa por sustos, mas agora tá tudo bem com ela. – Explicou. Ainda que calmo, suas palavras pareciam ter efeito em Isobel. – A Elena não tá fazendo nada de errado, só seguindo em frente.

– O problema é que ela sempre segue em frente rápida de mais. – Rebateu em lamentação. A expressão firme de Damon se caiu. Conseguia entender o que Isobel dizia; Nunca imaginaria que Elena e Tyler teriam voltado. Talvez devesse fazer o mesmo que ela se a faz tão bem assim como parecia. – Tá tudo bem? – Ela questionou, perante a expressão tristonha que ele assumiu, após suas palavras.

Despertando de seu transe, Damon balançou a cabeça rapidamente, como se expulsasse aqueles devaneios.

– É... Eu to, só tava pensando aqui. – Era horrível que mesmo que tentasse, sempre acabava pensando nela. – Se serve pra te acalmar, eu tava lá no bar... E pelo pouco que eu vi, dava pra vê que ela tava se divertindo. – Comentou de maneira triste, na lembrança dela naquele beijo com o Tyler.

Ao contrario de si, Isobel pareceu mais contente com o que disse.

– Ainda bem. – Sussurrou em alivio enquanto levava as mãos ao peito, suspirando o ar que se prendia ali. – Eu sei que eu sou boba em me preocupar, mas... Você entende, não é? Eu sou mãe, é natural que a gente fique com receio.

Em silencio, Damon assentiu com um fraco sorriso ao rosto. De certa forma entendia, sua mãe costumava também ser muito preocupada com ele. Apesar de que, os motivos eram óbvios. Cada noite na qual o filho não chegasse bêbado para Grace era uma vitória; Vitória essa que depois de um tempo se tornou milagre, já que sempre estava bêbado.

Até mesmo Damon reconhecia seus erros com ela. A mãe o perdoou. Mas ele não retribuiu o perdão pelos erros com Stefan.

Sentia que nunca iria.

– Isobel você tem um calmante? – Desviou-se daquele assunto. Parecia que hoje tudo a sua volta estava repleto por lembranças e tópicos na qual tanto não queria ter de encarar.

– Tenho esse. – Respondeu lhe entregando uma cartela. – Eu ia tomar com esse chá, quando a Elena chegasse. Pode pegar um.

– Ai, Deus brigada. – Murmurou em alivio. Nem ao menos titubeou ao retirar um do plástico que o encobria.

Apanhou a bolinha em suas mãos e dirigiu-se para o armário o fundo para pegar um copo.

Acompanhando a cena, Isobel riu em ironia.

– Nossa, tem alguém aqui que quer mesmo apagar.

– Nem faz ideia do quanto. – Disse ele, indo até o bebedouro encher o recipiente.

– Problemas?

Damon se deteve em responder.

– Mais ou menos... Não vale muito a pena falar. Entende, não é?

– Ah sim, entendo. – Falou em decepção. Sempre falava com Damon sobre algum tipo de problema seu, incomodava-lhe o fato de ele ser sempre tão misterioso.

Desistindo de insistir, Isobel continuou com os preparos de seu chá em silêncio. Quando o copo preencheu a seu gosto e tocou a maçaneta da porta de seu quarto, a conclusão do pensamento que fizera no carro, no embalo da raiva e desilusão que sentia por Elena e Tyler, uma rápida ideia se passou por sua mente. Claro que de certa forma era algo um pouco sério de mais para se fazer num momento onde se está de cabeça quente. Mas agora, ao conversar com Isobel e não poder trocar uma palavra que fosse sem a memória de Elena vir em sua cabeça parecia impossível.

– Isobel. – Chamou, tirando-a da distração da água quente ao fogão.

– Fala. – Disse ao o olhar.

– Amanhã eu preciso falar com você. É um pouco urgente, mas eu preciso MUITO te contar...

Ela franziu as sobrancelhas, preocupada.

– Como assim? É muito importante?

Houve uma curta pausa. Sem muita coragem, Damon desviou os olhos para o chão antes de respondê-la.

– É... É importante, é urgente. – Mesmo que hesitante voltou a encara-la. – Você provavelmente não vai gostar muito, mas eu preciso contar.

Isobel era péssima em controlar sua ansiedade, e o perceber que se tratava de algo sério toda seu instinto veio a falar mais alto. Junto com diversas possibilidades em sua mente.

– Mas... Se for tão importante assim me conta agor...

– Não. – Interrompeu firmemente. – Não posso falar agora, tá tarde. É melhor amanhã.

– Mas Damon...

– Amanhã. De amanhã não passa prometo. – Foi tudo que disse antes de adentrar de volta ao quarto. Se não fizesse isso, Isobel insistiria até que contasse.

Teria que reunir muita coragem para o que faria amanhã, mesmo sabendo as consequências.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então gente, o que será que o Damon tem pra falar pra Isobe?

Meninas, tenho certeza que esse capítulo tá repleto de erros ortográficos, é que não tive tempo pra corrigir nada. Amanhã lá pela tarde prometo concertar e se quiserem ler de novo, ok?
Tenho uma perguntinha pra vocês: Em relação ao meu texto (os diálogos, as ações... Vocês acham que estão mto repetitivas, mto brega? Meio cafona? Recebi uma reclamação sobre isso e se incomodarem vocês, me avisem pra mim tentar melhorar.

PS: Apagarei aquele ''capítulo'' do aviso.
Beijos e até a próxima semana.