Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 39
- Entre mentiras e verdades.


Notas iniciais do capítulo

EBA, quarta feira dia de postagem. Tá ai mais um capítulo pra vocês e bem grande pra compensar o outro. Quero fazer um agradecimento em especial para a Bianca Vieira Malik pela recomendação, eu adorei e dedico esse capítulo a você. Estou aberta a muito mais.
Obrigada a todos pelo carinho e boa leitura.



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Damon torceu o nariz em desgosto ao desenho da lousa. Esfregou mais alguns pontos e repassou o giz branco por cima até que ficasse o melhor possível. O ruim de passar geometria era ter que fazer os desenhos. Qualidade artística na qual ele não possuía tanta maestria.

Direcionou a enorme régua de madeira ao quadro e reforçou a representação da figura.

– Ponto. Retas. Plano... Essa é a ideia simples da geometria plana. – Anunciou ele em explicação a turma. Como sempre todos pareciam atentos a sua fala, mesmo que alguns rostos carregassem a expressão de tédio. O que era natural. – Lembrando que ponto é a parte indivisível da reta e sempre é representado por uma letra maiúscula. – Disse seriamente enquanto apontava para o desenho. Esforçava-se ao máximo para manter uma boa explicação; Não gostava muito daquela matéria e ter que ensiná-la não era sua parte favorita. – Eu vou passar primeiro os conceitos gerais e amanhã eu entro-nos mais complexos. É mais pra vocês se familiarizarem mesmo.

Voltou a apanhar a régua e desenhou outras três retas de tamanhos diferentes.

– Ele tá de bom humor. Acho que alguém andou se dando bem. – Conseguiu ouvir claramente Carly Deacon cochichando para alguém. Fechou os olhos com força e apertou o giz contra o quadro causando um pequeno ruído irritante. Esforçou-se para não se exaltar com a audácia da garota. Mas logo viu que não valeria a pena; Era melhor deixarem que os alunos imaginassem coisas do que confirmassem suspeitas idiotas.

Não conseguia definir ainda se era bom ou ruim o fato de Carly está correta perante o que afirmou. O efeito do que aconteceu ontem com Elena ainda era presente em si. Foi dormir com um sorriso no rosto e acordou da mesma maneira. Até aí tudo normal. O problema era assumir para ele mesmo o quão poderoso a sequela do que fizeram causou em si.

Quando colocou a cabeça no travesseiro para dormir, esperou o arrependimento abater-se em seu corpo, mas para sua surpresa isso não aconteceu. Não estava arrependido.

Após longos minutos aos beijos no jardim, Elena achou melhor que entrassem; Ela subiu tomou um banho demorado e um pouco antes de descer, Isobel e os outros chegaram da missa. Também aproveitou para tomar um banho e depois todos jantaram. Eles na sala de jantar e Damon na cozinha. Achou melhor assim. Enfrenta-la frente a frente com a família ao redor após o que fizeram não lhe pareceu algo sensato. Depois disso, todos foram para seus quartos dormirem.

Hoje quando viu Elena nos corredores tudo pareceu tão diferente. Ela radiava felicidade ao conversar com as amigas e quando seus olhares se encontraram sentiu que ela o olhava como se ninguém mais estivesse ao redor. Ele, por mais reservado e cuidadoso que fosse também sentia o mesmo, embora não demonstrasse tanto.

Algo era realmente fato. Havia valido muito a pena.

Nunca em sua vida tocou alguém tão bonita, sensual, macia. Na qual conseguia ao mesmo tempo ser uma mistura irresistível de mulher fatal com garotinha inocente de colégio. O cheiro feminino de perfume caro foi simplesmente o melhor aroma que já se implantou nos lençóis da cama de Damon. Dormiu agarrado ao travesseiro como nunca antes na vida. A pele tão lisa, suave, perfumada se tornou o objeto mais convidativo já sentido por suas mãos. Foi impossível parar de toca-la. Seja oras com os dedos, oras com a boca...

Ah, a boca.

Entorpecente veneno em forma de lábios.

Voltou à mente para longe daquelas lembranças se concentrando em terminar as retas. Da mesma maneira anterior, ele voltou a explicar.

Elena em similaridade aos outros, parecia atenta. Os sorrisos maliciosos e os movimentos sensuais que direcionava para ele no corredor agora sumiam na sala de aula. O que fazia Damon agradecer mentalmente. Quando estavam ali ela parecia tratar a situação com muito mais responsabilidade e certo ‘’profissionalismo’’. Mesmo que o que estivessem fazendo não fosse um emprego. Só que mesmo assim precisaria da mesma dedicação vinda de Elena para esconder sem levantar desconfianças.

Exceto por aquele habito de morder a caneta de maneira lenta e cruzar as pernas o tempo inteiro. Não sabia se era na intenção de provoca-lo, ou se era apenas o jeito natural dela de ser.

Sentia-se sortudo por ter tanto autocontrole de si próprio. Outro naquela situação provavelmente teria agido de formas totalmente diferentes.

A aula prosseguiu sem empecilhos e terminou normalmente. Em movimentos rápidos todos levantavam de seus lugares prontos para sair. Exceto por alguns. Elena, como sempre, ia devagar, tudo para poder ficar mais um tempo ali com ele. Mesmo que fosse mínimo, Damon sabia o quão era significativo para ela.

Além de Elena. Rebekah Mikaelson, Bonnie Bennett, Caroline Forbes, Matt Donovan e Tyler Lockwood também prolongaram o ato mais do que usual.

Damon já sentava em seu lugar de habito remexendo em alguns papeis e diários de classe.

– Eu e a Bekah precisamos urgente falar com você. – Murmurou Caroline passando a mochila por seus ombros. Elena terminou de guardar mais um caderno e a encarou.

– Alguma coisa séria? – Ela disse baixo no mesmo tom.

Depois foi a vez da loira britânica e se aproximar.

– É sobre a torcida, mas é meio que urgente. – O alto sotaque invadiu a conversa.

Elena finalmente terminou de juntar suas coisas e concordou em ir junto.

– Mas e eles? – Ela perguntou olhando para Bonnie, Matt e Tyler.

Caroline respondeu, tentando disfarçar.

– Eles disseram que vão ficar. Bonnie tá organizando uma rifa e tem que falar com todos os professores. Os meninos tão ajudando.

Sem mais perguntas ou curiosidades, as três saíram da sala. Damon não prestava muita atenção e nem ouvia, somente concentrava-se em terminar de passar o horário a limpo. Pensou que todos houvessem seguidos juntos com Elena ou algo do tipo. Não importava muito bem para ele.

O problema foi quando Matt pigarreou alto o despertando de seus afazeres.

– O que querem? – Não possuía a mínima intenção de parecer educado, tanto que nem os olhou mais de uma vez e logo voltou a escrever.

Bonnie cruzou os braços.

– Precisamos falar com o senhor. – Ela parecia séria, embora com um pouco de medo.

– Isso eu sei. Se não precisassem, não estariam aqui me atrapalhando. Falem logo preciso trabalhar.

Pela primeira vez largou a caneta nas mãos e os olhou com falta de interesse. Os três se mantinham em sua frente e a postura de Matt e Bonnie parecia similarmente nervosos, cheios por aflição. Já Tyler, se mantinha confortável e com um sorriso de maldade no rosto.

Riso aquele típico de um Lockwood.

– É sobre a Elena.

As palavras recitadas por Tyler fez Damon estremecer de imediato. Seu rosto contorceu-se em medo e seus olhos eram como pedras de diamantes congeladas. Somente a razão dos amigos dela vir falar sobre Elena com ele já tornava obvio que possuíam desconfiança de algo.

Ou pior; Que sabiam.

– Elena. – Sussurrou em pavor. Seus olhos encaravam todos os cantos da sala. Tentando de alguma modo encontrar uma maneira de sair. Se a caso eles só desconfiassem, era melhor ficar calmo para não confirmar. Rapidamente, aprontou a postura e aprumou a fala. – O que tenho haver com a senhorita Gilbert? – Estremeceu novamente, mas conseguiu manter o controle. Muita coisa poderia estar em jogo e não queria arriscar.

– A gente sabe. – Sibilou Matt fechando os olhos para criar coragem e falar.

Damon também fechou os seus. Jogou a cabeça para baixo enquanto sentia todo seu mundo cair. Era impossível dar um sinônimo ao que sentia. Tudo que conseguia pensar era o desejo daquilo ser um sonho e de como sua vida estava destruída a partir daquele dia.

– Queremos pedir desculpas. – Damon não disse nada. Nem parecia ter ouvido o que Bonnie havia dito. Somente apoiou os cotovelos na mesa e tapou o rosto com a palma de suas mãos em esperança de que nada fosse real.

Só ai que sua mente parou para avaliar o que a baixinha havia dito.

‘’ Pedir desculpas?’’ Como assim?

– Pedir desculpas? Do que vocês tão falando? – Gritou correndo as pressas até a porta para fecha-la. Mais ninguém poderia ouvir aquilo; Seria seu fim.

Tyler ia se manifestar, mas Matt o interrompeu:

– Não era a nossa intenção, juro, e a gente quer que o senhor saiba que não concordamos com isso que a Elena tava fazendo.

Mas Damon não prestava atenção, sequer pensava. Apenas fechava os olhos e encostava todo seu peso na porta para que assim não caísse desmaiado ao chão. Era como se estivesse em um pesadelo hipnótico na qual não conseguisse acordar.

O loiro falava como se Damon soubesse do que estava dizendo. Mas ele não fazia ideia. Bonnie e Tyler pareciam da mesma maneira; O que era estranho. Abriu os olhos sem muita coragem e andou alguns passos à frente.

O medo o dominava, mas ainda sim a confusão que sentia era predominante o suficiente para que reagisse.

– Será que alguém pode, por favor, me explicar o que tá acontecendo? É serio, eu não to entendo nada. – Sua voz soava mais como uma ameaça do que um pedido. Percebeu que os assustou por um breve momento.

– Senhor Salvatore, nós sabemos que o senhor e a Elena estão em um... Um – Tyler interrompeu-se fez uma careta de nojo. – Relacionamento.

Damon rapidamente sentiu sem corpo balançar para trás. Em reflexo, sua mão direita procurou a parede mais próxima em busca de apoio, enquanto sua respiração falhava pelo nervosismo e angústia.

Bonnie, com seus olhos piedosos foi até ele e o acudiu.

– Não precisa se preocupar. Só a gente sabe e ninguém vai saber. Só queremos pedir desculpa pela Elena... E pelo que a gente fez.

– Ninguém vai saber? – Murmurou ele a encarando. Automaticamente ignorou tudo o que foi dito após aquilo. Bonnie assentiu em cautela e se afastou novamente esperando Damon se acalmar. Tyler e Matt encaravam estáticos. – Como descobriram? – Perguntou voltando ao seu lugar de origem.

Matt fez uma careta, como se não houvesse entendido sua pergunta.

– Sabíamos desde o inicio. Por isso queremos pedir desculpas... Fazia parte do plano.

Plano? Pensou Damon. Havia algo errado no modo que eles falavam, na qual ele não conseguia compreender.

– Como assim plano? Do que estão falando? – Eles se entreolharam, parecendo mais confusos que o próprio Damon.

– Elena não te contou? – Tyler perguntou em choque.

– Contar o que? Do que vocês tão falando?

– Céus... – Bonnie gemeu em fúria socando em leve o peito de Matt que a amparou. Tyler tampava o ‘’o’’ que se formou em seus lábios e encarava o chão pensativo.

A vontade de Damon era gritar para que dissessem que porcaria estava acontecendo, mas estava em absoluto repouso esperando que alguém se pronunciasse de algo. Toda aquela demora era uma tortura e se fosse grosso demais, poderia fazer com que não dissessem nada ou pior, atrair a atenção de alguém nos corredores para a sala. E ninguém poderia ouvir a conversa que tinham ali.

Estaria morto se isso acontecesse.

Matt encarou Damon outra vez. Parecia aflito.

– Tem certeza que... Ela não falou nada mesmo? Ela não contou?

– Como posso saber se ela contou ou não se eu nem sei do que vocês tão falando? – Rebateu Damon já sem paciência. Outra vez o grupo se entreolhou; Agora com mais mistério em suas expressões.

– Quem conta. – Falou Tyler em timidez. Bonnie fechou os olhos e respirou fundo, como se estivesse voluntariando-se. Damon se mantinha a beira de seu limite para que alguém explicasse de uma vez.

A baixinha parecia tão hesitante que o assustava ainda mais.

– Logo depois que o senhor se mudou pra casa dos Gilbert...

– Sem historinhas tristes, por favor, eu...

– Só escute. – Matt atravancou que Damon continuasse a querer apressar Bonnie. Não podia evitar, estava tão nervoso que se aquilo demorasse demais era capaz que perdesse a paciência.

Após alguns segundos se recompondo ela voltou a falar.

– Logo depois que o senhor se mudou pra casa dos Gilbert, a Elena ficou com muita raiva. Ela não queria o senhor lá de jeito nenhum. Então, pra ajuda-la eu tive uma ideia; O Tyler se lembrou da época quando o senhor foi expulso de casa e foi morar com a família dele. Por alguma razão nenhum de nós sabia o porquê do senhor ter sido expulso e depois quando teve aquele escândalo com o seu pai e o seu irmão no meio da praça. Sempre que perguntávamos pra nossa família o que estava acontecendo eles diziam que não podíamos saber por que éramos muito jovens e que não era certo contar. O que, depois de pensar bem, eu achei estranho por que... Nessa cidade fofoca é algo comum e todo mundo espalha pra todo mundo, não importa a idade. – As lembranças daquele dia voltavam com força na mente de Damon. Seu corpo concentrava-se em escutar e ao mesmo tempo lutando para expulsar pensamentos involuntários sobre aquela época. O pior dia de sua vida. Stefan sendo humilhado por Giuseppe, no meio da praça, com todos os moradores ao redor, incentivando sua expulsão de Mystic Falls. Vomitou tanto naquele dia, quase tanto quanto chorou. Ódio. Tudo que conseguia sentir era ódio. – Então pra ajudar a Elena, eu pensei que se a gente descobrisse a razão pro senhor ter sido expulso, se fosse algo sério, poderia fazer com que ela contasse pra mãe... E assim você sairia de lá.

Por mais louco que pudesse soar Damon não se surpreendia pelo fato de Elena querer que saísse. Ela assim como todos, na época, ela o odiava. E morar, viver sob o mesmo teto que alguém na qual não se goste, é normal querer se afastar disso.

Mas...

Envolver Stefan?

– Nesse plano. Todos nós tínhamos uma parte. A da Caroline era convencer o diretor a exigir que os professores participassem das atividades acadêmicas dos alunos. – Bonnie continuava a explicar, enquanto uma combustão de realidades aconteciam na mente de Damon. Sim! Era verdade. Lembrava-se de seu ódio quando essa nova exigência foi implantada.

– Mas por quê? – Perguntou ele em voz fraca. Suas mãos começavam a suar.

– Sabíamos que o senhor não participava dos bailes, nem dos jogos ou qualquer atividade da escola. Era sempre o senhor Saltzman na maioria das vezes, e se o senhor participasse ficaria mais fácil pra Elena socializar com... Você.

Por mais detalhado que fosse o modo na qual Bonnie explicava. Damon ainda não conseguia entender por completo.

Algo estava errado.

– Socializar comigo? Porque ela teria que socializar comigo? Ela me odiava.

Foi ai que Bonnie suspirou. Um suspiro pesado que arrepiou por completo o corpo de Damon.

Não sabia explicar se era medo ou algum tipo de sexto sentido. O fato de saber que o que quer que fosse... Não era algo bom. E isso o afligia mais.

– Essa era a parte da Elena no plano. – Disse ela o deixando ainda mais em aflição. Falava como se estivesse dando a noticia de um assassinato para alguém. – Se aproximar de você; Ser sua amiga... Ganhar sua confiança. – Completou Bonnie acendendo as pequenas peças do quebra-cabeça desmontado na qual Damon tentava compreender. Não foi por nota como ele pensou a primeira vista. Mas ao mesmo tempo ela não estava sendo totalmente sincera. Era um plano. Bonnie esperava alguma reação da parte dele. Os outros dois garotos olhavam com a mesma ânsia, mas Damon não se pronunciou. Bonnie aos poucos voltava a falar e ele encarava o vazio, escutando. – A minha parte era investigar... Com a sua família, junto com a Rebekah que também tá envolvida. Nós duas íamos fazer o trabalho... Das famílias fundadoras, e tentar descobrir algo com a sua família, caso a parte do Tyler falhasse. – Outra vez o silêncio. Esperaram para que ele dissesse alguma coisa, mas não. Nem ao menos se mexeu. – Quando montaram os grupos e cada um escolheu a família que ia trabalhar, a Elena de ultima hora disse que queria os Salvatore. Isso era a minha parte e a da Rebekah, mas ela inventou uma boa desculpa de que assim poderia saber mais de você e ficaria mais fácil de criar assunto... Eu caí e a gente acabou fazendo juntas. A parte do Tyler era um pouco mais complicada; Ele ia ter que fingir pro... Irmão que... Que... – O medo de Bonnie perante o olhar frio de Damon era uma evidencia. A interrompeu de continuar imediatamente. Damon encarou um a um como se descarregasse toda sua fúria sob eles. Matt em proteção depositou a mão no ombro da amiga apoiando que prosseguisse sem temor. Tyler não parecia assustado. Estava tão inexpressivo quanto o próprio Damon. – Ele ia fingir pro... Mason que tinha um plano contra você. E que ia usar o motivo da sua expulsão de casa como uma espécie de suborno ou de tortura, mas ai a gente descobriu que o motivo era por causa do seu irmão. Stefan, e que não iria adiantar em nada porque não envolvia você.

Damon encarou Tyler. Apenas por alguns segundos, onde a lembrança de Mason em sua vida se fez presente na memória.

– Depois... – Sussurrou Damon após tanto silencio. A voz era fraca, baixa e quase inexistente. Como a de um bebê dizendo suas primeiras palavras.

Tyler pôde facilmente enxergar a hesitação de Bonnie em continuar como Damon incentivou. Ela estava com medo. Mas aquela era a parte mais importante no plano; Na qual agora era tarde demais para deter ou sequer voltar atrás. Ele sabia que poderia haver consequências sérias mesmo que o que planejaram desse certo e mesmo não sabendo quais poderiam ser. Não podia de jeito maneira ser pior do que o que já estava acontecendo.

Interrompeu, carinhosamente, Bonnie de continuar. Percebeu quão grata ela ficou, pois já havia atingido seu limite de coragem.

Agora era a hora da omissão.

– Depois. – Anunciou Tyler circulando seu dedo indicador nos restos de pó amarelo do giz na mesa de Damon. Este que agora o encarava. – Desistimos... Vimos que se não envolvesse você achamos melhor desistir dessa ideia, mas tinha um problema nisso. – A mistura de divertimento e mistério na fala do garoto deixava claro que estava se divertindo. Damon não parecia perceber. Estava atento demais na história e em assimilar aquelas confusas palavras ao invés de detalhes em uma forma de verbalizar. E era aí que Tyler sabia que estava a sua grande vantagem. Não só Tyler, mas como Matt e Bonnie que agora se mantinham calados. – Elena era o problema. No inicio ela não quis aceitar que acabou e que teria que viver com você. Fez um escândalo, gritou que tinha que ter outro jeito, mas... Depois... Estranhamente de um dia pro outro, ela mudou de ideia.

Mudou de ideia? Pensou Damon em repetição as palavras de Tyler. Não conseguiu apagar o fio de esperança que lhe acendeu. Talvez ela tivesse desistido por conta da aproximação que tiveram... Da amizade que foram erguendo aos pouco. Talvez! Talvez seja por isso.

Seus pensamentos giravam ao redor da expectativa. Era impossível. A maneira na qual Elena lutou para que aquilo acontecesse. Se não fosse real não teria sentido.

Tyler limpou os grãos de giz de seus dedos e prosseguiu.

– Mas há pouco tempo descobrimos uma coisa. Uma coisa muito séria.

– Elena nos contou. – Interrompeu Matt o corrigindo. Tyler a principio não pareceu gostar, mas logo sua expressão suavizou-se.

– Exato. Ela nos contou.

Para Damon era como se ele estivesse atuando para poder parecer simpático. Deveria ser só o jeito natural dele, afinal os Lockwood ainda sim não gostavam dele.

– O que ela disse? – Perguntou Damon parecendo um pouco mais recomposto do que da ultima vez que falou.

Tyler esfregou os dedos novamente. Vendo-se livre do pó de giz.

– A gente já tinha uma desconfiança de que a Elena tava aprontando alguma coisa. Quando todo mundo a enfrentou e exigiu a verdade, ela disse que mentiu pra nós e que planejou um plano só dela. Sozinha. Falou que a nossa intenção era só tirar você da casa, mas que ela tinha outros desejos.

– Outros desejos? – Damon perguntou para o vazio. Não estava mais nervoso. Confuso era a palavra certa. Com todas aquelas explicações, era como se cada vez entendesse mais e ao mesmo tempo... Entendesse menos. Eram muitos paralelos para um assunto que não possuía o mínimo de conhecimento há poucos minutos atrás. – Que outros desejos? – Questionou de novo.

– Resumidamente? – Respondeu Tyler com uma nova pergunta. Damon assentiu e os olhares dos dois se encontraram em brasa. – Ela queria te destruir. Ela queria não só ganhar sua confiança, mas também queria te tirar da casa, queria te deixar sem onde morar, queria fazer você chegar ao fundo do poço até que bebesse outra vez, sem nada. Ela queria te ver desmaiado na rua com uma garrafa de uísque na mão. Era esse o plano dela. – A maldade e satisfação na voz em um segundo o atingiu em forma de palavras. Pequenas gotículas de lagrimas acumularam na lateral de um de seus olhos, mas não a soltou. A humilhação já era o bastante.

Era isso que acontecia quando se deixava ser feliz por um segundo. Eram coisas assim que ocorriam ao tentar reerguer o nível de miséria que sua vida havia tomado.

Abaixou o rosto pela vergonha. Nada além do chão gélido era o merecedor de seus pêsames.

– Quer ouvir o resto? – Falou Bonnie preocupada. De relance ele a encarou, elevando a cabeça apenas o suficiente para que ela percebesse que assentia. Se realmente possuísse mais e se poderia ser ainda pior, era melhor que descobrisse tudo de uma vez. Prolongar infelicidade só lhe deixa infeliz por mais tempo. E Damon já estava farto de ser infeliz. – Depois que ela contou isso tudo pra gente, ela também disse que tinha desistido e que vocês dois se envolveram. No inicio todo mundo ficou em choque, mas depois aceitamos e oferecemos apoio, só que... Ela também disse que tinha te contado sobre o primeiro plano que eu tive. Falou que abriu o jogo contigo e que confessou toda a verdade sobre a intenção de te fazer beber e de... Tudo que planejou, mas ela mentiu de novo dizendo que você a perdoou e que sabia de tudo e eu...

– Chega! – Implorou Damon já farto do que ouviu. Adentrou os dedos por seus cabelos e apertou cada fio puxando com força. Não sabia se desejava explodir sua cabeça ou que a dor que seu coro sentisse fosse pior do que a de agora.

Parecendo ignorar seu pedido, Matt continuou a falar no lugar de Bonnie.

– Foi por isso que a gente veio aqui... Foi pra pedir desculpas pelo plano que a Bonnie teve e por tudo que aconteceu. – Confessou triste. – Pensamos que o senhor já sabia de tudo e que a situação com a Elena tava resolvida, mas... A gente chegou e você não sabia de nada.

Os olhos de Damon, antes marejados, agora estavam secos. Estava em ódio; Ódio por ter posto em risco a base de sua vida por uma fascinação. Pela idealização de que alguém com tanto sucesso na vida pudesse ama-lo. Ele, logo ele, sendo alguém com tanto fracasso.

Aquilo não merecia lágrimas. Elena não merecia nada além de sua raiva.

Em meio a involuntários soluços, tentava formular algo.

– Vocês acham que ela inventou pra vocês que tinha se arrependido e que tinha me contado tudo... Pra... Não levantar desconfianças e... Continuar com o plano?

Silêncio. Os três se entreolharam novamente e Tyler assentiu pelo grupo. Sabe lá o que ela poderia ter planejado; Talvez esse relacionamento... Seja uma armadilha pra que eu fosse preso e perdesse meu emprego.

Sim, era isso era uma armadilha.

Ela... Ela...

Haviam dormido juntos, ela teria provas físicas pra me incriminar.

– Preciso ficar sozinho. Por favor. – Pediu Damon esforçando-se ao máximo para não gritar. Ninguém podia vê-lo assim já bastava à vergonha que deveria ter passado enquanto montavam esse plano, enquanto era humilhado por estar sendo enganado o tempo inteiro.

– Claro. – Bonnie concordou timidamente. Em passos curtos, os três se dirigiram até a entrada da sala. Damon mantinha as mãos tapando o rosto, com os cotovelos a cima da mesa e a postura desleixada. Todos conseguiam ver a raiva transbordar nos olhos dele no momento que o encararam ao sair.

O soar da porta era o sinal que Damon precisou para desabar em decepção, humilhação e raiva. Encarou a solidão para poder contemplar o gosto que provaria pelo resto de seus dias.

Era horrível o fato de já estar acostumada com situações assim.

Mas aquela ainda sim era sua vida e mesmo que com amargura e infelicidade, ainda tinha que vivê-la. Mesmo não querendo.

Apanhou o celular na pasta e enxugou uma lagrima solitária que desceu de seu olho direito. Precisa ouvir a voz de Stefan. Precisava ver a única luz e esperança de sua miserável jornada.

Assim que terminasse o intervalo, seria educação física para todas as salas em geral. Prometeu a Elena que ficaria na arquibancada para vê-la treinar, mas era impossível fingir para ela que estava tudo bem.

Não era tão bom em fingir como ela.

Após dois toques, Stefan atendeu a chamada.

–--x----

– Bonnie seu plano foi genial. – Comemorou Tyler enquanto os três andavam pelo corredor em direção ao refeitório. – Você é simplesmente... Brilhante. – Em felicidade, estalou um beijo alto na bochecha da baixinha e abraçou Matt pelo pescoço.

– Fiz o que era certo. Vai ser melhor pros dois desse jeito.

Matt ainda tinha uma carranca de arrependimento no rosto.

– Fiquei com pena dele. É um idiota, mas... Parecia muito triste.

– Melhor ele triste aqui fora, do que triste na cadeia. Fizemos o certo pra evitar que uma desgraça acontecesse. É pelo próprio bem deles, você vai vê. – Tyler o confortou o abraçando com mais força. Aos poucos o loiro pareceu se convencer.

Adentraram ao refeitório procurando a mesa onde os restos das meninas estavam. Matt foi o primeiro a encontrar com o aceno alto de Rebekah, balançando a mão direita para lá e para cá.

– Olha elas ali. – Avisou o loiro para os outros dois e seguiram normalmente até a mesa. O lugar habitual onde sentavam já estava tomado por outro grupo. Não era pra menos, levando em conta o tempo que Elena levou para juntar seu material e ficar com Damon na sala o máximo possível. – Oi linda. – Disse Matt a girando pelo corpo e beijando seus lábios num beijo calmo. Todos reviraram os olhos fingindo nojo e sentaram para comer.

– Pegaram pra nós. Que fofo. – Exclamou Bonnie sentando-se a mesa.

– Foi a Caroline. – Elena respondeu bebendo de seu suco. – Que demora vocês... Ficaram esse tempo todo vendendo rifa pro senhor Salvatore?

Tyler negou rapidamente.

– Claro que não. Aquele idiota nem sequer concordou em participar, nem ouviu a gente direito. Estávamos atrás de outros professores.

– Outros professores? – Riu ela em ironia. Endireitou a postura e lançou um olhar de desconfiança para a mesa do outro lado do refeitório, depois olhou de novo para Tyler e para Bonnie. Não parecia nenhum pouco contente. – Todos os professores tão ali desde que a gente chegou. Eu vi. Menos ele. O que ficaram fazendo?

Matt parecia chocado demais para falar. Tyler ainda estava com o garfo no ar sem coragem de se mexer para o pôr em sua boca. Bonnie parecia estranhamente tranquila. O que assustou o grupo logo de inicio; Todos pensavam em alguma resposta plausível. Claro que Elena observaria a mesa dos professores. Ela iria checar de cinco em cinco minutos se ele estava ali e foi descuido não terem pensado nisso.

Mas quem poderia culpa-los? Tanta coisa acontecendo que detalhes fugiam de vistas parecendo tão bobos. Como nesse agora, na qual nem haviam cogitado.

– Tá você nos pegou. – Confessou Bonnie rindo envergonhada. – Talvez a gente tenha ficado em uma sala de aula vazia remexendo nas coisas de alguns alunos de outros anos... Só talvez, não to assumindo nada, ok?

– Sabia. – Gargalhou Elena fazendo os outros suspirarem aliviados. – Da próxima vez eu quero ir junto. Parece ser bem mais divertido do que o que essas duas loucas inventaram. – Apontou com raiva para as duas loiras ao seu lado. – Falaram que precisavam falar urgente comigo sobre um problema na organização das posições do time... E quando eu vejo tá tudo normal; Tinha que ser loira mesmo.

– Já pedimos desculpas. – Suspirou Caroline já estressada por aquele discurso de Elena.

– Em minha opinião isso é um sintoma de Alzheimer, queridinha.

– Chega Elena. – Pediu Rebekah gentilmente. – Como a Caroline falou já pedimos desculpa, foi nosso erro e é melhor esquecer.

– Vai sonhando. Mudando de assunto; Tem algum spar nessa porcaria de cidade?

– Aqui não, mas em Whitmore tem um. – Respondeu Tyler fazendo Elena sorrir alegre de animação.

– Perfeito. – Comemorou. – Nada melhor do que um tratamento de primeira pra acalmar a loucura de vocês. Nesse sábado vamos todas nós.

– No spar de Whitmore? Sábado? Assim de ultima hora? – Gargalhou Matt quase engasgando com a própria comida. – Minha mãe já foi recepcionista daquele lugar. É um dos únicos da Virginia e pra consegui vaga só com meses de antecedência.

Dessa vez foi Elena que devolveu a gargalhada. Com um pouco menos de estridência e mais malicia e sarcasmo. Não conseguia acreditar no absurdo que estava ouvindo.

– Acho que você às vezes se esquece de que eu não sou uma pessoa qualquer. Já que sua mãe trabalhou lá, me consegue o telefone. Tenho certeza que me agendam na hora.

Sem outras interrupções o intervalo ocorreu normalmente. Elena estava muito animada para treinar essa semana. Era primeira vez que mostraria ao resto das garotas uma coreografia só sua e se conseguisse a aprovação, ela comandaria a equipe até o próximo jogo. Damon disse que estaria lá e aquela era de longe a melhor parte.

Ontem havia sido maravilhoso. Domingo era de longe seu dia predileto da semana. A maneira como ele a tocou; Tão doce, quente, cuidadoso. Nunca em sua vida havia sido tratada daquela maneira por um homem. Mesmo sabendo que Damon não correspondia na mesma intensidade que ela, sentiu-se mais amanda do que nunca.

Não somente desejada, mas também amada.

Se fechasse bem os olhos jurava que conseguia relembrar de tal maneira como se estivesse lá de novo. Os lábios respirando um no outro, a compreensão dos corpos. Os movimentos eram mais do que apenas instintos para ela. Era certeza. A embriaguez de cheiros, as peles fundindo-se em uma mistura única. As batidas uníssonas do coração um do outro. Era como se estivesse compartilhando sua vida com ele, não somente prazer. Nunca havia sentido que pertencia a ninguém; Ontem sentiu isso. Sentiu que queria pertencer a Damon pra sempre. Seria dele pelo resto de seus dias.

Demorou um pouco mais que o normal para trocar sua roupa pelo uniforme de torcida. Era assim quando as lembranças dele atingiam-na. Não era capaz de se controlar. Terminou de prender o cabelo e saiu do vestiário. Não estava frio. Em dias gelados, treinavam no ginásio ou em uma quadra interna por ser fechado. Nos quentes, iam para o campo.

Ansiava na expectativa de encontrar o rosto que queria em algum lugar das arquibancadas, mas não. Ele não estava ali.

– Elena, vem! – Gritou uma das meninas a chamando. Olhou mais uma vez em volta e encarou as entradas. Nada. Nem sinal. Era impossível negar a decepção que se instalou. O pensamento de ter feito algo de errado ontem a noite foi involuntário.

Será que eu fiz alguma coisa ou... Foi só um imprevisto? Ele garantiu que viria.

Seguiu até o grupo de garotas no outro lado do campo e reforçou o laço no cabelo de Caroline que já estava frouxo. Bonnie lhe entregou o numero do telefone do spar que havia conseguido com Matt e esperaram por Patrícia, uma das integrantes do time voltar com o radio e a extensão para poderem ensaiar com a música.

A demora só servia para manter sua mente ocupada em pensar o que tanto evitava. Não que fosse intenção se auto vangloriar em um momento como aquele, mas... Nenhum homem com quem esteve reclamou de suas habilidades na cama. Pelo contrario, era sempre muito elogiada. Claro que eles não eram como Damon, afinal...

Céus. Pensou em desespero. Era isso.

Quer dizer. Havia sido diferente com ele; Pela primeira vez viu-se fazendo amor ao invés de sexo. Claro que houve desejo com Damon. Muito mais do que com os outros. A diferença foi à maneira na qual canalizaram esse desejo. O amava. Por isso havia sido tão bom fazer amor com ele, mas... Damon não sentia o mesmo então talvez pra ele não tivesse sido tão bom.

Não! Não!

Teria que falar com ele. Afastou-se devagar do grupo que tagarelava ao redor. Todas pareciam animadas em falar sobre algo relacionado a uma festa ou um evento na qual Elena não conseguia prestar atenção. Preferia estar no ginásio; Não estava tão calor assim, nem sabia se na Virginia pudesse ter calor, mas ainda sim o vento, apesar de pouco, era gelado o suficiente para um leve estremecer na pele. Ainda mais em um corpo quase desnudo por um pequenino uniforme de líder de torcida.

Arrastou-se em pequenos passos até uma das saídas próximas e alcançou a barra do portão de ferro. Sem mais delongas, o puxou fazendo o mínimo de barulho possível para que ninguém a visse.

– Cheguei. – Gritou Patrícia trazendo os aparelhos.

Droga.

Correu o mais depressa possível para perto do grupo e cruzou os braços fingindo que nada estava acontecendo.

– Pronta pra mostrar sua dança, Elena? – Perguntou Rebekah animada e a morena sorriu timidamente perante a decepção.

Ainda sim aquele era um momento importante na qual não queria que houvesse interrupções. Esperou Patrícia terminar de montar o equipamento junto com Cindy e apanhou o cd na mochila colocando na musica na qual iria dançar.

Era uma musica latina. Difícil de dançar, mas ainda sim bem sensual. Hips don’t lie da Shakira; Era já meio antiga e todos conheciam e poderiam se familiarizar.

Como o que havia ensaiado. Os movimentos saíram em perfeição da maneira que planejou. Tentou ser positiva e pensar que nada demais aconteceu entre ela e Damon.

E se corresse como uma maluca abandonando o compromisso que tinha ali para caçar explicações, poderia perder sua chance e ter se preocupado com o que não era nada.

Moravam os dois na mesma casa. Se algo estava errado saberia logo.

Terminou a dança e pelos olhares no resto das garotas tudo indicava que aprovariam.

A aula terminou e outras ocorreram até o fim do horário escolar pelo dia. Hoje, por mais que seus pensamentos não colaborassem, não havia sido muito cansativo. Jeremy dormiria na casa da Anna; Chegou com April que foi para o quarto estudar assim que chegou. Jenna estava na biblioteca e sua mãe no trabalho.

Damon ainda deveria estar na escola ou então saído com Alaric. Às vezes ele chegava primeiro que ela, mas na maioria das vezes Elena voltava bem mais cedo. Tomou um banho demorado onde por algum tipo de milagre não pensou em besteiras. O cansaço havia tirado todas suas energias para roer sua mente.

Um apito baixo do telefone no criado mudo avisou que recebeu uma mensagem enquanto se trocava.

‘’D’’

Sorriu docemente perante o aviso de quem era e suspirou jogando-se na cama.

‘’ Estou na esquina da rua de trás no meu carro. Consegue vir aqui? Agora?

Sem pensar duas vezes respondeu que sim. Não havia o que se dizer nem ao menos o que negar; Não queria negar, queria ir.

Mas não queria deixa-lo esperando, só que também não queria aparecer má arrumada para encontra-lo. Não eram nem cinco horas ainda. Escolheu um short saia assimétrico azul marinho com uma blusa preta de maga cumprida de linho. Completou com uma bota cano curto sem meias.

Jenna estava na sala lendo um de seus novos livros. April continuava no quarto e sua mãe não chegaria até as sete.

– Vou sair! – Avisou Elena para a tia deitada no sofá. – Não demoro. – Sem contestar, saiu normalmente agradecendo por Jenna nem ter ao menos reparado que estava sem bolsa, ou ter retirado os olhos das páginas daquele livro. Se visse que Elena sairia sem bolsa, desconfiaria na hora que algo estava acontecendo.

Sem parecer muito afoita, deu a volta no quarteirão e avistou o carro no final da esquina no local combinado. Sorte sua ter esfriado, se estivesse morno como na manhã, tudo estaria mais movimentado. Da rua inteira, somente um casal de idosos brincava com um cachorro na varanda de suas casas e um grupo de pré-adolescentes conversava no meio fio.

A porta já estava destravada. Sem empecilhos abriu e adentrou ao veiculo.

– Aí, Finalmente. Queria muito ver você. – Gemeu em manha o trazendo para perto em um movimento rápido, pressionando seus lábios contra os dele. Damon de inicio pareceu surpreso pelo toque e travou o maxilar em resposta. Na hora estranhou a reação, mas ignorou. A felicidade em vê-lo era maior. – Você não tava hoje na arquibancada. Aconteceu alguma coisa? – Em delicadeza, ele afastou as mãos dela do afago que executava em seus fios. Mesmo não estando mais aos beijos, conseguia ver a mandíbula dele ainda rígida.

– Liguei pro meu irmão na hora. Precisava meio que falar com ele.

– Isso é ótimo. Ele tá bem? – Não respondeu, apenas sorriu tímido em confirmação e Elena tentou o puxar outra vez para o contato. – Qual o problema? – Perguntou triste.

Só ai percebeu a expressão denunciada em seu rosto. Hesitante, distante. A voz também a mesma coisa. Rigidez, desconforto. Sinais de uma fase na qual achou que tinham superado.

Não se submeteu dessa vez. Continuou firme o encarando até que ele respondesse.

– Eu quero te perguntar algumas coisas, mas eu quero a verdade. Quero que me conte só a verdade. – Em analise as palavras, Elena assentiu prometendo. – Depois que eu me mudei você se aproximou de mim... Porque fazia parte de um plano, não é?

Elena em susto afastou o corpo contra o banco do carro. Os olhos arregalados em medo sobre como ele reagiria. Ou quanto ele sabia. Damon até o momento pareceu pacifico, mas o desconforto e medo da reação de Elena era a confirmação que precisava para tudo que lhe foi dito.

– Eu posso explicar, por favor, me deixa explicar. – Disse ela implorando em desespero.

– Não. – Interrompeu grosseiramente. Tudo que Damon menos queria era ouvir aquela história outra vez. – Você mentiu. Mentiu pra mim, mentiu pro seus amigos. Disse que só queria me tirar da sua casa, mas também queria me fazer beber. Você tem noção do que você tava planejando? Você é maluca?

– Como você sabe disso? – Gritou sem conseguir segurar mais nenhuma lagrima. Não chorava na frente de ninguém, mas agora não importava. Estava aos berros.

Assim como ele.

– E interessa? Você queria trazer de volta a pior sina da minha vida.

– Damon... Ouve só me escuta. – Os soluços já tomavam conta de sua fala. O choro cada vez mais forte não tardava em se intensificar. Era a primeira vez que chorava assim diante de alguém. Ainda mais sem importar-se com a maquiagem já completamente desgastada por suas fortes lágrimas. – Escuta... Eu desisti. Eu desisti; Não existe mais plano nenhum, eu...

– Que droga, Elena. Será que você não entende pelo amor de deus? Eu não ligaria pro fato de que você me odiar. Já to acostumado com isso. Não ia me importar se quisesse que eu saísse da sua casa e aprontasse algumas travessuras. Também to acostumado a ser expulso e de gente não me querendo por perto, ok? Essa não é questão aqui.

– Então qual é? Diz qual é e eu peço perdão de joelhos se você exigir. – Em uma desesperada tentativa tentou toca-lo novamente, mas Damon foi mais rápido. Empurrou suas mãos para longe como se não valessem de nada. Nos olhos de Elena ocorria-se um dilúvio, já os dele estavam gélidos como o inverno. A voz no tom de fera sem emoções e as dela intercortada por soluços altos em consequência do choro.

– Você queria me destruir, Elena.

– MAS EU NÃO FIZ.

– MENTIRA. – Acusou derramando a primeira lágrima de seus olhos frios. – E mesmo que tivesse falando a verdade, você cogitou... Isso já o suficiente pra mim.

– Damon, eu imploro. Não faz isso, não, não. – Forçou suas mãos em forma de oração, suplicando para que algum tipo de compreensão fosse exposto da parte dele. Não importava em se submeter, ou em humilhar-se, mas não podia perdê-lo por conta de sua imaturidade. Tudo menos isso.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

Perante o vazio de Damon, Elena desabou em lágrimas outra vez percebendo que não iria ser perdoada.

– Eu não quero mais ouvir Elena. – Afirmou ele dessa vez sem gritar. Apenas um sussurro de fundo de garganta. Sincero, rouco e completamente exausto.

– Damon, por favor. Esquece isso, esquece por mim. Eu não posso te perder, ok? Eu não posso, eu amo você.

Ele balançou a cabeça negativamente. Elena não aguentaria que ele corresse de suas palavras daquela maneira. Damon tentou fugir ao seu toque outra vez. Não deixou. Agarrou sua mão esquerda o mais forte que pôde.

Por favor. Seus olhos demandavam através da enorme quantidade de água que caíam.

– Me solta. – Murmurou sem emoção. Como se realmente não se importasse. E aquela era a maior facada que Elena poderia receber dele. – Sai do carro. Sai do meu carro.

Mais firme, ela contestou:

– Sem chance!

– Sai do carro, Elena!

– Não vou sair sem me perdoar.

– Saí Elena... Agora. – Não era mais um pedido. Era uma ordem recheada de amargura e novamente a falta de emoções de antes. Não era só uma facada dessa vez. Eram navalhas, tiros, tapas, socos, chutes, vidro, fogo. Qual possível objeto ou elemento capaz de causar tamanha dor física era pouco ao que sentia no momento.

Saiu do automóvel. A cabeça baixa e o choro por toda face; Bem diferente da garota que entrou naquele carro. Damon deu partida em uma velocidade crucial capaz de assustar aos poucos que estavam presentes na rua. As três pessoas ali encararam em perplexidade murmurando palavras como ‘’Louco’’ ou ‘’ Que idiota’’.

Já Elena não pensava em nada. A dor impedia o raciocínio. Deu as costas ao pequeno falatório e seguiu a rua contraria em direção a sua casa. Não iria voltar para lá nesse estado. Caminhou a pé por todo o bairro. Em cada passo a dor se fazia pior.

Ao finalmente encarar sua rua outra vez seus pés doíam fortemente, após tanto andar. Certificou-se de limpar o rosto no espelho retrovisor de algum carro estacionado no meio fio. Em quinze minutos assumiu a máscara de que nada havia acontecido. A escuridão aos poucos era vista de longe e o céu ganhava o laranja vivo de fim de tarde.

Quando finalmente voltou pra casa, Damon não estava lá. Não soube definir se aquilo era bom ou ruim. Isobel assistia TV com April e Jenna ainda lia o mesmo livro de quando saiu.

– Voltei. – Anunciou subindo as escadas. Sem o mínimo de expressão em seu rosto nem sentimentos em sua voz. Como um zumbi.

– Onde estava meu amor? – Disse Isobel em sua típica maneira amorosa.

– Por aí.

Suas ultimas palavras antes de seguir para o quarto e desabar em choro na cama.

Não achava que era possível haver mais lágrimas contidas em seus olhos, mas pelo visto eles estavam dispostos a lhe provar o contrário.

Uma hora. Uma hora e meia. Duas horas. Esse foi o tempo que ia se passando e continuava a chorar por debaixo das cobertas voluptuosa de seu edredom.

Foi quando parou. Nenhuma lágrima mais se foi derrubada. Seus soluços aos poucos eram levados embora e sua respiração e batimentos cardíacos foram normalizando-se.

Estaria enganando a si própria se ousasse em pensar que a dor estaria indo embora? Ou estava apenas se acostumando com ela.

Fechou os olhos em concentração focando no sono. Em busca-lo para seu corpo, torcendo que trouxesse algum tipo de alivio junto. Tudo que foi canalizado era o toque do celular na cabeceira, abafado devido todos os seus cobertores por sua cabeça.

I'm a Barbie Girl in a Barbie World. Life in plastic, it's fantastic. You can brush my hair, undress me everywhere. Imagination, life is your creation.

Damon. O nome surgiu em sua cabeça como uma tocha de luz. Expulsou as cobertas de cima de seu corpo, encarando algo que não fosse o escuro durante todas essas horas. Não havia apagado as luzes. Fechou os olhos por alguns segundos pelo choque e esperou até que se acostumasse novamente com a claridade. Quando feito, olhou pelo identificador de chamadas sendo consumida pela decepção... E pela indignação.

John.

Brilhava as letras que antes era atendido por ‘’pai’’. Mas depois de tudo, nem ler essas palavras conseguia mais. Era apenas John para ela agora. Não iria atender; Estava decidida a não retornar, mas o canalha nunca dava noticias e para ligar era porque deveria ser importante.

Se não atendesse, ele ligaria para Isobel. Sua mãe não merecia o sofrimento de falar com ele.

– O que você quer? – Atendeu não escondendo seu nojo por ter de ouvir a voz daquele homem.

Vou ignorar esse tom pro seu próprio bem o que acha?

– Vai dá uma de bom pai agora? Chocante.

Filha é importante. Não quero brigar com você. – Replicou compreensivamente. Também parecia preocupado. Algo estava acontecendo.

– To ouvindo. – Disse ela ajeitando-se na cama.

Tá com algum taplet perto? Notebook? Computador? Alguma coisa com internet.

– Só o celular mesmo. Por quê?

Não, é importante e eu preciso que você veja isso enquanto fala comigo. – Aconselhou John fazendo Elena estremecer por alguns segundos. Adiantou-se ligando o notebook em uma das mesas do cômodo e esperou alguns minutos para que suas configurações estivessem prontas.

– O que tá acontecendo? Sua voz... Não to gostando dela.

Só fica calma, tudo bem? – A tentativa idiota dele de tranquilizá-la funcionou. Nos tempos em que ainda eram pai e filha; John era o melhor em acalmá-la. Proteger dos medos que tinha ou de qualquer perigo que pudesse ser exposta. Odiava admitir, mas ainda possuía aquela mesma conexão de antes com ele. – Já ligou? – Disse ele a despertando de sua mente.

– Já. E agora?

Põe em algum site de fofoca. Qualquer um.

Rápida, clicou no primeiro site indicado em seu histórico.

A notícia em destaque?

Ela mesma.

– Ah, não – Gemeu em relutância e sacudiu a cabeça, torcendo pelo sumiço daquela matéria ou para ser apenas imaginação criada por sua mente.

Não aconteceu. Seu rosto e a manchete ainda estavam lá e provavelmente deveriam estar em todo tipo de plataforma noticiaria.

Mais essa agora.


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Notas finais do capítulo

Ih... E agora? O que será que foi essa notícia? O que acharam do plano da Bonnie? E das mentiras do grupo? Do termino delena? Etc?

PS: Não pensem que a Isobel esqueceu o que aconteceu na igreja tá. É que eu preferir deixar pra outro capítulo. Espero que tenham gostado deu um trabalho pra escrever... Beijos e COMENTEM quero saber a opinião de vocês.