Um som de coisas quebrando vindo do outro lado da clareira atiçou Alli e Ernest. Os dois seguiram correndo para encontrar o motivo do barulho. Após alguns minutos, encontraram um par de asas molhadas e sujas, cobrindo algo que gemia de dor.

Alli se dirigiu ao ser e afastou gentilmente suas asas, revelando uma garota com um lindo rosto, porém infestado de cortes e hematomas. Ela não dizia nada, apenas encarava Alli com seu olhar penetrante.

–Vem, vamos te levar pra um lugar seguro. - Ernest disse estendendo a mão para a garota e ajudando-a a se levantar e caminhar com pesar até Rune.

Ao avistar Rune, o ser soltou a mão de Ernest e correu até ele.

–Rune Salazar. - a garota disse caindo em seus joelhos - Trago uma mensagem dos Fterões. É um pedido desesperado por ajuda. Os Ýdorianos invadiram nossa civilização e precisamos de sua magia ancestral para nos salvar da perdição completa.

–Você é a nova mensageira? - Rune perguntou e a moça concordou com a cabeça silenciosamente - Me diga o que houve com o acordo que vocês assinaram quatrocentos anos atrás.

–Há um mês e cinco dias, uma criança ýdoriana cruzou a fronteira entre nossas civilizações. Nosso rei fterão tomou tal ato como insulta e falta de compromisso da parte dos ýdorianos e declarou guerra. - ainda de cabeça baixa, a garota fterã tossiu e continuou - Uma ação impensada, pois estamos em menor número e os ýdorianos são, de fato, mais poderosos. Clamamos sua ajuda, conselheiro.

Ernest e Alli ouviam e observavam calados. Sabiam exatamente o que Rune faria nos momentos seguintes.

–Meus magos mais experientes ajudarão Ftera, mensageira. - Rune fez um gesto para os irmãos Pierrot - Lhe apresento seus salvadores, Ernest e Alli Pierrot.

–Perdoe minha descrença, conselheiro, mas são apenas crianças. - a mensageira disse olhando para os Pierrot.

–A gente vai conseguir. - Alli disse segurando as mãos da mensageira - Eu sei que sim!

–Além do mais, você não parece ser muito velha. - Ernest falou ajudando a garota a se levantar.

–Vamos seguir logo. - a mensageira disse e os quatro seguiram na direção de onde ela havia vindo.

Cruzando de volta a clareira e passando por um vale rochoso, encontraram a civilização fterã em ruínas. A mensageira caiu em terra, não acreditando que seu povo havia sido dizimado por sua demora. Ela se levantou e andou até um local não muito diferente do resto dos escombros.

–Deixaram. - a mensageira disse - Ainda há esperança.

Tirando dos destroços uma espécie de colar empoeirado e sujo, procurou algum sobrevivente, de qualquer uma das civilizações até encontrar um soldado ýdoriano usando sua magia de água para destruir uma casa que era, aparentemente a única estrutura de pé.

–Ei. - a mensageira chamou e atraiu a atenção do soldado. Abriu suas asas e seu colar e seus olhos começaram a brilhar em um branco ofuscante. Sua voz foi preenchida por um assombroso eco e ela levantou voo - Que balde de água fria vai ser pra você.

A cena seguinte foi ofuscada pelo brilho do colar da mensageira fterã, mas ela sabia o que tinha feito. Tirado a vida de uma pessoa. Um rasante fatal banhado em uma luz sagrada. Não era missão da mensageira matar.

Ernest e Alli foram até ela e tiraram seu colar às pressas. Alli abraçou a mensageira cedendo compaixão e calor humano. Ernest sentou-se junto delas e batendo com carinho nas costas da mensageira disse:

–Vamos te ajudar. - ela sorriu para ele como agradecimento - Você ainda não disse seu nome.

–Claoru. - ela respondeu com um tom de voz fraco.

Rune interrompeu o momento de amizade para lembrar Ernest e Alli que eles ainda tinham muito pela frente. Ele olhou para Claoru e a convidou para juntar-se a eles.

Olhou para os lados e, em meio aos escombros e mortos, jurou reconstruir a civilização Fterã. Se levantou e partiu junto com Rune e os Pierrot.

Mas ela nunca se esqueceria de que havia matado alguém.