Quatro anos se passaram. Não posso dizer que foram os melhores anos da minha vida, mas não foram, também os piores. Eu era a única garota da casa – a única entre meus tios –, e acho que até foi bom esse tempo com eles. Pude conhecê-los melhor e saber o que eu mais temia. Eles tinham um filho.

Isso é assustadoramente assustador. Um filho 2 anos mais velho que eu ? Acabou com a minha vida, sério.

E o pior é que ele está estudando em Nova York, e vai voltar no próximo semestre. Tia me mostrou fotos dele, me parece muito familiar, se eu lembrasse de quem. Ela se desculpou por não ter fotos dele mais velho, já que havia 4 anos que ele tinha ido estudar fora.

– Ele vem passar as férias de verão com a gente. Já que faz 4 anos que não nos vemos. Sinto muita falta dele, sabe, Unnie ? Pena que ele volta pra Nova York para a faculdade.

– Hum.. O quê ele vai fazer ? Medicina..?

– Não – ela soltou um risinho. – Ele disse que vai descobrir isso aqui, o que me deixou super feliz e aliviada por passar um tempo com meu filho.

Ela sorriu. Parecia radiante, já que faltavam apenas 6 meses para o próximo semestre.

– Mas me diz. Como está a escola nova ? – Desde a sexta série, eu estudei em uma escola estadual. Mas quando cheguei no ensino médio, ela insistiu em me pôr em uma escola particular.

– Bom, é minha primeira semana lá. Ainda sou bastante comentada, mas fora isso os professores são bem simpáticos.

Ela deu um pulo da minha cama e me deu um abraço improvisado.

– Ah, que bom, querida. Fico feliz que esteja se dando bem lá. Mas e as paqueras, em ? – Piscou.

– Ah, quê isso ! – falei, sem graça.

– Está corando ! – Berrou. Então, começou a gargalhar.

°°°

Os seis meses tão esperados passaram quase como um foguete. O estranho é que nem o nome dele eu sabia. Ficava me imaginando como ele era : óculos grandes, cabelos bagunçados e espetados, grandes olhos e aparência estranha. Um nerd total. Mas eu estava completamente errada.

– ELE CHEGOU ! AMOR, NOSSO FILHO CHEGOU ! – o berro da tia era tão grosso que eu podia confundir com um motor de carro velho.

– Calma, Hyu. Não precisa berrar, sério.

– Desculpe, querido – ela corou.

Eu era a única que não estava muito interessada nele. Ta, talvez estivesse um pouco. Afinal, era meu primo, eu devia conhecê-lo.

Ouvi portas de carro batendo, e passos vindo em direção à porta.

Toc Toc !

Hyu foi correndo para abrir a porta.

– EUN !

“Eun”.. Esse nome me deu novamente a sensação de que eu já havia ouvido esse nome antes.

Então eu ouvi sua voz e vi seu rosto. Os mesmos cabelos loiros e lisos, o mesmo nariz pontudo, a mesma boca perfeita e contornada, e a mesma voz doce e suave que eu havia ouvido quatro anos antes, na delegacia. “ O garoto da loja de doces “ .

Foi quando eu o vi vindo em minha direção, com os braços abertos. E me vi junto à ele, dentro de seus braços quentes e macios.

– Quanto tempo, Unnie. – Ele beijou minha testa e me apertou junto de si.

“Quanto tempo ? ah, francamente ! “

– Me solta, seu idiota – foi o que eu consegui dizer antes de sair correndo e me trancar no quarto.

“ Quanto tempo ? QUANTO TEMPO ? Você me faz sofrer por 4 anos e acha que tudo pode se consertar com um ‘‘QUANTO TEMPO’’ ? Seu estúpido, cretino, idiota ! “ – gritei com o rosto prensado no travesseiro.

– Eu, hum, te faço sofrer ? Eu pensei que nós nunca, hum, tivéssemos nos falado. Acho que estou enganado.

– Q-QUÊ ? C-COMO ENTROU AQUI ? SAIA JÁ DAQUI, IDIOTA ! SUMA DO MEU QUARTO, AGORA! – senti meu rosto queimar de raiva.

– Ei – pigarreou -, calma, só quero conversar.

Ele sorriu. Aquele sorriso que acaba comigo. Que nem quando ele sorriu pra mim na delegacia, o que tornava meu ódio ainda maior.

– Por favor – tentei forçar um sorriso -, vai para o inferno !

– Tudo bem – sorriu novamente. – Eu vou ir dormir um pouco. Quando eu acordar, conversamos.

Ele saiu, com o sorriso radiante.

Não entendia como ele lembrava de mim, muito menos o quê queria conversar. Quatro anos se passaram e ele não mudou nada, muito menos o meu amor por ele. Coisa que tinha de ser segredo, afinal, daqui dois meses ele vai embora e minha vida volta a ser como era.

°°°

– Não consigo dormir. Podemos conversar ? Tenho muita coisa pra esclarecer – ele sorriu, como se estivesse pedindo desculpas. E como não ouvi-lo ?

– Entre. Tenho uma coisa pra te dizer também.