Twewy: Game Over escrita por Ezequiel Santos


Capítulo 1
Capítulo 1: 60 Minutos




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O som de passos ecoava por todas as partes. Vozes de milhares de pessoas vinham por todos os lados. Lucy não sabia onde estava, mas tinha a leve impressão de que iria passar vergonha.

“Que lugar é esse?” – pensou enquanto abria lentamente seus olhos - “Onde é que eu estou?”.

– Está tudo bem com você, garota? – ela ouviu alguém falar.

– Hã? – foi a única coisa que conseguiu responder, até que se deu conta de que estava deitada em uma superfície gelada... O chão! – Ah! – disse Lucy saltando do chão rapidamente enquanto olhava para todos os lados tentando finalmente compreender o que estava acontecendo a sua volta. Ela estava no meio da rua!

– Se eu fosse você saia daí – disse novamente a mesma voz.

Lucy olhou para o lado bem a tempo de ver um ônibus vindo a todo vapor na sua direção. Com um grito ela correu para a calçada justamente na direção da pessoa que estava falando com ela. Era uma garota magrela com cabelo preto curto e uma roupa que lembrava e muito um uniforme escolar. A garota começou repentinamente a rir de Lucy como se houvesse presenciado o mico do ano. Aquilo foi no mínimo constrangedor.

– Ah... Me... Me desculpe, eu... Não sei o que...

– Tudo bem, tudo bem, relaxa, isso foi interessante – respondeu a garota que parecia muito satisfeita com a cara de confusa que Lucy exibia.

Lucy continuava olhando para todos os lados tentando entender como havia chegado ali. Prédios por toda a volta, lojas de roupas, lojas de sapatos, lanchonetes, outdoors exibindo propagandas de perfumes e trailers de filmes. Ela estava no centro da cidade, conhecia aquele lugar, mas como havia chegado até ali?

– Perdeu alguma coisa? – disse a garota de cabelos pretos olhando para todos os lados, imitava Lucy ridicularizando a garota a cada segundo. Ela estava se divertindo com tudo aquilo.

– Eu não... Eu não sei como cheguei até aqui – disse Lucy olhando para a garota com uma expressão de dar pena. Terror era o mínimo para definir sua expressão facial.

– Como todo mundo – disse a garota de cabelos pretos.

– Hã?

Não houve tempo para Lucy perguntar mais nada, repentinamente seu celular tocou em seu bolso e ela o pegou para dar uma olhada, ganhando mais um ponto no seu ranking de sustos do dia. Aquele não era o seu aparelho celular. Ao menos ela não se lembrava de ter um aparelho como aquele. Ficou encarando-o durante algum tempo como quem esperava por uma auto-explicação vinda do próprio eletrônico.

– Ele não vai para de tocar se você ficar apenas olhando – disse a garota de cabelos pretos rindo enquanto consultava seu próprio celular, que também tocava.


“Você tem 1 novo SMS”



Lucy clicou em “ler”, e se ela achava que tudo não poderia ficar ainda mais esquisito estava realmente enganada.



“Você tem 60 minutos para chegar à Rua Valente, 318, traga sua parceira. O não cumprimento dessa missão resultará na sua eliminação – Os Ceifadores.”



– Hã?


– Então... Vamos? – disse a garota morena chamando a atenção de Lucy, que agora a encarava perplexa – Não quer ser eliminada, não é mesmo?

– Como é que?

Lucy nem concluíra sua pergunta e a garota apenas exibiu a mensagem de texto no seu celular para ela. Era exatamente a mesma mensagem que Lucy havia recebido.

– D-desculpe, mas... Eu não estou entendendo.

– Não precisa entender, apenas venha comigo. Não é um lugar muito perto daqui sabe... Logo, logo eles vão começar a aparecer e as coisas não vão ficar muito fáceis para nós – disse a garota segurando no pulso de Lucy e a puxando consigo.

Não fora por força do hábito, nem mesmo reação automática, mas por medo. Lucy rapidamente se soltou da garota e se afastou sentindo seu coração disparar e um peso invadir seu interior. Se ela estava confusa, agora estava apavorada. Não sabia o que dizer nem o que falar. Nunca havia visto aquela garota em toda a sua vida e não confiava nenhum pouco nela. Jamais a seguiria sem nenhum motivo.

– O que foi? – perguntou a garota se voltando para Lucy. Agora não estava sorridente, nem parecia achar graça de coisa alguma. Mas pareceu ficar bastante impaciente ao ver que Lucy continuava olhando para a sua volta com uma cara de terror. Aquilo foi o suficiente para a garota revirar os olhos e suspirar – Maravilha, maravilha. Uma noob. De tudo que eu mais precisava no mundo e eles me mandam justamente para uma noob. Escute aqui garota, nós não temos muito tempo até que eles comecem a aparecer, o que acha de vir comigo e eu te explico tudo no caminho? Vai ser um dia bem cheio para você, isso eu posso te garantir.

– Quem é você? – perguntou Lucy, pela primeira vez parecendo mais valente do que aparentava ser.

– Ah... Bem, me perdoe, não fui muito educada com você, não é mesmo? Me chamo Page. Agora podemos ir?

– Ir para onde? – perguntou Lucy deixando a garota com a mão estendida na sua direção. Ela abraçava seu novo celular como se ele fosse protegê-la de alguma coisa.

– Como para onde? Você não leu o SMS? Temos que chegar na Rua Valente, 318 em – Page parou de falar, olhou para sua mão e a mostrou para Lucy, deixando a garota surpresa – menos de uma hora.

Na mão de Page havia um círculo vermelho, não parecia um sinal, nem uma tatuagem, mas parecia um led, um dispositivo eletrônico estranho, pois brilhava. No meio dele havia um contador que marcava cinquenta e quatro minutos e alguns segundos e continuava a descer. Aquilo foi realmente bizarro.

– O que é isso? – perguntou Lucy com a voz tão baixa que Page só a compreendeu através da leitura labial.

Page revirou os olhos novamente.

– Noob – disse Page pegando a mão de Lucy e a abrindo para a própria garota ver o que havia dentro dela.

Lucy viu apenas de relance o que havia na palma de sua mão. Puxou-a em espanto e novamente se afastou de Page, agora analisando sua mão com medo e terror. Havia exatamente o mesmo contador em sua mão que havia na mão de Page, com um círculo, vermelho, brilhante, exatamente igual, e agora marcava cinquenta e dois minutos e alguns segundos, também continuava em contagem regressiva.

– Compreende que temos tempo para chegar a este lugar? Se não chegarmos até lá no tempo indicado seremos completamente apagadas. Está me ouvindo? – disse Page ficando a cada segundo mais impaciente – Eu até que não veria problema algum em deixar você ai, exatamente onde você está, mas a mensagem foi bem clara; “traga sua parceira”. Não posso ir sozinha. Preciso que você firme um pacto comigo. Você está me entendendo?

Lucy continuava confusa, fora de si, sem entender o que estava acontecendo. Como ela havia chegado naquela droga de lugar? Quem era aquela garota? O que era tudo aquilo que estava acontecendo? O terror e o medo só continuavam a aumentar e ela não sabia o que fazer.

– Não, eu não estou entendendo! Eu não sei quem é você! E não sei o que é isso aqui! Eu nem sei como eu cheguei aqui! Eu só quero ir para a minha casa! – disse Lucy começando a sentir um desejo enorme de chorar. Seus olhos começaram a lacrimejar e Lucy começou a observar por todos os lados as pessoas atravessando as ruas e avenidas, umas indo para seus trabalhos, outras voltando de seus trabalhos, outras indo para escola, como um grupo de adolescentes risonhos que passou do seu lado, outras voltando das compras carregando diversas sacolas nas mãos. Havia realmente muitas pessoas no centro da cidade, como era de costume.

– Se você quer ir para casa é melhor vir comigo – disse Page estendendo sua mão novamente para Lucy – não é seguro continuarmos aqui. Se não nos movermos eles começarão a aparecer.

– Eles quem? – perguntou Lucy.

– Os ruídos!

– Você é louca! Me deixe em paz – disse Lucy se virando e caminhando rapidamente para o outro lado da rua.

– Hei! Garota! Volte já aqui! Hei!

Lucy não queria dar ouvidos ao que aquela tal de Page tivesse para dizer, ela não era louca de ouvir as orientações malucas de uma garota que ela nunca havia visto na vida. Só queria ir para sua casa e tentar entender tudo o que estava acontecendo.

Lucy começou a esfregar sua mão direita tentando tirar aquele contador estranho estampado em sua pele. A numeração continuava a diminuir já chegando na casa dos quarenta minutos. Lucy estava começando a acreditar que aquilo fosse um sonho maluco, embora tudo parecesse muito real.

“Eu preciso ir para casa” – pensou Lucy atravessando a rua e chegando do outro lado.

– Hei! Garota, volte aqui! – disse Page ao longe tentando se aproximar de Lucy.

Lucy não podia acreditar naquilo, aquela garota estranha realmente estava a seguindo? Vai ver ela havia armado toda aquela brincadeira sem graça, embora o contador em sua mão não tivesse nenhuma explicação obvia de como funcionava, ou o celular. Mas Lucy não iria deixar que aquela tal de Page se aproximasse novamente, aquela garota só poderia ser muito perigosa. Ela continuou acelerando o passo entre as pessoas enquanto seguia pelas ruas tentando se lembrar de como havia chegado ali e como poderia voltar para sua casa...

...Sua casa... Ela não sabia onde era a sua casa. Ela nem conseguia se lembrar de onde ficaria a sua casa. Como ela faria para voltar para um lugar que ela nem lembrava onde ficava.

“Minha casa” – pensou Lucy.

– Garota! – Page gritava ao longe.

“Onde é a minha casa?” – pensou Lucy começando novamente a segurar o choro – “Por que eu não me lembro de nada? Por quê?”.

– Garota!

– Fique longe de mim! – gritou Lucy se virando rapidamente para a direção de Page.

Mas nesse momento algo realmente estranho aconteceu. Um homem, que caminhava junto com outras pessoas na mesma direção que Lucy passou por dentro dela e seguiu seu caminho, como se Lucy fosse um fantasma, ou como se ele fosse um fantasma. Lucy ficou parada, congelada, seu corpo inteiro começou a estremecer e seu coração acelerou mais do que já estava. O medo se tornou pânico a cada segundo.

– O que... Foi... Isso? – perguntou Lucy. Mas mais pessoas que caminhavam pela rua continuavam a passar direto por Lucy, algumas por dentro do seu braço, outras atravessando todo o seu corpo, mas todas, sem exceção, a atravessavam como se ela fosse feita de fumaça.

Page, que estava parada no fim da rua, ficou olhando para Lucy com uma cara de pena. Ela parecia esperar que Lucy finalmente compreendesse que ela não estava brincando ou fingindo.

Page continuou a caminhar na direção de Lucy, mas esta não parecia confinar ainda na garota.

– FIQUE LONGE DE MIM! – gritou Lucy se virando e correndo o mais rápido que podia para longe de Page, às vezes atravessando algumas pessoas na rua, que ela rapidamente percebeu que não só não podiam tocá-la, mas que também não podiam vê-la ou ouvi-la.

– Menina, não! Volte aqui – gritou Page correndo atrás de Lucy.

As duas correram rapidamente pela rua, Page se esforçando o máximo que podia para alcançar Lucy, que se revelou uma ótima corredora.

Lucy não sabia para onde estava indo, começou a entrar em diversas ruas, uma mais cheia de pessoas e lojas do que a outra. Tentava não esbarrar em ninguém se esquecendo de que não conseguiria fazer isso, nem mesmo se quisesse, até que ela acabou parando em um beco sem saída, aparentemente também sem pessoas.

Lucy observou um enorme paredão entre dois prédios que ocupavam a pequena rua sem saída a sua frente. Pensou que se podia atravessar pessoas naquele sonho estranho talvez também conseguisse atravessar paredes e objetos e se aproximou lentamente da parede. Ela estendeu sua mão para a parede e a tocou, descobrindo que não conseguia atravessar nada, exceto pessoas. Aparentemente para todo o restante do mundo ela era uma pessoa normal. As leis da física ainda funcionavam para ela quando não se tratava de pessoas.

– Achei você – disse Page aparecendo na entrada do beco ofegando de cansaço. Ela se apoiava nos joelhos e tentava recuperar o ar.

– VAI EMBORA! – gritava Lucy.

– Acalme-se, tudo bem – disse Page fazendo sinal para Lucy – Fique calma. Eu não quero fazer mal nenhum a você. Eu só quero te ajudar. Tá legal?

– NÃO! VÁ EMBORA! – gritava Lucy olhando para os lados e procurando por algum lugar para onde pudesse fugir.

Ambos os prédios ao seu lado pareciam desertos e abandonados, prestes a serem demolidos. Normalmente Lucy teria medo de entrar em lugares como aquele, mas para fugir de Page ela poderia fazer qualquer coisa, até mesmo invadir um prédio.

– Dá pra você me ouvir ao menos uma vez? – perguntou Page se recompondo da corrida, ela estava começando a perder a paciência – Será que você não entende que não temos muito tempo? – disse Page estendendo sua mão para Lucy e mostrando o contador, que agora marcava trinta e cinco minutos e alguns segundos – Eu não tenho tempo para procurar por outra pessoa para fazer um pacto agora e também não estou afim de ser apagada. Tá legal? Eu quero ir para casa tanto quanto você, mas nós temos que trabalhar juntas! Eu preciso da sua ajuda e você precisa da minha, ok?

Lucy não sabia o que dizer, não parecia disposta a confiar na palavra de Page. Como ela poderia acreditar no que aquela garota estava dizendo? Como ela poderia acreditar que Page dependia de sua ajuda? Como ela poderia acreditar que Page poderia ajudá-la? Tudo era tão confuso.

– Confie em mim, tá legal? – disse Page novamente notando que Lucy parecia aos poucos começando a se acalmar.

– Quem é você? – disse Lucy.

– Eu já disse, me chamo Page.

– O que você quer?

– Te ajudar – respondeu Page – E ser ajudada também.

Lucy respirou fundo, olhou novamente para o contador na sua mão e novamente para Page.

– O que é isso? – perguntou Lucy mostrando seu contador para Page.

– Eu posso, por favor, te explicar isso no caminho? Nós temos realmente que chegar à Rua Valente – disse Page mostrando seu celular para Lucy – Por favor.

– Não! – respondeu Lucy – Eu não vou te seguir enquanto você não se explicar! O que é isso? – perguntou Lucy novamente mostrando o contador para Page.

Page respirou fundo, pelo visto não tinha saída, teria que rapidamente convencer Lucy de tudo o que estava acontecendo se quisesse sua colaboração. Mas quando ela ia começar a falar, de repente, diversos símbolos vermelhos começaram a aparecer pelas paredes e pelo chão a volta do beco.

– Porcaria, eles apareceram – disse Page puxando de dentro de sua roupa uma arma e a segurando firmemente em suas mãos – SAIA DAÍ!

– NÃO! POR FAVOR! NÃO ATIRE! – gritou Lucy tapando os ouvidos e se agachando no chão. Ela realmente acreditava que o alvo de Page fosse sua própria cabeça.

De olhos bem fechados e ouvidos tapados, Lucy não via o que estava acontecendo a sua volta, se quer ouvia, mas de dentro dos símbolos vermelhos que apareceram pela rua começaram a surgir monstros, verdadeiras criaturas estranhas e demoníacas com chifres, olhos vermelhos, rabos, asas e garras, aparentavam muito gárgulas, mas não eram feitos de pedra, mas eram escamosos e rugiam furiosamente para todos os lados.

– Maravilha – disse Page mirando sua arma na direção do monstro que estava mais próximo de Lucy – SÁIA DAÍ GAROTA!

Page começou a atirar contra a criatura que ia recuando a cada disparo, enquanto isso, outras criaturas iam se aproximando de Page lentamente, rugindo e rosnando, pareciam famintas, prestes a atacar.

– SÁIA DAÍ! – gritou Page atirando em outra das criaturas, que tentou atacar Lucy saltando para cima da garota, mas foi lançado para trás quanto o disparo acertou em cheio seu peito – Mas que merda, menina burra!

Page correu até Lucy e a puxou pelo braço para fora da rua sem saída. Lucy só se deu conta de que não era o alvo quando se viu sendo conduzida por Page e seguida por cinco criaturas monstruosas. Agora ela confiava em Page.

– O que são...

– Cala a boca e apenas corra!

As duas corriam pelas ruas passando por dentro de todas as pessoas possíveis. Page não parecia ter nenhum tipo de reação aos monstros ou ao fato de que ninguém podia vê-los, assim como não podiam vê-las. Era como se Page de fato soubesse tudo o que estava acontecendo.

Conforme Lucy era praticamente arrastada por Page, mais símbolos vermelhos apareciam pelas ruas e mais monstros surgiam a todo o instante, um mais feroz do que o outro.

Page começou a atirar em alguns dos monstros só para retardá-los, mas não parava de correr em momento algum, segurando Lucy pelo braço a todo o instante, até que ela entrou em uma lanchonete juntamente com Lucy, quando nenhuma das criaturas percebeu.

Lucy viu as criaturas saltarem sobre carros e ônibus os destruindo e seguindo pela rua sem se dar conta de que haviam sido despistados. Era engraçado como os carros e os ônibus recuperavam seu estado normal automaticamente e ninguém parecia perceber que algo havia acontecido com eles. Por quanto tempo elas conseguiriam se manter despercebidas?

– O... O que...

– Ruídos – respondeu Page soltando Lucy e olhando para a lanchonete, onde diversas pessoas conversavam animadas, comiam felizes suas refeições. Algumas garçonetes serviam as mesas e outras atendiam em um balcão. Era um lugar grande e estava bem cheio naquele momento – Eu tentei te avisar.

– Como eu ia saber? Eu não...

– Nós não temos muito tempo, ok? – disse Page agora parecendo nervosa enquanto praticamente esfregava o contador na cara de Lucy, que notara que elas tinham pouco mais de vinte minutos para cumprir a missão.

– Por favor... O que está acontecendo? – perguntou Lucy cabisbaixa.

– Muito bem... Eu te conto o que está acontecendo se você me acompanhar. Eu não vou explicar nada até a gente cumprir essa missão, tá legal? – disse Page espiando a rua pela porta da lanchonete. Ainda havia dois ruídos patrulhando o local – Só tem dois deles aqui, é a nossa chance. Vai firmar o pacto comigo ou não?

– Pacto?

– Sim ou não? Apenas responda! – disse Page.

– Tudo bem! – esbravejou Lucy – Não tenho outra saída, não é mesmo?

– Não – disse Page sorrindo novamente.

– Eu firmo o pacto.

– Ótimo – disse Page sorrindo.

De repente o contador das duas emitiu uma luz azul e ambos os corpos, de Lucy e de Page, brilharam fortemente. De repente Lucy notou que em sua mão surgira uma arma prateada, semelhante à arma de Page. Lucy ficou assustada e admirada com aquilo.

– O que...

– Bem-vinda ao jogo, garota – disse Page sorrindo – Já usou uma arma antes?

– N-não – disse Lucy.

– Mira e atira – disse Page rindo – E só. Vamos. Depois te ensino a atirar.

Page novamente segurou no braço de Lucy quando fora conduzi-la pela saída, mas Lucy recuou.

– O que foi agora? – perguntou Page.

– Não preciso que você me arraste por ai.

– Ah, precisa. Temos que chegar juntas no destino. JUN-TAS – disse Page – Não vou arriscar minha cabeça deixando você correndo por aí.

– Você sabe onde é essa rua? – perguntou Lucy.

– Você tem sorte garota. Eu morava nessa rua – disse Page rindo – Vamos.

Page novamente segurou o braço de Lucy e a arrastou para fora da lanchonete. Novamente as duas estavam nas ruas e agora só havia um ruído patrulhando o local.

As duas pareceram muito mais cuidadosas do que antes. Correram discretamente para o outro lado da rua e seguiram por uma avenida olhando para todos os lados constantemente. Não queriam chamar a atenção dos ruídos novamente ou poderiam sofrer um atraso irreversível para chegarem no destino.

– Temos que ser rápidas – disse Page se aproximando de um ponto de ônibus, onde diversas pessoas entravam em um veículo parado – Esse serve, vamos.

Page arrastou Lucy para dentro do ônibus. Novamente Lucy passou pela experiência agonizante de ter que passar no meio das pessoas. Era esquisito, mas quando as duas passaram pela catraca tudo ficou mais tranquilo, agora que elas pareciam ter despistado completamente os ruídos.

– Pode me contar o que está acontecendo agora? – perguntou Lucy olhando pela janela do ônibus. Elas não sentaram em nenhum banco, pois todos estavam ocupados e não seria nada confortável sentar no mesmo lugar que outra pessoa, mesmo que não houvesse contato algum.

– Bem... Vamos ver, você está em um jogo e missões serão enviadas. Se cumprir com essas missões você vence, se falhar em qualquer uma delas você será apagada – disse Page.

– Apagada? Isso não é um sonho? – perguntou Lucy.

Page riu como se Lucy houvesse contado a piada do ano, mas rapidamente se recompôs.

– Sonho? Se liga garota. Sonhos não são tão lúcidos assim, não acha? – disse Page olhando pela janela para averiguar se já estavam chegando no local em que deveriam descer do ônibus. Ela rapidamente olhou para o contador em sua mão que indicava doze minutos e alguns segundos – Vai dar tempo – disse suspirando.

– Que droga de jogo é esse? Eu não me lembro de ter concordado participar de nenhum jogo. E como eu cheguei até aqui? – perguntou Lucy.

– Não acho que seja o momento adequado para explicar tudo – disse Page – São muitas coisas, sabe. Até mesmo a pessoa mais equilibrada enlouqueceria e colocaria tudo a perder. Eu não senti muita firmeza em você, se é que você me entende.

– O que? – esbravejou Lucy.

– Ah, pirralha. Fala sério, você enlouqueceu só por que viu o contador e atravessou algumas pessoas, imagina se eu enchesse sua cabeça agora. É melhor você descobrir aos poucos, assim vai aceitando a ideia. Isso vai facilitar para você, e então você poderá tramar sua própria maneira de voltar para sua casa, ok?

– Se tiver como voltar para casa... – disse Lucy olhando seu contador.

– É o nosso ponto – disse Page apertando o sinal do ônibus.

Alguns segundos depois o ônibus parou no ponto, mas ninguém desceu, a não ser Page e Lucy. Todos acharam estranho que ninguém descera no ônibus, afinal, ninguém conseguia vê-las. O motorista falou algumas palavras chulas quando acionou o botão para fechar as portas do ônibus, certamente acreditara que fora alguma brincadeira de mal gosto de alguém.

– Isso é engraçado – disse Page olhando a placa da rua a sua frente que dizia “Rua Valente” – O motorista deve ter achado que alguém estava pregando alguma peça.

Lucy não achou nada engraçado. O motorista não as viu, mas certamente a presença das duas influenciou em algo no trabalho dele. Era como se Lucy e Page fossem fantasmas vagando pela cidade. Aquilo era tão esquisito para ela.

Quando as duas chegaram na entrada da Rua Valente uma barreira transparente surgiu impedindo a passagem das duas.

– Me dê sua mão – disse Page.

Lucy segurou a mão de Page. Instantaneamente o contador das duas emitiu novamente uma luz azul e a barreira desapareceu.

Page correu pela rua olhando para os números procurando desesperadamente pelo 318. Lucy a seguia se perguntando o que haveria nesse lugar, até que finalmente elas chegaram à frente de um hotel elegante com a numeração 318 na entrada.

– Chegamos – disse Page mostrando sua mão para Lucy, o contador desaparecera.

Lucy olhou para sua mão, o contador começou a sumir lentamente até que desapareceu por completo. Ela foi invadida por um alivio, tinha certeza de que todo aquele pesadelo havia finalmente chegado ao fim.

– Vamos entrar, acho que você precisa de algumas explicações – disse Page subindo cinco degraus que havia na entrada do hotel e passando por uma porta automática de vidro na sua frente.

Lucy seguiu Page para dentro do hotel e se encantou com o local por dentro. O hall era imenso e elegante com móveis modernos e repleto de pessoas bonitas e bem vestidas, pelo visto não era um hotel qualquer. Lucy jamais se imaginaria frequentando um lugar como aquele, mas estava realmente curiosa para saber o que haveria de tão importante naquele lugar.

Seu celular repentinamente começou a tocar, assim como o de Page e Lucy rapidamente leu o SMS que havia recebido.

– “Parabéns jogadores, a primeira missão foi concluída. Para finalizar a tarefa defendam-se e pontos serão acumulados. Boa sorte, os Ceifadores” – leu Page, pois recebera exatamente a mesma mensagem que Lucy.

– Nos defender? Nos defender do que? – perguntou Lucy encarando Page com cara de preocupada.

Lucy mal acabara de falar e repentinamente diversos símbolos vermelhos surgiram por todo o hall do hotel, de dentro deles surgiram os mesmos ruídos de anteriormente, raivosos e assustadores, assim como os outros.

– Está respondida a sua pergunta? – disse Page mirando sua arma no primeiro ruído que surgiu a sua frente – É melhor atirar, garota, não vou conseguir dar contas de todos sozinha.

Lucy não sabia como atirar. Como conseguiria matar aquelas coisas?

Um dos ruídos não se importou em nada com o fato de que Lucy não sabia como atirar, ele simplesmente avançou contra a garota, mas foi rapidamente repelido por um dos tiros de Page.

– Eu falei para você atirar! – disse a garota se virando rapidamente para atirar em outro ruído que vinha rapidamente as suas costas.

Lucy puxou sua arma de sua roupa, segurou cuidadosamente em suas mãos, embora trêmulas, mirou no primeiro ruído que viu e atirou.

– Não foi tão difícil assim, não é? – disse Page atirando sem hesito no maior número de ruídos que conseguia. A cada três tiros que ela dava no mesmo ruído o fazia se desintegrar, mas rapidamente novos ruídos iam surgindo e a situação ia ficando cada vez mais complicada.

Lucy continuava a atirar nos ruídos, embora não soubesse muito o que estava fazendo, mas não pôde deixar de reparar que as pessoas no hall não pareciam ver, ouvir ou sentir nada do que estava acontecendo. Que diabos era tudo aquilo realmente?

Quando Page atirou no último ruído que sobrara, o fazendo se desintegrar na sua frente, Lucy já estava sentada no chão procurando o ar que lhe faltava. Ela realmente estava exausta.

– Acabou? – perguntou Lucy.

– Sim, acabou – disse Page.

Lucy olhou para longe e viu de relance um garoto de aparentemente uns vinte anos, de roupas pretas, porém modernas, as observar com um sorriso no rosto. Ele pareceu ser capaz de vê-las, mas logo desapareceu de vista, como um vulto, deixando Lucy perplexa.

– E agora? Que tal algumas explicações? – pediu Lucy olhando para Page com uma cara de insatisfeita – O que está acontecendo?

Page suspirou como quem lamentava algo enquanto guardava sua arma na sua roupa novamente. Parecia que o que quer que fosse dizer não seria nada agradável de se ouvir.

– Qual é o seu nome mesmo? – perguntou Page.

– Lucy – respondeu a garota.

– Lucy. Tudo bem, Lucy, eu vou lhe contar o que está acontecendo – disse Page estendendo sua mão para a garota e a erguendo do chão – Está pronta?

– Sim.

– Você se lembra de como foi para no meio daquela rua? – perguntou Page.

Lucy ficou pensativa acerca disso. Ela realmente andou pensando naquilo durante algum tempo, mas tantas coisas aconteceram ao mesmo tempo que ela acabou desviando aqueles pensamentos por alguns segundos. Ela não se recordava de como havia ido parar lá. Sua resposta foi apenas com um aceno de cabeça.

– Se lembra do último lugar onde esteve? – perguntou Page.

O último lugar? Lucy não se lembrava de muitas coisas. Para dizer a verdade ela não conseguia se lembrar de nada naquele momento. Parou para pensar um pouco e então ela se lembrou de um hospital, sons de respiração, gritos, e então um branco, um vazio, ela realmente não se lembrava de mais nada.

– Não se lembra de nada, não é mesmo? – disse Page sorrindo – Normal. Vai se lembrar. Por hora você só tem que saber uma coisa. Estamos em um jogo, o jogo dos ceifadores, e temos que vencer. Você vence, você sai, se perder será apagada, eliminada, irá desaparecer. Fui clara?

– Isso não faz sentido – disse Lucy.

– E alguma coisa aqui faz sentido? – resmungou Page – Não conseguimos nada com essa missão. Fomos muito mal. Precisamos ser mais rápidas ou não sobreviveremos à próxima. Espero que você me entenda.

– Eu não estou entendendo nada! – disse Lucy começando novamente a ficar brava. Ela dava passos para trás, recuando de perto de Page – Me conta... O que está... O QUE ESTÁ ACONTECENDO!

Page não pareceu querer falar muito.

– Me fala! – disse Lucy apontando a arma rapidamente para Page.

– Ora, ora. Vai me matar? – perguntou Page rindo – Se eu fosse você não faria isso. Não se esqueça que se não fosse por mim você já teria sido eliminada há muito tempo.

Lucy teve que concordar, Page salvou sua pele. Mas ainda assim era difícil acreditar nela. Tudo era tão misterioso. Mas Lucy não pôde fazer mais nada, tudo de repente ficou tão escuro, tão leve, tão sonolento. Ela de repente começou a apagar.

– Eu... Eu...

– Até amanhã – disse Page sumindo de sua vista, junto com tudo a sua volta.


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