Ecos Caleidoscópicos escrita por DannyMandT


Capítulo 1
Capítulo 1 – Início // Fim


Notas iniciais do capítulo

“Estou acordando, sinto isso em meus ossos
O bastante para explodir meus sistemas
Bem-vindo à nova era, à nova era”

(Radioactive – Imagine Dragons)



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Eu havia me levantado cedo para ajudar Trudy no café da manhã, servir a refeição era uma das poucas coisas que eu podia fazer, por causa do braço quebrado. Foi ridículo como despenquei da escada enquanto ajudava Ian e Paige a limpar os espelhos. Depois do susto, eles me chacotearam: “A senhora da bola mal consegue se equilibrar” provocava Kyle. Os O’Shea eram irritantes e nessa circunstancia eu não poderia lhes provar que jogava bem por tão cedo.

O dia, que prometia ser tranqüilo, ficou tumultuado quando Jared, Brandt, Aaron e Andy chegaram. Era sempre um alívio quando eles voltavam, todos sãos e salvos. Porém, dessa vez, havia uma reação diferente, os murmúrios das pessoas que chegavam à cozinha, vindas da praça principal, tinham tons de preocupação, ou curiosidade. Dei uma escapadinha e quando cheguei à grande câmara Jared dava comandos à Kyle.

– Chame Ian e Geofrey. Descarreguem os caminhões. – Ele jogou as chaves para Kyle enquanto seguia com os outros três para o túnel Sul. Cada um sustentava uma ponta da lona e andavam apressados em direção à área hospitalar, apesar de estarem os quatro ali. Seria outro corpo com um parasita para os testes de Doc? Doc não parecia feliz com os resultados dos experimentos. No entanto, aquela urgência... Algo me dizia que não era uma cobaia. Voltei à cozinha.

– Trudy, estou sentindo um pouco de dor no ombro. Acho que vou até o Doc ver se ele tem mais algum daqueles analgésicos. – Eu inventei, descaradamente, uma desculpa, tamanha era a minha curiosidade.

– Trudy pode lhe fazer um chá, Lily. Não é tão eficiente, mas melhora. – Rebecca disse, acabando de chegar ao balcão. – Acho que Doc está ocupado.

“Legal, agora essa curiosidade piniquenta só vai aumentar”

Fiquei num pé e outro enquanto Trudy macerava as ervas e preparava o chá. Bebi o líquido amargo e ela aconselhou que eu fosse repousar. Concordei com um sorriso em agradecimento. Porém, em vez de ir para o corredor dos quartos, esquivei-me para o túnel Sul. Não sei se era por minha ansiedade, mas ele pareceu longo demais. Acho que estava perto da entrada quando ouvi que os outros voltavam, contive o passo. Andy foi o primeiro com quem topei.

– Lily! O que houve?

– Caí da escada dos espelhos.

– Caramba! Vai ver o Doc?

– Sim. Quero ver se estou melhorando para poder voltar ajudar nas tarefas.

– Não sei se ele vai poder cuidar de você. – Jared segurou meu braço de leve, levando-me para o caminho de onde vim.

– Outras cobaias? – Perguntei.

– Não. – Disse Brandt – Um garoto ferido.

– Humano?

– Sim.

Aaron e Brandt foram os últimos encontrados, desde que eu havia chegado com Paige. Saber que mais um de nós havia sobrevivido trazia conforto. Só que a urgência na chegada dos incursionistas fazia essa sensação ser pavorosamente tênue. O garoto não devia estar nada bem.

Um instinto de sobrevivência pungiu forte em mim.

– Vou até lá. Talvez eu possa ajudar Doc. – Aaron olhou-me de canto. - Não deve ter muito trabalho pesado a fazer no hospital. – Ergui com cuidado o braço na tipóia para reforçar o argumento. Afastei-me de Jared.

– Tem certeza?

– Que mal há? – Falei por cima do ombro, já seguindo na direção oposta.

Venci a pequena distância e parei na entrada, analisando. Era um jovem de 17 ou 18 anos, alto, de pele morena, corpo esguio, mas forte. Tinha um corte acima do joelho, manchas rochas nas costelas, nas canelas e no rosto. Estava todo arranhado e tinha uma pancada feia na cabeça. Doc limpava seu corte e ele parecia estar inconsciente.

– Doc? Posso ajudar?

– Ah! Bom dia, Lily. Como está o braço?

– Bem melhor. – Cheguei mais perto – Pobre garoto, onde se machucou tanto?

– Andy disse que ele estava muito assustado quando o encontraram. Ele foi saquear a loja em que os outros estavam, correu quando os viu. Deve ter achado que fossem buscadores. Aaron correu atrás dele...

– Não foi uma boa idéia...

– Não. Nada que parecesse uma perseguição era boa idéia. Ele caiu num pequeno barranco na lateral da estrada. – Peguei algumas gases e um pouco da água oxigenada que Doc usava, comecei a limpar o ferimento da cabeça dele – Assim está ótimo.

Ajudei Doc a cuidar do garoto, dei-lhe um dos últimos analgésicos que havia no estoque enquanto o médico o sustentava, ele precisaria mais deles do que eu. Ainda assim, tinha esperanças que Jared houvesse encontrado mais remédios. Derramava a água aos poucos em sua boca para que engolisse o comprimido triturado, ele deu dois goles pequenos e depois outros maiores. Acordou. Olhos negros que pareciam meio delirantes se prenderam ao meu rosto.

– Olá. – Eu disse baixo e olhei para Doc. Ele sorriu e balançou a cabeça em aprovação. – Sou Lily. Você está seguro e vai ficar tudo bem. Doc e eu vamos cuidar de você. – E os olhos negros dele brilharam cheios de esperança e confiança. – Qual o seu nome?

– Wes. – Ele disse num sussurro. A voz débil e arranhada. Mas em seus lábios surgiu um sorriso grande, amigável, feliz. Eu sorri de volta.

Ele ficaria bem. Mais um de nós ficaria bem.

E, de repente, eu queria saber mais sobre Wes. Teríamos tempo para conversar.

– - - ### - - -

Escuto passos apressados pelo corredor.

Por que alguém vem? Não quero ver ninguém. A única pessoa que desejo a companhia não posso ter.

Encolho-me mais no túnel lúgubre e por mais que eu force meus olhos a ficarem fechados, por mais que eu deseje a escuridão, ainda vejo essa luz fraca. Rubra, sob as minhas pálpebras apertadas, ela persiste tão agonizante quanto a tristeza e o desamparo que sinto esburacando-me por dentro.

A pessoa esbarra em mim. Abro os olhos e a encaro. Seu olhar desconcertado sustenta o meu. Não sei se o que vejo é dor, culpa ou o simples olhar abnegado de uma Alma. Não consigo distinguir nada e o desespero em mim é tão grande que não controlo minhas palavras.

Por quê? – Silêncio. – Eu disse que o amor e vida continuavam, mas por quê? Não deviam. Não mais. Qual o sentido? – Minha garganta dói, as palavras embargadas pelas intermináveis lágrimas que ameaçam voltar. – Por quê?

Eu não posso mais olhar aqueles olhos... Aquele ser. Então seus passos se iniciam novamente pelo corredor, afastando-se. Porque não se afastou antes? Ainda estaríamos bem? Busco de novo a escuridão.

Só tenho uma certeza, e ela não traz conforto.


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Notas finais do capítulo

Yes! Consegui. A equipe do Nyah liberou a história e, a pedidos, resolvi dividi-la em capítulos. E como essa história fica toando (literalmente) em minha mente quando ouço algumas músicas, vou adotar a prática da minha amiga e mestra Rain e introduzir os capítulos pelos trechos que me recordam. Tudo bem, Rain? Espero que sim!