Passionné escrita por Anitha Tunner


Capítulo 32
Os Olhos


Notas iniciais do capítulo

Sophie/: Hey... Lindos! Obrigado pelos comentários no capítulo anterior! Espero que gostem desse capítulo e que curtam! Boa leitura!



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Os Olhos

― Como é? ― arfei e Judith sorriu longamente, exibindo uma covinha no canto direito. Por um instante, achei que Judith fosse se pronunciar, dando uma de suas respostas irônicas, mas foi ao contrário, Judith rangeu os dentes e me puxou pelos cabelos, me atirando do outro lado da sala e depois disso, foi questão de um segundo para que eu não sentisse mais dor e que enxergasse tudo vermelho; e aquele velho amigo rosnado já saia de meu peito, longo, grosso e rouco.

Jack grunhiu algo em romeno e tentou pular em Judith, mas ela pareceu ser mais rápida e apenas ergueu uma mão, e sem tocar em Jack, o atirou no outro lado da sala. Rosnei novamente quando vi que Jack começava a ser enlaçado por raízes que jamais vira naquela parede. Jack tentou se movimentar e as raízes se multiplicaram, formando um casulo.

Kelly foi a segunda a tentar impedir Judith e em questão de um segundo, já estava atirada contra a parede, sendo sufocada por uma das raízes cinzentas que prendiam Jack. Judith olhou ameaçadoramente para Erika que ficou na frente de Cora, puxando a filha para trás de si.

― Não ouse tocar na minha filha, Judith. ― rosnou Erika e Judith riu, mexeu o pescoço estalando o pescoço inteiro e então se virou mecanicamente para mim, os olhos escuros pareciam mais olhos de gatos agora... Mais finos e alongados, totalmente sem vida, trazendo apenas no meio de cada um deles a linha meio gordinha. Judith ergueu um canto do lábio, soltando um bufar rouco.

E naquele instante, senti uma pontada de medo. Uma pontada de medo pela frieza e sentimentos inexistentes nos olhos de gato de Judith.

Judith me avaliou da cabeça até os pés, como se estivesse analisando sua presa; o caçador esperando o momento certo e então, simplesmente, Judith sorriu:

― Vamos logo com isso, Judith, não gosto de pendências. ― o rosnado rasgou de minha garganta, Judith soltou uma clássica risada de bruxa e então, havia desaparecido. ― O que... ― olhei para os lados, esquerda e direita, frente e atrás e então, eu lembrei-me de onde Cora estava no momento em que a atacara.

E foi o tempo de eu olhar para o teto e Judith saltar de lá, levando-me ao chão consigo encima de mim. Judith soltou um grito irritadiço e habilmente me virou de costas, pressionando meu rosto contra o chão.

― Cansei dessa sedução que você tem Isabella. ― gritei quando minha cabeça bateu com força no carpete da sala, arrebentando o parquet e fazendo um buraco onde batera. ― Você não é tão boa assim. ― Judith tentou bater minha cabeça contra o chão novamente, mas inverti a cena, tendo o prazer de apertar o pescoço magro de Judith com as duas mãos. Judith engasgou com o próprio oxigênio e tentou se desfazer do aperto, mas aquilo apenas desencadeou mais raiva em mim, apertando mais ainda o pescoço da velha. Houve um estalo curto e por um segundo, Judith parou de engasgar e suas mãos amoleceram, seus olhos perderam o foco e sua respiração parou.

Desci de cima de Judith, incrédula com o que havia acabado de fazer: eu havia matado Judith... Teria?

Olhei de soslaio para Jack que se contorcia no casulo e a Kelly que já estava com desmaiada, agora, com as raízes em seus pulsos, segurando-a contra a parede... E de repente eu havia gritado e a parede se rachado em duas.

Enquanto erguia-me do chão, pude ver Judith rindo longamente, os olhos de gato semicerrados e os lábios franzidos em um biquinho magoado:

― Você realmente é mais burra do que eu esperava, Isabella... ― Judith ergueu a mão esquerda, fechada como uma conchinha e então, abaixou a mão com rapidez. Primeiro, foi apenas uma chaminha minúscula no lado de Judith, mas que em questão de menos de um segundo, evoluiu para toda sala, cercando nós com aquela imensa chama azul esverdeada. ― Já morri e fui para o Inferno mais vezes do que posso contar.

Judith me olhou faceira e esticou com elegância o braço direito. Um volume começou a criar-se dentro da manga do vestido, e então, escorrendo do braço de Judith, saiu uma serpente tão azul esverdeada quanto o fogo. Arfei e dei um passo para trás. Judith olhou carinhosamente para a serpente que assentiu, e começou a dividir-se em duas... E daquelas duas mais duas... E assim foram-se até que a sala estivesse com cerca de cinquenta serpentes cercando Judith com submissão.

Olhei para todos os lados com meu cérebro calculando tudo a um milhão; tentando achar o melhor ângulo de chegar até ela... Mas meus cálculos apenas parados pelo estouro do piso da casa estourando. Sem me desconcentrar muito, olhei para Cora que girava um facão entre os dedos finos. Grande, longo, prateado e com o cabo preto, Cora aparentava estar em seus piores dias. Então, eu vi o que eu havia visto apenas uma vez: os olhos de Cora estavam castanhos e os lábios franzidos com amargor.

Leucósia, essa não é uma briga sua. ― Erika apenas observava a situação, os olhos doloridos ameaçavam a chorar a qualquer instante. Cora, que olhava o chão sem foco, sorriu longamente e encarou Judith. Os olhos tão escuros que bordavam o negro.

― Você a descontrolou, Judith... ― choramingou Erika.

― Ah! Henriqueta, sejamos justas, deixa a garota assumir sua natureza... Ela é como eu! ― Erika negou desesperadamente e ficou ao lado de Cora, sussurrando algumas coisas em romeno no ouvido dela. Cora estremeceu e olhou para a mãe da mesma forma que um leão faminto olharia para sua presa. Erika cambaleou para trás, mexendo a cabeça em concordância até o momento em que sorriu ironicamente, como a Erika de sempre.

Por um breve momento, achei que Cora fosse pegar aquele facão e atirar em mim, ou até na própria mãe, talvez pelo ódio e rancor que ela tinha no olhar, mas foi diferente. Cora sorriu para Judith e começou a passar entre o fogo, como se fosse uma brasa, uma amiga do fogo... E quando chegou mais próximo de Judith, mesmo que fosse meio longe, afinal, Judith estava cercada de cobras, Cora girou o facão mais uma vez nas mãos e começou a acertar as cobras de Judith com raiva.

Cora me olhou, os olhos castanhos inexpressivos:

― Está esperando o que para dar um soco na boca dessa vaca? ― os olhos de Cora derreteram-se com raiva, virando totalmente negros. Um sorriso perverso tomou conta de meus lábios e eu parei de enxergar tudo vermelho; achei que aquilo fosse me enfraquecer, mas apenas me deixou mais atenta porque agora, eu podia raciocinar antes de simplesmente atirar Judith contra a parede.

Judith continuava parada enquanto Cora enchia de golpes as cobras, rachando o piso da casa, a esse ponto os estouros já não doíam em meus ouvidos. Mexi o dedo indicador, chamando Judith.

― Vem, vovó. ― aquilo foi o estopim para Judith (talvez se chamasse ela de outras coisas não fosse ofender tanto quanto isso). Judith não rosnou e soltou um som semelhante ao de uma cobra soltando seu veneno. Duas pequenas presas criaram-se na boca de Judith, escorrendo algumas gotas de veneno que quando caiam ao chão, faziam o mesmo efeito que o mais forte dos ácidos. Judith deixou uma quantidade pequena de veneno escorrer pelo lábio inferior e então, deslizou da boca a língua dupla, a verdadeira língua de uma cobra.

Meu estômago embrulhou com aquela cena nojenta e Judith sorriu, lambendo o veneno dos lábios e então, atirou-se no chão e desapareceu, restando ali apenas a sua roupa. Cora parou com os movimentos e olhou para mim, e para o chão.

Saindo com leveza entre as peças negras de Judith estava uma cobra vermelha com preto, grande e com a pele umedecida que me dava calafrios de longe. Os olhos eram iguais aos olhos de gato de Judith. Ela colocou a língua para fora, cuspindo uma camada de veneno e deslizou entre as chamas na sala, até chegar à minha frente.

A cobra cuspiu mais um pouco e veneno e de um segundo para o outro, virou Judith. Os mesmos cabelos loiros, olhos escuros novamente e a roupa preta, que magicamente havia desaparecido do chão da sala e aparecido em seu corpo.

Não precisei de mais nem menos para acertar Judith com aquele bofete sentimental que acumulava desde que a conhecera. Judith cambaleou para trás com o canto do lábio sangrando, mas ainda sorrindo. Mesmo sem ser atacada, já revidei com um segundo, só que agora, fora aquele soco na boca que Cora mandara. Judith rosnou irritada com os dentes vermelhos de sangue. Um rosnado saiu de minha garganta e toda minha lucidez se foi embora quando comecei a enxergar vermelho novamente.

Minha mão agarrou Judith, prensando-a contra a parede. Grudei a cabeça de Judith com o máximo de força contra a parede, cinco vezes consecutivas. Judith mostrou os dentes ensanguentados, parou de gritar e mudou as posições, me prensando contra a parede. Judith aproximou a boca de meu ouvido:

― Talvez, você não note por ser burra demais... Mas, seu querido Jack só está com você porque tem os olhos de minha irmã... ― rosnei e Judith gargalhou, então, prosseguiu com sua agressão psicológica : ― Ele só sente por você dó... Ra rá... Talvez, piedade...

Eu quis poder dar em Judith novamente, mas então, nós duas paralisamos quando o fogo apagou, o estouro parou e um facão ficou a centímetros de meu rosto, cravado na parede.

Cora estava com um olhar possessivo, e com outro facão na mão, apenas menor e mais leve, apontado para nós, ou para Judith.

― Chega. Dessa. Palhaçada. ― ameaçou Cora e Judith riu cheia de sarcasmo na voz, Cora trincou o maxilar.

― Ah! Vai fazer o que, Cora? Atirar sua faca? ― Cora sorriu maldosamente.

― Não. ― Judith franziu a testa e de repente, atirou-se ela própria contra a parede, largando meu pescoço e sufocando-se com suas próprias mãos até o ponto que em desmaiara, amolecendo e caindo ao chão. Olhei para Cora que continuava possessiva, então senti um nó se formar em minha garganta e o ar me faltar ao máximo, e então, eu havia caído na total inconsciência assim como Judith.


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Notas finais do capítulo

Bom?
Ruim?
Mais ou menos?
Comentem! Beijos.