A brisa morna acariciava meu rosto. A areia massageando meus pés nus enquanto meus cabelos longos e castanhos chicoteavam minhas costas. As pequenas ondas do mar se arrastavam para tocar-me, porém recuava. É como se fosse um convite para que eu adentrasse o oceano, sem me importar com as consequências.

O céu escuro estrelado destacava a lua brilhante que parecia sorrir para a noite. Ou para mim, já que o acaso não me permite saber. Deixei meu olhar parado sobre o horizonte, sem desviar. Com a água azul, refletindo o espaço, senti-me pequena diante o mundo.

Imagine o doce som das águas se chocando com as pedras, se desfazendo ao não ter mais impulso, ao se movimentar para o infinito sem poder ir ao além.

Dei mais alguns passos adiante, deixando meus pés submersos. Os sentimentos sendo pincelados dentro de mim causavam arrepios. Uma luz cegante cortou a noite, iluminando diversos pontos.

Apenas o farol da costa leste. Bonito de se ver, um bom retrato.

Mas só conseguia pensar em como as ondas me chamavam para dentro de si.

Irei te proteger. Nada mais vai importar, a voz sussurrava, grave e deliciosa.

Mas as ondas me chamavam mais depressa: a maré te consumirá. Venha e nunca mais volte, venha e seja minha.

Eu irei com você, respondia em pensamento, aproximando-me mais ainda, as ondas batendo em mim como se quisessem me afundar. Logo a água estava ao alcance de meu pescoço, deixando-me flutuar em meio de sua ondulação. Então só consegui pensar em suas frases medíocres que fizeram-me bambear, em meu coração e em meus sentimentos pisoteados, em mim e minha irmã, em você e sua infidelidade, em tudo, principalmente a imensidão azul que me rodeava agora.

Sentia coisas passarem por meus pés, sentia a água tentando entrar em minha boca, engasgando-me.

Enquanto a correnteza me arrastava para o fundo, enquanto meus pulmões ardiam e eu me esforçava para permanecer quieta, consegui relaxar,  enquanto sua voz parecia derreter em meus ouvidos, minha mente: querida, deixe o mar te afogar.