Agora Raven e Elsword abanavam o loirinho estirado num futon com leques de papel . A correria para resgatá-lo fora tanto que deixaram as roupas do garoto lá mesmo, e agora Chung, ainda bastante tonto e com o rosto vermelho, estava coberto com o yukata aberto como um lençol sobre seu corpo. Se desculpava o tempo todo pela desfeita e se sentia mais envergonhado ainda cada vez que Raven suspirava.

– Els, vai comprar um leite gelado pro Chung.
– Eeeeh, por que eu?
– Porque eu já vi que deixar vocês sozinhos não presta.
– Tsk, tudo eu. – resmungou.

Elsword se levantou sem vontade e, reclamando, deixou o quarto. Chung o seguiu com o olhar até que passasse pela porta, quando baixou o olhar ainda mirado naquela direção.

– O Els é... – pausou – realmente forte, né?

Raven deu de ombros, interrompendo o abano  e pondo o leque de lado.

– Você não teria desmaiado se soubesse que aconteceria.
– N– – corou – não foi o que eu quis dizer.
– Eu sei. – Raven sorriu, apalpando de leve a cabeça loira. – Sente saudades de casa, não é?

Chung se encolheu. Não fazia nem um mês que deixara Hamel para trás com a esperança de reavê-la um dia. Era inegável que sentia falta de sua lar. O loirinho assentiu uma vez.

– Un...
– E você acha que o Els não sente falta da casa dele também? – Disse e recolheu a mão.
– Bom, sim, mas...
– Todos nós sentimos falta de casa, ou de pessoas que deixamos pra trás. – E pausou, momentaneamente imerso nas próprias memórias. Voltou a falar após um longo suspiro, sorrindo paternal. – É, parece que o Elsword é quem sabe lidar melhor com esse tipo de sentimento. Me pergunto por quê... – "Talvez seja uma das vantagens da hiperatividade dele, ele consegue se distrair com qualquer coisa e assim não acaba melancólico".

Ele riu do próprio pensamento, recebendo um olhar curioso do menor.

– Raven?
– Apenas lembre-se de que não está sozinho, Chung.
– Un, eu sei. – Ele sorriu e se sentou, deixando o yukata que o cobria cair sobre o colo, revelando o magro peito nu. – Eu nunca me senti sozinho desde que comecei a andar com vocês, tem sido muito divertido até – Seu sorriso se alargou. – Eu... Espero pode estar sempre com vocês.

Logo depois passos foram ouvidos vindo em direção ao quarto. Elsword voltava. A porta do quarto então fora aberta e o ruivo se revelou. Trazia consigo um frasco de leite aberto e exibia um "bigode de leite" sobre a boca.

– Ó, só tinha um então eu tomei um pouquinho. – Já entrava no quarto. Raven revirava os olhos.
– E esse é o tolo, o nosso herói.
– Eu sabia, vocês estavam falando de mim! Por isso eu espirrava o tempo todo na fila da lojinha.
– Tanto faz. Dê logo isso ao Chung.
– Tch. – Bufou – Tó.

Elsword andava de tanta má vontade que sequer notou que parte do assoalho anda estava molhado da hora que trouxeram Chung às pressas, deixando um caminho de pequenas poças da entrada até o futon do loirinho. Em algum momento, um de seus passos fora certeiro na água, o que o fez desequilibrar por segundos apenas. Bastaram esses segundos para que Elsword acidentalmente derrubasse o conteúdo do frasco – vulgo, o leite – em cima de Chung.

– Wah!

No fim, Chung acabou levando um banho de leite e terminando com o rosto e peito manchados pelo líquido branco.

– Nm – Chung gemeu reclamando enquanto analisava seu 'estado' – agora eu vou ter que tomar banho de novo...
– Foi mal... – o ruivo se desculpou, embora com o olhar desviado e coçando a nuca – mas é só leite, faz bem pra pele. Né, Raven? – chamou, sem receber resposta – Raven?

Por algum motivo, o moreno dera as costas aos mais novos e cobria parte do rosto com a mão humana. Estava... corado? Os menores continuavam chamando-o mas Raven não se virava.

– O que deu nele?
– Sei lá, tem muitas coisas no Raven que eu não entendo. Tó, se seca. – Elsword pegara o yukata que cobria Chung, estendendo parte dele.
– Wah! – segurou a veste pra baixo – Não levanta assim, eu estou sem cueca!
– Você ainda tá nessa? Fala sério, Chung, seja homem! – Elsword continuava a atentar o pobre Hamelita tentando puxar fora o yukata-lençol.
– Que parte de ser homem envolve ter que ficar nu na frente dos outros!?
– Deixa de ser fresco!
– Wah, para!

E os dois continuavam na mesma, e Raven continuava de costas. Não se sabe exatamente o que se passava na cabeça do moreno, mas estava visivelmente inquieto.

– Não puxa, vai rasgar!
– Seu fraco!
– Não sou fraco!

E então o ruivo largou o pano e se adiantou em segurar Chung pelos pulsos e prensá-lo no chão, inclinado sobre ele.

– É sim.
– E-eu posso muito bem me soltar se quiser!
– Então se solta que eu quero ver.
– Não vou fazer isso pelado!

A voz do loirinho soava cada vez mais chorosa, tão vermelho que o calor de suas bochechas já tinha praticamente evaporado o leite que começou aquela briga. Chung murmurava coisas inteligíveis, constrangido até o último fio de cabelo.  Por puro impulso ele se rebelou. Forçou-se para frente e terminou por derrubar o ruivo e inverter suas posições.

- Feliz agora!?
- Eh? EH!? - O ruivo se debateu, mas não pôde se soltar - Como um magricela como você é tão forte!?
- Destroyer não é feito de isopor, sabia?
- Vocês dois aí, já chega! - Raven finalmente interveio e se virou.

Mas a visão que o moreno teve o fez parar de novo.

Chung nu, de quatro sobre Elsword, com o membro pendulando um; ao ouvirem o chamado, os dois passaram a encarar o mais velho. Raven pasmou, tentando pensar em algum sentido lógico para a cena.
Sem pensar em nada, passou pelos dois em silêncio e deixou o quarto, batendo a porta com certa força ao sair. Este feito fez os garotos se soltarem, Chung impulsionou-se para trás ajoelhado em tanto erguido; Elsword se sentou.

- Raven está estranho...
- É, e você ainda tá pelado.
- Wah! - E levou ambas as mãos à virilha, se escondendo de novo.