Lucas dirigiu por mais de uma hora, meu choro havia diminuído, as lágrimas apenas escorriam silenciosas pelo meu rosto.

Ele parou o carro e nós descemos.

–Onde estamos?-perguntei enxugando minhas lágrimas e fungando um pouco.

Estava escuro, mas eu podia ver a minha frente uma grande casa, e o reflexo da lua batendo contra a água de um lago pouco mais a frente.

–Casa do lago dos meus pais.

Ele andou até o porta malas e tirou de lá uma bolsa grande.

–Vamos entrar. - ele disse indo na frente. -Está frio aqui fora.

Eu o segui para dentro da casa.

Era extremamente aconchegante, na sala havia dois sofás uma lareira alguns quadros, e uma mesa de centro.

–Fica a vontade. - ele disse indo para um corredor que ficava do lado direito da sala.

Me sentei no sofá e comecei a realmente pensar no ocorrido.

Damon estava beijando outra garota, e eu vi.

Porque ele faria isso? Ele estava sendo tão fofo e romântico ultimamente que eu não acreditaria se não tivesse visto com meus próprios olhos. Nada disso fazia sentido.

Um flash da cena me veio em mente, àqueles cabelos loiros eu já o tinha visto antes.

Pouco me importei em tentar lembrar onde eu já tinha visto aquele cabelo, estava mais ocupada me perguntando o porquê, eu não fazia a menor ideia, tudo estava tão perfeito, e então isso...

A única razão que eu consegui pensar era que não me amava de verdade, porque se amasse não teria feito aquilo.

–Tudo bem?-Lucas perguntou quando voltou à sala.

Assenti e ele sentou ao meu lado.

Um silêncio constrangedor reinou, o único barulho era meu nariz fungando.

–Quer me contar o que aconteceu?

Neguei com a cabeça, e as lágrimas aumentaram.

–Porque não tira essa roupa e descansa um pouco? - Arregalei os olhos e então me dei conta de com quem eu estava.

–Meu Deus! Lucas, eu não devia ter vindo para cá com você. Me leve para casa.

–Elena, calma. Não vou te fazer nada. Só quero ajudar. - ele disse calmo. - O quarto de hóspedes é o último a direta, tome um banho e relaxe, depois se você ainda quiser ir embora eu te levo.

Ele estava sendo tão gentil, e sinceramente eu não tinha condições de ir para casa agora, eu só queria esquecer tudo e todos.

–Obrigada, Lucas.

Me levantei e fui para o quarto que Lucas havia dito.

Havia uma cama de casal dois criados mudos, e um guarda roupa grande, abri a porta no canto do quarto, e entrei.

O banheiro era simples, me despi e entrei no chuveiro.

Deixei que a água levasse todas as minhas lágrimas.

Não sei bem quanto tempo fiquei em baixo do chuveiro, meus dedos estavam enrugados e as lágrimas já não caiam mais.

–Elena?-ouvi Lucas através da porta. -Está tudo bem aí?

–Sim.- respondi.

–Ah, certo. Tem toalhas limpas no armário em baixo da pia e deixei umas roupas para você, estão na cama.

Desliguei o chuveiro e respondi um “obrigada”.

Como ele havia dito em baixo da pia, havia toalhas limpas.

Me enrolei na uma e sai.

Em cima da cama tinha uma camisa de manga comprida e uma calça de moletom.

Vesti a mesma lingerie e depois as roupas.

Quando voltei para a sala Lucas estava sentado em frente a lareira enrolado em um cobertor, ele não usava mais a o terno escuro de antes, agora ele estava de camiseta e calça de moletom.

–Então... - eu disse me aproximando, minha voz vacilou e saiu trêmula. - Você planejou isso?

–O que? Resgatar uma garota em lágrimas de um baile? Não, isso não estava nos meus planos. - ele riu.

–Qual é a da mala então?

–Gosto de vir aqui para relaxar e essa semana foi bem cansativa, arrumei uma mala e depois do baile eu viria para cá.

–Desculpe atrapalhar seu momento de descanso... - eu disse envergonhada.

–Não foi nada. Sério. Era o mínimo que eu podia fazer pra compensar as coisas horríveis que eu te disse. Me desculpe Elena, eu estava fora de mim e com raiva quando as coisas aconteceram.

–Tudo bem, Lucas.

–E desculpe também por ter acertado seu rosto, nunca foi minha intenção te machucar.

–Eu sei. - eu disse e voltamos ao silêncio.

–Vou prepara um chocolate quente pra você. - ele o quebrou e logo em seguida me deixou sozinha com meus pensamentos outra vez.

–Lucas?-eu o chamei depois de alguns minutos.

–Sim?- ele respondeu aparecendo no fim de um corredor que ficava do lado oposto do corredor dos quartos.

–Tem um telefone que eu possa usar?

–Meu celular está no quarto, primeira porta a esquerda.

Me levantei e fui até lá, encontrei o celular na cabeceira da cama o peguei e voltei para sala.

Disquei o número do meu irmão e esperei, ele atendeu rápido.

– Alô?–ele disse, sua voz parecia desperta sinal de que ele não havia ido dormir ainda, apesar de já se passar de duas da manhã.

–Jer... - eu sussurrei

–Elena, graças a Deus! Você está bem? Onde está?– o ouvi sua voz de alívio e um suspiro.

–Eu estou bem. Estou na casa de um amigo, não se preocupe. - respondi.

–Me diga o endereço que eu vou te buscar.

–Não... Jer. Eu não posso. - tudo que eu não queria agora era ir para casa.

–Elena, eu vi o que aconteceu. Eu estou aqui para o que precisar.

Funguei e segurei as lágrimas que queimavam em meus olhos, suspirando eu disse:

–Eu sei, só preciso ficar um pouco sozinha, amanhã eu estarei de volta. Caso minha mãe pergunte diga que eu dormir na casa da Car, ou da Bonnie.

–Tudo bem, mas se precisar é só me ligar.– quando ele disse isso tentei me lembrar de onde tinha deixado meu celular, já que aqui comigo não estava.

–Meu celular ficou no carro do Damon junto com minha bolsa, você pode pegar para mim de manhã?- minha voz saiu trêmula, eu não queria nem citar o nome dele.

–Claro.

–Eu tenho que ir. Nos falamos depois.- resolvi desligar logo antes que começasse a chorar de novo.

–Se cuida.– ele me disse.

–Você também. - respondi antes de desligar.

Lucas sentou ao meu lado com duas xícaras fumegantes e me entregou uma, ele sabia ser bem silencioso quando queria, ele entendia que eu não queria falar sobre o assunto e não me pressionaria Lucas sempre foi assim, mas apesar de tudo, apesar de eu não querer voltar a chorar eu precisava desabafar.

Desabafar com alguém que não vá falar: "Deve ter sido um mal entendido, Damon nunca faria isso com você." Eu sabia que era isso que meus amigos falariam, porque eles também eram amigos dele.

–Eu o vi com outra garota, Lucas.

–Olha Elena, não precisamos falar disso. Sério.

–Eu estava indo procura-lo para contar uma coisa quando o vi aos beijos com outra garota. Agora eu fico aqui pensando que... E... Ele me fez acreditar que tinha mudado que não era mais o galinha que sempre foi, e se alguém me contasse eu me negaria a acreditar, mas eu vi, Lucas. Eu vi. - as lágrimas voltaram com força total me fazendo soluçar.

Senti Lucas tirar a xícara da minha mão e me abraçar.

–Vai ficar tudo bem. -ele disse acariciando meus cabelos. - Você é forte, vai superar isso. Tenho certeza.

E pela primeira vez eu pensei que talvez ir para Londres e ficar longe de Damon possa ser bom para mim.

Me soltei de Lucas e enxuguei as lágrimas.

–Eu recebi uma bolsa para uma faculdade em Londres. - disse a ele.

–O que?-perguntou confuso. - Londres? Como? Você esta no segundo ano, não tem idade para faculdade.

–Eu sei, é um programa especial mescla ensino médio e matérias universitárias.

–Isso é ótimo, Elena. Parabéns. - ele me disse.

Contar para Lucas tinha sido tão fácil, mas com Damon eu não conseguia sequer, achar um jeito de falar, e eu sabia o motivo, eu o amava demais, não queria me afastar. Com Lucas não. Não faria diferença para mim ficar longe dele.

–Obrigada. - eu disse por fim saindo do meu mundo de pensamentos. -Sabe... Você era a última pessoa com quem eu imaginaria estar num momento como esse.

Ele riu.

–Eu sei, não fui muito legal com você da última vez que nos falamos.

–Vamos esquecer isso, Lucas. - eu disse, porque eu realmente queria esquecer essa parte, a parte em que permiti que Damon voltasse a minha vida. Agora eu só queria me distrair um pouco e fazer de conta que nada daquilo havia acontecido. - Então me conte como foi essa última semana.

–Bom... -ele começou e eu então me empenhei em ouvir o que ele dizia.

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Lucas me contou que havia entrado para Harvard, junto com Tyler, pelo programa de bolsa para esportistas, ele estava ansioso para começar, não me surpreendi em saber que ele tinha ido para uma faculdade tão boa, ele era inteligente e jogava muito bem.

Ele me contou também que havia conhecido uma garota quando foi pra a visita em Harvard, e que eles veem se falando por email desde então.

Parecia aqueles garotos apaixonados enquanto falava, e do fundo do meu coração eu esperava que ele fosse feliz.

–E quando você vai para lá?

–Ainda não sei, eu queria ir na segunda, mas você sabe, minha mãe me mataria ser eu não passasse o natal com ela.

Uma vez, eu falei com a mãe dele, foi logo depois que começamos a ficar, foi uma situação um tanto estranha e eu tenho certeza de que ela teve a impressão errada de mim.

Eu e Lucas havíamos ido ao supermercado comprar bebidas, e a encontramos lá, imagine que situação constrangedora, eu segurava uma garrafa de vodka e Lucas uma caixa de cerveja, ela ficou me encarando e nos deu um sermão, acabamos indo embora sem as bebidas, e sem nossas identidades falsas, ela pegou a minha e a dele.

–Ela deve me odiar. - eu disse.

–Claro que não, ela me disse que você parecia uma garota muito legal, mas que devia parar de beber.

–Acho que nunca passei tanta vergonha na vida como naquele dia.

–Tem certeza disso?-ele arqueou a sobrancelha rindo.

Fiz uma careta confusa.

–Lembra-se da vez em que usamos aquelas drogas? Você pagou o maior mico no Grill, e todo mundo viu.

–Ah, meu Deus! Não me lembre disso Lucas.

–"Ah, Lucas o que vamos fazer? Minha mãe vai descobrir e vai me matar".- ele imitou minha voz. -"Nos temos que fugir, Damon vá a minha casa e pegue algumas roupas." Você surtou na frente de todo mundo.

Como eu queria esquecer aquilo, aconteceu alguns dias antes de eu e Damon brigarmos, conseguir as drogas não foi difícil, uma garota que trabalhava com Matt no Grill conseguiu pra gente.

Usamos nos fundos, era tarde da noite e depois voltamos lá pra dentro como se nada tivesse acontecido, fiquei com muito medo de a minha mãe descobrir e acabei surtando lá.

Damon conseguiu me acalmar e me levou para casa dele, no dia seguinte tentei agir normalmente e minha mãe não suspeitou de nada.

–Verdade, mas tenho certeza que se eu tivesse ido para minha casa aquela noite minha mãe iria perceber na hora.

–Só tinha que agir normalmente.

–E como eu ia agir normalmente se eu estava drogada?

Lucas riu de novo.

–Okay, ia ser difícil.

Eu comecei a rir também.

–Obrigada Lucas. - eu disse, ele havia me feito rir e esquecer a situação por alguns minutos. - Você é bom amigo.