Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 6
Amigos por acaso?


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo você conhecerá um personagem muito importante para o contexto.



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Com o atraso, Melina não conseguiu entender absolutamente nada da primeira aula. Mas ela não parecia à única naquela situação. Olhando em volta, os demais alunos pareciam justamente como ela: perdidos e confusos. Ela não teve coragem de erguer a mão para perguntar ou questionar.

A próxima aula, pelo que foi informada por um dos colegas, seria no laboratório. Melina pegou seu material e seguiu o fluxo de alunos em direção à sala onde supostamente acreditavam ser o laboratório.

Enquanto caminhava pelos corredores ela não pôde deixar de notar os tantos olhares que a acompanhava, alguns de admiração, já outros de intriga. Eram muitos universitários perdidos tumultuados em um só lugar. Os mais velhos e mais experientes riam da cara dos novos e não fazia questão alguma de ajudar.

As bancadas do laboratório eram dividas em grupo para no máximo quatro pessoas. Ordenadas e bem organizadas de frente para o quadro negro. As cortinas dos vitrôs encobriam a iluminação que vinha de fora. O ar-condicionado dava a sala um ar gelado.

 Assim que Melina chegou à sala sentiu o ar frio e tentou se proteger com os braços. Caminhou até uma das primeiras bancadas, as únicas disponíveis, e se acomodou, ainda sem falar com ninguém, apenas esperou o restante dos alunos se acomodarem e o professor entrar e iniciar a aula.

Cinco minutos depois nenhum professor havia dado as caras, os alunos já estavam praticamente todos acomodados e muitos deles já tentavam se socializar entre si. Melina apenas observou. O lugar ao seu lado ainda estava vazio.

O falatório na sala cessou assim que um jovem mediano de cabelos ruivos, ombros largos, pele branca e sarda alaranjadas pelo rosto entrou de cabeça baixa. Um tanto diferente e exótico. Melina percebeu que todos comentavam, talvez pela raridade de se deparar com um ruivo que nem sempre é comum de se encontrar por ai. Ela percebeu que ele tinha a face levemente rosada pela timidez.

Como o lugar ao lado dera era o único disponível, foi para lá que ele se dirigiu ainda sem erguer os olhos. O jovem vestia um jeans surrado, uma camisa azul e tênis escuro. Colocou sua mochila sobre a bancada e se endireitou sobre o assento.

Mas por algum motivo surreal, ele acabou deslizando, perdendo o equilíbrio, talvez pelo piso ser liso e os pés da cadeira escorregarem sobre ele. O jovem caiu no chão e todos soltaram risadas altas e maldosas. Melina sentiu pena, mas não conseguiu fazer ou dizer nada que pudesse ajuda-lo. Rapidamente ele se levantou como se nada tivesse acontecido, passou a mão pela calça e voltou a se sentar. Dessa vez tomou mais cuidados. Alguns alunos ainda riam do incidente.

Melina admirou a postura do jovem, que no caso, fosse outro, teria se retirado de sala cheio de vergonha e irritação. Mas com ele foi diferente. Ela sentiu que tinha que fazer algo para conforta-lo.

— Você está bem? – ela pousou sua mão sobre a dele. Estava gelada e ele estava pálido. Ao seu toque, Nicolas estremeceu. — Ignorem os comentários e risadas maldosas.

Nicolas sempre foi um garoto muito tímido, de poucos amigos e que tem dificuldade de se socializar. O comentário de Melina e o seu gesto o pegaram de surpresa. Nicolas conseguiu olhar para ela, mas não conseguiu dizer nada de tão constrangido que se sentia diante de sua beleza. Ela é linda, parece um anjo. Ele apenas sorriu agradecido e afastou a mão sem parecer grosseiro.

— Seus olhos são lindos! – ela não resistiu em fazer o comentário, os olhos dele eram de uma tonalidade castanha esverdeado de um brilho intenso e ao mesmo tempo natural.

Outra vez ele sorriu intimidado, Melina percebeu seu acanhamento e resolveu não forçar a barra. Voltou sua atenção para frente e nesse momento uma jovem mulher, supostamente professora, tragada em seu jaleco branco acenou e falou com a turma.

Melina estava muito encantada com o garoto ruivo ao seu lado, para ela, ele é diferente do que está acostumada a ver nos meninos. Não pôde de deixar de observar que durante toda a aula ele não tirou a atenção das explicações e fez rápidas anotações em seu caderno. Ele tem uma letra caprichosa e bem desenhada. E pelo visto, parece bem inteligente e esforçado.

— Tem companhia para o almoço? – Melina sentiu-se pulsionada a perguntar. O sinal do termino da aula já havia tocado. Todos guardavam seus materiais para saírem do laboratório.

Ele fez que não com a cabeça.

— Gostaria de almoçar comigo? – ela insistiu na conversa. — Eu vou me encontrar com algumas amigas e... Se você quiser... Pode se justar a nós.

— Obrigado. – ele teve coragem para dizer. — Mas não, eu tenho outros planos. Mesmo assim, mais uma vez agradeço pelo convite.

Sem mais palavras ele saiu da sala sem olhar para trás.

No intervalo, Melina encontrou-se com suas novas colegas com que divide o apartamento, comprou um salgado na lanchonete e uma refrigerante e sentou-se com elas em uma mesa mais isolada.

Aproveitou o tempo livre para contar a elas o incidente ocorrido antes do inicio das aulas.

— Mas e se esse tal garoto não pagar a batida? – Daniele perguntou preocupada. Já estava no seu segundo pão de queijo.

— Não sei o que farei. – Melina confessou terminando seu refrigerante. Sentia-se satisfeita. — Espero que ele ligue...

— Se não ligar, não tem problemas. – Marcela se intrometeu. — Seu papai é rico e sua mamãe mais ainda, eles podem pagar o converto do carro.

— Não é bem assim Marcela. – Melina respirou fundo, não queria brigar ali.  Não com ela.

— Por favor Melina – Marcela levantou-se irada. — Não seja modesta, todas nós sabemos que é assim. Sempre será. Você é rica e tem tudo que quer. E o que ainda não tem, pode ter a qualquer momento, basta pedir aos seus pais.

Marcela se foi.

— Não ligue para o que ela diz Meli – Daniele a confortou com um gesto de carinho. — Marcela não sabe o que diz.

— Tudo bem. Não tem importância. – Melina forçou um sorriso. — Vou telefonar para o Thomaz. Me deem licença.

Ela se afastou para que pudesse falar com o namorado com mais privacidade. Porém, não foi possível de qualquer forma. Thomaz não atendia. Ela bem que tentou. Ele deve estar ocupado.

Melina ia retornando a mesa junto das amigas quando de longe avistou o garoto ruivo, do qual ainda desconhecia o nome, mas sabia que ele tinha aula com ela por ser do mesmo curso. Ele estava sozinho, em um ponto não muito longe dali. Estava lendo um livro e parecia bem entrosado em sua leitura.

Ela não queria atrapalhar, mas outra vez sentiu-se fortemente tencionada a se aproximar e fazer-lhe companhia. Ou perguntar se ele precisava de algo... Não tinha muita certeza. Caminhou até ele devagar, ainda pensando em como iniciar um dialogo amigável. O ruivinho parecia tão discreto, reservado, em um mundinho próprio e particular, como quem não quer conversas.

— Oi. – ela sentou-se ao seu lado. Demorou um tempo para que Nicolas percebesse a sua presença. Leu o ultimo parágrafo do seu livro para não se perder quando retornasse e ergueu os olhos cuidadosamente até ela.

— Oi. – ele retribuiu o sorriso para ela. Fechando seu livro e deixando-o sobre seu colo.

— Desculpe interromper. Eu vi você aqui, e achei que talvez, você quisesse conversar. Não sei. Talvez uma companhia ou precisasse de algo. Se eu puder fazer algo por você...

— Não. Obrigado mais uma vez. – ele tinha um dos sorriso mais bonitos que poderia existir. Quando deixava a mostra seus dentes certos e brancos, formavam-se duas covinhas em sua bochecha. — Estou bem.

— Certo. – ela recitou. Não sabia mais o que dizer. Por um momento os dois ficaram em silêncio. Um silêncio um tanto constrangedor. Nicolas desviou o olhar. — Você é sempre assim? Quietinho? Calado?

— Sim. Sempre. – ele confessou com um meio sorriso. Outra vez os dois ficaram em silêncio sem saber ao certo o que dizer. Nicolas tinha os olhos voltados para baixo. Melina percebeu sua quietação, mas achou melhor esperar que ele tomasse a iniciativa e dissesse algo. Ela ainda não queria forçar nada. — Na verdade, estou muito envergonhado...

— É. Eu percebi. – ela soltou um risinho agradável. Ele gostou do som da sua risada. — Mas não se preocupe, se for por causa do incidente...

— Também. Mas não é só isso. – ele a interrompeu de maneira educada. — É que eu sou assim mesmo. Devo ter sérios problemas – agora foi à vez de ele soltar um risinho. — Mas também, é que você é bonita, parece tão legal, e está aqui se importando comigo, sendo agradável e gentil. Não estou habituado...

— Ah, é mesmo? – ela pareceu surpresa. — Não entendo o por que. Você também é bonito – ele ficou extremamente envergonhado com o elogio. — É educado, inteligente... Não consigo enxergar defeitos em você. Pode ser porque nem nós conhecemos direito ainda, mas não consigo imaginar... O porquê de você não ter amigos.

— Sou meio devagar para essas coisas. – ele foi sincero. Mas não queria parecer exagerado e dramático. — Além de desastrado, como você pode perceber. Poucos têm paciência. Poucos enxergam além da aparência. Como meu pai tem o habito de dizer: As pessoas são preguiçosas, eles tendem a preferir o caminho mais rápido e menos complicado a seguir.

— Seu pai tem razão. – Melina refletiu. — Ele me parece um homem sábio. Já sei a quem você puxou – eles riram. — Mas quero que saiba, que pra mim particularmente, não tem importância se você é desastrado, tímido, quieto, calado. Se você quiser, podemos ser bons amigos. Porque é o que eu quero. Mas se você não quiser... tudo bem.

— Claro que eu quero! – a resposta saiu instantaneamente. — Claro que sim. Quero muito ser seu amigo. Gostei de você desde o principio, você foi à única que se importou e... Não riu de mim. – Melina já gostava dele. Ele tem um jeito que a agrada. Mesmo que ainda não o conheça por completo. Sabe que eles poderão se dá muito bem.

— Então, mas eu ainda nem sei o que seu nome. – ela brincou. — Me chamo Melina. E você?

Ele finalmente olhou a nos olhos. Ao lado dela, depois de curta conversa que tiveram, era como já poder confiar nela.

— Sou Nicolas, prazer. 

Os dois apertaram as mãos, como quem acabaram de se conhecer. De certa forma, sim, eles estavam se conhecem melhor agora.

— Gosto do seu nome. – eles sorriram com cumplicidade. — Nicolas, pensei que depois da aula, poderíamos ir lá para casa, minhas amigas adorariam te conhecer.

— Ah – ele pareceu apreensivo. — Não sei se é uma boa ideia. Eu gostaria mais... Ainda não me sinto preparado.

— Deixe de bobagem! Elas são tão legais quanto eu. – Eu duvido! Ele pensou. — Se você for, vai ver só como são divertidas.

Algo na voz dela soava convencedor.

— Está bem. Eu vou. Mas tem um problema – ela esperou que ele prosseguisse. — Eu trabalho depois da aula.

— Não tem problema! Venha jantar conosco – ela abriu um largo sorriso, animada com a ideia. 

Nas próximas aulas Melina não deixou de pensar na ideia que tivera a cara-de-pau no intervalo ao se aproximar de Nicolas. Pensou muito nisso e estava muito ansiosa para reencontra-lo mais tarde.

Em outra sala não muito longe dali, por um momento, Nicolas tirou a atenção do professor a sua frente e se pôs a observar o papelzinho e o escrito em sua mão.

Foi em um pedaço da folha do caderno de Melina que ela anotou o endereço e o número do telefone para Nicolas. Agora que ele observava com mais atenção, viu que ela não morava tão longe de sua casa, no máximo cinco minutos andando de pé. Não tinha como errar.

Será que finalmente as coisas irão mudar para mim?


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Notas finais do capítulo

E então? O que você achou do ruivinho? O Nicolas. Comente!



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