Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 51
Terrível descoberta


Notas iniciais do capítulo

Alguns fatos do passado vão ser esclarecidos agora.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384593/chapter/51

Nicolas está sentando no sofá, assistindo uma de suas séries favoritas na tevê enquanto come bolachas. Seu pai não está em casa, pois saiu com Juliana sabe-se lá pra onde. A casa está vazia e silenciosa. O tipo de calmaria que Nicolas necessita nos últimos tempos. Marcou de dar um passeio com sua namorada, Analu, naquela tarde. Mas ainda tem muito tempo para pode descansar até dar o horário certo.

A campainha toca.

Seria Analu? 

Nicolas se arrasta até a porta principal, coloca a mão na maçanete, gira e abre a porta dando de cara com uma visita um tanto inusitada: a mulher que o perseguia até pouco tempo atrás. Tenta disfarçar o espanto e faz a pergunta diretamente:

— A senhora por aqui? O que você deseja?

Ela abre um sorriso deslumbrante antes de responder, deixando seus dentes brancos e certos a mostra. A brisa suave de mais uma tarde ensolarada movimenta suavemente seus cabelos ruivos cacheados.

— Posso entrar? – ela olha para os lados, certificando-se de que não há mais ninguém em casa além dele.

— É claro que não pode! – ele tenta não soar grosseiro. — Eu nem te conheço. Não posso convidar uma estranhar para entrar.

— Nicolas, eu não sou tão estranha assim – ela sorri torto. — Sou uma velha conhecida. Você só não está lembrando. Agora, por favor, deixe-me entrar. Aqui fora está muito calor e faz muito sol! Gostaria de tomar um copo com água gelada.

Ela entrou, mesmo sem a permissão dele. Olhou em volta, gostou do que viu. Quase nada havia mudado desde que esteve ali pela última vez. O que lhe agradou bastante.

Certas coisas o tempo não muda.

— E então, vai ou não me servi um copo com água? – ela tinha o tom de voz atrevido, descontraído e uma risadinha contagiosa.

— Ah sim, claro – ele foi até a cozinha, ela foi logo atrás. — Mas depois, você precisa ir embora. Por favor. Meu pai mão vai gostar muito de saber que ando abrindo as portas de casa para os estranhos.

— Obrigada pela água – ela pegou o copo e bebericou de uma só vez. — Pelo visto, seu pai te educou muito bem. Como já era de se esperar. Ele sempre foi um homem muito bom. Talvez o melhor que eu já conheci em toda minha vida. E olha que eu já conheci muitos!

Ele não entendia onde ela queria chegar com aquela conversa fiada. Pelo menos não era uma ladra ou coisa do tipo. Já poderia te levado qualquer coisa sem quisesse, ele não saberia como reagir.

— Mas, não posso ir embora sem antes conversamos.

Ela sentou-se em uma das cadeiras da mesa.

— Sente-se. Não tenha medo! – ela apontou para outra cadeira, como se fosse a dona da casa. — Não vou fazer nada para te ferir. Eu nunca vou fazer nada que possa te ferir.

— Você – ele sentou-se, um tanto amedrontado. — você age como se realmente me conhecesse. Eu não entendo.

— É que – ela abaixou os olhos, ajeitou os cabelos. — eu nem sei por onde começar, Nicolas. É uma longa história.

Passaram alguns minutos calados. Ela pensava em algo, por sua expressão. Ele balançava nervosamente as pernas, imaginando onde ela iria chegar. Quem ela é afinal? O que deseja com ele? Havia tantas perguntas a se fazer, mas Nicolas não tinha coragem suficiente.

— Nicolas – ela finalmente voltou a olha-lo nos olhos, segurando suas mãos por cima da mesa de madeira. — quando eu sai da sua vida você era apenas um bebê. Um lindo bebê. Frágil, pequeno e chorão.

Ela riu.

— Eu acho, não, na verdade tenho certeza, que nunca vi um bebê tão bonito como você. Com poucos cabelos no meio da cabeça, fios finos e alaranjados, sardas espalhadas por todo o rosto e quando você abria os olhos – o que raramente acontecia, já que você era muito preguiçoso, um tanto dorminhoco – todos se chocavam com a cor dos seus olhos de um verde cor de esmeralda de deixar qualquer um morrendo de inveja.

Ela parou de falar e ele de prestar a atenção quando ouviram um barulho vindo da porta principal no outro cômodo. Alguém chegou – ele pensou – deve ser o meu pai e a Juliana. Nicolas levantou-se depressa.

— Nicolas? – seu pai o chamou. — Onde está você meu fi... Carolina? – Renato parou onde estava. — O que faz aqui?

Carolina?

~*~

Os dois estão deitados no gramado, nos fundos da mansão de Verônica, lado a lado de mãos dadas. Nenhum dos dois diz coisa alguma. Apenas sentem o calor da emoção. O céu azul nunca esteve tão bonito, com as nuvens se movimentando de um lado para o outro, por causa do vento. Formam desenhos. Assim que os localiza, Melina aponta e verifica se ele consegue ver o mesmo. Acha engraçado. Observar o céu é algo simples e natural, que ela e Thomaz nunca fizeram.

— Preciso te dizer uma coisa – ele rompe o silencio, vira a cabeça para poder olhar para ela de lado.

— O que foi? – ela também vira a cabeça para poder encara-lo de frente

— Sabe a Bruna? – ela imaginou que não gostaria de ouvir o que ele iria dizer. Mesmo assim não o interrompeu. — Ela quer se encontrar comigo. No primeiro momento eu disse que não seria uma boa ideia, porque sei que você não vai com a cara dela. Por motivos óbvios. Mas estive pensando, e, agora acho que possa ser uma boa ideia me encontrar com ela. Para resolvermos uns assuntos do passado e também para eu possa explicar a ela a minha situação com você.

— Henrique – Melina voltou a observar o céu, mas sem dar muita importância. — estava tão bom, estávamos em sintonia e de repente, você rompe esse momento para falar da Bruna? – Melina está inconformada. — Não parece justo e não foi legal. Mas quero dizer uma única coisa: se você quer se encontrar com ela, então vá. Eu não gosto dela e nunca vou gostar. Mas vocês tiveram algo no passado, assim como você e eu, algo até mais significativo do que um dia tivermos...

— Não diga isso – ele se senta, interrompendo-a. — O que tivermos um dia, no passado, e o que temos agora é a coisa mais valiosa de toda a minha vida, Melina. Não diga, nunca mais, algo assim. Isso realmente me aborrece.

— E como você acha que eu me sinto quando você fala dela? – ela também se senta, impassível. — Henrique, eu amo você. Tenho medo de te perder, eu não posso evitar. Confio em você. Tenho confiança no nosso relacionamento, mas... Não posso evitar me sentir insegura. Pois sei que sempre haverá algo para nos atrapalhar.

~*~

As coisas começaram a processar muito rapidamente dentro da cabeça de Nicolas. Ele estava confuso e perdido. E tudo fez sentindo quando seu pai pronunciou aquele nome. Carolina. A única Carolina que os dois conhecem em comum é... A mãe dele.

— Mãe? – Nicolas olhou para Carolina. E pela primeira vez desde que a reencontrou, olhou melhor para ela e prestou atenção em cada detalhe. Como poderia não ter a reconhecido? Não tinha lembranças dela, mas havia uma única foto lá em cima, no seu quarto, a única recordação de uma mãe morta que ele guardava.

— Filho, querido – ela deu um passo à frente diminuído a distancia entre eles. Um único movimento que impulsionou Nicolas a ir em direção a ela e abraça-la, com toda força, como nunca abraçou ninguém.

Quando deu por si, estava chorando, com a cabeça enterrada no pescoço dela, sentindo o cheirinho de... Mãe. Se é que isso era possível.

— Eu sinto muito, Nicolas.

Juliana chegou a tempo de ver aquela cena e não entendeu absolutamente nada do que estava acontecendo ali. Também não se sentia no direito de interromper.

— Mãe – Nicolas encostou sua testa na dela, segurando seu rosto com os dedos finos e longos. — É mesmo você?

Ela assentiu, chorosa, já não tinha força para dizer mais nada.

Nicolas deu um passo para trás. Precisava olhar para ela por inteiro, ter a certeza de que aquela mulher na sua frente era mesmo sua mãe e que realmente estava ali, viva. E não morta como ele imaginava que estava. Apesar de já ter total certeza, no momento em que sentiu o perfume dela. Mesmo nunca tê-lo sentindo antes.

— Nicolas, se afasta dela – Renato o pegou pelo braço e o puxou para trás. Nicolas ficou sem reação. Que diabos ele está fazendo? — O que está fazendo aqui? – ele apontou o dedo no rosto dela. — Você prometeu que nunca mais voltaria!

— Eu nunca fui embora. Na verdade, o tempo todo eu estive aqui, com você. Em pensamentos. Dentro de seus corações.

— Você foi embora Carolina! Você escolheu ir embora e nos deixar. Não pode voltar assim, como se nunca tivesse saído daqui e deixado tudo o que mais se importava com você para traz.

Renato estava muito nervoso, praticamente gritava.

Juliana podia entender o que estava acontecendo ali, pelo pouco que ouviu de Renato sobre sua historia do passado com a ex-mulher, pois ele nunca escondeu nada. Mas essa parte ele não havia dito. Nunca dissera que a ex-mulher ainda estava viva.

Mesmo assim, isso não vinha ao caso, pelo menos não agora. Eles precisavam conversar e resolver essas questões. Mais tarde, outro dia, outra hora, Renato acabaria explicando tudo a ela.

— Nick, vem – ela chamou-o. — Deixe que eles se entendam...

— Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Nicolas gritou ainda mais alto que o casal que discutia. — Pai, que história é essa? Mãe, o que foi que aconteceu?

Renato conheceu Carolina durante uma viajem com alguns antigos colegas da faculdade. Apaixonou-se á primeira vista. E sempre acreditou que isso poderia acontecer, mas duvidou que algum dia aconteceria com ele, até e conhece-la.

Carolina estava em um barzinho muito movimentado aquela noite, era a mais animada da festa. Não bebia, mas dançava muito bem. Só de olha-la, as pessoas já se sentiam animadas. Dona de uma beleza exótica e um corpo magro escultural. Quando criança ela dançou balé. E movia-se graciosa ao ritmo da musica, com flexibilidade e encanto.

Renato não tirou os olhos dela durante toda a noite. Seus amigos brincaram com ele, alegando que ele, um cara sempre tão bem humorado, divertido, não teria coragem de chegar nela e convida-la para dançar ou sair. Renato não suporta quando o desafiam. E foi até ela, chegou de mansinho e dançaram juntos sem trocar nenhuma palavra.

Era como poder flutuar em outra dimensão.

Ela se foi sem que ele percebesse, só deu tempo de dar uma pausa para beber algo e quando voltou ela já não estava mais onde havia a deixado. Ficou desesperado, temia nunca mais encontra-la. E saiu apressadamente do bar na esperança de vê-la lá fora.

— Sabia que você viria – ela brincou, surgindo de repente. — Poucos vêm. Mas você é diferente. E veio. Está aqui.

Era tarde, de madrugada, fazia frio naquela região do país, mas mesmo assim eles saíram para caminhar. Foi ideia dela para poderem se conhecer melhor, sem qualquer tipo de envolvimento. Conversaram durante horas e quando chegou o momento de se despedir, Renato não quis, protestou, pediu seu numero de telefone e prometeu telefonar no dia seguinte, o quanto antes.

Mas ela se negou a passar seu numero. Carolina era livre e não queria se sentir presa, apesar de ter gostado muito de Renato. Não queria se apaixonar, pois sabia que seria doloroso para ele tanto quanto para ela. Uma hora ou outra ela teria que partir e dizer adeus. Preferiu que esse momento acontecesse antes deles criarem laços.

— Não vou te esquecer – foi o que ele disse, antes de beija-la de surpresa. Deixando-a sem folego.

— Eu não quero ser esquecida – ela disse por fim, antes de partir. Aquela noite não conseguiu dormir, pensava nele.

No dia seguinte, de manhã, quando Carolina despia-se para tomar um banho, viu que do seu casaco caiu um cartãozinho. Pegou-o, olhou e viu do que se tratava. Abriu um largo sorriso quando viu o nome dele.

Havia o nome e o telefone de contanto.

Ela pensou muito em telefonar, ouvir o som da voz dele outra vez e ele esperou ansiosamente por isso. Sem conseguir tirar ela da cabeça por um se quer momento. Mas ela não ligou. Preferiu assim. Guardou o cartão consigo e levou embora.

Sete meses depois ela telefonou, pois gostaria de entender o porque dele mexer tanto com ela mesmo sem terem vinculo. Era a primeira vez em que se pegava dando tanta importância a um homem, pois geralmente eles só querem se divertir por uma noite. Mas com Renato, ela sentiu que era diferente. Queria entender porque se nem o conhecia direito.

Telefonou, marcaram de se ver um mês depois, tiveram a primeira noite juntos, algumas semanas depois ela descobriu que estava gravida e contou a ele por telefone, Renato nunca se sentiu tão feliz.

Então, casaram-se. Compraram uma casa e esperaram a chegada do bebê.

Carolina não era a mulher perfeito, ele também nunca esperou que fosse. Sabia que o trabalho dela, como arqueóloga, exigia muito sua dedicação e o seu tempo. Foi esse o principal motivo para ela não querer se envolver com ele quando se conheceram. Carolina viajava mundo a fora, explorando novas culturas, povos, línguas, costumes e religiões.

A primeira vez que ela se aquietou em um só lugar e se fixou foi depois de conhecer Renato. Deixou o trabalho de lado e dedicou-se totalmente a ele, como mulher, esposa e mãe. Mas ela sentia muita falta da sua antiga vida e isso trouxe complicações a vida do casal.

Começaram a brigar frequentemente. Renato exigia muito, mas ele tinha todo o direito. Só exigia dela suas obrigações e deveres como mãe e esposa. Isso era o mínimo que ela podia oferecer por ter escolhi doele e não a nenhum outro.

Suportaram por alguns poucos meses, até Carolina não aguentar mais e decidir ir embora. Primeiro ela conversou com ele, explicou a situação e tentou faze-lo entender. Renato nunca entenderia, mas não poderia prende-la em uma jaula como se ela fosse um animal. Amava muito ela, mas vê-la infeliz também o deixava infeliz. Assim, permitiu que ela se fosse. Prometeu a si mesmo que daria a volta por cima, suportaria aquela situação não só por ele, mais também pelo filho que acabara de nascer, a única coisa boa que Carolina havia deixado.

O resto ela levou consigo. Foi uma escolha.

Nicolas ouviu tudo com atenção, ouviu os dois lados da história. Ele precisava saber o que acontecera no passado para compreender o presente. O agora.

Analu telefonou diversas vezes, nervosa por ele ter se atrasado para o passeio que combinaram. Ela imaginou que ele estaria com Melina e por isso do atraso e da irresponsabilidade. Não insistiu mais, sabendo que ele desligara o telefone sem dar-lhe no mínimo algumas explicações. Decidiu-se também que não iria até a casa daquele saber o que estava realmente acontecendo, já sabia que ele estaria lá ou em outro qualquer lugar morrendo de rir da cara dela ao lado de Melina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Algo terrível vai acontecer no próximo capítulo depois dessa revelação.
Comente!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luz Dos Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.