Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 40
O primeiro beijo


Notas iniciais do capítulo

Esse, sem sombra de dúvidas, é um dos meus capítulos favoritos!



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Domingo de manhã: nada interessante para se fazer. Melina aproveitou para levar sua cachorrinha, Bel, para dar uma volta pelo bairro. Meia hora depois ela voltou ao apartamento, viu Ariela e Marcela já acordadas. Ambas largadas sobre o sofá bem à vontade. Enquanto o restante da casa parecia fora de ordem. Vou lavar a louça. Melina se encaminhou até a cozinha, disposta a começar uma faxina.

— Não sabia que patricinhas lavavam louças – Marcela jogou seu veneno. Depositando sobre a pia suja mais um copo para Melina lavar.

Melina ignorou ao seu comentário. Não valeria a pena rebater. Ariela também entrou na cozinha, pegou o pano de prato e se pôs a secar a louça e guardar.

— Então Melina, como se sente depois de ter sido trocada por uma secretária? – Marcela não desistia tão fácil.

Há duas semanas Melina havia pedido a Thomaz que a ajudasse a superar aquilo. E ele tanto ajudou, que Melina aos poucos vinha tentando não pensar nele. Há três dias ela não pensou nele nenhum momento durante todo o dia. Isso já era um grande começo.

Ela tirou o tal mosaico de fotos que ele lhe dera na parede de seu quarto, mas não teve coragem de joga-lo fora. Apenas guardou atrás do guarda-roupa, longe de se visto. Os pelúcias, alguns presentes ou qualquer coisa que lembrasse ele, ela escondeu, guardou. Dessa forma, ela acredita que seria mais fácil se distanciar, conforme o tempo fosse passando. Algum dia seria mais fácil suportar a dor.

Marcela tocou na ferida, sabia exatamente onde tira-la do sério.

Melina não suportou, deveria ter respirado fundo e ignorando o tal comentário. Mas a morena foi longe demais. Melina largou a louça que ainda não havia terminado de lavar, enxugou as mãos em um pano de prato e saiu dali sentindo os olhos se encherem de lágrimas.

— Dessa vez, você foi longe mais! – Ariela encarou Marcela, que tinha um sorrisinho brincando nos lábios. — Você, termine de lavar a louça, secar e guardar.

Ariela saiu batendo o pé, voltando a se jogar no sofá.

Não, não posso chorar.

Melina piscou evitando que as lágrimas transbordassem. Entrou em seu quarto e se deparou com uma cena curiosa: Daniele de frente para algumas malas sobre sua cama, ela enfiava algumas peças de roupas dentro das malas.

— O que você está fazendo? – Melina perguntou curiosa, se aproximando.

— Adiantando o meu trabalho. – a loirinha sorriu, mas logo voltou à seriedade de fazer as malas. — Essa é a ultima semana de aulas antes das férias. Decidi que vou viajar para Minas e contar tudo aos meus pais.

— Ótima ideia! Finalmente uma noticia boa – Melina também sorriu, admirada com a força de sua amiga. — Quer ajuda?

Daniele assentiu.

— Quase me esqueci – elas já estavam quase terminando. — O Nick ligou no seu celular. Você havia saído com Bel, e como vi que era ele, me atrevi em atender. Ele perguntou de você, e pelo som da sua voz deduzi que ele não estava bem. Mas não perguntei.

Melina esperou terminar de ajudar Daniele. Preocupada, logo em seguida enquanto se dirigia até o banheiro para tomar banho, ela decidiu ligar de volta para Nicolas e ter certeza do que estava acontecendo.

— Quer conversar? Nossa, parece sério. Estou preocupada. Hum, que tal se fossemos dá uma volta no parque? E aproveitar o dia lindo de sol que está lá fora.

Ele concordou. Melina tomou um rápido banho, vestiu-se para a ocasião e saiu em direção à casa de Nicolas. Aparentemente ele estava normal, talvez um pouco aborrecido e abatido. Melina esperaria ele confessar o que estava o perturbando.

— Vamos de moto?

— Acho uma ótima ideia!

O parque Villa Lobos é um dos principais parques públicos da cidade de São Paulo e um dos maiores também. É um ótimo lugar para praticar esportes, especialmente andar de bicicleta. Lá eles alugam bicicletas para quem não tem e há ciclovias. Além de ser um lindo lugar, cheio de árvores e bosques.

Quando pequenos, tanto Melina quanto Nicolas vinham ali para se divertir no playground enquanto seus pais os observavam de longe.

— Quer um sorvete?

Nicolas foi comprar sorvetes, já sabia que o preferido de Melina era de Morango, com cobertura também de Morango. O preferido dele era o de brigadeiro com cobertura de doce de leite.

— Já posso imaginar que você está com essa carinha por causa da conversa que teve com Analu ontem a noite, certo?

— Certo.

Nicolas mal conseguira pregar os olhos durante toda a madrugada, só pensava naquilo e decidiu que a melhor pessoa para desabafar a respeito era com Melina. Sua melhor amiga. Por mais envolvida que ela estivesse naquele assunto.

O parque também promovia eventos musicais. Naquela tarde, por coincidência ou não, um jovem rapaz barbudo fazia cover de uma sequencia de músicas nacionais brasileiras.

— O que foi que aconteceu? – Melina perguntou de uma vez por todas, tirando sua atenção do jovem cantor para dar uma olhada em Nicolas que até então permanecia sério até demais.

— Eu não sei exatamente. – ele parecia nervoso. — Eu falei a Analu, falei que sabia que era ela a admiradora secreta. Mas depois, ela veio com um papo estranho de que tinha esperanças que eu me apaixonasse por ela, como ela se apaixonou por mim. Disse também que me ama e queria que eu pudesse ama-la também, na mesma intensidade. Mas o que realmente me assustou... Foi quando ela começou a chorar, se aproximar, acho que queria me beijar. Sua voz era um sussurro, baixo e lento e ela repetia que me amava, me amava tanto que seria capaz de suportar viver comigo mesmo sabendo que eu amava outra. E que nos dois vivíamos na mesma situação: ambos amavam alguém que não poderia corresponder ao nosso sentimento. Ela sugeriu que nos uníssemos, que compartilhássemos aquela dor. Analu estava assustadora, quase como se ela estivesse...

— Maluca?

— Não, não maluca. Ou quase. Mas como se o que ela sentisse por mim não fosse amor. Tudo, menos amor. E sim uma espécie de obsessão, de doença, tortura, dor.

Nicolas sentiu calafrios. Sabia que ele tinha uma parcela de culpa em tudo aquilo. Se ao menos pudesse gostar dela na mesma intensidade, não teria a tornando em um monstro ferido.

— Eu me sinto culpado, Meli. Me sinto culpado por não poder gostar dela dessa forma. Na verdade, acho que nunca vou gostar de ninguém dessa forma.

— Não diga isso – Melina já havia terminando de tomar seu sorvete enquanto o ouvia falar, atentamente. — Você não tem culpa nenhuma. Mas o que mais me estranhou nessa conversa toda, foi que pelo que você disse, ela pareceu ter toda certeza de que você ama outra. Mas, por Deus, quem é essa outra?

Você.

— O quê? Eu? Como assim? Essa garota ficou louca?

— Ela garantiu que eu amo você. Disse que isso está estampado nos meus olhos. Ela tem certeza de que eu amo você. Ela até perguntou, disse que eu deveria ser sincero com ela. Mas independentemente da minha resposta ela ficaria comigo, porque me ama é capaz de amar por nós dois, mesmo que eu não a ame.

— Meu. Deus. Do. Céu.

Melina está apavorada. Essa história toda estava sendo muito dramática como em filmes. Analu devia ter sérios problemas. Ou no mínimo ser perturbada por dizer aquelas coisas das quais nem ela tinha certeza. Melina se arrepende imensamente por ter pensando na possibilidade de Nicolas, seu amigo, gostar de Analu, a garotinha misteriosa dos bilhetes. Foi ela quem começou toda aquela história, quando decidiu ir atrás para tentar descobrir quem era a autora secreta dos bilhetes. Não foi certo. Melina não podia imaginar que Analu era praticamente uma psicopata.

— Eu sinto muito por tudo, Nick.

— Sente? Porque?

— Eu pensei que ela poderia ser a pessoa certa pra você. Mas eu estive enganada. Só depois que vocês se aproximaram pra valer e eu percebi que Analu queria ficar o tempo todo ao seu lado e me tirar da reta, foi quando eu notei que ela não era uma boa pessoa como aparenta ser. Ela me olhava com ódio, como se eu estivesse fazendo alguma coisa para interferir algo entre vocês.

— E porque você não me disse isso antes?

— Eu tive medo. Não sei. E se você pensasse que eu estava sendo egoísta por não querer compartilhar a sua amizade com outra? E se você deduzisse que eu estava com ciúmes com a amizade que surgiu entre vocês? Afinal, vocês são tão compatíveis, tão parecidos...

— Afinal, você teve ciúmes ou não?

Eles se entreolharam, intrigados.

— Porque a pergunta agora, Nick?

— Não sei, só quero saber. – ele deu de ombros, como se realmente aquilo não fosse importante. Mas era. — E então?

— Sim, confesso: eu senti ciúmes algumas vezes. Mas não fora nada demais. Afinal, amigos também sentem ciúmes um do outro, não é?

— Sim – ele sorria, contente com a resposta. — Eu também já tive ciúmes de você. E é realmente muito normal. Eu pensei que não fosse, mas depois da sua revelação, sei que estive errado.

Eles riram.

Por um momento, nenhum dos dois soube o que dizer ou como prosseguir aquela conversa. Cada um estava perdido em seu próprio pensamento. Melina observava uma família se divertindo enquanto jogavam futebol. Nicolas estava mais interessado no jovem cantor, que cantava e tocava uma sequencia de suas músicas favoritas. Não muito longe dali.

— Posso te perguntar uma coisa? Eu não quero que você me entenda mal, mas eu estou curiosa a respeito.

— Claro, pode perguntar.

Nicolas voltou sua atenção a Melina que puxou conversa depois de um longo tempo calada.

O céu azul não tinha qualquer sinal de nuvens. Fazia tanto calor aquela tarde, que Nicolas tinha a impressão que derreteria a qualquer momento. Os raios de sol refletiam tanto nele quanto em Melina, fazendo com ela tivesse dificuldade de abrir totalmente os olhos.

— Sobre Analu ter dito que está estampando em seus olhos que você ama outra, no caso seria eu. É realmente verdade? – ela tinha que ter coragem para perguntar aquilo, caso contrário a curiosidade sempre estaria com ela. — Você me ama?

Nicolas engoliu em seco, esperava qualquer pergunta, menos aquela. Sentiu que sua respiração estava acelerada, por conta do nervosismo. Como diria aquilo a ela? Sendo que nem ele tinha certeza dos próprios sentimentos. É claro que a amava, mas não sabia se esse amor era o mesmo da pergunta que ela havia feito.

— É claro eu te amo. – ele admitiu, sentindo o rosto queimar. — Mas de quantas formas é possível se amar?

— Muitas. – ela sorria timidamente. — Mas o que eu quero realmente saber e se você me ama, como um homem ama uma mulher.

— Como um casal deve ser amar?

— É, como um casal.

Nicolas suspirou.

— Eu não dizer, Melina. Sei que estamos ligados de alguma forma, de um jeito que eu não entendo. E eu odeio quando sou incapaz de compreender alguma coisa.

— Tudo bem, Nick. Eu entendi. – Melina sorria, quebrando qualquer tensão naquele momento tão importante.

O jovem cantor começou a cantar e tocar uma das música favorita de Nicolas. Outra vez ele ficou surpreso e ergueu os olhos para observar. Não podia acreditar. Logo aquela música!

Velha Infância, é o nome da música.

Melina talvez não tenha percebido tamanha coincidência. Mas Nicolas, estavam embalado com a canção. Todas as vezes que ele a ouve, sente-se envolvimento por uma coragem inexplicável, uma vontade fazer todas as coisas que ele gostaria,  mas tem medo.

— Quero que você saiba que eu valorizo muito o que existe entre nós – ele não resistiu a vontade de segurar a mão dela, que sempre se encaixava perfeitamente a sua temperatura. — Eu me lembro de quando nos conhecemos, engraçado como eu me senti tão bem. É um sentimento que eu sei, eu sei que nunca esquecerei.

Melina olhava atentamente para ele, ouvindo o som da sua voz que sempre a acalmava.

— No momento, eu prefiro não confundir as coisas. Prefiro não ter que dá um nome a isso. É melhor eu ter certeza. E quando for o momento certo, você será a primeira a saber.

A vontade que vinha de dentro de Melina era muito maior do que ela poderia suportar. Uma vontade que ela não poderia conter. O momento era a apropriado, as palavras eram certas. Conter a sua vontade seria errado. Errado também seria se ela não tivesse coragem suficiente de fazer o que tinha vontade.

Tudo aconteceu muito rápido, como num passe de mágica. E ela o beijou. No momento em que seus lábios colaram um no outro, ela sentiu o gostinho de chocolate. Passou-lhe pela cabeça que poderia se arrepender por ter tomado a iniciativa, ela estragaria a amizade e Nicolas nunca mais a olharia da mesma forma. Mas nada mais importava, apenas o que estava acontecendo naquele momento.

Nicolas não recuou, se entregou pelo momento que esperou por todos seus dezoitos anos de vida. Nicolas ainda não tinha beijado uma garota. Ainda não tinha se sentindo a vontade, esperava pela garota certa e pelo momento certo. E agora ali, tudo parecia certo e perfeito. A sensação não era exatamente como ele havia imaginado, porque era ainda muito melhor.

O beijo era lento, suave e doce. O gosto do sorvete de chocolate se misturava com o de morango. As horas pareciam ter parado e tudo que estava em volta havia desaparecido. Eram apenas eles dois, o beijo e mais nada.

Melina pausou o beijo. Abriu os olhos devagar e viu que ele ainda estava com os olhos fechados, como se estivesse adormecido e sonhando. Um sorriso tímido brincava no canto de seus lábios. Quando ele abriu os olhos, suspirou devagar como quem descarrega a alma. Dentro dos olhos de Nicolas, olhos cor de esmeralda havia uma luz. Uma luz sobrenatural. Melina não tinha certeza se estava delirando ou se seria os raios solares refletidos no verde dos olhos dele.

 Melina continuava a observa-lo, intrigada. Gostaria de poder dizer alguma coisa, qualquer coisa. Mais não haveria nada que tivesse o tamanho do que ela queria dizer. E o que a reconfortava, era que de alguma forma ela sabia, que em algum ponto, as palavras não ditas estavam lá, em algum lugar.

Nicolas pousou suas mãos no queixo de Melina e puxou seu rosto delicadamente e devagar novamente para junto do dele. Ele queria beija-la ainda mais. Se possível, beija-la para todo o sempre. Sorrindo, ela retribuiu seu beijo carinhosamente. Esperando pelo momento em que teria os pés fora do chão.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que muitas de vocês gostam do Henrique também. Há quem goste dos dois. Henrique e Nicolas. Assim como eu. Confesso que, já estou me aproximando do final da história. E tenho que escolher entre um deles como se eu fosse a Melina. Na verdade, eu já escolhi. Desde o inicio eu sei quem é o escolhido. É muito difícil pra mim, na verdade, já está sendo. Espero não decepciona-las. E continuem comentando!



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