Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 34
Verdades ocultas


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo recheado de conflitos. Conflitos adolescentes.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384593/chapter/34

Melina estava próxima à janela de seu quarto de costas para o céu azul e sem nuvens. Daniele estava a sua frente, recoberta de sacolas de compras. Coisas que ela havia comprado pra ela em um passeio pelo shopping e para o bebê com o dinheiro do seu primeiro salário.

— Esse não é linda, Meli? – Daniele estava deslumbrada com um vestido azul bebê para gestantes. — É a minha cara!

— Lindo! Combina muito com seus olhos! – Melina admirava sua amiga, contagiada por sua alegria inabalável.

— Olha só pra esse macacãozinho cor-de-rosa! – Daniele estendeu, deixando a mostra de Melina. Era mesmo, muito lindo!

— Desculpe interromper – Marcela entrou pela porta aberta do quarto. — Dani, tem um garoto lá fora querendo falar com você! Parece ser urgente – ela pausou. — E ele é um gatinho!

Daniele correu, saindo do quarto às pressas.

— Oi, Melina. Como vai? – Marcela forçou uma simpatia. — E seu namorado, Thomaz? Mandou noticias?

— Oh, não – Melina ficou constrangida. Não está acostumada as simpatias de Marcela, por mais que não acreditasse. — Não consigo falar com ele por celular.

Marcela deu um risinho e saiu jogando os cabelos negros para trás como quem sabia mais do que deveria.

Daniele se encontrou com Rafael pelo corredor, do lado de fora do apartamento. O jovem tinha em mãos todo o dinheiro que havia pegado emprestado de Daniele, agora ele devolvia.

— Não precisava... – Daniele sentiu o rosto corar. Mal podia olhar dentro dos olhos esverdeados do moreno.

— Claro que precisava Daniele. Você foi muito boa em me emprestar essa grana! – ele colocou as notas de dinheiro dentro da mão dela e a fechou cobrindo com sua grande mão.

Ela sentiu ao seu toque e estremeceu.

— Eu pensei que você nunca iria me devolver. – ele tirou a mão sobre a dela. Daniele queria que ele não fizesse tirado.

— Então porque me emprestou mesmo assim? – ele descaradamente olhava para ela, deixando a loirinha constrangida.

— Por quê? Porque eu gosto de vo... – ela não tinha coragem suficiente para completar a frase. — Ah, não sei.

Eles se entreolharam, sorrindo.

— Mesmo assim, eu agradeço. – ele olhou bem para ela. — Sabia que poderia contar com você.

Daniele não teve certeza se ele acabara de piscar para ela.

— Ei, Daniele – ele de um passo a frente, ela prendeu a respiração com medo de que se soltasse, acabaria com aquele momento intimo. — Você está... Grávida?

Por um momento ela pensou não ter entendido.

— Sim, você está grávida! – ele não esperou pela resposta dela. — Olha só pra você... Sua barriguinha.

Ele pousou a mão sobre o ventre já volumoso e aparente.

— Você tá brincando comigo, Rafael? – ela o olhou bem nos olhos, friamente. — Você só pode estar brincando...

— Como assim? – ele arqueou uma das sobrancelhas. — Eu não estou brincando com você... Espera! Do que você tá falando? Eu não sabia que você estava grávida!

— Não sabia...? – Daniele está incrédula. — Como não sabia Rafael? Eu pensei que...

Então, ele não se lembra de nada?

— Esquece! – ela deu as costas, pousando a mão sobre a maçaneta da porta do apartamento. Daniele estava prestes a chorar, mas não ali, na frente dele. — Eu tenho que ir...

Ela entrou em casa, passando pelas meninas na sala de estar e se trancando no quarto, para que ninguém a visse chorar.


~*~


— Opa! – Melina parou, antes de entrar no quarto de Nicolas. — Eu não sabia que você estavam aqui juntos! Eu volto outra hora.

— Não! – Nicolas levantou-se, deixando a caneta e o caderno de lado. — Volta, Meli. Estávamos apenas estudando.

— Tudo bem. Vou deixar vocês estudarem em paz. Eu realmente volto outra hora. Não tem problema.

Ela deu meia volta, mas Nicolas a segurou pelo braço a impendendo de sair. Ele a encarava no fundo dos olhos. Olhos piedosos.

— Fica Melina, por favor.

— Não... Eu tenho mesmo que ir.

Se dependesse da profundidade dos olhos cor de esmeralda de Nicolas, ela teria ficado. Mas nem tudo dependeria da verdade de seus olhos, o melhor seria ela ir e voltar outra hora. Melina não queria bater de frente com Analu e nem ficar de lado enquanto eles estudavam.

Ela voltou para casa, levemente aborrecida, pensando no que faria sem Nicolas por perto naquele resto de dia, enquanto ele estava ocupado com a nova amiguinha. Analu.

— Melina – Ariela a pegou de surpresa, com uma expressão de preocupada. — Daniele se trancou no quarto e ainda não saiu de lá. Tem alguma coisa de muito errado acontecendo com ela. Você precisa fazer alguma coisa. Ela gosta tão mais de você do que de mim!

Melina se dirigiu até a porta do quarto. Porta trancada. Melina bateu levemente, chamando pelo nome de Daniele. Mas, ou ela fingia que não escutava e ignorava Melina; ou, Daniele estava apagada, talvez até dormindo.

— Veja o que eu achei no armário da cozinha – Ariela voltou a aparecer. — Uma chave! Ande, abra logo essa porta. E se tiver acontecido algo de grave com ela ou com o bebê?

Melina se apressou. Ao abrir a porta deparou-se com uma densa escuridão. E o choro baixinho, como a vez em que descobriu que a amiga estava grávida e com muito medo.

— Vou deixar vocês sozinhas. – Ariela sussurrou. — Qualquer coisa me grite. Estou logo ali. E depois, quero saber de tudo!

Melina não ousou em acender a luz. Apenas se aproximou da cama de Daniele e acendeu o abajur. Daniele estava adormecida, como ela já havia imaginado. Profundamente adormecida agarrada ao um urso de pelúcia que Nicolas havia lhe dado para o bebê, seu rosto está úmido de quem provavelmente esteve chorando.

— O que ela tem? – Ariela saltou do sofá ao ver Melina se arrastar até a sala.

— Ela está dormindo. Ela chorou, mas ainda não sei o por que. Vamos esperar que ela acorde e nos conte tudo.

— Melhor assim. – Ariela relaxou os ombros. — Vou preparar o jantar para quando ela acordar esteja tudo fresquinho.

— Quer ajuda? – Melina acompanhou a morena com seus cabelos afros amarrados no alto da cabeça. Ariela aceitou a ajuda.

Ariela teve a ideia, assim que terminaram o jantar, de acordar Daniele para poder comer algo. Mas Melina pediu a morena que não o fizesse e a deixasse descansar por mais tempo.

As duas sentaram a mesa de jantar, frente a frente, conversavam enquanto apreciavam a refeição daquela noite.

A campainha tocou.

— Eu atendo. – Ariela levantou-se animadoramente deixando sua comida esfriar no prato.

Passaram-se alguns segundos silenciosos, Melina que já acabara de comer deixou seu prato na pia e foi até a sala ver o que estava acontecendo e conferir de perto quem seria na porta.

— Henrique! – Ariela se jogou nos braços dele, sorridente. — Você sumiu! Porque não me ligou mais?

Melina ficou observando aquela cena um pouco mais afastada. Henrique que abraçava Ariela olhou para ela por cima dos ombros da morena e sorriu desconcertado pela situação.

— Que barulho é esse? – Daniele surgiu de repente. Com uma carinha fofa de sono e os cabelos loiros desalinhados. — Ah. Oi Rike. Bom te ver!

Henrique a cumprimentou, fazendo de tudo para se afastar da pegajosa Ariela.

— Que bom que você acordou amiga! – Melina foi até Daniele. — Venha comer algo. Precisamos conversar. Ariela e Henrique – Melina se virou para os dois, no centro da sala de estar. — Fiquem a vontade.

Melina observava atentamente Daniele devorar seu prato de comida sem deixar para trás nenhum grão de arroz. Depois, Melina insistiu que Daniele lhe contasse o que havia acontecido.

— Eu não acredito! Como assim ele não se lembra de que você está grávida? Ele simplesmente não sabe? Como...?

— Eu não sei, Meli. Realmente não sei.

Daniele estava com os olhos baixos sobre o prato de comida já vazio. Melina notou que ela estava muito aborrecida e prestes a chorar. A loirinha não suportou por muito tempo e chorou, fungando.

— Não posso acreditar. – Melina foi abraça-la. — Eu preciso fazer alguma coisa... Já sei! Eu vou até lá. Preciso falar pessoalmente com ele.

Daniele não teve forças para protestar. Melina saiu da cozinha e passou por Henrique e Ariela na sala de estar muito rapidamente, batendo a porta atrás de si. Ela subiu as escadas até o andar de cima e bateu ferozmente na porta de madeira degradada.

Alguém gritou do outro lado, impacientemente.

— Oi gatinha. Você demorou – um garoto muito alto esboçou um sorriso ao se deparar com Melina de frente para sua porta. — Entre.

Melina ignorou seu olhar insinuoso e entrou assim mesmo, certa do que estava prestes a fazer.

A minúscula sala de estar cheirava a tabaco, além de estar terrivelmente desorganizada. Dois garotos assistiam a um jogo de futebol na tevê, outro estava em um dos sofás com um pedaço de pizza metade dentro da boca e metade nas mãos gordurosas.

— Eu quero falar com Rafael. Ele está?

Todo voltaram suas atenções para Melina.

— Seja bem-vinda gracinha – um deles brincou, os outros riram alto. — Você quer mesmo só falar com o Rafa? Não teria um tempinho para cada um de nós?

— Essa daí não é guria que mora no andar de baixo com mais aquelas outras três?

— São todas maravilhosas! – Melina sentiu o tom de malicia.

Ela ignorou todos os comentários, sentindo verdadeiramente constrangida. Quase arrependida de estar ali sozinha entre todos eles.

— Ei. Quem está ai? – alguém gritou do corredor dos quartos. — Quem é você? O que faz aqui? – era o Rafael com um cigarro pendido entre os lábios.

— Ah, oi Rafael. Não tenho certeza se você se lembra de mim – ela se lembrou do terrivelmente momento em que ele quase a forçou beija-lo nas escadas do prédio, ainda deu um soco no rosto de Nicolas e depois fugiu. Melina sentiu calafrios. — Posso falar com você rapidinho?

— Claro, gatinha.- ele lembrou, sorrindo. — Vem. Vamos até a varanda. Poderemos conversar melhor.

Melina o seguiu.

— O que será de tão importante assim? – um dos garotos perguntou para o outro. Curiosos.

Na varanda, Rafael virou-se de frente para Melina, fazendo com que ela olhasse nos olhos cor de esmeralda dele.

— O que você quer? – ele foi um tanto rude. Melina engoliu em seco. Estaria fazendo o certo?

— Queria falar com você sobre Daniele. – ela desviou os olhos, procurando uma postura de quem não estava ali para brincadeiras.

— O que tem ela? – ele a encarava. — Eu já devolvi todo o dinheiro que eu devia para ela. Hoje mesmo.

— Que dinheiro? – Melina arqueou uma das sobrancelhas, ela esperou pela resposta, mas não obteve. — Rafael, você realmente não sabia que ela estava grávida? Daniele me contou tudo!

Melina resolveu ir direito ao assunto, sem rodeos.

— Eu não sabia. – ele sorriu torto. — Eu pensava que ela fosse uma menina mais de respeito... mais direita... séria. Mas pelo visto, me enganei. – ele riu, jogando o cigarro de lado. — Tão novinha e grávida.

Ele balançava a cabeça negativamente.

— Você deveria ter mais respeito pelas mulheres, sabia? – Melina não conseguiu conter a raiva que estava sentindo dele. Ainda mais depois de seu infeliz comentário sobre Daniele.

— Que respeito? Nem ela se deu ao respeito – ele riu. — Porque eu deveria dar? Daniele tem o quê? Dezoito anos? – Melina limitou-se a responder. — Eu que faço tanta coisa errada nessa vida... Mas ser pai tão cedo assim... Não é pra mim. Coitadinha.

Melina pensou em dar uma tapa no rosto dele.

— Você é um imbecil! – ela disparou, fechando os punhos com forças. — Um verdadeiro babaca! – Rafael a olhava, intrigado. — Não sei como Daniele é capaz de ainda confiar em você... Idiota!

— Tá maluca garota? Você veio até a minha casa só para me insultar? – ele tinha frieza no olhar, certo desprezo. — Pode parar. Dê meia volta e volte para sua casa de onde você nunca deveria ter saído. De insultos como os seus eu estou farto! Sua patricinha... Para que você realmente veio aqui falar comigo? Não estou entendendo.

— Eu vim para defender a minha amiga. Você a magoou! Na verdade, você é detestável. Só o simples ato de você respirar já faz com que a minha amiga sofra. Você não entende... Daniele não está grávida por escolhas, foi um acidente. Daniele foi leviana e deixou se levar por os encantos de um babaca...

— E o que diabos eu tenho a ver com isso?

— Você é o pai. Você quem a iludiu. Você é responsável por tudo de ruim que está acontecendo a ela, tirando bebê, que foi a melhor coisa que você poderia ter dado a ela em toda a sua vida. E não se faça de desentendido, pois se você não se lembra dos seus atos, coloque a cabeça pra funcionar e assuma sua responsabilidade como pai. Ela precisa de você! Essa criança terá que ter um pai.

Rafael estava boquiaberto, mal conseguia assimilar as palavras.

— E se você voltar a fazer algum tipo de mal a minha amiga, que está mais sensível com essa gravidez, mais emocional e sensibilizada... Eu juro, que parto você ao meu sem um pingo de dó!

Melina apontava o dedo na cara de Rafael.

— Tá me escutando bem? – ele não respondeu, estava chocado demais para compreender. — Não ouse a me desafiar. Você não conhece o meu lado mau. Ninguém conhece! Se você arriscar, será o primeiro a conhecê-lo! E poderá se arrepender.

Melina deu as costas e saiu, batendo o pé.

— Calma gata! – um garoto gritou, quando ela bateu a porta fazendo as paredes tremerem. — Adoro garotas selvagens!

Melina desceu as escadas bufando de raiva.

— Onde você estava? Onde se meteu? Eu estava preocupado! Pensei em ir te procurar, mas...

— Não se preocupe, eu estou bem. – Melina passou por Henrique, atônito, e abriu a porta do apartamento.

— Dá pra me contar o que está acontecendo aqui?


~*~


— Analu... Não. – Nicolas recuava para trás. Por um momento acreditou que aquele momento finalmente aconteceria. Mas na hora H sentiu que não estava pronto e não estava com a pessoa certa.

— Porque não? – Analu voltou a se sentar sobre o carpete aveludado. Esteve tão próxima de finalmente beija-lo, mas Nicolas deu para trás feito uma garotinha amedrontada.

— Você não entende. – ele não conseguia olhar para ela. — Seria meu primeiro beijo.

— Ainda Nicolas? – ela se surpreendeu. — Então porque não agora? Está mais do que na hora de você arriscar. Ou, assim como algumas garotas, você acredita que um dia uma princesa virá em sua busca para dar-lhe o primeiro beijo de amor?

Ele sentiu que ela debochava dele. Não deveria ter contato a ela de um dos seus segredos íntimos. Analu não é como Melina, ela não compreende como Melina um dia compreendeu.

— Não é bem assim. – ele estava envergonhado.

— Pelo visto, é por isso que você espera. Como nos filmes, o verdadeiro beijo do amor. Isso é ridículo Nicolas! Você é um garoto! O primeiro garoto que eu conheço que ainda não beijou.

— E dai? E se eu estiver esperando pelo momento e pela pessoa certa? – ele se irritou. — De qualquer forma, essa pessoa não é você e o momento não é agora.

Analu o encarou friamente e levantou-se para ir embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comente! Comente! Comente! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luz Dos Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.