Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 32
O relacionamento por um fio


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo se resume em Rebeca, Thomaz e Melina.



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Rebeca bate com seus saltos no piso do corredor do escritório com algumas pastas nas mãos coladas ao peito. De sua sala, Tiago a ouve passar. Ele pula de sua cadeira e vai em direção a sua porta, dando de frente com Rebeca que abre um largo sorriso. Ela usa um batem vermelho provocativo, seu decote é exagerado, suas longas pernas estão expostas. Ele retribui o sorriso, depois passa a língua umedecendo seus lábios.

Rebeca olha de um lado para o outro. Não vê ninguém. Ela solta um risinho. Ele também. Tiago pisca com um dos olhos. Rebeca entende o recado. Dando um pulo para dentro da sala dele fechando a porta com a ponta dos saltos.

Os dois se atacam. Rebeca empurra Tiago até a parede atrás da porta. Ele respira ofegante sentindo os lábios dela tocarem os seus. Tiago solta um risinho. Rebeca morde os lábios inferiores dele. Tiago tenta abrir os botões da blusa branca de seda dela.

— Você demorou tanto! – ele beijava o pescoço dela. — Pensei que não viria mais.

— Desculpe – ela sussurrou no ouvido dele. Os pelos de seu corpo se arrepiaram. — Eu tive que ir a sala do meu chefinho...

Tiago parou tudo o que estava fazendo e olhou para ela.

— Eu nunca vou entender o Thomaz. Ele tem você sempre disponível para ele, praticamente o dia todo e nunca usufrui do que tem. – Tiago balança a cabeça negativamente. Inconformado. — Se eu fosse ele... Bom, deixa pra lá. O que importa é que eu não tenho "medinho" da minha namorada. Eu quero você! Toda pra mim...

Tiago beija Rebeca com vontade, ainda tentando abrir os botões da blusa dela. Rebeca, por sua vez, tem no rosto um sorriso diabólico.

Tolinho.


~*~


— Ansioso para a viagem chefe? – Rebeca vinha sendo muito mais prestativa nos últimos dias. Naquele momento, ela estava no quarto de Thomaz, ajudando o rapaz com as malas.

— É. Estou. – ele forçou um sorriso. Não, não estava ansioso. Thomaz está preocupado, imaginando mil e uma possibilidades de tirar Rebeca de seu caminho durante essa viagem, antes que...

Desde que soube dessa tal viagem a trabalho, Thomaz mal consegue dormir por todas as noites seguintes. Pensando em como a aproximação dele com a sua secretária vinha afetando seu relacionamento com Melina.

Ele a ama, sempre teve certeza disso. Melina foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida. Uma garota diferente de todas que ele já conheceu. Uma garota como ela ele não poderia encontrar em mais nenhum outro lugar. Melina é única. Ela é especial.

Rebeca por outro lado, o atraiu desde que pisou os pés em sua sala candidata a vaga de secretária. Ela é experiente, sensual, corpuda, provocante e está sempre ao seu lado, como uma boa amiga. Thomaz não poderia ter encontrado secretaria melhor, sempre prestativa, cuidadosa, a disposição e faz com que ele se sinta melhor, sempre que tem que ficar até mais tarde no trabalho ou quando Thomaz está cheio de papéis para assinar e clientes para ouvir.

Rebeca traz café, água, chá, lanches que ela mesma prepara em seu flat. Rebeca faz massagem em seus ombros, diz coisas boas que o incentivam. Rebeca o leva para barzinhos para espairecer. Ela conhece bons restaurantes, prepara almoços em seu flat para ele e o ajuda na arrumação de seu quarto, no apartamento.

Rebeca é perfeita.

É uma mulher magnifica, ele admite. Sempre cheias de admiradores e pretendentes. Mas ela não dá à mínima, para nenhum deles. Está solteira há um bom tempo, pelo que disse. Rebeca está sempre focada em sua carreira e tem a ânsia de subir na vida e progredir profissionalmente.

— Não parece, você está com uma carinha... – ela para de dobrar as camisetas dele. Coloca as mãos da cintura. — O que foi Thom?

— Nada. – ele vira as costas em busca do seu celular. Rebeca já sabe o que ele está prestes a fazer e não admite que ele o faça.

Rebeca puxa Thomaz pelos braços fazendo com que ele fique de frete para ela. Os dois ficam próximos mais do que suficiente para que ele sinta o perfume provocante de sua secretária...

Sentindo-se impulsionada a beija-la, toca-la, sentir a maciez de sua pele, o perfume dos seus cabelos... Thomaz abaixa os olhos.

— Olha pra mim Thomaz! – Rebeca ergue o queixo dele. — O que está acontecendo com você? Até parece que não me quer por perto.

— Não é isso, Rebeca. É que...

— Thomaz! Você não me deseja, é isso? Você não gosta de mim nenhum pouquinho? – ela tem a voz falha. Até parece que vai... Chorar. Sim. Thomaz confere. Rebeca está prestes a chorar. — Eu sou feia é isso? Você se arrepende de ter me contratado?

Rebeca força um choro que Thomaz acredita. Ela o solta e vira-se de costas tentando disfarçar sua tristeza forçada. Rebeca leva as mãos ao rosto e cobre os olhos, olhos que não choram por vontade própria.

— Rebeca... Não é isso. – ele dá um passo à frente. Receoso. Deveria toca-la? Reconforta-la? — Eu só acho que...

— Você me odeia! – ela o interrompe. Thomaz engole em seco, certo de que ela está entendendo tudo errado.

Thomaz toca o ombro dela.

— Não diga isso! Eu gosto de você.

— Mas não como eu gosto de você. – finalmente ela estava chorando pra valer. Seu plano estava dava certo.

— Rebeca, eu tenho Melina...

— Esqueça ela! – ela se vira de frente para ele bruscamente, com a maquiagem borrada pelo choro. Ela parece frágil. — Melina não merece um homem como você. Ela é só uma garota Thom... Olhe pra mim. Veja. Eu sou uma mulher de verdade. Eu sou a mulher da sua vida!

— Não confunda as coisas. – ele não conseguia olhar para ela. Thomaz não suporta ver uma mulher chorar. — Eu amo Melina...

— Não! Não ama! – Rebeca dispara. — Confesse que o namoro de vocês nunca mais foi o mesmo! Confesse que você se sente atraído por mim! Você nem tem tido tempo para ela... Eu venho sendo tão boa... Tanto amiga quanto secretária. Porque você não olha pra mim como a mulher certa pra você?

Thomaz engoliu em seco. Queria fugir dali.

— Eu te escuto, eu te acalmo, eu te mimo, eu faço tudo por você! Thomaz, eu... Sou apaixonada por você. Desde o primeiro instante em que te vi... Eu sempre soube que você era o homem certo pra mim. Eu tentei de todas as formas, você sabe que eu tentei; ajudar você com Melina. Mas vocês são de tempos diferentes. Ela ainda é uma adolescente e você... Um homem. Um homem ocupado, um homem que pensa no futuro, no trabalho. É responsável, inteligente! E ela é só uma garotinha em busca dos sonhos...

— Mas eu a amo! – era tudo que ele conseguia dizer. Amar Melina era sua única certeza, ou quase. Pois Rebeca tinha razão de certa forma.

— Seja justo com ela, Thom. Melina precisa de você. Uma garota precisa de proteção. Mas você é um homem ocupado e não tem sido o melhor para ela. Confesse! Já eu – ela se aproximou mais. Thomaz pensou em recuar, mas a tentação é maior. — sou uma mulher! Eu posso te compreender. Trabalhamos lado a lado. Eu teria todo o tempo do mundo pra você! E não me queixaria... Você já pensou quantas vezes Melina quis dizer a você o quanto você esteve a afastado quando ela mais precisou?

— Não. Ela me entende... Melina sempre foi compreensiva.

— Sim, ela entende. Mas isso nem sempre é o suficiente. Ela não precisa das suas palavras, ela precisa do seu contato...

— Por favor, Rebeca. Não diga mais nada! Eu jamais deixaria Melina e ela jamais me deixaria também. Nós nos amamos!

— Você já não tem tanta certeza disso. – ela se aproximou ainda mais. — Olha pra mim Thomaz, diga que você tem certeza do amor que sente por ela. Diga!

— Eu tenho certeza...

Rebeca não permitiu que ele terminasse a frase e foi mais rápida, beijando-o a força. A princípio Thomaz pensou em recusar aquele beijo, mas ao poucos foi relaxando e cedeu as tentações de Rebeca. O beijo tinha um sabor prazeroso, exatamente como ele havia imaginado. E ele teve que corresponder, pois queria corresponder. Beija-la era uma de suas maiores vontades nos últimos tempos.

— O que é que está acontecido aqui? – uma voz familiar interrompeu aquele beijo. Os dois viram-se surpresos para a porta que esqueceram aberta.

— Tina? – Thomaz sentiu as lágrimas invadirem seus olhos, lágrimas de arrependimento. Agora era tarde demais.


~*~


— Thomaz! Ela está chegando! – Daniele berrou ao ouvir a maçaneta da porta de entrada se mexer.

Thomaz rapidamente apagou a luz deixando o quarto de janelas fechadas complemente escuro. Aquela fora a melhor ideia que ele teve em toda a vida, sem precisar da ajude ninguém. A ideia simplesmente surgiu de repente em um momento de desespero e arrependimento.

Uma surpresa para comemorar dois anos de namoro.

— O que está acontecendo aqui? – Melina entrou surpresa. Daniele já estava de saída e as outras duas não estavam em casa.

— Eu não sei. – Daniele pegou a bolsa sobre o sofá. — De qualquer forma, boa sorte. Amo você!

Daniele deu um rápido abraço em Melina e se foi.

— Boa sorte? Boa sorte pra que? – ela não perguntou a ninguém especifico. Já que estava sozinha. — Bel? Bel, cadê você?

Melina entrou corredor a dentro a procura de sua cachorrinha, Thomaz ouviu seus passos e se preparou para surpreendê-la.

— Nossa! Pra que todo esse escuro? – Melina entrou no quarto. O coração de Thomaz batia tão forte que ele sentiu ser possível ouvir as batidas. — Vou abrir as janelas.

Antes, ela acendeu as luzes e se deparou com a surpresa. Melina deu um pulo para trás e sua boca formou um O.

Sobre a cama e pelo chão havia pétalas de rosas vermelhas espalhadas por todos os lados. E corações pequenos cortados em papel cartão, cada um com uma frase escrita por Thomaz. No centro de sua cama, Melina viu um mosaico de fotos. Fotos do casal. Fotos tiradas recentemente e fotos mais antigas de todos os momentos que eles compartilharam juntos.

Thomaz ligou a musica em seu celular, que deveria tocar de fundo para adocicar aquele momento:

Over My Head (Cable Car) The Fray.

Melina sentiu os olhos marejados, viu Thomaz escondido próximo à janela e correu para abraça-lo.

— Feliz dois anos de namoro! – ele a apertou forte em seus braços. Como se fosse um adeus.

— Thom! Que surpresa linda! – ela se afastou para olhar melhor nos olhos azuis dele. — Você quem fez isso tudo sozinho? – ele assentiu orgulhoso de si. — É lindo! Obrigada!

Eles se abraçaram outra vez.

— Esses são os dois anos mais felizes da minha vida! – ela limpou as poucas lágrimas. — Espero que tenhamos muitos mais anos pela frente para comemorar.

Thomaz desabou em chorar.

— Oh, você também está emocionado querido? – ele não respondeu. Melina o confortou em seus braços. — Não chore. Eu amei! Obrigada...

Thomaz respirou fundo e conteve o choro, segurando o rosto de Melina entre suas mãos.

— Eu amo você Melina. Nunca se esqueça disso! – ele beijou os lábios dela. Sentindo o sabor de seus lábios como se fosse à primeira vez. — Você sempre será a melhor coisa que já aconteceu pra mim. E independentemente do acontecer, você sempre será o melhor de mim.

— É lindo! Mas... Por que você está falando assim?

— Melina, precisamos conversar. É muito sério, eu preciso ser sincero com você. Vamos jantar fora?

— Vamos! Claro. – ela estava preocupada.

Thomaz levou Melina ao jantar habitual que eles estavam acostumados a frequentar. Sentaram-se na mesma mesa próxima as janelas. Um de frente para o outro. Thomaz segurava a mão dela.

— Fale logo! O que é que você tem a me dizer? Estou ficando preocupada.

Thomaz tentou buscar dentro de si a melhor maneira de dizer aquilo. Ele deveria ser sincero com ela. Deveria contar tudo. Mas faltava coragem. Sabia que tudo o que tinha a dizer poderia destruí-la para sempre. E ver Melina sofrer não é exatamente o que ele deseja.

— O que desejam? – o garçom se aproximou com seu bloquinho de anotação. Thomaz deixou seus devaneios de lado.

Os dois fizeram os pedidos e aguardaram.

— Melina, é muito difícil pra eu ter que falar isso pra você. – ele apertou mais a mão dela entrelaçada a sua. Melina estava apavorada. Sentindo que algo de muito ruim estava por vir.

Thomaz se xingou mentalmente por ter sido tão estupido nos últimos meses. Ele nunca deveria ter feito o que fez. Estava profundamente arrependido tanto pelo beijo que deu em Rebeca, tanto por ter estado distante da própria namorada. Não teria uma melhor maneira de falar aquilo para ela, por mais bonitas que fossem suas palavras. Ele a machucaria e vê sofrer o faria sofrer também.

— Melina – ele tinha os olhos dentro dos dela. — eu vou ter que viajar a negócios.

Melina suspirou aliviada.

— Ah, então é isso? – ela estava se sentindo melhor. — Tudo bem querido, eu entendo. Não tem problema...

— Melina, não, espere – ele a interrompeu. — Você realmente me entende? Entende que sou um homem ocupado, que penso no trabalho, que não tenho todo o tempo do mundo pra você...

— Thomaz, pare. – Melina soltou um riso. — Eu sempre entendi que o seu trabalho exigi muito de você. E tudo bem pra mim.

— Tem certeza Melina? Você tem mesmo certeza de que não gostaria que eu fosse um namorado mais presente? Mais carinhoso? Talvez mais romântico? Ou quem sabe, mais preocupado com você?

— Thomaz, eu amo você. Eu amo você pelo o que é e não pelo o que eu gostaria que você fosse. – ela sorria lindamente. — Não estou entendendo aonde você quer chegar, mas imagino que você esteja preocupado com o nosso relacionamento, é isso? – ele não respondeu. Teve medo. — Tudo bem, Thom. Se você tiver que se ausentar por um tempo... Eu compreendo. Eu me orgulho de você!

Thomaz sentia-se amargamente arrependido. Porque foi tão longe com Rebeca? Porque permitiu que ela o beijasse? Melina é sincera, ela é doce e sempre o compreendeu, sempre o amou mesmo ele tendo todos os defeitos do mundo. Mentir não seria justo com ela. Mas ele não tinha palavras para se expressar. Como diria tudo a ela justamente quando eles comemoram dois anos de namoro? Não parecia justo.

— Thom, porque está chorando? – ela levantou-se. — Oh, não chore querido. Esse tempo vai fazer bem para nós dois! Você vai ver... No final vai dá tudo certo. – Melina o abraçou.

O garçom interrompeu aquele momento trazendo os pedidos.

— Sente-se melhor agora? – ela perguntou um bom tempo depois. Eles já estavam comendo.

— Sim. – ele mentiu, levando o garfo a boca sem conseguir olhar diretamente nos olhos iluminados de Melina.

Mais tarde, os dois caminhavam pelas ruas movimentadas do centro da cidade. Melina estava agarrada ao braço de Thomaz. Os dois conversavam animadamente. Como se mais nada importasse.

De repente, um cachorrinho magrinho de rua se aproximou, parecia faminto e muito sofrido. Todas as vezes que Melina se deparava com um animalzinho abandonado pelas ruas seu coração se partia ao meio. Ela sempre queria leva-los para casa e poder cuidar de todos eles, mesmo sabendo que isso seria impossível tamanha a quantidade de pessoas que abandonam animais todos os dias pelas ruas como se fossem lixo, descartáveis ou sem utilidade.

— Sai daqui! Fora – Thomaz expulsou o cachorrinho. — Sai daqui seu nojento. Não se aproxime. Você deve estar cheio de pulgas!

— Thomaz! – Melina o repreendeu. — Não fale assim. Coitadinho, está perdido e sozinho. Não seja tão sem coração.

Melina abaixou-se e fez carinho na cabeça do animalzinho.

— Melina, não toque nele. Ele pode estar cheio de doença!

— Eu não me importo. – ela se despediu do bichinho.

Os dois continuaram a caminhada, voltando para o carro.

— Me desculpe. Eu não quis parecer grosseiro – ele se referia ao mal jeito com o cachorrinho. — Eu sei o quanto você gosta deles!

— Tudo bem. Esse é o seu jeito – ela sorriu. — Já estou acostumada, Thom. E ainda assim, eu amo você.

Thomaz não resistiu. As palavras de Melina faziam com que ele se sentisse mais forte, mais corajoso, capaz de tudo para o bem dela.

Ele parou no meio do caminho, segurou as mãos dela e a beijou devagar. Uma cena um tanto romântico para aqueles que passavam por ali naquele momento.

Por fim, Thomaz olhou nos olhos de Melina sentindo-se maravilhosamente bem. Como se estivesse no céu.

Eu não posso contar a ela. Não agora.







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Notas finais do capítulo

Além de comentar, gostaria de poder saber um pouquinho melhor de você que vem acompanhando minha história. Sou muito agradecida a você! Vamos conversar um pouquinho? São perguntas simples e básicas, responda apenas se quiser: Quantas anos tem? De onde é? Qual seu nome? E sua música favorita? E obrigada ♥



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