Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 30
Confissões de um passado interminável


Notas iniciais do capítulo

Estou muito feliz por todos os comentários que venho recebendo ♥



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Henrique pensava na melhor forma de surpreender Melina, já que ele tinha feito um convite a ela, aquela noite no Mc Donald’s. Pareceu o certo a fazer, já que seu coração insistia em tê-la por perto. Deitado em sua cama, sexta-feira à noite, cheio de trabalhos da faculdade para entregar, ele rolava de um lado para o outro, pensativo.

— Melina? – ele ligou para ela. Precisava ouvir sua voz. — Eu tive uma ideia!

— Então, vamos lá, sem rodeios, diga! – ela insistiu. Pareci risonha do outro lado da linha.

— Amanhã! Vamos sair?

— Hum... Deixa-me pensar... Vamos! Amanhã! – não tinha porque ela não aceitar. Henrique vinha sendo uma ótima companhia. — O que você me aconselha usar? Vestidos? Jeans? Shorts? Para que eu possa ter uma ideia, já que você não me diz aonde vamos.

— Vista algo confortável. Não é nada formal.

Melina desligou o telefone deixando-o de lado. Voltou a sentar ao lado de Nicolas, sobre o carpete de seu quarto. Eles assistiam a um filme de terror com pipoca e refrigerante.

Como nos velhos tempos.

Melina acordou no dia seguinte com uma mensagem de texto de Henrique que dizia que a pegaria as quatro. Antes disso, ela aproveitaria para passar um tempo com seu pai e o pequeno Enzo, na casa de Leila.

— Nossa! Você coleciona porta-retratos? – Melina perguntou a Enzo. Admirada ao entrar em seu quarto na pequena casa. Enzo tinha milhares de porta-retratos espalhados por seu quarto azul decorado por estrelas, planetas e foguetes.

Era tudo muito bonito, exatamente como um dia ela idealizou para seus futuros filhos.

— Eu gosto de retratos! – Enzo ficou observando de longe, com um sorrisinho encantador.

— Mas... Nenhum deles tem você ou sua mãe? Por quê? – ela se aproximou dele. Sentando na cama do garotinho. — Parecem todos pessoas desconhecidas.

— Não são. – ele afirmou. — Quando eu compro ou ganho os porta-retratos não tiro as fotografias que já vem com eles. Prefiro imaginar que essas pessoas são conhecidas pra mim. Assim, posso inventar infinitas possibilidades de histórias para elas.

— Me conta uma! – Melina ficou empolgada. Enzo é garotinho um extraordinário. Inteligente e sonhador.

— Conto! – ele pegou um porta-retratos. Nele tinha uma foto de um velhinho sorridente. — Por exemplo, esse é o meu avô. Pai do meu pai que morreu quando eu nasci. Ele é um velho pescador. Sabe contas historias de mares como ninguém!

Enzo parecia tão convencedor em sua narrativa que Melina não resistiu a impulsiona-lo a contar mais historias sobre os possíveis conhecidos dos porta-retratos. Que na verdade era tudo fruto da imaginação dele. Nenhuma daquelas histórias ou pessoas era mesmo real, ele apenas gostava de inventar, criar, imaginar, sonhar.

— Melina, posso te contar um segredo? – ele se aproximou dela, falava baixinho. Como se ninguém pudesse escutar. — Eu gostaria de ter um retrato da minha família inteira: eu, mamãe, pai Alberto e você.

Melina sentiu os olhos marejados.

— Eu posso providenciar uma foto dessas pra você. – ela suspirou, contento o choro de emoção. — Mas você, me considera uma irmã?

— É claro! – ele sorriu radiante. — Eu sempre quis ter uma irmã como você! Mais velha e bonita. Meus amigos vão morrer de inveja!

Melina o abraçou forte.

— Seremos uma linda família!


~*~


— Você me parece mais feliz do que o normal. – Henrique comentou. Estavam dentro de seu carro. — O que aconteceu?

— Acho que ganhei um irmãozinho. – ela enxugou uma lágrima repentina que escorreu do canto de um de seus olhos.

Henrique parou o carro no estacionamento. Abriu a porta para Melina descer e ela olhou em volta, admirada com a vegetação.

— Vamos? Temos uma trilha para seguir. – ele segurou sua mão. A princípio ela pensou não pega-lhe a mão. Eles nem eram um casal de namorados. Mais o gesto pareceu bem amigável. Ela o segurou sentindo firmeza e intimidade.

A trilha era chamada de Trilha do Silencio.

Melina tinha muitas perguntas a fazer, mas pelo olhar do seu companheiro, já sabia que nenhuma delas ele responderia. Henrique preferiu dar ao passeio um ar de mistério. Já sabendo que Melina preferia ser surpreendida.

A trilha duraria por volta de trinta a quarenta minutos. Sem descidas ou subidas. Totalmente plana. Rodeada por arvores e o canto das aves no alto. O sol penetrava entre a vegetação, batendo no rosto de Melina fazendo com que seus olhos ficassem ainda mais claros. Uma brisa suave balançou os cabelos castanhos de Henrique.

Havia pedras pelo caminho, folhas e raízes. Henrique ajudou a Melina ultrapassar por todos os obstáculos, como um verdadeiro cavalheiro.

A trilha, assim como as outras, levava ao Pico do Jaraguá. O ponto mais alto da cidade de São Paulo. Onde de lá de cima é possível ver os prédios, a tantas casas, o céu levemente poluído e a vegetação densa em volta do pico.

O pico estava sempre bem movimentado por turistas e curiosos com suas maquinas fotográficas e seus amigos. À tarde de sábado fazia sol e com isso o movimento era constante.

— Isso é lindo! Nossa! – Melina foi mais a frente. Queria poder ver melhor os arredores da grande cidade. Tinha uma vista privilegiada dali de cima. — Faz me lembra de quando você me levou a praça pôr-do-sol, lembra? Mas aqui é ainda mais alto!

— Gostou? Te surpreendi? – ele ficou ao lado dela, olhando para a paisagem a sua frente.

— Henrique, isso é maravilhoso! Obrigada. Mais uma vez você conseguiu. Me surpreendeu! – eles sorriram um para o outro.

— Tá a fim de esperar o pôr-do-sol mais uma vez? – ela assentiu. Seria maravilhoso. Outra vez. — Vem! Vamos procurar um lugar.


~*~


Rebeca abria a porta do seu pequeno flat. Thomaz vinha logo atrás, era a primeira vez que pisava os pés ali.

Apesar de pequeno, o flat de Rebeca era muito bem organizado e decorado. O ambiente tinha o cheiro do perfume dela.

— Entra! Não tenha medo seu bobinho.

Thomaz sentou-se no sofá, receoso. Rebeca tirou de suas mãos a garrafa de vinho que ele havia comprado e se encaminhou graciosamente até a cozinha onde pegou duas taças.

— Mude essa cara chefe! – ela entrou a taça a ele e encheu com o liquido. — Hoje é o meu aniversário!

— Eu sei, desculpe. – ele tentou sorrir. Thomaz não conseguia tirar da mente Melina dizendo que lhe amava e só tinha olhos para ele. Estranhamente ele se sentia culpado por algo que ainda não tinha feito.

— Preciso tomar um banho, já que mais tarde vamos nos encontrar com meus amigos. – ela tinha um sorriso brincalhão correndo pelos lábios carnudos. — Fique a vontade, chefe. Eu já volto.

Rebeca trancou-se no seu quarto e seu sorriso forçado transformou-se em outro, diabólico. Ela pegou o celular dentro da bolsa de couro vermelho e digitou uma mensagem de texto endereçada para Marcela:


Essa é minha chance. Torça para mim.


Depois de jogar o aparelho sobre a cama, ela procurou dentro da mesma bolsa um pequeno frasquinho com um conteúdo precioso dentro. Olhando para o frasco seu sorriso se alargou. Rebeca o deixou de lado, sobre a cabeceira da cama e tirou a roupa, rumo ao banheiro.

Thomaz olhava para os lados, desconfortável. Bebericando o vinho. Ele sabia que não deveria estar ali, em respeito à Melina. Mas não resistiu ao chamado de Rebeca. Hoje era o aniversário dela. Tanto como chefe e amigo ele devia isso a ela.

Thom lembrou-se das tentativas de Rebeca seduzi-lo. É claro que ele gostava, como homem. Mas sabia que não era correto como um homem comprometido. Mas como resistir às tentações de uma mulher esbelta, sexual e provocante como Rebeca? Quase impossível.

Thomaz suava frio, tirou o paletó.

Enquanto esperava por ela, não resistiu à tentação de imaginar o que ela estava fazendo sozinha dentro daquele quarto. Thomaz ouvia o som do chuveiro e teve um pensamento traidor. Idealizando Rebeca a sua frente, seminua.

Eu tenho que sair daqui. Agora.

— Chefe? Aonde vai? – ela reapareceu. Enrolada a uma toalha com um sorriso provocante. — Não está pensando em ir embora, está?

Ele balançou a cabeça. Dizendo que não.

— Oh, acabou o vinho da sua taça. – ela deu um gritinho. — Eu sou uma péssima anfitriã. – ela pegou a taça e rebolou de toalha até sua cozinha. Onde despejou o conteúdo de frasco na taça antes de repor com o vinho que ganhou de presente de Thomaz.

Ela balançou a taça misturando os líquidos.

— Aqui está chefe, mais vinho. – ela chegou mais perto. Thomaz prendeu a respiração. Não queria ter que sentir o perfume do sabonete dela em seu corpo moreno ainda molhado. — E aqui está um petisco para você degustar. Prove! Eu mesma quem fiz.

Ele aceitou, agradecido.

— Vou me trocar, volto já. – ela voltou ao quarto. Tapando a boca para não rir. Agora você é meu.

Menos de cinco minutos depois Rebeca voltou a reaparecer ainda de toalha. Thomaz ficou surpreso. Por quanto tempo iria resistir?

— Ops! Esqueci-me de uma coisinha. – ela correu em direção à área de serviço. Molhando a casa.

Era uma peça intima, Thomaz viu quando ela voltou segurança a peça entre as mãos. Tentando esconder. Era preta.

Preto, minha cor favorita.

— Chefe, tá gostando? – ela se aproximou, preocupada.

De repente Thomaz sentiu-se tonto e encostou-se nela para não se desequilibrar.

— Estou. Tá tudo ótimo. – ele sorriu, sem jeito.

— Que bom. – ela o olhou. Ele tentou não corresponder ao seu olhar. — Chefe, tem uma coisinha no seu rosto...

Rebeca se aproximou, com os olhos grudados na boca de Thomaz. Ele prendeu a respiração outra vez, com o coração batendo rápido. Sabia que estava em uma zona de perigo e poderia sofrer muitas consequências. Mas não poderia resistir, há muito tempo vinha se segurando, tentando não cometer uma loucura.

Acho que não vou conseguir.



~*~


Henrique viu pelo canto do olho que Melina tremia ao mesmo tempo em que tentava disfarçar. Por sorte, ele havia trazido um casaco.

Os dois olhavam em silêncio o sol se por no horizonte.

— Tá com frio? – ele já ia tirando o casaco, mas antes achou melhor se certificar.

— Um pouco. – ela sorriu, voltando seus olhos para ele. — Mas não é isso que me preocupa.

— Então, o que é? – ele perguntou curioso. Teria feito algo de errado que pudesse aborrecê-la?

— Estou com uma sensação ruim. – ela se calou por um momento, depois soltou um risinho. — Bobagem minha!

— Ah. – ele suspirou aliviado. — Você está tremendo! Quer o meu casaco?

— Obrigada. Eu aceito sim. – ela deixou que ele o ajudasse vestir. O casaco tinha um suave cheirinho de colônia masculina.

— Melina – minutos depois Henrique quebrou o silencio. A esse ponto o céu já ganhava tons de azul escuro e alaranjado. — lembra quando nos falamos pela primeira vez?

Ela sorriu ao relembrar.

— Estávamos estupidamente envergonhados um com o outro – ela comentou, entre um risinho.

— Eu nunca soube como me portar diante de você – ele confessou, escolhendo as palavras certas para não acabar com o momento. Não queria ter que estragar tudo.

— Por quê? – ela o olhou. — Basta ser você mesmo. Eu sempre gostei do jeito como você é.

— Que jeito? – ele perguntou, na intensão de que ela falasse mais a respeito do que nunca foi dito entre eles.

— Não sei dizer – ela sorriu, desviando o olhar. — Digamos que você seja... Encantador.

Ele esperou que ela prosseguisse, sem que ele tivesse que impulsiona-la a continuar.

— Você me surpreende, Henrique. Você me irrita ao mesmo tempo em que me faz sentir especial. Você é espontâneo, tem um sorriso que arranca suspiro de qualquer uma. – as palavras saiam como facilidade de dentro dela — Gosto dos seus olhos, apesar deles ser um tanto... Comum. Eu sempre quis passar a mão no seu cabelo e sentir a macies dos fios. Tem também a sua pele, ela está sempre rosada e é tão natural. Você tem traços delicados, como se fosse um garotinho de apenas onze anos. – ela riu, de repente estava tão envergonha de estar dizendo aquelas coisas. Coisas que sempre quis dizer, mas lhe faltou coragem.

Os dois se silenciaram. Um silêncio perturbador.

— Eu também sempre gostei... De você. Tudo em você. Os cabelos de cor natural, longos e lisos. Seus olhos são tão cintilantes... Eu a invejo. – eles riram. — Sua pele é sempre tão macia e perfumada. Você está sempre bem arrumada e nunca exagera. Sua voz é doce e angelical. Você está sempre sorridente e quando está mal-humorada comigo ainda assim me faz sorrir. Na verdade, eu te provoco porque acho uma gracinha quando você está... Nervosinha.

Ela dá um soco no braço dele. Mas não dói.

Eles riem.

— Sem contar que... Eu tenho a necessidade de ouvir a sua voz... poder estar perto de você. Você é a garota mais incrível que já conheci! Eu não sei o que há comigo. Mas eu... Meio que... Gosto de você. E não sei expressar esse sentimento em palavras e nem em demonstrações. Porque acho que nunca será o suficiente...

Henrique se calou, crente de quem havia falado até demais.

Melina foi pega de surpresa com suas confissões.


~*~


Rebeca passa delicadamente a ponta das longas unhas pintadas de vermelho no canto da boca de Henrique e tira de lá um pedacinho de um petisco. Depois, ela se afasta, virando-se de costas e escondendo o sorriso malicioso. Thomaz respira aliviado.

Por um momento pensou que ela iria... Beija-lo.

Outra vez, Thomaz sente-se tonto, como se tudo em volta tivesse girando... Girando... Girando lentamente. Ele caiu sentado sobre o sofá de Rebeca. Abaixa a cabeça e fecha os olhos, passando as mãos pelos cabelos dourados.

— Chefe, você está bem? – Rebeca volta a se aproximar. Inclinando seu corpo por cima de Thomaz. Ele inala o perfume do xampu dos cabelos negros e molhados dela.

— Eu não estou me sentindo... Muito bem – a voz dele é falha e rouca. Exatamente como Rebeca esperava.

Thomaz agarra uma das pernas grossas e nuas de Rebeca, ela sente a força dos dedos dele, sem unhas, gravando na sua pele.

Ela dá um gemidinho.

Espero por isso há tanto tempo!



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Notas finais do capítulo

Continue comentando que eu não pararei de postar um só quer dia.



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