Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 21
Bilhetes anônimos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura a todos.



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Melina e Nicolas saíram do trabalho aquele dia e foram até o posto mais próximo. Melina precisava encher o tanque do seu carro. Nicolas a acompanhava do lado de fora do veículo.

— Eu não acredito! – Nicolas travou. Estava perplexo com o que via em outro veículo, parado ali próximo.

— O que foi, Nick? Porque essa cara? – Melina perguntou, sem conseguir entender porque Nicolas mudara de uma hora pra outra.

— Olha lá – ele apontou com discrição, tentando disfarçar. — É ela! É claro que é ela! Gabriela!

Gabriela? Que Gabriela?

Melina lembrou-se. Gabriela era a garota por quem Nicolas era apaixonado. Uma loura de pernas longas e olhos claros, exatamente como ele descrevera, parecida com um anjo.

— É a sua chance! Você ainda gosta dela – Melina sorriu. — Eu vou lá, falar com ela. Te dá uma forcinha.

Antes que Nicolas pudesse impedir, Melina caminhou em direção à garota parada de frente para um carro, acompanhada de outra garota.

Nicolas estava constrangido com aquela situação. A melhor ideia que teve foi voltar para dentro do carro e se esconder lá dentro.

Ele gostaria de ter dito a Melina que ele já não gostava tanto assim de Gabriela e já não pensava mais nela como antes. Mas Melina não deu escolhas e foi fazer o que achou ser melhor para seu amigo.

— Olá. Eu sou Melina – ela sorria. Gabriela, muito simpática, retribui o sorriso. — Que bom te conhecer Gabriela! Finalmente.

— Ah – Gabriela soltou um risinho de constrangimento. — Desculpe, mas eu não me lembro de conhecer você.

— Sim, é verdade. Não nós conhecemos – Melina acenou para a garota ruiva, acompanhante de Gabriela, que estava dentro do carro ouvindo musica. — Eu sou amiga do Nicolas, o ruivinho. Conhece?

— Sim! – Gabriela estava surpresa. — Nicolas! É claro que o conheço. Moramos na mesma rua. Mas o que tem ele?

— A verdade é que ele gosta de você há muito tempo – Melina foi direta. — Ele é um garoto tímido... Eu achei melhor ajudar.

Gabriela ajeitou os cabelos claros. Ela é mesmo uma garota deslumbrante, que chama a atenção de todos por onde passa.

Gabriela trocou um olhar com sua amiga.

— Desculpe Melina. Bem... Como eu poderia te dizer isso? – a garota refletiu, buscando palavras certas. — A verdade é que eu... Bom... Nós – ela olhou de novo para a ruiva. As duas tinham certa cumplicidade. Como verdadeiras amigas. — Eu, melhor dizendo, particularmente sempre adorei o Nicolas. Ele é um garoto lindo, cheio de inúmeras qualidades, admirado...

Melina se encheu de expectativas. Tudo estava se encaminhando para o caminho certo.

— Mas o problema é comigo – seu sorriso desapareceu. Para Melina, a loirinha, parecia um tanto intimidada. — Eu sempre soube que ele gostava de mim. Essas coisas, nós meninas, sempre sabemos. Assim como ele, os outros garotos também gostavam de mim. Mas eu, apesar de gostar de todos eles de uma maneira diferente, nunca pude corresponder. Porque eu...

Melina estava começando a ficar impaciente. Afinal, o que Gabriela tanto queria dizer que não conseguia? Qual seria o problema dela? Nicolas é ótimo, porque não gostar dele?

— Eu sou lésbica. Essa é a verdade – Gabriela e a ruiva trocaram sorrisos de cumplicidade.

Melina apesar de confusa e bastante chocada com a novidade começou a compreender aos poucos o que elas tentavam lhe dizer.

— Eu e a Bruna, somos namoradas.

— Oh. Eu sinto mui-muito! Eu não sabia que você... Bem... Agora eu sei porque você não podia corresponder...

Melina não tinha palavras.

— Tudo bem, Melina. Como você poderia adivinhar? – Gabriela sorrio. — Nicolas é um garoto fantástico! Você, melhor do que ninguém, como amiga dele deve saber disso. Mas eu, eu não poderia gostar dele. Porque eu gosto de meninas. Ainda hoje, é muito difícil dizer isso as pessoas, elas não entendem. E naquele tempo, ainda adolescente, foi ainda mais difícil pra mim. Por isso, não fui sincera com ele antes. Por medo dele não poder compreender. Assim como os outros.

Melina abraçou a garota e depois de se despedirem e se desculparem uma com a outra, Melina voltou para perto do seu carro, onde o tanque de combustível já estava completo.

— Não me diga nada! – Nicolas tapou os ouvidos, feito uma criança mimada. — Pela sua expressão, não tem boas noticias! Eu prefiro ficar sem saber – no fundo a curiosidade o matava. — Ela me odeia é isso? Ela nunca foi com a minha cara...

Como explicaria isso a ele?

— Não é isso Nick! Pare de paranoias. – ela o interrompeu, ligando o moto do carro. — Gabriela, só não gosta de... Garotos!

— Como assim? – Nicolas ficou boquiaberto. — Não entendi! Me explica essa historia melhor.

— Ela, só nunca te deu bola, porque preferia garotas. Ela namora aquela garota, a ruiva dentro do carro. Elas são um casal, entendeu?

Nicolas entendia, mas não conseguia acreditar.

Melina dirigiu, de volta, para casa.

— Sinto muito. Mas todo esse tempo que você foi apaixonado por ela, foi desperdiçado. – ela olhou para ele, depois de parar o carro.

— Como eu sou estupido! – ele estava irado. — Perdi todo o meu tempo! Como não percebi antes Meli?

Nicolas saiu do carro, batendo a porta logo atrás.

— Nick, esse tipo de coisa não fica estampada na testa das pessoas, tipo: eu sou homossexual, olhem! Elas têm medo da reação das pessoas, especialmente das mais preconceituosas. Não é fácil.

— Não. Não é fácil... – ele ainda parecia inconformado. — Se não é fácil pra mim que até hoje nunca beijei uma garota, imagine pra quem gosta de alguém do mesmo sexo.

Melina não conseguiu conter o riso.

— Tenha paciência! Você só tem que esperar a pessoa certa.

— A pessoa certa? Até quando Melina?

Melina abraçou o amigo. Ao soltá-lo, viu que do bolso do moletom dele caiu um pedaço de papel. Ele abaixou na mesma hora para pega-lo.

— O que é isso? Posso saber? – ela perguntou.

Nicolas ficou sem jeito.

— Isso? – ele mostrou o papel. — Isso é um bilhete. Um bilhete anônimo. Eu o recebi hoje, durante umas das aulas. É o segundo que recebo de alguém que eu desconheço.

— Tá brincando? – Melina pegou-o. — Me conta essa história direito! Você ia mesmo esconder isso de mim?

— Não parecia tão importante. – ele deu de ombros. — Parece que tenho uma admiradora secreta.

Melina ficou empolgada com a ideia e abriu o pedaço de papel em forma de bilhete o mais depressa que pôde.


Nick (se é que posso te chamar assim),

Desde o primeiro dia em que vi você em sala de aula, confesso que sua falta de jeito me deixou apaixonada. Tenho tentado evitar me sentir assim por você, pois mal o conheço. Tudo que sei é o mínimo. Mas o mínimo já me deixa satisfeita. Fazendo com que eu goste ainda mais de você!

Admiradora secreta.


Ao terminar de ler, Melina sentiu-se estranhamente enciumada, não pôde evitar. Mas ao mesmo tempo ficou contente e empolgada com a ideia de Nicolas ter uma admiradora. Ela sendo secreta, tornava tudo ainda mais encantador.

— Esse é o primeiro? – ele assentiu. — Onde está o outro? Ah Nick, isso é tão lindo! Quem será que é?

— O outro está em casa, guardado. Te mostro amanhã, na faculdade. – ele não parecia tão empolgado. — Eu não faço ideia de quem ela possa ser. Não esperava que alguém se admirasse por mim...

— Não seja tão modesto – Melina deu um soco de leve no ombro dele. Nicolas riu. — Mas me diga, como foi que você encontrou o bilhete?

— Eu estava na aula de Citologia, prestando atenção na explicação, como de costume. Mas como fui dormir tarde na noite anterior, falando com você por telefone, acabei me debruçando sobre a mesa, sentindo os olhos pesados. Você sabe que as carteiras às vezes são todas riscadas, desenhadas e tem até escritos. Um dos escritos, no canto na mesa, dizia: Procure por algo debaixo da mesa. É pra você.

Nicolas pausou, deixando Melina ansiosa.

— Primeiro fiquei sem entender, se era uma brincadeira ou se alguém queria se comunicar comigo. Resolvi arriscar. Passei a mão por de baixo da mesa, disfarçadamente, e me surpreendi, com o bilhete pregado na madeira com uma fita adesiva. Então, fiquei com receio de pegar e se não fosse pra mim? Minha curiosidade falou mais alto e o bilhete era de fato pra mim.

— Ah! Isso é tão romântico! – Melina suspirou. — Mas e quando você entrou na sala, antes de saber do bilhete, não desconfiou de nada ou de ninguém? Quem já estava lá?

— Como eu não sabia do bilhete, eu não desconfiei de nada. Apenas cumprimentei a pouca galera que já estava acomodada no fundão e me sentei, no meu lugar de sempre, na frente. Ao meu redor, depois de ler o bilhete, olhei para ver se alguém me dava alguma pista ou se alguma menina era suspeita, mas, não vi nada.

— Temos que descobrir quem é ela!

Nos dias seguintes, tudo que Melina mais queria fazer enquanto estava no prédio da faculdade era descobrir quem seria a admiradora de Nicolas. Mesmo que ele não estivesse nenhum pouco empolgado com a ideia. Ela queria saber, até mesmo antes dele, caso a garota não fosse alguém que prestasse ou que acabasse o ferindo.

— Ainda procurando a tal admiradora? – Daniele se aproximou, durante o intervalo.

— Sim. Quer me ajudar? Nem sei por onde devo começar – Melina soltou um risinho.

— Não posso! Vou fazer meu exame pré-natal – a jovem abriu um largo sorriso. Esteve empolgada a manhã inteira por aqueles exames.

— Quer que eu vá com você? - Melina sugeriu. Daniele não poderia ir sozinha, ainda mais, que o pai do bebê não estava nem ai.

— Não precisa Meli. Vou sozinha, numa boa. É até melhor. Esse momento é importante pra mim. Desculpe se eu parecer um tanto rude ou egoísta, mas, esse momento é meu.

Melina podia compreender.

— Tome isso aqui – Daniele lhe entregou um pedaço de papel. — Nick está na biblioteca, estudando. Pediu que eu lhe entregasse o bilhete que ele havia prometido lhe mostrar. Da tal admiradora.

Depois que Daniele se foi, Melina foi até um dos bancos vazios no jardim do prédio da faculdade. Um lugar bonito, com sol.



Nicolas,

Sei que vai parecer loucura, mas estou mesmo gostando de você! Acredite em mim!

Sou muito tímida também, tenho receio de me aproximar por não saber qual seria sua reação em relação a mim. Mas, queria muito poder te conhecer um pouquinho melhor. Seria possível?

Quando quiser falar comigo, saber alguma coisa; já sabe como chegar até mim: embaixo da sua carteira no laboratório de química, é o melhor lugar.

Admiradora secreta.


Melina foi até o quarto andar, onde Nicolas estaria na biblioteca estudando. Procurou por ele e sentou-se ao seu lado.

— Desculpe interromper, Nick. Mas você não acha que seria melhor responder essa garota? Ela tem tentando de toda forma se aproximar, mas você não parece está interessado.

— E eu não estou, Meli. Eu realmente não estou interessando em saber quem ela é como você. – Nicolas apoiou os cotovelos sobre a mesa. — Eu até entendo que ela seja tímida, assim como eu. E que tenha medo de eu não gostar dela como ela gosta de mim, mas, não seria mais fácil se ela desse as caras e arriscasse?

— Sim, seria bem mais fácil. Mas cada um tem um jeito de se expressar. Nem todos tem facilidade em lidar com os sentimentos. – Melina segurou a mão de Nicolas sobre a mesa. — Nick, dê uma chance a ela? Não custa nada.

Nicolas olhava nos olhos de Melina e sentia uma profunda vontade de tê-la em seus braços. Sem segundas intenções, apenas tê-la pertinho, para poder cuidar e proteger.

Mas como diria algo assim para ela?

Melina estava sendo uma boa amiga, ainda melhor do que ele esperava. Nos últimos dias ela vinha se empenhando de todas as formas atrás dessa tal admiradora. Mas Nicolas, realmente não estava dando a mínima para os bilhetes. E não queria decepcionar sua amiga.

A garota por trás de tanto mistério, ele não queria conhecer. Não teria tempo para se comunicar com ela. Depois de sua desilusão amorosa com Gabriela, Nicolas queria se dedicar ainda mais aos seus estudos, a sua vida social, que aos poucos ganhava vida, justamente por causa de Melina. Disso ele não queria abrir mão por causa de uma menina tola, que fantasiava contos de fadas atrás de bilhetes anônimos.

— O.k. – Melina soltou sua mão. — Você não quer saber, mas eu sim, quero. Eu vou descobrir quem ela é.

Melina saiu batendo os pés, Nicolas ficou a observar.


~*~


O vento era cortante do lado de fora, apesar do sol quente daquela tarde no meio da semana.

Thomaz e Rebeca caminhavam lado a lado enquanto conversavam em direção ao restaurante onde frequentavam diariamente na hora do almoço e do jantar.

Aquele dia, em especial, ela escolheu se sentar em uma das mesas do lado de fora. Os dois sentaram-se um de frente para o outro, o garçom se aproximou e anotou os pedidos.

— Eu sempre gosto de vir aqui – ela bebericou do seu vinho. — Especialmente com você.

Thomaz ficou sem jeito e para disfarçar também bebericou do vinho a sua frente, em uma taça.

— Chefe, o que foi? – sensualmente, Receba ajeitou os cachos volumosos que caiam sobre o seu ombro. — Há alguns dias eu venho querendo te fazer essa pergunta. Você não parece bem.

— E não estou – Thomaz confessa, passando a mão pelos cabelos dourados. — Tina, minha irmã, ainda não apareceu em casa. Há mais de uma semana, ela está na casa de umas “amigas”. A polícia já foi atrás, investigou e ainda não descobriu a casa dessas tais amigas. Minha mãe, não fala em outra coisa. Coisa que me tira do sério depois de um dia longo de trabalho – Thomaz suspira. — E pra pior, estou brigado com a minha namorada. 

— Sinto muito por tudo – Rebeca vai a busca da mão dele, e acarinha com o polegar. — Mas o que houve entre você e Melina?

Rebeca estava sendo uma boa amiga, desde que Thomaz a contratou como sua secretaria. Rebeca é sempre prestativa, carinhosa, dá bons conselhos e parece interessada em suas preocupações. Sem duvidas, ela fora a melhor secretário que Thomaz já deve. Além de linda, charmosa e atraente.

— Eu não sei exatamente o que está havendo entre nós – o garçom se aproxima, e os serve. — Digamos que nossa relação está esfriando aos poucos.

— Isso não é nada bom – Rebeca sorria por dentro com a novidade. — Que tal se você seguisse o meu conselho e fizesse a ela uma surpresa em comemoração ao aniversário de namoro de vocês? É no dia quinze, não é?

— Sim. É no dia quinze. – ele sorriu. — Como é que você sabe Rebeca? – Thomaz deu uma garfada em seu prato.

— Digamos que eu saiba muito mais sobre você do que você pode imaginar – Rebeca soltou um risinho e depois piscou. — Mas não se preocupe.

Thomaz refletiu sobre a ideia.

— Com que finalidade? – ele arriscou em perguntar. — Eu quero dizer: porque Rebeca? Porque você quer tanto me ajudar?

— Chefe, eu gosto de você. – ela parecia sincera. — Gosto de você muito mais do que uma amiga, mas também como uma irmã. Eu me preocupo. Só quero te ver bem.

Thomaz ficou comovido com suas poucas palavras.

— Obrigado por tudo, Rebeca.

— Nem precisa agradecer chefe. Eu sempre estarei a sua disposição. Para o que der e vier.

Os dois comemoram calados pelos próximos minutos.

Thomaz pensava o quanto gostava de Rebeca, se ela não fosse sua secretária, uma amiga, ou quase irmã e ele não tivesse respeito à Melina e a relação deles; Rebeca seria uma ótima parceira, em todos os aspectos. Não só na vida profissional, mas também na vida pessoal.

Por outro lado, Rebeca pensava em quais cartas descartaria na sua próxima jogada em seu jogo de sedução.

— Estive pensando – Rebeca deixou seu almoço de lado. — Que tal se você surpreendesse Melina com um...



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Notas finais do capítulo

Agradeço Iderlane Querioz & LillianBarreto pelos comentários! ♥



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