Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 2
Algumas mudanças são necessárias


Notas iniciais do capítulo

A história inteira será narrada em terceira pessoa. O primeiro capítulo retrata mais as apresentações dos personagens e do ambiente em que vivem e suas características mais importantes. Espero que goste.



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Melina está na varanda de seu novo apartamento, sentada em umas das espreguiçadeiras de fibra sintética, lendo um bom romance, de frente para o horizonte que aos poucos vai sendo pintado de laranja o céu que antes era cinza.

Há três dias ela se mudou para um prédio antigo de tijolo aparente, de apenas sete andares. O prédio inteiro é composto por universitários que aderiram morar apenas algumas quadras distante de uma das principais universidades do país.

Um novo ano começou e como ele veio muitas mudanças na vida de Melina. Ela fecha seu livro e se põe a pensar em sua própria vida e em todas as mudanças que foram necessárias a partir das suas escolhas, não foi fácil, ela admite. Teve que deixar muita coisa para trás, mas Melina precisava sentir-se livre, como um pássaro que acaba de ser solto por seu dono da gaiola.

Melina desde pequena sonha em ser veterinária, pois tem um amor incondicional pelos bichos. Sente a necessidade de cuidar e proteger eles, da melhor forma possível. Por sorte, ela passou em uma boa classificação no vestibular. E conseguiu uma vaga na melhor universidade do país.

Sua mãe, Verônica, sempre foi contra. A verdade é que, Verônica nunca compreende Melina. Verônica está sempre alertando sua filha, a questionando, pegando no seu pé, exigindo e aconselhando.

Mas Alberto, pai de Melina, um médico muito conceituado, esteve sempre ao lado de sua filha, se orgulhando, apoiando-a e dando-lhe a força que sua mãe nunca lhe deu. Alberto é melhor pai que Melina poderia ter. Deu a ela de presente um carro zero, depois que ela tirou a carta de motorista no final do ano anterior, e assim que ela obteve o resultado do vestibular.

O apartamento onde Melina está morando fica no sexto andar. Ela não mora sozinha, tem que dividir o aluguel com mais três garotas mais ou menos da sua idade.

Ariela, é a mais velha, tem dezenove anos e está cursando o segundo ano de Nutrição. Ariela é alta e magra, como uma modelo, tem os cabelos afros, a pele morena e os olhos escuros.

Marcela, a melhor amiga de infância de Ariela, também já está cursando o segundo ano de Publicidade. Foram as duas que alugaram o apartamento. Marcela tem o gênio difícil, e Melina sente dificuldade em se relacionar com ela. Mas tirando isso, Marcela é jovem muito atraente, de cabelos longos tingindo de louro claro, os olhos caramelados e o corpo volumoso.

Daniele é a mais nova e a mais baixinha também, tem os cabelos loiros ondulados e olhos acinzentados e o corpo chegou de curvas. Chegou no apartamento recentemente, assim como Melina. Ela veio de Minas Gerais, Belo Horizonte. É uma simples garota do interior. Digamos que Daniele já nasceu para ser mãe. Ela é uma ótima cozinha, está sempre preocupada com o bem estar de todos e ela quem cuida da organização da casa e o pagamento das contas.

— Bel! – Melina ouviu um grito vindo de dentro de casa. Deixou os pensamentos de lado e correu para ver o que era. — Melina! Olha só o que a sua cachorra fez. – Marcela apontou. Estava vermelha de raiva como um pimentão. — Trate já de limpar!

— Tudo bem. Eu limpo. – Melina estava constrangida. Não podia acreditar no que via. Bel não poderia ter urinado no carpete, especialmente, no carpete do quarto de Marcela.

Bel tem três aninhos. Melina ganhou sua cachorrinha de seu pai como presente de seus quinze anos. Qualquer menina preferiria uma joia, alguma roupa de grife, ou algo mais valioso. Mas Melina não, ela é diferente. Sua cachorrinha tem um valor sentimental muito mais alto que qualquer outra coisa que ela poderia ganhar.

Bel é uma cachorra pequenina, típica de colo, da raça Shih tzu. Sua pelagem, pela maior parte do corpo, é branca. As orelhas, o rabo e o peito amarronzado. Bel usa uma lacinho cor de rosa no alto da cabeça. É uma cachorrinha que quase não dá trabalho, mas precisa de atenção e muitos cuidados por conta do seu pelo liso.

— Tem certeza que foi Bel quem fez isso? – Melina perguntou pegando a cachorrinha nos braços para tira-la dali o quanto antes. Marcela estava muito nervosa, poderia fazer alguma maldade. — Ela nunca faz isso! Desde que era um filhote.

— Como você pode ter tanta certeza? – Marcela lhe fuzilou com os olhos. — Ela é uma cadela! Não pensa direito! Pode muito bem ter confundido o meu carpete com a grama da rua onde ela está habituada a urinar e defecar.

Melina não tinha tanta certeza assim. Bel é esperta, inteligente além de carinhosa e bem treinada. Melina sempre leve Bel para a rua para fazer suas necessidades.

— Não tem importância. Isso foi um acidente – Daniele entrou no quarto. — Sei que não irá voltar a acontecer, não é Bel? – a jovem afagou os pelos da cachorra que estava no colo de Melina. Daniele tinha um carinho especial pela cachorrinha e por sua dona. — Deixa que eu limpo Meli. Volte a ler o seu livro.

— Obrigada Dani. – Melina sorriu agradecida e saiu levando Bel consigo até a varanda onde ela estava anteriormente.

Quando Melina veio à primeira vez ao apartamento conversar com as garotas sobre o aluguel, foi difícil convencer Marcela a aceitar que ela trouxesse a sua cachorrinha. Melina bem que tentou procurar outros lugares que tivessem de portas aberta para recebe-la, mas grande parte deles, estavam superlotados, ou não eram lugares agradáveis, ou não aceitavam animais de jeito algum por causa das normas do prédio.

De primeira, Melina se deu muito bem tanto com Ariela e com Daniele, em especial Daniele. A mais carinhosa entre todas. Mas foi difícil se convencer de que Marcela era uma pessoa legal. Por mais que Ariela tentasse lhe convencer, alegando que a garota era assim desde pequena.

Mas de uma coisa Melina estava certa desde que fechou o contrato do aluguel: ela faria de tudo possível para não causar atritos e desavenças. Desde que decidiu que sua vida precisava de mudanças, prometeu a si mesma que faria o melhor que pudesse para que sua vida se tornasse agradável e satisfatório. Aproveitando sua maior idade.

Melina está disposta a aprender a cozinhar, lavar suas próprias roupas e passá-las, ou arrumar a casa, mantê-la em ordem, mesmo que Daniele insista que dessa parte, ela tome conta. Pois prefere assim. Mas Melina quer ser diferente do que está acostumada a ser desde sua criação. Melina sente a necessidade de ser independente. Ela anseia pela vida, por melhorias, mudanças. Não quer ser como sua mãe que não sabem nem fritar um ovo e acostumou a ela a ter tudo de mãos beijada sem precisar se esforçar.

Melina quer um emprego, que ser alto sustentar, quer ganhar o dinheiro com o próprio suor e esforços para obter suas luxúrias. Melina quer dar sua cara à tapa para a vida, mesmo que isso lhe custe caro, e mesmo que sua mãe seja contra. Por enquanto ela vai usufruir do dinheiro que seus pais depositam numa gorda conta bancaria, mas assim que conseguir um emprego, guardará esse dinheiro para outros fins.

— Bel – Melina chamou a atenção da cachorrinha que estava deitada na espreguiçadeira ao lado. Ao ouvir a voz da dona, Bel levantou a cabecinha e abanou o rabo. — Nunca mais faça isso, ouviu bem? Não quero causar problemas com Marcela. Sinto que ela não gosta muito de nós. Mas se fizermos por merecer, essa situação pode até se reverter.

Mais tarde, Melina foi interrompida outra vez. Dessa vez por Daniele, que chamou-lhe para o jantar. Melina sentou-se com as colegas na mesa de jantar, no centro da cozinha, e comeu calada, ainda refletindo sobre a sua vida.

O apartamento é simples, porém aconchegante. A cozinha é pequena, mas muito bem planejada com a janela com vista para os prédios vizinhos. A sala de estar é divida pela cozinha por uma bancada de granito preto. No banheiro coletivo há uma banheira. Além da varanda, há dois quartos. Um deles Melina divide com Daniele, o outro fica para as outras duas.

O quarto de Melina é razoavelmente grande. Sua cama está próxima à janela de cortinas de renda branca. O papel floral das paredes é em tons de pêssego e oliva. Próximo à cama de Melina está à penteadeira com um grande espelho, a cômoda onde ela guarda suas roupas e objetos pessoais e duas prateleiras de livro. Mais a frente, está à tevê e alguns aparelhos eletrônicos, de frente, o sofá com almofadas alaranjada e verde escuro. Cobrindo o piso amadeirado um carpete aveludado. Próximo à cama de Daniele, o guarda-roupa e a escrivaninha com um computador antigo e o abajur.

— Você está muito calada desde o incidente. O que foi? – Daniele perguntou preocupada enquanto lavava a louça do jantar e Melina secava guardando as coisas em seus devidos lugares. — Não está chateada com Marcela por ela ter gritando com você, não é?

— Não. Não é isso – Melina tentou sorrir. — Estava apenas pensando na minha vida. Muita coisa está mudando. Eu quero muito um emprego, entende?

— Entendo. Mas vá com calma, Meli. Tudo no seu tempo. Aos poucos as coisas irão entrar nos eixos. Espere pelo menos o inicio das aulas, assim, você poderá dividir seus horários.

— É. Pode ser. – Melina deu de ombros. Estava tão ansiosa pelo inicio das aulas. Queria fazer novos amigos, conhecer o curso e o prédio da faculdade. — Por falar nisso, eu nem sei que curso você vai cursar.

— Química Ambiental. – Daniele adora conversar. Aproveitou a deixa para tagarelar sem parar. Melina, interessada em sua falação, ouviu tudo com paciência e atenção.

As duas limparam a cozinha e ainda conversavam, cada uma expondo um pouco mais de sua vida. Vinham se tornando ótimas amigas. Logo depois, a campainha tocou. Como Daniele estava ocupada colocando o resto da comida na geladeira, Melina correu para abrir a porta e ver quem era.

— Oi. – era um rapaz, bonito por sinal. Que olhou para Melina de baixo para cima, admirando cada centímetro do seu corpo magro. — Eu sou Leonardo. – ele estendeu a mão para cumprimenta-la. — Mas pode me chamar de Léo. A Marcela está?

— Léo? – Daniele se aproximou com um largo sorriso. Ao ver o rapaz que não via há um bom tempo, aproveitou para abraça-lo. — Quanto tempo! Entre. – Melina se afastou. — Marcela está no quarto.

O rapaz se dirigiu sozinho até lá.

— Ele é o namorado da Marcela. – Daniele comentou para Melina assim que o rapaz se foi. — Bonito, não é?

Melina assentiu. De fato, Leonardo, é um garoto muito atraente, de cabelos negros, pele branca, olhos também negros e um corpo atlético.

Ariela, que dividia o quarto com Marcela, saiu para deixar ela e o namorado a vontade. Foi até a sala de estar onde as outras duas devoravam um pacote de biscoitos enquanto conversavam sentadas em um dos sofás, o maior deles.

A conversa se alongou por um bom tempo, as três perderam a noção do tempo, contanto histórias de infância uma para a outra. Enquanto isso, Marcela e o Leonardo namoravam com privacidade.

— Estou ficando com sono – Ariela levantou-se. — Vou já expulsar Léo e Marcela do quarto. Eles que procurem outro lugar para namorar. Eu preciso dormir! – todas riram. — Boa noite, meninas.

— Boa noite! – elas responderam juntas.

Como Ariela mesma havia dito, entrou no quarto e flagrou a amiga e o namorado aos beijos calorosos. Não se sentiu nem um pouco intimidada e colocou os dois para fora para poder dormir.

Marcela e Léo foram para a varanda.

Na sala, Daniele e Melina, ainda conversavam, mesmo às três da manhã, as duas gargalhavam, não muito alto para não acordar Ariela que já adormecia. Elas estavam se divertindo vem um filme de comédia na tevê a cabo.

— Você namora, Dani? – Melina criou coragem para perguntar, assim, repentinamente assustando Daniele com a pergunta.

— Eu? Eu não. – Daniele sorriu. — Mas posso te contar um segredo? – Melina assentiu. Daniele se aproximou dela para falar mais baixinho. — Estou conhecendo um garoto. Ele mora com alguns amigos, no andar de cima.

— Aqui no prédio? – Melina perguntou curiosa. Daniele confirmou com um gesto com a cabeça. — Como foi que vocês se conheceram?

Daniele contou, sem deixar de lado nenhum detalhe. Conheceu Rafael uma semana atrás. Um moreno alto de olhos esverdeados, mal-humorado, um tanto ignorante. Mas que instintivamente Daniele não conseguia resistir a sua indiferença em relação a ela. Os dois ainda não tinham ficando, mas sempre que ela o encontrava na portaria do prédio, ou pela escadaria do prédio, puxava conversa descaradamente. Mesmo que ele não tivesse nem um pouco a fim de conversa.

Enquanto isso, no andar de cima, os cinco amigos que dividem o mesmo apartamento há dois anos, estão rodeados de garotas, que dançavam maravilhosamente os provocando de todas as formas possível. Estão todos embriagados, inclusive as garotas. A fumaça de cigarro toma conta do cômodo principal, onde todos se divertem.

— Mas e o seu namorado? – Daniele pergunta por fim. — Ele ainda não veio aqui, veio?

— Não. Ainda não. – Melina responde. — Por falar nele, preciso telefonar para ele, antes que eu esqueça outra vez.

A jovem se levanta desprendendo os cabelos longos de fios finos de um coque mal feito, deixando os livremente escorrendo por toda extensão de suas costas até a cintura. Melina procura por seu telefone celular entre as almofadas e ao localiza-lo se afasta de Daniele para poder melhor falar com Thomaz.

Ela insiste na ligação, mas ele não a atende. Talvez esteja ocupado demais no momento. Ela insiste pela ultima vez. E nenhuma resposta. Melina fica preocupada. Mas sabe que o trabalho de Thomaz exige muito dele, tanto, que eles não se vem a mais de três dias.

— O que foi? Más noticias? – Daniele pergunta ao ver a expressão preocupada de sua nova amiga.

— Não que eu saiba. – Melina voltou a se sentar. — Thomaz deve estar ocupado no trabalho. Ele não me atende.

— Não se preocupe. – Daniele segura sua mão carinhosamente, fazendo Melina se sentir reconfortada. — Ele sabe se cuidar.

É, ele sabe.


~*~



Do outro lado da cidade, em um pequeno escritório, um rapaz está de olhos em alguns papeis, quando é interrompido por algumas batinas da porta.


— Entre. – ele pede.

A sua frente surge seu melhor amigo engravatado. Juntos eles tem uma sociedade. Um pequeno escritório de advocacia que obtém altos lucros. Desde que se conheceram na faculdade, tornaram-se grande amigos e decidiram que o melhor era fazer uma parceria enquanto ainda não tinha grandes experiências na área.

— Encontrei a nova secretária para você. Ela é ideal.

— Peça para ela entrar, por favor. Quero conhece-la.

Seu amigo assentiu e se foi. Em menos de um minuto, outra vez alguém bateu a porta. Só pode ser ela.

— Entre, por favor.

Há um bom tempo ele procurava por uma nova secretaria. A ultima fora despedida por um trabalho mal feito que acabou lhe tirando bons lucros. Depois dela, ele e seu amigo, recorrem a alternativas, conheceram novas candidatas ao cargo, mas nenhuma dela parecia à altura, nenhuma delas correspondia as suas expectativas.

Agora, mais do que nunca, diferente das outras vezes, ele estava ansioso para ver de perto a novata. Será que finalmente iria encontrar a secretaria perfeita? As palavras de seu amigo: Ela é ideal, encheu seu peito de expectativas. Algo no fundo lhe dizia que dessa vez seria mesmo verdade. Tudo daria certo dali em diante.

A sua frente, uma bela jovem entrou devagar, como seus saltos altos batendo no assoalho. Ela usava uma saia alta e uma blusa branca que lhe dava um ar de maturidade. A jovem garota têm os cabelos brilhosos longos cacheados e negros, os olhos tão azuis quanto o céu.

Ele, sem duvidas alguma, ficou impressionado tamanha sua beleza. Não sabia se ela era a secretaria ideal, mas na certa, é uma garota muito atraente. Deve fazer muito sucesso. Com esses pensamentos, mil ideias passaram por sua cabeça. A beleza da jovem poderia lhe render altos lucros assim que os clientes a vissem.

— Sente-se. Me fale mais sobre você. – ele a olhou, ainda admirado. Juntou as mãos uma da outra, e se pôs a ouvi-la pacientemente. Sem conseguir despregar os olhos dela.


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Notas finais do capítulo

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