Nem sempre viveu naquele castelo. De algum modo conseguira transpassar os muros que o isolavam do mundo e se esqueceu de tudo o que vivera antes.

Nada antes de Alice importava.

Hi miss Alice

Olá, senhorita Alice

Anata garasu no me de

Donna yume wo

Que tipo de sonhos você vê

Com seus olhos de vidro?

Mirareru no?

Eles fascinam você?

Miirareru no?

Eles fascinam você?

“Cheshire!”

Durante anos fora o único a fazer companhia a ela. Naquela mente infantil, era o cavaleiro que aparecera para resgatar a princesa de sua prisão, na mais alta torre daquele castelo digno de contos de fada.

“Um presente para você, bravo sir Cheshire!”

Não entendia o que era um presente naquela época, mas ficou imóvel enquanto a menina amarrava o guizo com uma fita de seda em seu pescoço. Afastara-se um pouco, admirando o pequeno felino. Ela sorrira, alegria refletida naqueles olhos brilhantes.

“Meu precioso Cheshire!”

Seu sorriso era precioso. Mas com o tempo foi perdendo o brilho, como uma estrela fugaz no céu noturno que ela só poderia ver da janela. Até o dia em que “eles” chegaram...

Mata atashi

Outra vez

Kokoro ga sakete

Meu coração está despedaçado

Nagare deru

E sangrando

Tsukurotta

Eu o remendei mas

Sukima ni sasaru

Minhas lembranças

Kioku tachi

Perfuram as frestas

“Será que o príncipe virá para me ver Cheshire? Ele prometeu que iríamos dançar...”

Mas não poderia dar uma resposta, afinal, ela jamais entenderia. Contentava-se a estar em seus braços enquanto a jovem girava pelo quarto, murmurando a própria valsa. Aqueles dias pareciam intermináveis, como se finalmente tivessem um mundo além daquele quarto cheio de bonecas de porcelana e brinquedos. Se ela pudesse sorrir daquela maneira eternamente, então não se importava de dividi-la com outros...

No entanto, aquela felicidade cristalina que parecia durar infinitos se despedaçou.

No dia em que a tragédia se abateu sobre Sabrie...

“CHESHIRE!!!”

Quando recuperou o que chamou de “consciência”, percebeu que já não era mais como antes; seu corpo estava diferente, podia falar, ver o que antes não via...

Alice não estava ali.

Hi miss Alice

Olá senhorita Alice

Anata kajitsu no kuchi de

Dare ni ai wo

Para quem você está mandando amor

Com seus melífluos lábios?

Nageiteru no?

Isso te deixa triste?

Nageiteru no?

Isso te deixa triste?

Naquele lugar, apenas as bonecas de porcelana de olhos vítreos lhe traziam um pouco de familiaridade. Ele sabia, Alice estava triste. Desesperada... Sozinha. Todo aquele lugar, tudo dentro dele; eram as dores de sua preciosa. Por vezes ele se perguntou se ele também fazia parte das coisas que ela queria esquecer... Nesses momentos, a imagem de Alice carregando-o enquanto dançava pelo quarto vinha lhe assombrar. Mas não havia brilho nos olhos dela...

Mas talvez, ele fosse a única criatura em que ela confiasse aquele lugar. Aquelas lembranças do dia mais triste de Alice.

“Meu bravo sir Cheshire!”

Mou atashi

Outra vez

Kotoba wo tsumugu

O calor de minha língua

Shita no netsu

Que me permitia falar

Samekitte mederu outa mo

Já esfriou e não mais posso cantar canções de amor

Utaenai

Não mais…

Por vezes ele tentou procurá-la, caindo nas sombras do Abismo propositadamente, chamando pelo nome dela...

Still you do not answer

Ainda assim, você não responde

“Alice...”

Still you do not answer

Ainda assim, você não responde