Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 16
O Beijo do Vampiro




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Pela última vez Andy visitou a praia de La Push, esperando poder se despedir de Embry antes de aceitar a proposta de esquecimento de Gregory, mesmo não entendendo "como" ele faria tal proeza.

― Um, dois, três, sigo reto outra vez – cantava num sussurro –, quatro, cinco, seis...

Houve o silêncio.

Não ter sua música completada simbolizava que não existiria encontro e, sem encontro, não haveria despedida. Andy não deixou de pensar que talvez fosse melhor assim, que talvez devesse desaparecer definitivamente, sem despedidas, sem condolências, sem brechas para a desistência. Se Embry seguiu em frente como aparentava ter feito, talvez ela devesse fazer o mesmo e nunca mais pisar em La Push novamente...

― Andy! – chama uma voz familiar.

Ela nada respondeu e, julgando não ter sido reconhecido, o quileute logo se identificou:

― Sou o Quill, lembra-se de mim? – Ela confirma com a cabeça. – Você continua vindo a La Push depois daquilo... Precisa de alguma coisa?

― Preciso ver o Embry, é importante – responde finalmente, encontrando no garoto a sua frente a esperança de finalmente encontrar-se com o Call depois de tantos dias.

Quill se aproxima de Andy ciente de sua deficiência, mas não tinha experiência nenhuma e não sabia o que fazer. Porém, compreendendo perfeitamente o seu lado, ela apenas segura com a mão direita o interior de seu braço esquerdo, pedindo que ele apenas caminhasse, pois o seguiria perfeitamente bem daquela forma.

Aquilo não parecia difícil afinal – e realmente não era. Andy era tão experiente no que fazia que parecia enxergar perfeitamente o trajeto que estava percorrendo e o lobo achava aquilo realmente incrível. E depois de vários minutos de uma caminhada silenciosa e constrangedora, Quill para diante da casa de Sam. A reunião já havia sido começada e somente ele não estava presente nela, mas o que poderia fazer se o seu senso de justiça e retidão lhe mandaram falar com a humana?

― Estamos em frente à casa de um amigo, Embry está lá dentro – explica num sussurro, tentando não ser ouvido pelos outros lobos.

― Pode me deixar de frente para a porta? Eu poderei entrar sozinha a partir daí – fala no mesmo tom.

Ele concorda, caminha mais alguns passos ajeitando-a como fora pedido e alertando-a sobre a quantidade de degraus que compunham a escada. Tudo o que Quill não queria naquele momento, era que algo desse errado.

O quileute entra na casa, sendo seguido lentamente pela humana que tremia da cabeça aos pés. Não se ouvia som algum dentro da casa porque, àquela altura, os lobos identificaram a presença de uma visitante e tornaram-se mudos quando perceberam de quem se tratava. Somente Embry parecia fora daquela realidade, não percebendo a presença de Andy se aproximando, não reconhecendo o seu cheiro ou o timbre de sua voz...

― Embry – chama Quill, atraindo a atenção daqueles olhos fundos como os da morte. – Tem visita pra você!

Embry continuava sentado à mesa, no mesmo lugar e da mesma forma que quando chegara a casa, antes da reunião começar. Em sua mão direita estava um solitário e vazio copo de vidro, que fora apertado com certa força quando seu olhos castanhos viram a imagem de Andy surgindo na porta.

Ela entra no cômodo com passos lentos, pé ante pé, não sabendo se existia mais alguém ali além dele e Quill. Seu cheiro logo se espalha pelo local fazendo a pele do lobo cinzento se eriçar e seus olhos se fecharem imediatamente... Ah, como ela cheirava bem, quantas saudades sentia daquela fragrância, ele definitivamente já se sentia melhor somente por ela estar ali, tão perto dele.

― Não posso me deixar levar pelo imprinting – pensa, abrindo os olhos e tentando manter a concentração. – O que você quer? – Tenta gritar, mas tudo o que saiu foi uma voz baixa.

― Oi – respondeu somente.

Andy morde o lábio inferior ansiosamente, ouvir sua voz grave lhe causara mais efeito do que gostaria, entretanto, com Embry era pior. Seu simples "oi" acariciou seus ouvidos como a melodia perfeita de uma harpa, fazendo-o se arrepiar novamente com a força que o imprinting exercia sobre seu corpo. Era como se, durante todos aqueles dias, ele estivesse em estado de abstinência, e, agora, com seu vício amoroso tão perto novamente, suas energias pareciam voltar pouco a pouco, como se o que faltava em sua vida tivesse retornado num passe de mágica. Contudo, junto com o bem-estar vinha a sua lógica preconceituosa e a força para rechaçá-la novamente.

― Diga logo o que quer – incentiva a com voz um pouco mais dura.

― Eu só queria encontrá-lo de novo, pelo menos, mais uma vez.

― Já encontrou – rebate de forma grosseira –, pode ir embora agora!

Os outros quileutes nada diziam, não piscavam, não sorriam e alguns até se esqueceram de respirar, enquanto outros não compreendiam como Embry conseguia maltratar seu imprinting daquela forma. Mas a resposta era óbvia: enquanto ele não pudesse ver o sofrimento que lhe causava, não sofreria mais do que abstinência de sua presença.

Andy sorri sem jeito, ele ainda estava bravo e talvez nunca a perdoasse, mas ela não iria se descontrolar desta vez, já havia chorado tanto que parecia não ter sobrado lágrima alguma para aquele momento. Agora ela iria apenas se despedir e deixá-lo em paz como tanto desejava.

― Me desculpe se não sou aquilo que esperava – recomeça, ainda com aquele "quase" sorriso. – Você é uma pessoa incrível, realmente merece alguém melhor do que eu, alguém normal e que não tenha nada faltando... Perdoe-me por ser cega, sei que meu defeito o decepcionou!

Embry arregala os olhos subitamente, não acreditando que Andy estava a tratar sua cegueira como um "defeito". Não era ela que se defendia dizendo que era deficiência e não defeito? E não era ela que dizia ser algo congênito? Então por que lhe pedia perdão por algo que ocorrera dentro do ventre e que não tinha culpa?

Ele não entendia porque Andy agia daquela forma, porque falava como se ele fosse o certo e ela a errada, porque havia mudado de opinião sobre si mesma. Ela nunca reclamou de sua vida, sempre foi grata por tudo o que possuía, tinha orgulho de seus ideais, e sua nova postura não condizia com a Andy que conheceu. Nada fazia sentido e seu imprinting gritava em sua cabeça que ele era o imbecil e o errado daquela história...

― Estou indo embora agora! – conclui ela ao notar o silêncio do quileute. – Não lhe procurarei mais e não irei mais perturbá-lo, vim até aqui apenas para dizer adeus. – Vira-se de repente, caminhando até a porta. – Então é isso. Adeus, Embry!

Andy caminha até a escada, descendo cuidadosamente da mesma forma que subira e se afastando da casa logo em seguida. E Embry continuou lá, inerte, mas agora com expressão apavorada no rosto.

Ela estava o deixando, rejeitando seu imprinting, e aquilo doía bem mais do que a saudade ou uma fratura, sua voz estava travada em sua garganta e, por mais que tentasse, não conseguia falar ou se mover. O chão parecia se abrir sob seus pés, sugando-o para a escuridão do abandono... Agora sim o sentido de sua vida estava desaparecendo de verdade!

― Embry – chama Quill pela quinta vez, finalmente fazendo-o voltar à realidade. – Vai deixá-la partir? Não vai falar nada? Nem fazer nada? Ela acabou de te dizer adeus e você vai ficar calado?

― Não entendo – responde somente.

Seus olhos fitavam o vazio, sua mão aperta ainda mais o copo de vidro, finalmente o quebrando, e sua cabeça não parecia mais estar no controle de seu corpo. Sangue lhe escorria da mão devido aos cacos que perfuravam sua palma, mas aquilo não conseguia ser pior que a dor em seu peito, a dor de um imprinting deixado para trás.

Percebendo que o amigo não faria nada e que a matilha tampouco sabia como reagir, Quill corre atrás de Andy, a fim de, pelo menos, ajudá-la a retornar à praia. Entretanto, ela declinou de sua ajuda.

― Já andei por aqui antes – explica ela –, sei como chegar à praia.

― Por favor, eu insisto – diz o quileute, segurando a mão dela para não deixá-la só.

― Eu já disse que não preciso! – rebate com impaciência, soltando a mão com um solavanco.

Andy estava cansada daquele lugar, da praia e dos quileutes. Só queria voltar para casa e se ver finalmente livre de tudo aquilo. Quill nada pôde fazer diante de sua recusa, a não ser voltar para a casa de Sam, deixando-a seguir sozinha como era de seu desejo. Todavia, a humana mentira... Ela não sabia andar pela reserva, não conhecia nada ali e não criara um mapa musical para saber o trajeto que deveria seguir. E, por isso, ela virou para o lado errado, entrando na floresta desprotegida.

Ela caminhava com passos ritmados e ruidosos por causa da neve, crendo que seguia para o lado certo. No entanto, seus pés logo se enroscam numa raiz mais alta que o chão e a fazem cair, mostrando-lhe que não estava onde imaginava estar. Andy percebe que a neve era mais profunda naquela região, sinal de que ninguém costumava passar por ali, e, assustada, ela se levanta, não imaginando que seu maior desespero ainda estava para começar.

― Oi, Andy! – chama a voz masculina pouco receptiva.

― Gregory? – diz num sussurro abafado, reconhecendo-o de imediato.

― Eu mandei não se aproximar dele. – Rosna. – Por que está aqui?

― Vim apenas me despedir, mas realmente pretendia aceitar sua proposta...

― Sinto que deveria ficar contente com essa notícia – resmunga, segurando a mão feminina e a levando para sua boca –, mas estou zangado... Sabe o que é engraçado, Andy? O destino é engraçado. – Pausa. – Eu pretendia abordá-la antes que entrasse na praia, mas um cão fedorento apareceu... E agora você está aqui, exatamente em minhas mãos...

― O que vai fazer?

― Sinta! – ordena, ignorando sua pergunta. – O que é isso?

― Sua boca – sussurra, sentindo sua pele arrepiar ao tocar os frios lábios do vampiro.

― E isso? – questiona novamente, abrindo a boca e colocando os dedos da menina em seus dentes.

― Seus dentes – continua a sussurrar. Algo dentro de si tremia tanto que impedia sua voz de sair mais alta ou segura.

― E isso, o que é? – Volta a perguntar, posicionando os dedos de Andy estrategicamente sobre seus caninos e os salientando na sequência.

A ruiva arregala os olhos ao sentir o crescimento de seus caninos através do tato, o que era aquilo? Ela não estava enganada ao reconhecer sua boca, nem tampouco seus dentes, mas então por que os sentia crescer de forma tão anormal?

― Vampiro? – Foi a primeira coisa que lhe passou pela mente.

Ela tinha ouvido uma vaga história sobre Conde Drácula no trabalho, mas nunca achou o mundo dos vampiros tão bom quanto o de Shakespeare e, por isso, nunca procurou saber sobre o universo mítico e sobrenatural que os envolvia.

― Sim – sibila Gregory, fazendo Andy se arrepiar de medo. – E é neste momento que você corre...

Andy ofega ao senti-lo liberar sua mão, não sabia se estava falando a verdade ou apenas debochando de sua falta de visão, porém, sua presença o assustava tanto que a ideia de correr lhe parecia boa demais para não ser acatada. Suas pernas tremiam, mas, mesmo assim, obedeceram ao seu comando de girar em seus calcanhares e correr.

Seus ouvidos captavam apenas o rufar de seus pés na neve, que estava funda e dificultava a sua corrida. Andy não fazia ideia se ele a estava seguindo, alcançando ou se já o havia despistado, mas continuou a fugir até que o seu braço esquerdo trombou no tronco de uma árvore, desequilibrando-a e levando-a direto para o chão congelado.

"Não há tempo para parar" gritava sua mente turbulenta, fazendo seu corpo obedecer aos comandos de se levantar e correr. Dois passos, foi o que conseguiu dar antes de bater contra o muro de gelo e ser aprisionada em seus braços de aço. Gregory acompanhava sua patética fuga e se divertia com o fato dela acreditar que poderia fugir dele.

― Pobre Andy, bem que você tentou! – diz ele com falsa complacência.

E, antes que Andy pudesse dizer qualquer coisa, o vampiro aprisiona seu corpo com a frieza de um só braço, e deita sua cabeça com o braço livre, rasgando sua blusa e afundando seus dentes em seu ombro sem aviso prévio, destilando seu veneno imortal. O movimento fora rápido e letal, não dando sequer uma chance para a humana se defender.

Seu sangue explode no paladar de Gregory, o levando ao êxtase no mesmo instante, mas, infelizmente, ele não podia saboreá-la, visto que sua real intenção era transformá-la em sua parceira eterna. A tentação de ficar ali e se deliciar com o seu sangue era grande, no entanto, o grito agudo que ecoou da garganta de Andy o puxou de volta para a razão e o fez se afastar, deixando o corpo sofrido da menina cair no chão esbranquiçado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, kkk, esse deu trabalho pra fazer... Agora sim o mundo de Embry virou do avesso, será que Andy se transformará numa imortal e na maior inimiga do lobo? Ou o Call conseguirá um jeito de salvá-la?
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Próximo capitulo: Não a Deixe Morrer!
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