Queimando escrita por Nina F


Capítulo 20
Capítulo Dezenove


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Dezenove on! Faltam só mais quatro! kkk Espero que gostem.



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Nunca vi uma criatura destas pessoalmente, apenas sei o que são pelos livros da escola. Mas embora eles sejam primatas inconfundíveis há algo estranho neles. São bestantes. O tamanho exagerado, a cor forte da pelagem, o jeito como eles nos fitam, nada disso pode ser considerado normal para um animal selvagem.

Violet ergue os olhos lentamente e se espanta tanto quanto eu ao ver a tripulação acima de nós.

- Que é que eles estão fazendo aqui? – ela sussurra.

- Não sei. – respondo no mesmo tom. – Mas não parecem muito amistosos.

Realmente o grupo acima de nós parece ameaçador.

- Vamos... – ela sugere. – Vamos apenas nos levantar devagar e tentar sair daqui. Não faça nada que os afronte.

E nós realmente tentamos, nos levantamos lentamente, Violet arranca a cavilha da árvore e a guarda em um lugar vago em seu cinto de facas.

- Vem, rápido. – sibilo para ela.

Mas é um curto momento em que Violet ergue uma faca para colocar em seu cinto que os desperta. Confirmo que os macacos são bestantes quando eles descem as árvores com uma rapidez impressionante, a massa laranja se lançando contra nós dois. Violet e eu temos de pensar rápido quando eles se ajuntam ao nosso redor, nos encurralando.

- Alguma ideia? – indago a ela, já com minhas duas espadas em mãos.

- Apenas mate-os.

- Vinte contra dois?

- Já fizemos isso uma vez... – ela diz arrumando um de seus machados na mão. – Eles só eram feitos de laser vermelho.

Violet tem razão, já fizemos isso no Centro de Treinamento, no túnel. Um macho, eu acho, a minha frente tem os pelos eriçados e mostra seus dentes pontiagudos e suas garras pra mim e então eu ataco. Eles são rápidos, piores que humanos, muito piores do que aqueles alvos. Enquanto rasgo quantos macacos posso, ouço Violet acertando-os com suas facas, cortando-os com seu machado.

Eles me arranham, rasgando partes do meu macacão, tentando a todo custo fincar seus dentes em mim, mas eu consigo ser mais rápido e os mato, um a um, enquanto outros aparecem. Quando vejo mais deles descendo as árvores, pulando de uma pra outra, imagino que eles não pararão. Os idealizadores devem estar ordenando para que não parem, sei que acabamos de cair em uma de suas armadilhas.

Eu solto um urro quando um deles consegue morder minha perna e cambaleio. A dor é lancinante, mas eu me mantenho de pé. Há mais atrás de mim e eu me viro, bem a tempo, quando um pula de um dos galhos diretamente para cima de mim. Consigo atravessá-lo com a espada antes que ele me morda, mas meu braço sai um pouco cortado de suas garras.

Eles estão diminuindo de número, cada vez mais, e é quando tudo acontece muito rápido. Violet está no chão, partindo a cabeça de um deles. Outro, o maior que já vi, está pulando às suas costas, de árvore em árvore até ela. Eu quero gritar, ou até mesmo correr e impedi-lo antes que seja tarde, mas não há mais maneiras pra isso quando um breve momento de distração permite que um deles se lance contra mim, às minhas costas. Sinto suas presas se enterrarem em meu ombro, seu peso é mais do que eu posso suportar e a dor me faz urrar ainda mais alto. Isso parece acordar Violet e ela se vira assustada, mas não há tempo de perceber o monstro vindo em sua direção.

É quando ele a ataca.

A massa de pelo alaranjado cai sobre ela e os dois vão ao chão ao mesmo tempo que o bestante em cima de mim não consegue se segurar bem e rola para o chão, me levando junto. Nem mesmo o medo de Violet estar seriamente machucada é o bastante para me distrair e eu sinto meu ombro saindo do lugar com uma dor terrível. Minha espada rolou para longe e eu não consigo alcançá-la. A mandíbula da criatura grudada em mim não se solta e eu penso que é realmente o fim quando Violet não se mexe sob o bestante também imóvel sobre seu corpo.

Era só o que faltava, morrermos nas garras de macacos bestantes. E onde estão nossos aliados nesta hora? Talvez todos já tenham morrido. Talvez todos já tenham sido mortos pelos idealizadores. Desta vez será realmente o nosso fim.

Ou talvez não.

Quando já estou de joelhos no chão, esperando outras criaturas chegarem para terminarem de me matar, um objeto passa zunindo muito próximo à minha cabeça. Os dentes do bestante me soltam e ele desliza para o chão às minhas costas com um barulho surdo. Minha visão começa a ficar embaralhada quando sinto o sangue quente manchar a manga dilacerada da minha roupa.

Não consigo mais me aguentar e caio no chão, enxergando a claridade que entra através das árvores acima de mim. Um fio de voz chama meu nome e ouço o capim farfalhando. Eu não posso perder a consciência agora. Fecho os olhos e respiro. O alívio me preenche quando reconheço a voz de Violet bem próxima de mim e então suas mãos me tocam e seu cabelo roça meu rosto.

- Fala comigo. – ela pede, posso sentir seu desespero. – Cato, fala comigo.

Eu consigo grunhir, mas meu ombro e minha perna latejam de dor.

- Aquele filho da mãe quase arrancou meu braço. – digo e minha voz sai áspera.

Violet ri aliviada e então eu abro os olhos, sentindo aos poucos meus sentidos melhorarem.

- Violet... – franzo a testa para ela.

Seu macacão também está deteriorado, assim como o meu, mas seu rosto está quase que completamente coberto de sangue.

- Aquele último... – ela diz. – Se você não tivesse gritado eu estaria bem pior.

Posso ver fendas do lado direito de seu rosto, provavelmente feitas pelas garras do animal.

- Ele não teve tanta sorte, eu tinha uma faca nas mãos.

Tento me erguer para ver se por acaso há mais deles vindo, mas grito de dor com o mínimo movimento. Violet me puxa de volta para o chão, se sentando sobre seus calcanhares e me apoiando em suas pernas.

- Seu ombro... – ela murmura.

- Deslocado. – confirmo.

Violet toca levemente a carne danificada do meu lado esquerdo, mas só isso já me causa dor.

- Temos que sair daqui. Agora. Eles podem voltar. – murmuro de dentes cerrados pela dor.

- Não, você ta totalmente quebrado.

- Mas nós não podemos ficar aqui.

Me impulsiono para cima sem o apoio das mãos e me sento sentindo minha cabeça girar.

Eles nos feriram, mas nós fizemos mais estragos. Pelo chão há varias carcaças ensanguentadas de pelo laranja. Mais distante posso ver o macaco que atacou Violet, estirado de costas, uma faca cravada em seu peito. O que me atacou está mais próximo de nós, no chão, com uma lâmina em sua cabeça.

Viro o pescoço e encontro Violet atrás de mim, arfando ligeiramente. Pedaços de sua pele expostos pelos rasgos em sua roupa. Seus braços também sangram.

- Você ta muito machucada... – solto um gemido.

- Eu? – ela rebate com ironia, se levantando.

Violet rodeia um pouco a área em que estamos e então arranca um pedaço de musgo de uma árvore. Ela vem até mim e se ajoelha a minha frente. Eu xingo quando ela pressiona o pedaço de musgo contra meu ombro.

- Mas que droga é essa?

- Você ta sangrando muito, tenho que tentar parar isso. O musgo é absorvente, você não foi até a estação de sobrevivência?

Eu chio. Violet diz que é melhor me escorar em alguma árvore e ela me ajuda a chegar até a mais próxima. São longos minutos que ela passa tentando parar o sangue, mas não consegue totalmente e isso está a deixando preocupada. Violet tenta fazer uma espécie de curativo em minha perna amarrando o musgo em mim com cipós que ela arrancou da árvore em que estou.

- Não sei o que faço com seu ombro... – ela geme.

- Vai ter que colocar ele no lugar. – digo.

Violet arregala os olhos pra mim como se eu estivesse louco.

- Não... Eu não posso fazer isso, não consigo...

- Violet, meu ombro está fora do lugar e eu preciso que você coloque ele de volta. E rápido, porque isso ta doendo muito.

Ela me olha com relutância, mas assente. Quando me toca Violet está tão trêmula que tenho eu mesmo de ajudá-la com meu braço bom. O trabalho de tentar levar meu ombro para sua articulação novamente não é nada confortável e eu cerro os dentes para me manter firme. O sangue voltou a sair com força por conta do esforço. São algumas tentativas dolorosas até que com um “crec” terrível meu ombro se encaixa novamente. O alívio é imediato e eu suspiro, deixando minha cabeça recostar no tronco atrás de mim. Violet grunhe e se senta o meu lado, recomeçando a colocar musgo sobre os furos feitos pelos dentes do bestante.

Um canhão explode, mas nós não fazemos mais do que nos entreolharmos. Os maçados devem ter encontrado mais alguém. Ela consegue usar os cipós para fazer uma tipóia que deixa meu braço machucado estável e então se recosta cansada ao meu lado. Seu rosto e seus braços estão totalmente machucados, mas ela parece não sentir dor, ou está ignorando-a. Ao meu lado uma pedra está coberta de musgo e eu o arranco. Violet pula sobressaltada quando o coloco sobre seu rosto, limpando o sangue, mas não resiste, provavelmente atordoada demais pra isso. Embora meu lado esquerdo não seja nada habilidoso consigo limpar seu rosto e analisar os ferimentos. Três cortes compridos na bochecha direita, um logo acima da sobrancelha e outro em seu lábio inferior. Seus braços estão mais danificados e eu creio que não conseguirei cuidar deles direito com uma mão estabanada.

- Obrigada. – ela sorri levemente pra mim, mas seu semblante está tenso.

- Onde estão nossas coisas? – pergunto.

Violet me olha e sacode a cabeça.

- Não sei, acho que depois desse ataque a única coisa que nos sobrou foi a cavilha.

Fito o objeto de metal ainda bem preso a seus quadris.

Nós permanecemos em silêncio contra a madeira, ambos talvez fracos demais para fazer algo mais. Estávamos indo bem, até sermos atacados por um bando de primatas bestantes, e agora estamos completamente acabados. Após ser recolocado no lugar meu braço dói bem menos, mas ainda acho que não poderei usar uma espada tão cedo. Violet está em retalhos ao meu lado e agora eu não faço a mínima ideia do que vamos fazer.

- Eu falei sério quando disse que temos de dar o fora. – digo algum tempo depois.

Violet me olha séria e um pouco cansada.

- Tem razão, - ela concorda. – temos de achar algum lugar...

Ela se levanta e consegue recuperar nossas armas. Prendo minhas espadas a mim, imaginando como elas serão úteis agora.

- Acha que consegue andar, pelo menos alguns metros?

- Acho que sim. – respondo sem muita convicção.

É doloroso ter de apoiar minha perna mordida no chão, mas eu me esforço para fazê-lo, ou Violet se desgastará muito me levando até algum lugar seguro. Somos lentos, mas ainda sim conseguimos nos mover, ela tem de me apoiar por todo o caminho, mas consegue. O ruim de uma selva são as escassas opções de esconderijo disponíveis, no meio do caminho Violet começa a arfar de um jeito terrível e nós temos de parar.

- Violet? – chamo enquanto ela se mantém apoiada em seus joelhos.

- Ta tudo bem. – ela levanta os olhos pra mim. – Eu to bem.

Ela tem uma das mãos pressionada contra o lado esquerdo do corpo durante algum tempo até que recomeçamos a andar. Não demora muito e conseguimos achar dois enormes troncos caídos um sobre o outro e o lugar em que se cruzam comporta facilmente a mim e a Violet. Pelo sol já deve ser por volta das cinco e minha garganta nunca esteve tão seca. Violet troca o musgo de meus machucados e suspira aliviada ao ver que o sangramento diminuiu.

- Tem certeza que está bem? – pergunto alarmado percebendo sua crescente luta para puxar ar.

- Tenho. – ela confirma. – Aquele bicho que caiu em mim só era muito pesado. Ta com fome?

- Não. – respondo. – Sede.

- Ta... – Violet suspira. – Vou sair para pegar água e arranjar algo para trazê-la. Pode se aguentar sem mim?

Franzo as sobrancelhas.

- Ta querendo andar sozinha por aí?

- É o único jeito não é?

É, esse é sim o único jeito. Nós não temos nada e eu não posso andar por longas distâncias, embora Violet também esteja mal ela está melhor que eu. Ainda sim não quero deixá-la ir por aí sozinha, todas as vezes eu estava lá para ela caso precisasse, e se desta vez ela encontrar Gloss e Cashmere, ou quem sabe até mesmo aqueles bestantes?

- Eu consigo... – ela murmura vendo a dúvida em minha expressão.

Fito o chão, me sentindo total e horrivelmente impotente, quando ela se aproxima de mim e me beija levemente. Seus lábios estão machucados e ela se retrai um pouco pela dor.

- Cuidado, Violet... – sussurro quando nos separamos, minha mão em seu cabelo.

- Fique abaixado. – ela diz firme, se levantando.

Ela contorna os troncos e desaparece enquanto eu tento me abaixar o máximo o possível. No silêncio minhas dores parecem se intensificar, até que se torna algo insuportável. E então tudo o que aguentei até agora vem a tona, meus olhos pesam, mas não é nada como se eu fosse desmaiar, estou apenas... Esgotado. Totalmente, tanto que me deito na grama e não posso evitar quando caio no sono, mesmo sabendo o quão perigoso é.

Mas ainda sim só me dou conta disso quando ouço o farfalhar das folhas acompanhado por vozes sussurradas.

Meu sangue gela quando reconheço que a voz é de um casal. Distrito um, é a primeira coisa que penso. Pelo sol eu não dormi por tanto tempo, mas tempo o bastante para que eles me achassem. Mantenho-me estático sabendo que se me virem será inútil lutar, enquanto eles sussurram agitados. Os passos avançam, pelo ritmo e pelo peso sei que são de um homem e ele está pulando o tronco e então... O tridente é o primeiro a entrar em meu campo de visão.

Não é Gloss, e sim Finnick Odair.


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Notas finais do capítulo

Então ficamos combinados assim: Hoje posto o capítulo dezenove e amanhã o primeiro bônus narrado pela Violet (Êee!). Primeiro e único DESTA TEMPORADA, na próxima terá mais de um, to contando uns três até agora. Beijos e reviews por favor? (:



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