- Oi. - disse Caroline parada na soleira da porta e olhando para Stefan.

- Oi. - respondeu Stefan se apoiando na porta e retribuindo o olhar - Você quer entrar?

- Sim... Eu quero. - aceitou ela dando um passo a frente, mas em seguida parou e repensou - Mas eu não devo. É... Isso é um erro. Eu não devia ter vindo, Stefan. Me desculpe.

Ao dizer isso, Caroline se virou para ir embora, mas parou quando Stefan perguntou:

- Mas se você veio até aqui foi por um bom motivo, não? Então, se você tem alguma coisa para me dizer, Caroline, por favor, diga.

- Ok... - concordou a loira se aproximando da porta novamente e depois de algum tempo se perguntando se devia ou não dizer aquilo, resolveu simplesmente dizer - Eu e o Tyler, nós terminamos.

- Eu fiquei sabendo. E fiquei feliz... Digo! Não! Eu não fiquei feliz! Não é isso - atrapalhou-se Stefan enquanto Caroline franzia a testa confusa - Isso seria horrível! Imagina... Ficar feliz por um relacionamento acabar? Eu não estou feliz por isso... Eu quero dizer, não por vocês não estarem mais juntos... Digo... Eu devo ser uma pessoa horrível porque eu acho que sim... Eu fiquei feliz. Ah! De qualquer forma, Mia me contou!

- Você andou conversando com a Mia sobre mim? - surpreendeu-se a loira.

- Não! Na verdade, a Mia é que fala demais. - respondeu Stefan um tanto sem graça e tentando se preservar - Eu passei no Mystic Grill mais cedo e ela acabou tocando nesse assunto. Você sabe como ela é. Não consegue se conter, não pára de falar... Decora as coisas que a gente fala...

- Você está bem? - preocupou-se Caroline.

- Sim. Eu estou ótimo. Por quê? - disfarçou Stefan e antes que a loira dissesse qualquer coisa, ele retomou o assunto - Ah! Mas por que você decidiu me contar que não está mais com o Tyler?

- Eu não sei. - respondeu Caroline evasivamente e depois de alguns instantes, desconversou enquanto se afastava - A verdade é que eu não sei o que eu estou fazendo aqui ou por que eu estou te contando isso, Stefan. Eu só achei que... Eu não sei o que eu achei. É melhor eu ir embora...

- Caroline...

- Stefan, o que nós estamos fazendo? - perguntou ela de repente e voltando.

- Como assim? - perguntou ele se fazendo de desentendido.

- Nós somos amigos, certo? - lembrou ela.

- Nós não precisamos deixar de ser. Apenas... Talvez... A nossa amizade possa evoluir para outra coisa. Ou talvez já tenha evoluído e só agora nós percebemos. - sugeriu ele aliviado por dizer algo que finalmente fazia sentido e pelo efeito do álcool ter passado.

- Não, isso é loucura. Eu não devia ter vindo. Me desculpe. Você é meu amigo. Meu melhor amigo, aliás. Nós só estamos confundindo as coisas... É. É isso. - esquivou-se Caroline e em seguida se afastou da porta de novo.

Stefan a observou se afastar por algum tempo antes de ter coragem suficiente para ir atrás dela. Então se moveu rapidamente e parou na sua frente. Caroline tomou um leve susto e Stefan anunciou:

- Eu tenho uma confissão a fazer. Eu estava indo até a sua casa. Você sabe... Quando eu abri a porta há alguns minutos.

- Sério? - quis confirmar Caroline tentando disfarçar que tinha ficado feliz por ouvir aquilo - E o que você ia me dizer quando chegasse lá?

- Eu não tenho ideia. - admitiu ele.

- Qual é! Você ia dizer alguma coisa. O que era? - interessou-se ela.

Stefan a olhou por algum tempo antes de propor:

- Você primeiro.

- Isso não é justo. - protestou ela sorrindo.

- Você chegou primeiro, você fala primeiro. Então, o que você ia me dizer? E eu sei que não era só para contar que você e o Tyler terminaram. Então o que era? - pressionou Stefan.

Caroline suspirou e pensou um pouco antes de começar a explicar:

- Bem, eu não sei o que está acontecendo, Stefan. Com a gente e com a nossa amizade, mas... A verdade é que você estava certo. Eu não posso mentir para mim mesma e fingir que eu não senti nada naquela festa porque... Definitivamente, eu senti alguma coisa. E eu continuo sentindo. - e depois de uma breve pausa, a vampira continuou - Foi por isso que eu terminei com o Tyler. Porque eu também não podia continuar mentindo pra ele. E então, por algum motivo que eu não entendo direito, eu achei que eu precisava te procurar e te dizer essas coisas. E a verdade é que eu não sei o que eu e você temos exatamente, ou onde isso vai dar, mas eu vim até aqui porque...

- Por quê? - interessou-se Stefan dando um passo a frente enquanto seu coração acelerava.

Caroline o olhou com carinho e respondeu:

- Eu vim até aqui porque eu quero descobrir. Você quer?

- Sim. Eu quero. - respondeu Stefan prontamente dando mais um passo a frente e segurando o rosto de Caroline entre as suas mãos enquanto ela abria um sorriso.

- Então? Sua vez. O que você ia me dizer? - quis saber ela - Se tivesse chegado primeiro, é claro.

- Na verdade, eu não acho que eu ia conseguir dizer alguma coisa. - confessou ele - Eu fiquei andando pelo quarto, pensando no que dizer, mas quando eu abri aquela porta e vi você, eu simplesmente esqueci tudo. Então... Eu acho que eu não ia conseguir dizer nada porque no momento em que eu te visse eu ia... Esquecer tudo de novo.

- Bem, se você não ia dizer nada, então você ia fazer alguma coisa, certo? - indagou Caroline o olhando confusa e um tanto ansiosa pela resposta.

- Eu acho que eu ia... Simplesmente... Beijar você. É. É isso que eu ia fazer. Agora eu me lembro. - confessou ele sorrindo e aproximando mais o seu rosto do dela.

Os dois se olharam um tanto hesitantes. Tinham sido amigos por tanto tempo que aquela situação era um tanto inusitada para eles. Era algo novo e até impensado. Stefan e Caroline? Quem diria? Mas, ao mesmo tempo, não conseguiam mais esconder o que estavam sentindo um pelo o outro. E aquilo podia ser inusitado, novo e até impensado, mas ao mesmo tempo era algo muito bom e irresistível. Era um sentimento forte que crescia entre eles a cada instante e pedia para ser vivido o mais depressa possível.

- Então... O que você ainda está esperando? - incentivou Caroline lhe dando mais um sorriso.

Stefan deu um leve sorriso ao ouvir isso e se aproximou ainda mais de Caroline. A felicidade o invadia a cada instante e chegou a duvidar se aquilo estava realmente acontecendo. Então olhou para cima e brincou:

- Deus, por favor, que ninguém interrompa desta vez...

Caroline riu, mas logo foi silenciada. Fechou os olhos quando sentiu os lábios quentes e macios de Stefan tocarem os seus. Fechou os olhos e se entregou àquele beijo intenso e apaixonado. Passou as mãos pelo pescoço dele enquanto Stefan a segurava carinhosamente passando as mãos por seus cabelos. Sentiu os dedos dele em sua nuca e estremeceu levemente. Ele a segurou com mais força e os dois se aproximaram ainda mais. Seus corpos ficaram colados um no outro a medida que os seus lábios se envolviam cada vez mais e com mais paixão. E desta vez, Stefan e Caroline não foram interrompidos. E sem perceberem, caminharam para dentro do quarto e o vampiro empurrou a porta com um leve chute sem conseguir parar de beijar e abraçar o seu grande amor nem mesmo por um segundo.

XXX

Em pé na varanda Castiel observava Mia e ao ver que ela usava o uniforme do Mystic Grill, perguntou:

- Você voltou pra aquele emprego?

-  Como eu disse antes, eu vou ficar em Mystic Falls. Este lugar é o meu lar agora. - respondeu Mia ainda imóvel e mantendo certa distância da varanda.

- E o gerente aceitou te recontratar mesmo depois... Daquilo? - estranhou Castiel lembrando de quando Mia sentou no seu colo e o beijou durante o expediente.

- Não que isso seja da sua conta, mas eu... Pedi com jeitinho. - confessou ela insinuando que havia compelido o chefe.

- Entendo... Pena que isso tenha sido em vão. - insinuou ele.

- Como é? - estranhou ela.

- Como eu disse antes, você não vai ficar nesta cidade, Mia. Você vem comigo. Com a gente, aliás. - explicou ele.

- Cas, eu fiz a minha escolha, por favor, só aceite. - pediu Mia enquanto caminhava em direção à varanda, mas parou antes do primeiro degrau ao ver que Castiel escondia uma caixa atrás dele - O que é isto?

Ele olhou para a caixa e para o sobretudo e respondeu:

- Bem, você me deu um presente que nunca mais vai me deixar esquecer quem eu sou de verdade. Um anjo de sobretudo. Então eu quis retribuir te dando um presente que vai te lembrar quem você é de verdade.

Mia o olhou desconfiada e indagou:

- Qual é o plano?

- Sempre desconfiada... - murmurou ele com um leve sorriso sentando no banco que ficava na varanda - Você vem ou não?

Mia hesitou por alguns instantes, mas por fim subiu os degraus e sentou ao lado do anjo. Não tinha ideia do que Castiel planejava, mas por algum motivo que não queria pensar no momento, não conseguia mandá-lo embora. Apenas dois dias sem vê-lo e já estava morrendo de saudade. Mas tinha que ser forte. Terminar foi a melhor coisa para os dois. Não podia voltar atrás.

-  Seja lá o que for que você estiver planejando, não vai funcionar. - quis deixar claro a garota.

Castiel colocou a caixa no colo de Mia e respondeu:

- Eu aceito correr o risco. Eu acho que você vale a pena.

Mia o observou intrigada por algum tempo antes de respirar fundo e abrir a caixa. E o que ela viu, a fez fechar a caixa imediatamente.

- Cas...

- Tudo bem. - tranquilizou ele pegando a caixa de volta e olhando para Mia com mais um sorriso - Eu te ajudo a lembrar. É o mínimo que eu posso fazer, não?

Após dizer isso, Castiel abriu a caixa novamente e tirou o primeiro objeto de dentro dela. E enquanto ele segurava o spray de pimenta, começou a explicar:

- Eu peguei emprestado. Espero que você não se importe, mas eu precisava de alguma coisa para começar os... 50 passos para reconquistar uma caçadora vampira.

- 50 passos? - repetiu Mia franzindo a testa.

- Você é difícil. - justificou Castiel e enquanto ela observava o spray na mão dele, ele continuou - Há alguns meses, enquanto eu observava você dormindo durante uma madrugada inteira, este spray estava dentro de uma gaveta, ao lado da sua cama. Você estava tendo um pesadelo daqueles e quando finalmente abriu os olhos, você tentou usar isso contra mim. Foi um típico gesto impulsivo de quem quer se defender. Você pensou que eu fosse uma ameaça e resolveu me atacar. Mas eu fui mais rápido e quando você percebeu eu não estava mais no seu quarto. Também foi graças a este spray, que Sam e Dean te descobriram naquele cemitério. Ele fez um ruído enorme quando você esbarrou em um dos túmulos e caiu em uma cova. Desastrada...

- Oh! Obrigada! - agradeceu ela com ironia.

- Bem, depois você colocou água benta e até verbena neste mesmo spray. E há alguns dias, eu vi isso no seu carro. Deve haver um motivo para você ter guardado isso depois de tudo que aconteceu, não? - desafiou ele fazendo Mia parar para pensar no que aquilo significava para ela.

Em seguida Castiel deu o spray de pimenta para Mia segurar e retirou o segundo item da caixa. E segurando a Faca da Ruby, relembrou:

- Em pouco tempo, você descobriu que todas as criaturas sobrenaturais existiam e ao contrário da maioria das pessoas, você não entrou em pânico. Você simplesmente aceitou e enfrentou os seus medos. Como uma caçadora faria. E com esta faca, você não hesitou, e matou 10 Cães do Inferno.

Castiel entregou a faca para Mia e como ela parecia confusa, ele explicou:

- Eu peguei emprestado também.

- Dean vai te matar. - previu ela.

- Na verdade... Ele ficou feliz em ajudar. - insinuou ele deixando claro que Dean e provavelmente Sam sabiam daquele plano. E pegando o terceiro item, prosseguiu - Eu não entendo muita coisa sobre música, ou filmes ou... Coisas do tipo, mas parece que neste... CD tem a canção que tocou quando eu te beijei pela primeira vez. E quando você me beijou no Mystic Grill. E sem entender direito por que... Eu o comprei no dia seguinte.

- Eternal Flame. - murmurou Mia segurando o CD.

- Dizem que todo casal tem uma música. Esta com certeza deve ser a nossa. - acrescentou Castiel a olhando com ternura por alguns instantes.

OK. Aquilo era golpe baixo. Mia queria esquecê-lo e seguir em frente, mas Castiel estava dificultando as coisas ao trazer aquelas memórias à tona.

Em seguida ele pegou um livro e explicou antes de entregar o item para Mia:

- Você sonhou com este livro e revirou o bunker dos Homens das Letras até encontrá-lo. E tomou seis xícaras de café naquela manhã... Bem, foi com ele que você fez o ritual que quase te matou. Mas você aceitou o risco e mandou o Crowley para o Inferno mesmo assim. E depois você me salvou naquela biblioteca. Como uma caçadora faria.

Mia passou a mão pela capa do livro lembrando daquela noite na Universidade em San Francisco  quando exorcizou o Rei do Inferno. Mas o que mais a impressionou foi perceber que Castiel lembrava da quantidade exata de café que ela tomou na manhã que encontrou o livro. Era como se ele estivesse sempre por perto, mesmo quando ela não se dava conta disso. Ele sempre estava lá. E mesmo quando estavam separados, ele continuava com ela de algum forma. Dentro do seu coração. Era impossível esquecê-lo. Mas era preciso. Repetia isso mentalmente para si mesma quando Castiel pegou um spray de tinta vermelha de dentro da caixa.

- Foi com isso que nós dois fizemos uma armadilha do diabo naquela mesma noite. E eu posso estar enganado, mas eu senti que você achou aquilo... Romântico. - relembrou ele.

Mia não conseguiu conter um sorriso e segurou o spray. E lembrou que realmente tinha achado romântico fazer aquela armadilha com Castiel. Naquela ocasião, ela não lembrava do que os dois tinham passado juntos porque o anjo havia apagado a sua memória algumas semanas antes. Mesmo assim, mesmo sem lembrar inteiramente dele, Mia se sentia atraída por Castiel e achava que qualquer coisa com ele se tornava romântica.

Em seguida, ele retirou um DVD de Star Trek da caixa e explicou, embora Mia lembrasse bem daquela memória e achasse aquilo desnecessário:

- Eu nunca vou entender algumas referências, a maioria delas, aliás... Mas, curiosamente, nós estávamos assistindo isso quando você falou sobre... - Castiel pigarreou antes de dizer - Sexo pela primeira vez. E eu nunca vou esquecer o que você me disse aquela noite. Você lembra?

Mia o olhou um tanto sem graça. Se convenceu de que tinha que levantar e mandá-lo embora imediatamente. Pensou que talvez fosse melhor repetir tudo o que já havia dito para ele no hospital porque parecia que Castiel havia esquecido ou se recusava a aceitar. Queria dizer novamente que os dois não podiam mais ficar juntos. Mas Castiel a olhava serenamente esperando uma resposta. E então ela se ouviu respondendo ao lembrar daquela noite:

- Eu disse que... Eu queria que você fosse o primeiro.

- E? - indagou ele.

Mia revirou os olhos e acrescentou:

- E o último.

- Você lembra. - observou ele satisfeito, com um leve sorriso e em seguida continuou - Bem, é por isso que eu estou aqui, Mia. Para ser o último. Se você parar de ser tão teimosa, é claro, e aceitar de uma vez por todas que eu faço parte da sua vida e você faz parte da minha. Pare de lutar contra isso. Eu não vou embora sem você e você não vai conseguir viver sem mim. Pare de se enganar.

- Cas... - tentou protestar a garota.

- Calada. - interrompeu ele antes que Mia tentasse argumentar - Eu ainda não terminei.

Mia começou a colocar os objetos ao seu lado no banco porque não conseguia mais segurar tantas coisas. Muito menos fugir daquelas memórias e do efeito que causavam sobre ela. Então, para piorar, Castiel retirou metade de uma vela queimada da caixa e explicou a olhando de um jeito apaixonado que começou a derrubar as defesas dela:

- Eu sei que talvez você lembre mais das pétalas de rosas, mas na noite em que nós... Ficamos juntos... Biblicamente falando... Também havia muitas destas velas espalhadas pelo quarto. E quando você as viu, seus olhos brilharam de um jeito diferente que eu nunca vou esquecer. E desde que recuperei a memória, eu fico me perguntando quando eu verei aquele olhar de novo.

Mia lembrou daquela noite com saudade. E por mais que negasse, também queria ficar com Castiel daquele jeito de novo. Sim, ainda queria que ele fosse o último, o único... Ainda pensava nisso, quando Castiel lhe entregou um terço dizendo:

- Antes do acidente, você me disse que era sempre bom ter um deste por perto pra quando você precisasse de um pouco de água benta.

Mia não conseguiu evitar. Ao ver aquele terço lembrou que Castiel o retirou do seu decote na última vez em que... Ficaram juntos. Biblicamente falando. Afastou aquelas memórias e voltou a se concentrar no que ele estava tramando. E começava a perceber que estava funcionando.

Castiel lhe entregou a Colt e Mia deduziu que ele também devia ter pegado aquele item com os Winchester. O que significava que Sam e Dean estavam mesmo por trás daquilo. Mia não sabia, mas depois que Stefan entregou o presente dela para Castiel, o anjo procurou Sam e Dean e os dois o ajudaram a montar aquela surpresa para Mia. Algumas coisas ele já tinha, e outras, como a Colt, eram um pequeno empréstimo por uma boa causa: fazer Mia lembrar que ela era uma caçadora e que Mystic Falls não era o seu lugar.

Mia pensava em como faria Sam, Dean e Stefan pagarem caro por aquilo, quando Castiel interrompeu os seus pensamentos dizendo:

- Há alguns meses,, você quase usou esta arma contra Klaus e na festa você torturou Silas com ela para descobrir onde eu estava. Você salvou a minha vida, Mia. E eu nunca vou parar de te agradecer por isso. Eu me orgulho de você. Você agiu exatamente como uma caçadora agiria. Porque você é assim.

Por último, Castiel retirou da caixa o amuleto de proteção que Dean usou por anos e que havia sido um presente de Sam quando os dois eram crianças. Há alguns anos, Dean o jogou fora depois que eles descobriram que Deus parecia não se importar com o Apocalipse eminente.

Aquele mesmo amuleto, por obra do destino, foi parar nas mãos de Mia e mais tarde ela o deu de presente para a sua amiga Melissa na faculdade em San Francisco. Mia não entendia como aquilo tinha ido parar dentro daquela caixa e Castiel se viu obrigado a explicar:

- Eu não quis te contar na época, mas a sua amiga jogou fora. Ela achou... Cafona.

- Não dá para culpá-la. - deixou escapar Mia.

- Posso? - sugeriu ele enquanto erguia o amuleto para colocar no pescoço de Mia e como ela hesitou, ele elogiou - Eu sempre achei que ficava bem em você.

Mia sorriu levemente e se sentou de lado ficando um pouco de costas para o anjo. Ele afastou os seus cabelos delicadamente e colocou o amuleto em seu pescoço. Em seguida ela se ajeitou no banco novamente e ele indagou:

- Você sabe o que tudo isso significa?

Sim ela sabia, mas ainda tentou relutar:

- Cas... Eu...

- Eu não sou um professor de História, Mia. Assim como você não é um monstro. Você é uma caçadora. Sempre foi. Sempre esteve destinada a ser. Eu percebi isso quando você tentou me atacar com o spray de pimenta naquela madrugada. E por mais que você seja incrivelmente teimosa e tente se enganar, Mystic Falls não é o seu lar. Porque eu sou o seu lar. E você é o meu. Você pode dizer o que quiser, mas nada vai me convencer de que nós não devemos ficar juntos. Eu te amo. E você me ama também. O que pode ser mais importante do que isso? Exato. Nada.

Mia o olhou sem conseguir mais lutar contra o que realmente queria e sentia. Também o amava e não ia conseguir esquecê-lo. Mesmo se perdesse a memória de novo, e de novo, e de novo...

No fim, Stefan estava certo. Como sempre aliás. Castiel estava certo. Todos estavam certos. Mystic Falls não era o seu lugar. O seu lugar era ao lado de Castiel e com os Winchester. Na estrada. E não podia abrir mão de quem ela era, do que ela sentia e de quem ela queria. E ela queria Castiel. Sempre foi ele. Sempre seria ele. Se perguntava como pôde ter sido tão estúpida e achar que conseguiria abrir mão dele e do que sentia. Aquilo era impossível. E ela era uma caçadora sim. Independente de qualquer coisa. Mesmo sendo uma vampira agora. Ela ainda era ela. A garota sobrenatural. E era completamente doida por Castiel. Por que continuar lutando contra isso? Seu coração acelerava a cada segundo a medida que se dava conta de tudo isso.

- Têm muitas outras coisas nesta caixa, Mia, e todas elas me lembram você de alguma forma. Me lembram o que você significa pra mim e me dizem quem você é realmente. E não importa se você é uma vampira ou se tem sangue de demônio, você ainda é e sempre será a minha garota. A minha garota sobrenatural. - disse Castiel como se tivesse lido os seus pensamentos.

Mia ficou sem reação por alguns segundos, mas sem perceber sorriu e admitiu por fim:

- Você me pegou, anjo. Eu nem sei o que dizer... E olha que pra me deixar sem palavras...

- Você sabe o que dizer. - interrompeu ele - Diga.

Mia o olhou um tanto confusa, mas entendeu o que ele queria ouvir. Então ela se levantou e sentou em seu colo. Ele passou aos mãos pela sua cintura e a olhou com um brilho indescritível no olhar. Mia viu um leve sorriso se formar nos lábios de Castiel e passou as mãos em volta de seu pescoço. E diante do olhar apaixonado dele, qualquer defesa que Mia ainda insistia em manter, desmoronou. E percebeu que não tinha como lutar contra aquilo. E que não precisava lutar. Castiel era o seu lar. Castiel era o seu amor.

- Eu te amo. Meu anjo, nerd, lindo e hot. - declarou ela por fim.

E em seguida, ela encostou o seu rosto no dele e fechou os olhos. Ele fechou os olhos também e acariciou o rosto da garota e os seus cabelos delicadamente antes de puxá-la mais para perto de si. Mia aproximou os lábios dos dele e os tocou devagar. Logo Castiel envolveu seus lábios com paixão e Mia se entregou de vez àquele momento. E então ela se deu conta de que foi estupidez pensar que conseguiria viver sem aquele beijo. Sem Castiel. Era impossível.

- Obrigada por abrir os meus olhos e refrescar a minha memória, anjo. - agradeceu ela afastando um pouco o rosto.

- Disponha. - respondeu ele sorrindo antes de beijá-la novamente.

XXX

Na manhã seguinte, Sam e Dean estavam no Impala em frente a casa dos Salvatore esperando Mia que terminava de arrumar as malas. Castiel havia chegado há pouco tempo e estava sentado na poltrona do quarto dela observando cada movimento da garota. Pouco tempo depois, ela fechou a última mala e anunciou:

- Pronto!

Neste momento Damon entrou no quarto e ofereceu ajuda:

- Pode deixar que eu mesmo levo as suas malas até o carro. Eu faço questão.

- Eu sei que você vai sentir minha falta, Damon. - brincou Mia enquanto ele pegava as malas - Mas por favor, tente não chorar, ok? Você precisa ser forte. Mas não se preocupe, eu venho te visitar.

- Isso é uma promessa ou uma ameaça? - perguntou ele. Em seguida parou na porta e brincou enquanto olhava para o casal - Não demorem muito, se comportem e não façam nada que eu não faria.

Mia pensou sobre aquele conselho e começou a dizer:

- Sabe, você e o Dean... Esquece.

Damon sorriu sem entender direito e saiu do quarto deixando os dois sozinhos.

- O que será que ele quis dizer com "não façam nada que eu não faria"? - insinuou Castiel com um sorriso malicioso.

Mia se aproximou, sentou em seu colo, passou os braços em volta do pescoço dele e respondeu antes de beijá-lo:

- Eu não tenho ideia.

- Eu já disse que eu te amo? - perguntou Castiel em seguida.

- Hoje não. - respondeu ela depois de pensar por alguns segundos.

- Então... Eu te amo, Mia. Hoje mais do que ontem e amanhã mais do que hoje.

- Eu também te amo, anjo. Não tem jeito... Parece que você é mesmo o cara pra mim. Quem diria, não? - retribui ela lhe dando mais um beijo - Ah! E eu já disse como estou feliz pelo velho Cas ter voltado?

- Hoje não. - respondeu ele depois de pensar por alguns segundos.

- Então... Eu estou muito feliz pelo velho, adorável, charmoso e sem noção Cas ter voltado.

- Sem noção? - repetiu ele um tanto ofendido.

- Às vezes. - respondeu Mia sorrindo - Mas eu gosto dessa parte também.

Damon colocou as malas dentro do porta-malas do Mustang ao mesmo tempo em que Stefan apareceu ao seu lado.

- Little brother, o que você veio fazer aqui? - indagou o mais velho.

- Me despedir da Mia e me certificar de que os Winchester vão mesmo embora. - respondeu Stefan sorrindo enquanto a garota saía da casa acompanhada por Castiel e Elena.

- Stefan! - exclamou Mia correndo e o abraçando forte - Eu vou sentir tanto a sua falta, sabia?

- Eu também... - respondeu ele - Principalmente do Uísque.

Mia riu e perguntou em seguida:

- Mas me conta! Você seguiu o meu conselho?

Stefan fez um certo suspense antes de responder com um olhar apaixonado ao lembrar de Caroline:

- Foi um ótimo conselho.

Mia sorriu e bateu no ombro do amigo ao dizer:

- Eu sabia que vocês iam se entender.

- Eu também sabia que vocês iam se entender. - retribuiu Stefan olhando para Castiel alguns passos atrás de Mia.

Ela sorriu e em seguida lembrou:

- Ah! Eu não tive tempo de me despedir, mas diga pra Caroline que eu vou sentir muita falta dela também. E para o Jeremy. Ah! E se você ver o Tyler... Fuja. Corra sem olhar pra trás.

- Muito engraçada. Se cuida, ok? - respondeu Stefan sorrindo - Ah! Espera! Não vá embora ainda, eu tenho um presente para vocês. - anunciou ele e em seguida entrou na casa.

- Vocês? - repetiu Mia sem entender do que o vampiro estava falando.

- Ele  é legal, mas se ousar te beijar de novo, eu o mato. - ameaçou Castiel ficando do lado dela.

Mia sorriu e deu um beijo na bochecha do anjo antes de tranquilizá-lo:

- Não se preocupe. Nós não fazemos o tipo um do outro. Stefan gosta de loiras e eu de caras idiotas, lembra?

Castiel a olhou e deu um leve sorriso antes de tocar seus lábios levemente com um selinho. Em seguida, eles olharam para a porta e viram Stefan sair da casa carregando a poltrona que até então ficava quarto de Mia.

- Eu não acredito... - surpreendeu-se ela sorrindo ao ver que aquele era o presente - Tem certeza? Digo... É perfeito, Stefan! Obrigada!

- Só prometa que vai mantê-la num lugar só desta vez, ok? Nada de ficar redecorando o quarto toda hora. - brincou ele.

- Eu prometo! - garantiu Mia sorrindo.

E com a ajuda de Damon, Stefan amarrou a poltrona em cima do Mustang. Em seguida, ele abraçou Mia mais uma vez e apertou a mão de Castiel que acabou sorrindo para o vampiro porque sabia que não havia motivo para ter ciúmes.

Damon se aproximou, fez um cafuné em Mia e também a abraçou antes de dizer:

- Se cuida, Sunshine.

- Você também... Crepúsculo. - retribuiu ela.

Cansados de esperar e achando aquele momento uma eterna rasgação de seda, Dean saiu do carro junto com Sam, se apoiou na porta e provocou:

- Nós vamos cuidar dela. Não se preocupe, Crepúsculo. Ela está em boas mãos agora.

- Cuidar de mim? - repetiu Mia surpresa - Vocês têm noção que eu sou mais forte, mais rápida e mais ágil do que vocês agora?

- Você sempre vai precisar da gente, Mia. Você faz parte da nossa família. E numa família um cuida do outro. - ressaltou Sam.

Mia sorriu e percebeu que não importava o quanto ela mudasse, Sam, Dean e Castiel sempre a veriam como aquela garota assustada que caiu em uma cova de cemitério há alguns meses. Ainda pensava nisso, quando Elena se aproximou, a abraçou forte e sussurrou em seu ouvido em tom de brincadeira:

- Volte quando você quiser. Só não traga aqueles dois.

Mia riu e Dean indagou desconfiado:

- Qual é a graça?

- É melhor você não saber. - desconversou a garota entrando no Mustang com Castiel.

Então Damon olhou para os Winchester e brincou também:

- Vocês têm noção de como nós estamos tristes por vocês finalmente estarem indo embora? Tem certeza que vocês não querem ficar mais alguns dias, amigos?

- Oh, acredite, eu ia adorar. - ironizou Dean - Mas nós temos trabalho a fazer, sabe? Vocês conseguem entender isso? Essa palavra? Trabalho? Coisas realmente importantes? Como salvar o mundo, por exemplo?

- Sim, eu consigo entender. Como salvar dois caçadores da morte, não é? - lembrou Stefan.

- Ah! Sobre aquilo, eu pensei melhor e eu acho que nós estávamos nos virando bem. Nós íamos dar um jeito. - disse Sam.

- Vocês estavam inconscientes. Feito duas donzelas em perigo. - zombou Damon.

- Isso é apenas um detalhe. - desconversou Dean - Acredite, nós já estivemos em situações piores. Claro que isso está muito longe da compreensão de vocês.

- Bem, apesar de tudo, eu vou sentir falta de vocês. - disse Stefan encerrando aquela discussão.

- É, eu também. - acrescentou Elena.

- Eu não. - discordou Damon - Desculpe, mas eu sou sincero.

- Ah! Nós vamos sentir falta de vocês também. - disse Sam com um sorriso sarcástico - Vocês nem imaginam o quanto.

- Vamos é? - estranhou Dean sem entender a piada e quando entendeu, acrescentou - É vamos! Apesar de vocês serem um bando de sanguessugas, até que vocês são legais.

- É mesmo? - surpreendeu-se Damon.

Dean entrou no carro seguido pelo irmão e explicou:

- Eu só estou sendo gentil, Crepúsculo. A verdade é que eu não vejo a hora de sair dessa cidade maluca.

- E eu não vejo a hora de vocês irem. Então pra que tanta demora? Façam uma ótima viagem, amigos. - respondeu Damon acenando.

- Obrigado. E se comportem ou nós vamos ter que voltar qualquer dia desses pra ensinar boas maneiras pra vocês. - encerrou Dean dando partida no carro em seguida.

- Mas se por acaso vocês resolverem voltar um dia, liguem antes, ok? Para termos tempo de demolir a ponte. - gritou Damon e Dean buzinou.

Jeremy se aproximou da mansão carregando algumas malas e com o fantasma de Bonnie ao seu lado. Ele acenou, Mia buzinou e gritou da janela:

- Tchau, The Walking Dead! Tchau, Bonnie!

Dean também buzinou e olhou pelo retrovisor. Mas não viu o fantasma da bruxa. Todos estavam distraídos demais para perceberem o que tinha acontecido. E Jeremy só soube porque Bonnie disse de repente e confusa:

- Ela me viu! A Mia me viu! Ela não via mais fantasmas desde que virou vampira, mas agora ela me viu. Como?

Jeremy olhou intrigado para Bonnie e depois para Mia na janela do Mustang. Mas tinha certeza de que a garota estava em boas mãos. O que quer que aquilo significasse, sabia que os Winchester a ajudariam a entender e a resolver o que fosse. E ele também sabia que tinha uma promessa a cumprir. Encontrar uma forma de trazer Bonnie de volta. E ia fazer de tudo para conseguir cumprir o que prometeu para Dean Winchester.

E então ele e os outros observaram o Impala e o Mustang se afastarem e disseram ao mesmo tempo antes de rirem daquilo:

- Graças a Deus!

Alguns metrôs adiante, Mia parou o Mustang ao lado do Impala enquanto o semáforo estava fechado e perguntou:

- Lebanon, Kansas? Bunker dos Homens das Letras?

- Na mosca. - confirmou Dean.

- Não esqueçam que vocês terão que me convidar para entrar, ok? - lembrou ela.

- Eu nunca vou me acostumar com isso. - resmungou Dean e olhando para o Mustang provocou - Tente acompanhar o meu bebê, ok? Eu sei que vai ser difícil com essa lata velha aí, mas faça um esforço. Você consegue?

Mia sorriu com desdém e devolveu a provocação:

- Eu prometo que vou tentar, Dean. Mas já vou avisando que o último mecânico fez um serviço meio porco no meu bebê. Então, não é minha culpa se eu chegar um pouco depois, ok?

Sam riu ao lembrar que foi o irmão que consertou o Mustang, Dean ignorou o comentário e acelerou assim que o semáforo abriu. Mia olhou para Castiel e sorriu. Em seguida ligou o rádio. Estava tocando BreakAway da Kelly Clarkson.

- Oh! Meu Deus! Eu amo essa música! - confessou ela antes de aumentar o volume e dar partida também.

No Impala, Sam abriu o porta-luvas e retirou o frasco com o sangue de Silas. Depois de alguns instantes pensando, ele disse:

- Curar uma vampira, recuperar a graça de um anjo, anjos caídos, Crowley, Abaddon...

- É... A diversão nunca acaba. Awesome! - respondeu Dean de olho na estrada e no Mustang logo atrás porque não queria ser ultrapassado de jeito algum.

- Dean, quantos anos você tem?

- O quê?

- Cara, você está mesmo disputando com a Mia? - indagou Sam incrédulo.

- Não. - mentiu Dean - Pra ser uma disputa, Mia precisaria ter alguma chance. E ninguém tem chance contra o meu bebê.

- Certo... - assentiu Sam suspirando e sem querer argumentar com o irmão.

Em seguida ele guardou o frasco com o sangue do vampiro que transformou Mia no porta-luvas e pegou o notebook no banco detrás. Por um instante, pensou em Meredith e ficou um tanto distante.

- Você quer conversar? - perguntou Dean.

- O quê? - não entendeu o mais novo.

- Você sabe... Sobre check-up, medicina, seguro saúde... - insinuou Dean.

- Não. Obrigado. - dispensou Sam.

- Tem certeza? Por que às vezes é bom colocar pra fora. - aconselhou o mais velho.

- Dean, eu não quero falar sobre Meredith. - esclareceu Sam.

- Por que não? - insistiu Dean.

Sam fechou o notebook e propôs um tanto irritado:

- Ok. Eu falo sobre ela se você falar sobre a Bonnie.

Dean fechou a cara e dispensou enquanto mantinha os olhos na estrada:

- Não. Obrigado.

- Por que não? - indagou Sam e como o irmão permaneceu mudo, ele concluiu - Como eu pensei.

- Bitch... - resmungou Dean.

- Jerk. - devolveu Sam abrindo o notebook.

Em seguida Dean ligou o rádio na mesma estação que Mia estava ouvindo e ficou alguns segundos imóvel prestando atenção na música.

- Kelly Clarkson? Sério? - riu Sam.

- Cala a boca. Eu gosto desta música. - confessou Dean.

Enquanto isso, Castiel observava Mia cantando animada e a olhava de um jeito apaixonado. Era um longo caminho até o Kansas e ele só conseguia pensar em uma coisa: em quando parariam em algum hotel. Precisava ficar sozinho com Mia. Sentia muita saudade dela e de certas coisas que faziam juntos.

Como se tivesse lido os seus pensamentos, Mia sorriu e lhe deu um beijo enquanto Castiel se encarregou de segurar o volante. Ela sempre esquecia do volante.

E apesar de estar morta, Mia sentia-se mais viva do que nunca. Castiel a fazia se sentir desta forma, assim como Sam e Dean. E apesar de estarem na estrada, Mia já se sentia em casa. Ela é uma caçadora. Como pôde se esquecer disso? Por sorte, Castiel a ajudou a lembrar de tudo. E agora ela nunca mais esqueceria disso. Estava ansiosa para voltar para o family business. Suspirou e sorriu ao lembrar de como caçar podia ser divertido. Às vezes, pelo menos.

O Impala e o Mustang seguiram pela estrada e logo deixaram Mystic Falls para trás. E nenhum deles imaginava o que poderiam encontrar durante o caminho ou quando chegassem no destino final, mas nada disso importa porque a verdade é que eles adoram um desafio e estão sempre prontos para qualquer coisa que apareça. Porque juntos eles podem fazer qualquer coisa. Porque juntos eles são mais fortes. E porque juntos eles são uma família.

Fim!!!