Wesen Para Matar escrita por GhostOne


Capítulo 18
Prenda-nos se puder


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI! Depois de um bloqueio do capeta, estou de volta (e apaixonada por uma foto da Bitsie Tulloch onde o David tá com cara de quem quer aprontar com ela *-* BE SAFE KIDS MAS ME DÊEM BEBÊS)
Então, apaguei os últimos quatro capítulos, que eu tinha escrito meio que empurrando com a barriga, e vim com mais um, que espero que esteja melhor.
(Enquanto isso, em Kalam Ala Waraq, o Hamza morreu e eu não entendo nada ‘-‘)
(Mas eu vou até o fim. E não vou shippar a Haifa com o par romântico dela lá, o dito Hamza, porque eu sou ALICARD até o fim. :D)
Boa leitura!
With the compliments of Prince Renard!
PS: Com um super atraso, milhões de reedições e nada me agradou. Muitos skips, e o final está com intercalações do tempo presente e um momento futuro. (Se imaginarem, a cena fica fods *u*) Espero que vocês gostem!

Editado: 09/08



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Eu estava seguindo meu plano de tentar entrar em coma com o café quando Monroe desceu as escadas.

− Uau. Bom dia!

− Bom dia – Respondi, menos sonolento e meio seco. – Seu café. – Apontei uma xícara. – Desculpe se está frio.

− Nossa, obrigado. – Ele provou um pouco. – Dá pra tomar. Mas o que te tirou da cama tão cedo?

− Não consegui dormir direito, vim pra cá depois de duas horas rolando na cama. – Esfreguei o rosto, tentando espantar o mau humor e o sono que insistia em me amar e ficar.

− Bom... Nada a comentar, exceto que sinto muito pelo sono perdido. – Ele tomou um gole do seu café. – Teve pesadelos?

− Uma ligação que me fez lembrar e ficar remoendo o que eu fiz de errado com a Juliette.

− Oh-oh. O que você fez?

Fiquei pensando se deveria contar a ele, justamente quando o telefone tocou.

− Te conto já. – Atendi o celular. – Burkhardt.

− Há mortos esperando pelo ar de sua graça. – Brincou Hank. – As coisas estão interessantes.

Alguém censure meu próximo pensamento.

*

Cheguei sem a menor vontade de trabalhar, mas Hank parecia não querer me deixar de lado. Muito menos Wu.

− Alguns trabalhadores encontraram os corpos e ligaram pra cá. Um deles disse ter visto uma loira e uma morena saírem correndo da lateral da construção, as duas com uma “velocidade sobrenatural”. – Ele apontou um Renault estacionado ali na frente. – Estamos rastreando a placa.

Permaneci em raciocínio.

− Onde estão os corpos?

− Sigam-me, cavalheiros.

Fomos para o fundo da construção, onde tinha três caras mortos de um jeito criativo. Todos de preto. Se eram Verrat, então poderia ser Alicia. De novo. O ácido era um ponto a favor.

− Quanto ácido. Ainda não saiu o exame toxicológico? – Perguntei.

− Claro que não. Mas isso me fez lembrar um caso antigo. Lembram do cara rico que apareceu mumificado no dia seguinte?

Claro que eu lembrava.

− Acha que temos outra mulher aranha? – Fiz aspas com os dedos. Tomara que ele nunca soubesse quanto aquela denominação era verdade.

− Pode ser. Mas esse e aquele ali – Ele apontou – Não foram mortos por ácido.

Eu estranhei um deles. O rosto estava derretido, mas não havia sinal de que ele tinha morrido daquilo, como Wu afirmou. Rodeei o corpo, esperando ver algo, e notei algo no rosto dele.

Me aproximei do segundo e inclinei sua cabeça, com as mãos envoltas em luvas.

Um tiro.

− Alguma arma foi encontrada?

− Não por perto. Mas estão procurando. Não que eu ache que vamos achar, essa floresta é enorme, e as assassinas podem ter levado.

− Mesmo assim, vamos tentar.

Fiquei confabulando, pensando, maquinando, mas não vinha nada à minha cabeça fora minha preocupação com minha irmã e o fato estranho de que eu me apegara fácil demais.

De volta à delegacia, uma busca apurada não revelou coisíssima nenhuma quanto a quem eram*.

− Estamos sem nada, então.

− Por que tem tantos deles? Esses casos estão ficando sobrecarregados. – Hank reclamou. – Pode fazer o favor de mandar esses caras pararem de persegui-la?

− Fosse tão fácil. – Estalei os dedos e olhei pra tela do computador.

Eu ficava pensando porque, justo com Alicia, a Verrat não se incomodava em ficar perseguindo-a. Será que não custava pra eles? Ou os caras de preto estavam realmente desesperados em tê-la de volta?

Nisso, já eram quase dez horas, e eu estava comendo um donut pra me aguentar até o meio-dia. Tínhamos encontrado os corpos às nove horas, e estávamos revendo os outros casos.

Não sabíamos o que fazer com tanta coisa. Todos os assassinatos estavam conectados, simplesmente pelas marcas nas mãos. E aquilo era apreensivo. Pelo menos, se achássemos, oficialmente, “os assassinos”, poderíamos fechar tudo aquilo.

E, de repente, Wu chegou.

− Ei. Encontraram uma arma a duzentos metros da madeireira, já enviamos pra Balística, os resultados devem sair hoje à tarde. E chegaram os resultados do exame toxicológico. – Ele nos passou a ficha. – Passar bem.

− Você leu? – Perguntei.

− Sim – Ele disse, e graciosamente deu o fora.

Suspiramos, e Hank abriu a pasta.

− Veneno de aranha. – Ele me passou o arquivo. – Nick, se for ela, você não vai poder fazer nada, sabe disso.

− Isso não torna nada mais favorável. – Esfreguei uma têmpora. – Quer dizer...

− Como é possível que você se apegue tão rápido, cara?

− Matar pessoas juntos aproxima.

Eu queria saber como reiniciar meu relacionamento com Alicia. Na verdade, eu queria saber como reiniciar minha vida inteira, como mudar minha vida inteira.

Nunca me senti tão antipático. Precisávamos dos resultados da arma; aquilo seria a última confirmação, que poderia colocar Alicia na cadeia ou então libertá-la.

Não preciso nem dizer o que eu queria.

*

Um copo de café mais um x-salada. Esse era meu almoço.

Eu estava nervoso, e eu costumo ficar com fome quando estou nervoso. Estranho, mas é assim que eu sou. Estava sentado no carro, limpando as mãos no guardanapo quando recebi uma ligação. Era o Hank.

− Oi. – Coloquei no viva-voz.

Nick, chegaram os resultados da Balística.

− Já?

Já. E você não vai acreditar no que eu consegui.

− São desconhecidas?

São é muito bem conhecidas.

*

− Emily Cooper?

Nem eu nem o capitão estávamos engolindo aquilo direito.

− Essa não é... – O nome me lembrava algo, muito vagamente, muito mesmo. Por que eu não lembrava?

− Filha de Abigail Cooper. Desapareceu na França, com treze anos. Teria por volta dos dezenove, agora. Ela é herdeira da marca joalheira da mãe, que é bem sucedida, por falar nisso. Rende uns cem mil a cada mês.

Meus olhos quase pularam da cara.

− Cem mil? – Renard estava tão incrédulo quanto eu. – Mas...

− É uma multinacional. Mas estava desaparecida, sem nenhuma notícia dela desde lá. No ano seguinte ao desaparecimento da filha, Abigail foi assassinada. Não sabem quem a matou, o corpo foi encontrado num rio.

− E sobre o carro?

− Wu já conseguiu a placa. Foi alugado ontem de manhã, por Jaline Calleat. Curiosidade, fui checar o nome dela e ela também é filha de Abigail. – Hank nos mostrou a ficha. Era loira, bonita.

Loira.

A Loira.

− Então ela é irmã de Emily?

− Por parte de mãe. Mora na França, e tem como sua parte da herança a parte oriental da empresa da mãe. E ela tentou passar o resto pro seu nome, tendo ido à justiça quatro vezes pra isso. Vetada em todas as quatro, nunca mais tentou desde então.

− Quem tem administrado a empresa sem Abigail? – O capitão estava encarando a tela do computador.

− A mulher que era seu braço direito, Emilia Labonair.

− Se Jaline já tentou ganhar a empresa tantas vezes, por que não tentaria mais uma vez? Pode ser por isso que ela está aqui.

− Depois de tantas tentativas frustradas, nunca se sabe. Eu não insistiria muito. – Hank deu de ombros. – A arma foi disparada pela Emily, o carro era de Jaline, não tinha mais nenhum veículo. Elas devem ter ido juntas e fugido pela floresta, se era lá que a arma estava.

− O que diz o testamento da mãe?

− Que aos vinte e um anos, tudo que a pertence passava pra Emily. O testamento foi feito antes da viagem à França, teve que ser alterado de última hora. Se ela não reaparecesse, que tudo fosse para Jaline.

− Jaline poderia ter armado uma emboscada? – Sugeri. – Parece louco, mas acabei de pensar nisso.

− Ela a levaria para a madeireira com alguma desculpa qualquer, e os homens estariam esperando lá para matá-la? – Hank completou. – Jaline deveria estar morta também, não?

− Seja o que quer que tenha sido, eles subestimaram essa Emily. Deve ser mais forte do que parece. – O capitão olhou a ficha da menina. – Tentem ver se Emilia Labonair teve notícias recentes de Jaline. Se tiver, e se ela souber algo de Emily, se essa garota estiver aqui, quero as duas presas.

Saímos da sala, nos entreolhamos e demos de ombros. Eram ordens, fazer o quê.

Foi aí que eu me lembrei.

Emily Cooper era amiga de Alicia.

*

O lugar era de rico.

O prédio era enorme, todo branco, com janelas e mais janelas. O aspecto clínico e frio era um pouco mais quebrado no interior, com sofás confortáveis, plantas de enfeite e as paredes com uma cor de pele que era até bonita. Tinha uma loira atrás do balcão, com a logomarca da empresa floreada e prateada na frente.

− Em que posso ajudar? – Ela disse, com voz calma e calculada, sem sequer nos olhar no primeiro momento. Assim que ergueu o rosto, deu de cara com nossos distintivos.

– Precisamos falar com seu chefe, sua chefe, quem quer que seja. – Hank pronunciou, e ela engoliu em seco.

− Um instante. – Ela interfonou pra quem quer que seja, e logo nos mandou subir.

− Último andar – Ela disse, e agradecemos antes da porta fechar.

− O que acha? – Perguntei, pra quebrar o gelo assim que ele apertou o botão.

− Eu queria ter vindo de terno – Hank se lamentou. – É tão esnobe.

− É tão endinheirado – Comentei, encarando as paredes de metal escovado. – Imagino o quanto eles queriam esbanjar.

− Eu queria que essa mulher ainda estivesse viva, também – Ele sorriu, maliciosamente, e eu balancei a cabeça, como quem reprova algo.

− Que coisa feia, Griffin.

As portas se abriram, e de repente me senti acanhado.

As paredes eram de um vermelho neutro e creme, ambos suavemente mudando de um para outro, e texturizadas. Na verdade, um dos lados da sala era todo de painéis de vidro, iluminando o ambiente com uma luz clara, mas não bruta. As cortinas estavam todas levantadas.

O chão era comum, mas branco, e dava pra ver seu reflexo nele. Um sofá branco na parede esquerda, uma mesinha, poltronas, frigobar... Eu estava procurando a cama, o guarda-roupa, a penteadeira e o gigolô.

− É tão inédito uma visita da polícia aqui! – Só a voz me deu arrepios. – Sou Emilia Labonair, prazer em conhecer. O que desejam?

Ela tinha o cabelo liso, provavelmente artificial, castanho claro, e usava roupas sociais normais e até bonitas, exceto pelo lencinho cor de abacate e laranja no pescoço. Eu tive um ímpeto de arrancar aquele paninho e jogá-lo pela janela. Seu rosto era levemente triangular, os olhos redondos e azuis, os lábios rosados e encorpados com um brilho de gloss. Parecia perfeitamente ter seus trinta e poucos anos.

− Detetives Griffin e Burkhardt. – Eu nos introduzi. – Precisamos conversar sobre Emily Cooper.

Emilia pareceu levemente surpresa e deliciada ao ouvir o nome da menina. Mas algo me fez ficar com dúvidas daquele rosto.

− Ah, a Emily – Só então fui notar a semelhança de nomes, enquanto ela se encaminhava pro frigobar. – Ficamos extasiados em tê-la de volta. Ela e a senhorita Calleat, que parece mais interessada em ajudar do que atrapalhar, ainda bem. Águas passadas, graças a Deus. Querem algo? Um uísque?

Fiquei confuso. Então Emily e Jaline tinham estado ali, juntas? Nenhum de nós dois sabia o que pensar.

− Não, obrigado – Meu parceiro negou. – Não bebemos em serviço.

− Então, ela está de volta?

− Sim, e parece muito disposta. – Emilia pegou um copo de água para si, bebericando-o. – Eu gosto disso. Ela voltou sem ninguém saber, foi repentino, mas pelo menos voltou bem, a salvo, e ajudando.

− Sabe que ela é suspeita de um assassinato?

Emilia girou sobre seus saltos para nos encarar.

− Perdão?

− As digitais dela foram encontradas em uma arma. – Esclareci. – Quando ela veio aqui?

− Minha nossa. – Ela se recostou na bancada. – Bem recentemente, ontem cedo... Eu não... Minha nossa. – Ela tomou um gole do copo na sua mão, parecendo tensa.

− Senhora Labonair...

− Senhorita.

− Ok. Senhorita Labonair, tem alguma ideia de quando Emily voltou?

− Nenhuma. Só fiquei sabendo ontem. – Ela deslizou uma mão pelo cabelo.

− A senhorita Calleat mostrou algum... Interesse extra ou desavença com Emily? Nós sabemos que ela já quis a empresa.

− Sim, ela quis. Mas dessa vez, só quer ajudar, e estava se dando muito bem com Emily. Tenho certeza. Vocês tem certeza de que ela matou alguém? – Ela realmente parecia abalada, os olhos brilhando.

− Ela pode ter feito isso em legítima defesa. – Justifiquei. – A senhorita tem alguma ideia de onde elas podem estar?

− No antigo endereço da mãe dela. – Achei estranho que ela estivesse tão disposta a passar o endereço de Emily para nós. – Sei que ela não fez por mal.

− Obrigado pela ajuda. – Acenei com a cabeça e lhe dei meu número. – Se conseguir pensar em algo, me ligue imediatamente.

Com uma última despedida, saímos.

− O que acha? Eu, sinceramente, fiquei confuso – Confessei. – Elas estiveram aí juntas, normalmente. Isso me faz pensar em...

− Cúmplices – Hank completou por mim. – Acho que isso é o suficiente, Nick.

− Mas como vamos fazer isso? Vamos simplesmente... Aparecer lá? – Pronto. Minha cabeça ia explodir. Cadê meu coma de café quando eu preciso dele?

− Nós não, mas é o que precisamos fazer. Somos pagos pra isso, lembra? – Ele pegou o celular e ligou de volta para a delegacia, pedindo que fossem enviadas viaturas ao endereço de Emily. – Aqui é o detetive Griffin, preciso de duas viaturas... – Enquanto ele dava os endereços à Central, eu quis me sentar na calçada e me perguntar onde eu tinha errado.

*Emily*

Eu nunca havia esboçado tanto na minha vida; estava sendo uma verdadeira válvula de escape. Já havia folhas inteiras rabiscadas com joias, que cobriam uma modelo dos pés à cabeça. Emilia estava aprovando todas, dando dicas, mas não cobrava nada.*

− Você tem um dom! – Ela estava admirada. – Vamos dobrar a receita da empresa com isso!

− Obrigada, mas eu não desenho isso por dinheiro. – Sorri. – Desenho pela paixão.

− Melhor ainda! Ai, como eu qu-

A voz dela foi interrompida pela sirene da polícia soando escadas abaixo. Meu coração quase escapou pela boca, pegou o paninho de Emilia e pulou de paraquedas prédio abaixo.

Eu sabia que não podia fugir. Se fugisse, seria ainda mais culpada. Mas era aquilo. O policial entrou na sala de Emilia e me prendeu, como todo aquele ritual, e eu só podia pensar em como minhas amigas ficariam. E em Line; eles teriam pegado Line também? Ela estava com o tornozelo torcido.

Não olhei para Emilia, ou para os meus desenhos enquanto me levavam. Mas simplesmente me perdi em uma caixinha do nada na minha cabeça enquanto a paisagem mudava e eu estava na delegacia.

*

Me colocaram em uma sala de interrogação com um espelho falso; eu podia ver fracamente a sala atrás da película. Permaneci lá, algemada e inquieta até os detetives chegarem.

Um deles era Nick, e fiquei surpresa (e até meio alegre, como se fosse uma piadinha) com a presença dele ali. Ele meio que me estranhou, mas logo relaxou. O outro era um afrodescendente que eu não jogaria fora, definitivamente.

− Emily Cooper. – Pelo jeito, era só o afrodescendente que iria falar. – Você esteve desaparecida por um bom tempo.

− É, estive. – Bati com as mãos algemadas na mesa, inquieta. Eu não queria ladainha, mas não queria acusação.

− E por onde esteve?

− Por uns lugares que eu não queria estar, com gente que eu não gostaria de estar, sendo quem eu não gostaria de ser.

− Isso deve ter te mudado muito, agora você é até uma assassina. – Eles colocaram as fotos sobre a mesa, não me dei ao trabalho de olhá-las. Eu sabia o trabalho que tinha feito.

− Não havia muitas opções quanto a isso. – Suspirei fundo. E o Nick? Ele estava só lá, parado, olhando. Se fosse pra fazer isso, ficasse atrás do vidro. – Olha, entre eu e esses caras, eu me prefiro. E eu queria poder evitar isso, mas lá fora algum sangue tem que ser derramado, e eu quero que não seja nem o meu, nem das pessoas que amo. Então, se eu puder evitar, eu evito. Foi o que eu fiz.

Nick ergueu uma sobrancelha.

− Está assumindo? – Ele perguntou, mansamente. Olhei para o espelho; com um pouco de concentração, eu vi a silhueta enorme do homem ali. Farejei um pouco, mas não consegui captar o cheiro dele direito.

− Estou. Aqui, agora. Eu matei esses homens e declaro que foi legítima defesa. Me processe! Cansei desse joguinho. – Abaixei a cabeça. – Mas soltem Line, coitada. Ela não tem culpa disso.

Os dois se entreolharam, parecendo fazer uma conexão telepática dos fatos.

− Conte-nos tudo, Emily. Defenda sua história. – Nick me incentivou. Quando olhei pra cima, ele sorria pra mim.

Deusmeacode.

− Tem certeza?

− Todos aqui sabem. Vamos fazer uma análise do que você disser pra nos basear em algo e te liberar.

Então contei. Contei todos os detalhes importantes, tudo o que nos tiraria dali. Mostrei a marca em minha mão.

− Ele é o quê? – Apontei pro detetive de pele escura.

− Humano. Voltamos já. – Eles se levantaram. – Um pouco de paciência, Emily. Precisamos fazer tudo de acordo com as regras.

Eu ri internamente. Paciência! Eu tinha fugido por dois anos inteiros. Pode não parecer, mas paciência era o que eu mais tinha. Poderia simplesmente esperar pelo apocalipse ali se me pedissem.

Passou-se o que me pareceu uma hora, e mais uma hora e meia até que aparecessem ali de novo.

− Você está livre – Nick abriu espaço para eu passar e sair dali. – Fomos bonzinhos.

− Ela arrancaria seu couro se não fosse – Eu sorri e contive o impulso de abraçá-lo. – Obrigada. E tchau. – Saí e logo encontrei Jaline, zoada, abalada, mas bem, e sem a faixa no pé. Praticamente nos derrubei ao abraçá-la.

− Line!

− Pronto, estamos salvas. – Ela me abraçou forte. – Quando me perguntaram o que tinha acontecido eu soube que você tinha contado. Como?

− Te explico depois. – Saímos da delegacia o mais rápido que pudemos, felizes e livres por pelo menos não estarmos encarceradas na cadeia. A Verrat que viesse! Eu não ligava.

A minha maior surpresa viria do que acontecia depois.

*

Em casa, as meninas estavam quase chorando. Alicia quase nos derrubou (quantas de nós que fazemos isso?) de felicidade, e depois de uma versão resumida da coisa toda, todas nos calamos.

− Onde estão aqueles seguranças mesmo? – Perguntei.

− Eles não podiam bater nos policiais, e eu mandei dois deles pro prédio. Seria uma boa coisa... – Jaline enrolou uma mechinha de cabelo no dedo e Ally bateu o copo na mesa. – Que foi?

− Tô de saco cheio. A Verrat que vem aqui todos cheios de pose, mas nós que pagamos o pato sendo fichadas de assassinas e indo presas?

− Ally, é um saco, mas não temos o que fazer. – Barbie suspirou. – Vamos todas descansar. Depois de uma porrada dessas no ego, todas – Ela enfatizou com uma voz forte – nós precisamos de um bom banho. Sim, meninas?

Eu e Jaline mais do que concordamos, levantando das cadeiras e subindo escadas. Porém, Alicia ficou ali, e eu me resignei a não empurrá-la além do seu limite.

*Alicia*

O que eu faria? Estava estressada e com a cabeça bagunçada. Mas também não deixaria mais nenhuma de nós ir presa por aquilo. Eu iria evitar a todo custo, o problema era que:

1) Qual era o preço?

2) Eu podia mesmo pagar?

Porque talvez eu tivesse que começar a matar policiais, e isso eu não queria de jeito nenhum. E se um dia fosse Nick? Emily tinha contado que ele a tinha interrogado. E se eu precisasse matá-lo?

Coloquei minha cabeça entre os braços. Eu não queria, sabia que ele não podia fazer nada. Mas, valia a pena. Valia? Eu o odiava, mas ainda o tinha como aliado. Se não conseguíssemos chegar a um consenso...

Desisti de pensar. Eu iria, e se Renard não tivesse nenhuma resposta, eu iria prosseguir com meu plano. Iria matar todos, um a um. Desde que não fossem uniformes*.

*

O caminho era conhecido, e principalmente o cheiro dele. Aquele hibridismo simples, não era complexo, difícil de decifrar, como o meu, e que por isso era tão característico. O dele era como um copo de achocolatado. Era uma coisa só e mesmo assim você sabia que tinham, na verdade, duas coisas. Era como ele.

− Vamos dividir o apartamento desse jeito, mulher. – Ele estava com um copo de uísque na mão e sem o terno. Era quase estranho.

− Você sabe do seu último caso, não sabe? – Parei encostada na parede, cruzando os braços. – Emily.

− Sua amiguinha é rica, e não era totalmente culpada. Eu não tinha porquê mantê-la.

− Ainda bem que não o fez. Eu vim aqui pelo motivo que ela foi presa.

Renard pareceu encaixar umas pecinhas na sua mente.

− Não foi você que matou, Alicia. Não eram suas digitais, nada te ligou à Jaline. O que quer, então?

− Bicho burro. Estou dizendo que os Verrat não param de chegar. Sei que você provavelmente não tem ideia do que fazer, mas eu precisava vir. Precisava... Confirmar. – Passei um pé no chão, não dando tempo para que minha mente completasse a frase por conta própria. Era estranho como às vezes vinham pensamentos totalmente contrários aos que eu tinha por vontade.

− Mesmo que eu queira fazer birra pelo jeito que você me chamou, tenho a mesma vontade que você tem de tirá-los daqui. – Ergui uma sobrancelha. – Tirá-los do meu espaço, sem representar nenhum perigo nem pro Nick nem pra mim. – Tinha que meter os próprios interesses aí. Vagabundo. – Mas duvido que meu irmão se importe. Eu poderia jogar escândalos dele na mídia e não surtaria efeito. Suponho.

Mídia.

A palavra ficou dando voltas na minha cabeça, vezes e vezes, até que a sementinha começou a dar fruto.

− Renard... Mídia. – Olhei pra ele, claramente confuso.

− Quer que eu te explique?

− Não! Mas... E se colocarmos a Verrat em uma posição que dificulte a entrada deles por aqui, usando a mídia? Se todos os Estados Unidos... Souberem...

− Primeiro, querida, todos os Estados Unidos teriam que saber da existência Wesen na sociedade, e vou lhe lembrando que nem todos os Estados Unidos são feitos de pessoas como nós. Segundo, isso não os pararia. Sei porque sou perseguido por eles desde os meus treze anos.

Suspirei.

− Filhote, ouve, aprova e então, reunimos todo mundo pra explicar meu plano.

*Skip*

− Todos aqui, Alicia. Pode desembuchar.

Estávamos eu, o Renard, Emily, Barbie, Jaline e o Nick, junto com seu amigo Hank, a quem fomos apresentadas (eu e Barbie; Emily e sua irmã já o conheciam muuuuito bem). Ele tinha deixado que eu chamasse as garotas pra casa dele, mas eu sabia o desconforto dele ao ter três assassinas em casa.

− Temos um plano. Um que, taaaalvez, poderia tirar a Verrat da nossa cola.

Todos que estavam sendo introduzidos ao plano arregalaram os olhos.

− E como seria isso, querida, se ainda não conseguimos? – Emily sorriu pra mim com falsa doçura.

− Com vocês duas. – Sorri ainda mais falsa-doce, e elas definitivamente se surpreenderam. – Ouçam, apenas.

Foi anunciada, esta manhã, uma coletiva de imprensa com Emily Cooper, que recentemente, retornou da Europa depois de anos desaparecida, e até erroneamente assumida como morta. Junto a ela, está sua irmã e outra herdeira da bem-sucedida Desirée, a marca de joias francesa, Jaline Calleat. As duas...”

− Vocês tem uma certa influência, suponho. – Me confirmaram com acenos de cabeça. – Emily, você vai reaparecer publicamente. Vai dizer sobre seu sequestro, sobre como esses anos foram traumáticos sabendo que estava tão perto de sua irmã e estava, ainda assim, lá presa e blá-blá-blá. Chore suas pitangas. Jaline também, vá lá, grite e esperneie sobre os maus tratos pelos quais Emily passou. Emy, as cicatrizes... Acha que vão poder ver? Como uma prova?

“− Primeiramente, eu gostaria de agradecer a todos aqueles que tiveram fé e procuraram por mim, esperaram por mim, depois de meu sequestro. Cada segundo presa lá foi um segundo a menos da minha própria sanidade, com medo de que ninguém estivesse dando a mínima, mas me conforta saber que estavam. Esses anos, eu fui mantida em cativeiro, usada como escrava por pessoas que só pensavam no que poderiam conseguir tirando eu e minha mãe do caminho... Pessoas cruéis e sem coração. Que destruíram tudo o que era a Emily de treze anos que foi levada.”

− São pequenas, mas acho sim, se eu mostrar direitinho. Estou gostando, poderia até chorar. – A cara dela foi a melhor.

− Não são só cicatrizes psicológicas, mas algumas físicas, que o tempo foi apagando de pouco em pouco. Mas elas ainda estão aqui. O que não está aqui é a minha... Pureza. As coisas que vi, ouvi, soube. Não posso dizer que vivi em um mundo cor-de-rosa, mas também mentiria se dissesse que sabia do que nossa realidade é feita. Aquilo me destruiu, trocou carne por pedra. Não sei mais se tenho esperança para nós, mas confio naqueles de coração bom, que fazem o certo não só por si, mas por todos nós, pela sociedade em que vivemos, quando ela não merece. Se eu não tivesse conhecido duas garotas assim, duas meninas com o coração puro, que eram vítimas como eu... Provavelmente eu teria desmoronado.”

− Ótimo. Aqui vem os detalhes: NÃO diga que sabe quem te levou. Só diga que era uma máfia cruel, e descreva o máximo que puder. Que usam muito couro preto, muitas motos, e que poderiam se passar até por pessoas meio normais no nosso dia-a-dia. Mostre a tatuagem, diga que eles se orgulhavam de que um símbolo tão interessante só se conseguisse...

− Derramando sangue – Barbie completou.

− E mostre a sua. Diga que foi feita em você como se fosse pra te marcar como deles, como escrava deles. Como faziam nas colônias antigas, como fazem com gado.

“− Cada um dos meus pesadelos, eu via isso aqui. Essas espadas... Eles matam e se orgulham disso. E essa sensação, de que eu fui marcada também, como propriedade. Me tirava toda a dignidade. Eu chorava todas as noites, sozinha, queria que isso sumisse e que todo aquele pesadelo chegasse a um fim.”

− Aí entra a Line. Faz uma declaração triste, também, chora, fala como tá feliz que...

− Minha irmã voltou daquele lugar horrível e é com isso que me importo. Não importa o que tenha acontecido antes, que desavenças tenhamos, eu vou lutar com minha vida para que nenhum deles venha sequer tocar na minha irmãzinha de novo. Quando nossa mãe morreu, eu soube que tinha sido coisa deles. E chorei, eles tiravam a minha família como se não fosse nada. Agora, Emily está aqui e não a perderei de novo.”

− Faço todo mundo chorar também? – Ela sorriu maliciosamente.

− Mal não vai fazer. Depois de você, as duas saem e você, capitão, entra.

− Sorte sua que ele tem carisma, garota. – Hank era exatamente a ironia viva que imaginei. – Ele “encanta” as pessoas.

− Own, vamos precisar disso. Fale que, como é da cidade que você se encarregou de proteger, vai protegê-la também, um discurso político de primeira. Aposto que sabe como fazê-lo. Faça as pessoas simpatizarem conosco e odiarem a Verrat, a ponto de quererem nos defender também.

“− Essa situação não é a primeira que ocorre e que acomete a nossa cidade. Emily Cooper passou por anos terríveis, e agora que ela está ao meu alcance, farei o possível para mantê-la protegida, ela e suas companheiras, assim como faço o que posso para proteger essa cidade. Não faço isso pelo dinheiro dela. Faço isso porque ela é um ser humano, como nós, que merece liberdade, conforto e segurança, não a escravidão a que foi submetida. Há muitas casos assim, e aqueles que caem em minhas mãos são aos que me dedico. Eu jurei proteger os cidadãos que tivessem a infelicidade de sofrer algum infortúnio em seus trabalhos, casas e ruas, e é isso que faço, e não descansarei até que cada uma dessas pessoas tenha tido justiça.”

− Mas e nós, Ally? Ele vai nos incluir? – Barbie pronunciou-se, encarando o capitão.

− Vou, sim. Vocês estão aqui também. – Ela sorriu, mais sossegada, mas não totalmente.

− Mas... – Nick ficou mais reto em seu lugar. – Isso pode exigir a aparição de vocês na mídia.

“− A verdade é que minha escapada foi feita ao lado de duas companheiras, duas que sofriam como eu. Acho que preferem manter-se em segredo, então não me foco nelas pelo seu bem. Mas a volta para esse país foi dura, sofrida, e exigiu muito de nós três. Fizemos coisas que nunca faríamos em outras situações. Coisas que não se perdoam.”

Todos ficamos calados. É... Admito, agora, que aquilo não tinha passado pela minha cabeça.

− Que seja. Não vejo como sair dessa. – Suspirei. Aquilo poderia ser o movimento mais arriscado da minha vida. Eu estava abrindo mão da minha não-existência por uma chance vaguíssima? Só muito amor mesmo. – Mas olhem, se algo acontecer, se isso não der certo... Eu deixo me baterem. E eu vou ter que ir embora.

Os mais chegados a mim quase voaram em cima de minha pessoa.

− Mas você não pode!

“As declarações feitas hoje com certeza abalaram toda a cidade de Portland. A volta de Emily Cooper não poderia ser mais inesperada, mas pelo menos esperamos que ela nunca mais se vá. Quem quer que a tenha levado, aparentemente, não poderá sequer adentrar nossa cidade, com a polícia tão engajada na proteção de Cooper. Quanto a seus planos de retorno à empresa da mãe...”

− Apenas se for necessário. Nick, antes que levemos tudo isso em prática, eu gostaria... de limpar meu nome.

Todo mundo me olhou estranho.

− Tem certeza, irmã?

Suspirei.

− Se tivermos como, acho que tenho sim. É um risco a tomar por aqui. – Puxei um bom fôlego e continuei: − Emily, por favor, evite tocar muito no nosso nome. Faça de si mesma o centro das atenções, e se funcionar, eu e Barbie podemos fazer nossa parte também.

− Deus te ouça. – Barbie juntou as mãos. – E se não funcionar?

− Acho que não tem muita chance disso. Ou não funciona plenamente, que é o que eu espero, com sinceridade, ou não funciona, e nos lascamos todos, ou funciona, e somos amadas e protegidas por todos.

“Quem são as garotas que voltaram junto com Emily? Isso, junto com quem são os responsáveis pelo rapto da que ainda é a princesa das joias, é a pergunta para qual não parecemos poder esperar por resposta. Mas podemos esperar que esses homens não colocarão o pé por aqui para fazer-lhes mal; o apoio a Emily está sendo grandemente demonstrado principalmente na internet, onde redes sociais foram fortemente mobilizadas pela história de Cooper.”

− Qual é a chance de conseguirmos aceitação no país todo? – Hank chutou.

− Isso, meu amigo, seria um milagre.

*Três dias depois*Mihaela*

− PRESIDENTE?*

A mulher tinha a habilidade de conseguir encolher o companheiro a uma bolinha.

− Como é que duas vagabundas e um riquinho metido a besta conseguem tirar a bunda do presidente da cadeira? Isso é falta do que fazer! Ele não tem fichas pra assinar? – Os cabelos castanhos foram alisados com fúria.

− Calma, amor. Não vão desconfiar da gente, já estamos aqui desde antes dessas duas irem borrar a maquiagem na tevê.

− Aquela loira! Eu deveria rasgar a garganta dela com meus dentes!

− Se você continuar gritando assim, aí vão nos descobrir e nos linchar. – Ele olhou suas unhas, curtíssimas. – Vamos, deita aqui e vamos ver um filmezinho.

− Você vai ver o filme da sua vida depois que eu chutar seu saco! Não percebe que estamos em jogo?

O moreno suspirou.

− Vem cá, lindona. Nada vai nos atrapalhar. Daqui a uns meses vamos ter a garota comendo na minha mão, e aí é só creck!, no pescoço dela.


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Notas finais do capítulo

DEMORA DO CÃO QUE COME MEUS NEURÔNIOS E A CRIATIVIDADE;_;
Pois é, espero que tenha ficado bom, se não ficou...

(Taque pedras abaixo e destrua seu computador)





Explanations de fim de capítulo:
Quem é a Verrat? – Assumo que os Estados Unidos não tenham acesso a esse tipo de informação sem contatar o FBI e a Interpol, ou esse galerê manda-chuva aí.
Uniformes – já vi o povinho do Grimm se referendo a policiais como fardados, uniformes, coisas assim, então...
Emily no prédio - acontece alguns minutos depois de todo mundo ir embora.
Presidente? – Pretenciosa? NAAADA! Só quero proteger minhas meninas *u*

Beijos e desculpas para todos!
PS: Capitão chamando Alicia de querida: ironia ou um pequeno momento “quero teu corpo nu na minha cama”? Deixo isso com vocês ¬u¬