Wesen Para Matar escrita por GhostOne


Capítulo 14
Do outro lado do distintivo


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Continuo não tendo muito a dizer, mas dessa vez começamos um pouco diferente, ou melhor, o capítulo inteiro será diferente. (Tradução: estou sem ideias, damn.) Boa leitura!
ATENÇÃO: Changes insanos de ponto de vista. Tome cuidado; eles podem te deixar confuso.



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O local movimentado, ironicamente, dava perfeita privacidade às duas mulheres que marcaram de se encontrarem ali.

A mais nova já estava esperando na mesa mais isolada do local, brincando com o próprio cabelo. À sua frente, estava uma revista, aberta contra o tampo da mesa, sendo o disfarce perfeito para um gravador ligado, pronto para pegar as informações que iria adquirir. A garota esperava que não fosse demais, nem que a gravação fosse muito ruim. Ela manteria aquela coisinha a sete chaves, e se possível, a jogaria fora assim que a tivesse aprendido. Qualquer vestígio era um risco.

O sininho da porta soou, e a morena olhou para a mulher loira que entrava. Um chapéu creme lhe decorava a cabeça; semelhante aos antigos, com abas largas e curvas, mas em proporção menor, logo, era bonitinho. Ela usava um casaco longo, da mesma cor do chapéu, com uma blusa branca por baixo, calças jeans pretas, um cinto e botas de couro do mesmo tom. Os óculos escuros tinham o logotipo da Vogue na lateral, o cinco e casaco, Chanel. Era definitivamente, ela.

Sua informante andou até uma garçonete e lhe perguntou pela sua reserva, sendo guiada até lá. Ela sentou e pegou o cardápio.

Bonjour. − O francês fluiu com suavidade na voz feminina da outra, que removera o chapéu e o colocara no seu colo. – Nous pouvons parler en français?*

A morena sorriu.

− Bom dia. E eu preferiria inglês... Os assuntos que trataremos podem chamar um pouco a atenção, e prefiro que fique só entre nós. Me trate por Archimer.

− Tudo bem, se assim quer. – O sotaque francês ficou evidente na mudança de língua. O “r” era bem marcado, o que com certeza não passaria despercebido. – O que quer saber?

Nesse momento, a garçonete que atendera Jaline Calleat voltou, e as duas fizeram seus pedidos. Tão logo ela foi embora, a jovem respondeu.

− Quero saber tudo o que puder sobre Emily Cooper. Onde ela mora, onde posso encontrá-la, tudo o que me for útil.

− Tem certeza de que irá cumprir sua parte? – A loira inquiriu. – Não quero fazer um acordo falso. Se eu te disser, quero saber que ela terá morrido o mais rápido possível.

− E como irei fazer contato?

Ela pensou um pouco, alisando as bordas do chapéu.

− Tenho uma mulher de confiança na Desirée que fica nos arredores da Torre Eiffel. Ela é baixinha, magra, tem cabelo liso, preto, curto, algumas sardas no rosto e os olhos são também negros. Se conseguir matá-la, deixe o jornal sobre sua morte com ela, em um envelope. Sei que ela nunca abriria o envelope, se ele for endereçado a mim.

− Tudo bem. Prometo que não falharei, já que isso está custando minha vida.

− E meu império – Ela acrescentou. – Enfim, vou lhe dizer o que sei.

− Por favor, comece por ela... Em si.

A loira suspirou e olhou pela janela para a rua, calma às sete e meia da manhã. Havia alguns transeuntes aqui e ali, nada de mais. A própria cafeteria estava calma, fora por algumas pessoas centradas em si e em seus cafés. Era uma batalha interior. Se mentisse, o que aconteceria...? Ela morreria?

Jaline pousou as mãos no colo e se conformou.

− Emily é... O oposto de mim. Morena, não é tããão alta, toda curvas. Eu me daria bem com ela, mas não fosse a divisão das joalherias, e minhas tentativas de conseguir o império de volta pra mim. Eu sou mais responsável, mais velha do que ela, mais vivida. Nasci e fui criada no luxo, no glamour, em berço de ouro, no país de origem da Desirée. Como posso ficar com menos parte da herança do que ela? – Ela tossiu, limpando a garganta, e avisando sua interlocutora de que seus pedidos estavam chegando.

Um copo de café com leite e adoçante, e um copo de expresso duplo. Cada uma bebeu de suas xícaras e ela prosseguiu.

− Emily não cresceu como eu. Ela não teve tudo o que eu tive, e agora a maior parte das filiais está para ela, mesmo que 50% do lucro seja meu... Ai, desculpe. Me empolguei com isso.

− Está tudo bem. É bom achar alguém com quem tem ódio em comum. – A morena falou, estendendo seu copo para um brinde. – Ao ódio.

− Ao ódio. – As porcelanas tilintaram com o toque. – Enfim. Emily mora na mesma casa de minha mãe, em Portland, pelo o que eu sei. Não sei por onde anda, mas com certeza deve fazer umas visitas às lojas da Desirée por lá. Ou não... Não tenho ideia do que se passa pela cabeça dela...

− Sabia que ela se tornou Mehinstinkte?

Jaline parou de bebericar o café com leite, espantada.

− Quando?

− Anos atrás. Foi onde a conhecemos, e de onde ela fugiu com duas amigas, uma delas, a Mehinsgrima. − A morena bebeu mais seu expresso. − Devo crer que isso é tudo?

− Deve ser... – Line colocou o copo no tampo de vidro da mesa, olhando para o lado de fora mais uma vez. – Quanto tempo vai lhe tomar para que faça o serviço?

− Não sei. Tudo depende de um dos meus subalternos... Se ele conseguir fazer sua parte rápido, em menos de um ano presumo que você terá a joalheria de sua mãe com você. Muito obrigada, senhorita Calleat.

− Por nada. – Jaline não fez menção nenhuma de levantar. – Guarde bem esse gravador, miss Archimer... E se quiser uma dica, apoie a revista no gravador, não a deixe aberta assim. Chama menos a atenção.

Ela ofegou, surpresa. Achava que tinha escondido tão bem...

Passez une bonne journée, Miss Calleat.*

Vous aussi, Miss Archimer.* – Tão logo a moça deixou o local, Jaline sentiu a mão formigar e o coração pesar. Tinha mentido tanto quanto podia, o que não era muito. Mas já era algo que poderia retardá-los.

Assim que sua interlocutora sumiu de toda a vista possível, a loira buscou em seu bolso o celular, esperando poder conseguir reverter as coisas. Talvez suas ações egoístas não o permitissem, mas precisava tentar.

Discou o número e levou o celular ao ouvido. Certeira como sempre, sua secretária atendeu no momento certo.

− Miss Calleat? – A voz de Joslyn no telefone conseguiu fazê-la relaxar um pouco.

− Joslyn, eu preciso falar com Jaret, e preciso de uma passagem de avião o mais rápido possível para Portland.

Não é porque eu quis a Desirée que as coisas tem que ser desse jeito, Emily.

*Alicia*

− Bondage?

Eu tinha encontrado uma cena interessantíssima quando acordei. Bom, não foi exatamente quando acordei, mas eu ouvi algumas risadinhas, então me vesti e fui ver o que tava acontecendo.

Emily estava pesquisando histórias de BDSM.

− Oh, Alicia, você nem sabe. Fomos assistir um seriado meu e o episódio novo tinha a ver com sadomasoquismo e fetichismo. Aí eu vim pesquisar. A Boneca tá quase se matando de vergonha aí do lado – Ela apontou Barbie, que estava com a cara enterrada no travesseiro, deitada reta que nem uma tábua.

− É estranho. – Ela justificou.

− Oh, Emy, então você quer ver como se faz?

− Se lasque. – Ela disse. – Mas é difícil acreditar que alguém queira fazer coisinhas assim. – Ela apontou um par de algemas fofinhas e um chicote que apareceram numa foto.

− O ser humano é um bicho estranho. Né, Barbie? – Tentei fazê-la sentar. – Vamos, sem vergonha, sua fofa.

− Nãããão... Isso é esquisito...

− Acha que eu não sei? É, de fato, estranho, mas hey, não vamos questionar a mente dessas pessoas. Vamos, senta.

− Ei, e quanto a namorada do Nick? – Barbie perguntou.

A pergunta foi inocente, mas o nervosismo me tomou como o pavor de uma barata voando pra cima de você.

Putamerdaelasdescobrirameagoraoqueeufaço?

− O que tem ela?

− Sei lá, mas acho que... Não sei, o Nick foi muito injustiçado. Não acha que ele merece uma vingadora?

− E uma nova namorada. – Bárbara começou a se balançar, de um lado pro outro. – Quem sabe, né?

− Ele me pareceu amar demais a ex dele. E por falar em vingadora... – Olhares focados, close em mim. Socorro. – Eu fui na casa dela ontem.

− Limpou o sangue? – Emily perguntou.

− Eu não a matei. – As duas me olharam como se eu tivesse errado feio. – Gente, o Nick ama aquela mulher. Se ele descobrisse que ela morreu, ou que eu a matei, ele ia ficar deprimido e ia partir com um machado pra cima de mim. Melhor que ela fique viva mesmo.

− Ai, poxa. – Emily enrolou uma mechinha no dedo. – Olha, hoje vocês que se virem sozinhas. Vou fazer uma visita às lojas da minha mãe. Preciso ir me acostumando, daqui a três meses eu faço vinte anos e então só vai sobrar um ano pra eu assumir minha parte do reino das joias que a “mami” deixou. É muita loja pra visitar.

− Qual o nome das lojas da sua mãe mesmo, Emy? – Barbie perguntou.

− Desirée... É um neologismo partindo da palavra “desejo” em francês. Mas enfim. – Emily levantou-se e se espreguiçou. – Vou perguntar à Carla por onde anda Jaline.

− Sua irmã? – Deixei escapar, e quis me dar um tapa pelo lapso. Eu não queria trazer problemas a Carla.

− Sim. – Ela estranhou. – Como sabe? Nunca falei da Line pra vocês.

− E é assim que você mostra que gosta da gente. – Barbie reclamou, fechando a cara.

− Oh, Boneca, fica assim não. – Ela se agachou e a abraçou. – Mas enfim, Alicia, como você sabia da Jaline?

− Ontem eu estava conversando com a Carla e descobri sobre ela. – Dei de ombros. – Sou persistente.

− Ok. Ah, o Adam mandou um abraço pra vocês. – Ela acenou, pegando o casaco da parede. – Beijos, amores.

− Vai deixar o celular? – Inferi.

− Vou. Não quero ligações quando trato de negócios. – Ela piscou. – Bye.

− Tchau. – Acenamos. – É de se sentir muito próxima da amiga não saber que ela tem uma irmã – Bárbara encolheu-se, sentando no colchão.

− Bom, nós todas temos um pedacinho escondido da vida aqui e ali. Tipo você, tipo eu.

− Eu não tenho nada a esconder, só nunca entrei em detalhes. – Ela refutou.

− Whatever. Quem é Adam mesmo?

− O amor à primeira vista da Emily – Barbie indicou o celular deixado por Emy. – Imagino quanto mel eles não vão derramar quando se virem.

− Imagine como ele é realmente. – Encarei o celular, como se ele fosse levantar e começar a sapatear. – E que tal nós descobrirmos quem ele é de verdade?

Bárbara me fitou intensamente.

− Quer ligar para ele? – Ela espantou-se. – Quem vem atrás de nós com um machado é a Emily se fizermos isso!

− Não estou falando de ligar. Estou falando de ler as mensagens e possivelmente ligar.

*

Eu achei que iria fazer isso sozinha quando peguei um paninho para não deixar minhas digitais no celular de Emily, mas quando voltei, Bárbara estava deitada na cama, balançando os pés no ar, ansiosa.

Nós só fazíamos piada com a glicose que faltava escorrer pelo celular nas mensagens deles. Eu e Bárbara estávamos ficando mestres na arte de fingir engasgar com mel; eu imitava Emily de vez em quando só pra ver a Bárbara rolar de rir na cama. Eu nem lembrava que não tinha tomado café (e não estava com fome).

Quando lembrei de que ainda não tinha comido nada, ela me acompanhou até a cozinha pra eu comer umas frutas. Lá, nós comentávamos sobre as melosidades, quando ouvi meu celular tocar.

− Eu pego – Barbie se ofereceu.

− Obrigada! – Falei, assim que engoli a comida. Bebi um gole de água e peguei o telefone rapidamente trazido por Barbie. Era Nick.

− Bom dia, maninho!

O dia está tudo, menos bom. – Ele disse, aos sussurros. – Eles acharam os corpos da Verrat.

*

Nick tinha sido direto: trabalhadores encontraram os quatro corpos quando foram fazer qualquer coisa que foram escalados para fazer. Sem identidade, fora as marcas nas mãos. Ele disse que, como já tinham sido encontrados corpos da Verrat antes, eles estavam dedicando um pouco mais de atenção a esse caso.

As instruções que me foram dadas: me livrar das provas no lugar mais remoto possível e evitar sair de casa até que as coisas dessem uma esfriada, e, se fosse estritamente necessário, usar óculos escuros ou prender o cabelo, ou, bem, me disfarçar.

Graças a Deus, no meio de meus pertences tinham umas perucas, muito boas, de fato. Se eu colocasse do jeito certo (e com os anos, eu tinha aprendido a desenvolver uma técnica ótima para distribuir o cabelo sem deixar um volume embaixo), só um observador ninja notaria. Eu precisaria de uma delas.

Tirei a peruca loira da mochila, penteando-a com cuidado. Ela tinha um velcro por baixo, e uma touca apertada e elástica cujo outro lado prendia com o interior da peruca, fixando-a bem na cabeça. Bárbara me ajudaria com o cabelo, e iria comigo. Ela tinha uma visão periférica melhor que a minha, e poderia fazer o trabalho mais rápido. Além do mais, ela seria menos reconhecível do que eu.

Fui separando meu cabelo em mechas médias, e larguei um monte de grampos na cama. Fui fazendo as mechas darem voltas na minha cabeça, sem se concentrarem em lugar nenhum, e Barbie as prendia no lugar com os grampos. Demorou um pouco, mas quando terminei, valeu a pena.

− Obrigada. – Coloquei a touca. – Vamos, sua vez.

Processo repetido com sucesso, ela colocou uma peruca ruiva. Depois disso, Barbie nos maquiou, usando alguns truques para mudar levemente algumas de nossas feições; colocamos óculos escuros, pegamos minha bolsa e saímos.

Estávamos em uma espécie de hora do pico, com as pessoas saindo de seus trabalhos para comerem na lanchonete ou em um restaurante próximo. Subimos na moto, dei partida e voamos pelas ruas de Portland.

*Nick*Alguns minutos antes da ligação*

Ouvir Wu falar nunca me deixou tão nervoso. Eu esperava que estivesse fazendo um bom trabalho escondendo.

− Quatro corpos, ainda estamos tentando descobrir quem são. Um trabalhador os encontrou todos separados, como se o assassino quisesse dar a impressão de que as mortes foram em horários diferentes.

− Qual a causa da morte? – Hank perguntou.

− Facada. Uma certeira, no coração. E o mais estranho é que enfiaram lenços de papel nas feridas. – Wu indicou o primeiro corpo, que eu reconheci como a mulher que pulou em Alicia. Erina, se não me falhasse a memória. O lencinho estava ensopado.

− Talvez tenham feito isso para evitar que o sangue deixasse um rastro. – Opinei. É muito fácil dizer as razões disso ou daquilo quando você é o assassino; eu teria que escorregar aqui ou ali. Abaixei-me perto do corpo. – Tem uma marca aqui.

Hank andou até onde eu estava e olhou a ferida que a bala deixou. – É como se alguém tivesse enfiado o dedo aí.

− Um dedo quente, pelo jeito. – Refutei. – Como isso poderia ter sido feito?

− Não foi um tiro, ou a bala teria entrado totalmente e ainda estaria aí. – Ele respondeu.

− E não parece ter sido cortado à faca, é perfeito demais...

− Ferro quente, talvez? − Wu falou, ainda de pé.

− Como esquentaria o ferro? – Respondi, ignorando sua teoria.

− Hum, isso pergunte ao assassino. – Ele se afastou e Hank se agachou ao meu lado.

− Acha que é Wesen?

− Esse é um assunto delicado. Se forem, vamos precisar das digitais. – Peguei minha arma e abri a mão de Erina com o cano. A marca da Verrat estava evidente ali. – Eu acho que sei o que aconteceu aqui, e não podemos cometer um deslize nem falar disso aqui.

Enquanto Hank ia olhar o outro corpo, eu puxava o celular do bolso. Alicia tinha que estar prevenida.

*

Quando terminamos de examinar os corpos, fomos embora, e no caminho de volta, fui explicando a Hank a história toda de Alicia. Sem excluir nada. Quando terminamos, ele estava estático.

− É sério? – Ele perguntou.

− Muito sério.

− Não, é sério que você acha que eu vou aceitar essa história que você acabou de jogar no meu colo normalmente? – Hank parecia bravo. Ou sacaneador. Eu estava prestes a descobrir. – Vamos por partes, ok? Sua mãe está viva e teve uma filha depois da sua falsa morte.

− Sim.

− E essa garota foi sequestrada pela... Verrat – Ele disse, relutante. – E transformada em uma... Híbrida? Como o capitão?

− Mas de mais de dois. – Expliquei. – E é dela que ele falou, e ela está aqui.

− Em Portland?

− Sim.

− E quem não te garante que ela é só uma impostora muito esperta a mando da... Verrat? – Hank questionou. E ele estava certo.

− Primeiro que ela conhece mais de mim do que qualquer observador conheceria; segundo que ela cortou a própria mão pra se livrar da Verrat, terceiro... Meus instintos não são contra ela, Hank. Ela tem a minha cara, ela quis matar a Juliette, ela me mandou aquela mensagem, ela não pode ser uma impostora. E se for, não estou indefeso. Não sou indefeso, droga.

− Eu sei, Nick, mas se ela é a híbrida, vamos combinar, você está com uma boa desvantagem. – Ele disse. Ponto pra ele. – Só estou preocupado, afinal de contas, quem vai ficar com meu trabalho se eu tiver que ir pra casa?

Tinha que ser. Dei um risinho. Hank nunca deixaria uma oportunidade passar, irônico como é.

− Obrigado.

− Mas o que tudo isso tem a ver com aquela cena?

− Ela disse que a Verrat ainda está atrás dela por quem ela é. Se são da Verrat e são híbridos, as coisas já vão se encaixando.

− E aquela marquinha debaixo da orelha?

Uma dúvida maldita pareceu me dar uma bordoada no estômago. Eu não sabia se contava ou não que eu tinha atirado. Porém, ele foi mais rápido:

− Foi você, não foi? Você atirou. Ela poderia ser resistente...

− Nos livramos de todas as provas. Ela teve a ideia do papel.

− Sua irmã aparentemente é um gênio. E você, meu amigo, é um cúmplice.

*Bárbara*

Talvez eu tenha conhecido mais de Portland nessa viajada para esconder as provas com a Alicia do que nos passeios com a Emy.

Ela dirigia a moto no limite da velocidade, como se estivesse preocupada que alguém pudesse nos ver. Quando a avisei que a velocidade chamaria a atenção, ela reduziu, mas ainda dava pra sentir o lado megalomaníaco por velocidade dela.

Rodamos por um tempo, depois começamos a nos distanciar do centro da cidade, indo para longe, longe, longe, até que estávamos o mais próximo possível das montanhas.

Alicia estacionou a moto e saímos. Ela ajeitou os óculos no rosto, e eu alisei a peruca/cabelo. Mordi os lábios, meio que pra ajeitar o batom, e também por uma pontadinha de nervosismo, um pouco que eu ainda mantinha de mim.

Antes da transformação, eu tinha uma certa Bárbara que evitava riscos que poderiam trazer problemas que deixariam sequelas. Sair com os amigos e voltar às sete da manhã? Primeiro que eu não aguentava. Segundo que, se eu fizesse isso, provavelmente eu ia ferrar totalmente minha vida social por causa dos meus pais.

Depois da mutação, eu fui forçada a me adaptar a um mundo do qual eu nem sonhava em fazer parte. Sangue, mutilação, morte, frieza, mentira, canibalismo, Verrat, despotismo real. Nos primeiros dias, talvez até nas primeiras semanas, eu tinha ficado aterrorizada.

Não era como se minha vida anterior tivesse sido debaixo de uma redoma cor de rosa, protegida de tudo e de todos, não é isso. Mas eu nunca teria coragem de matar alguém a sangue frio. Alguém vai sentir falta; eu poderia estar matando uma mãe, um pai, um irmão ou irmã. Um filho, um neto. Vai machucar alguém. Eu não queria ser responsável por aquilo.

Aprendi a atirar, recarregar, desmontar e engatilhar qualquer tipo de arma que me dessem. Atire na cabeça, cem pontos. O peito, cinquenta. Eu tinha aprendido a matar, e também falsificar, mentir, fugir, fazer confessar.

Era um poder, claro, um poder medonho o qual eu recusaria, se eu mesma não fosse ameaçada de levar um tiro na cabeça. Aquilo era eu de verdade, e eu odiava a Verrat por me transformar em algo que eu nunca quis. Não Mehinstinkte (mas eu também não queria isso). Em assassina, fugitiva.

− Ei-eh! – Um estalo na minha frente. – Viajou? Eu já estava ali na frente.

− Hã? Ah, sim, viajei – Respondi, voltando à realidade. – Estava pensando em coisinhas.

− Devo imaginar que tipo de coisinhas são? – Notei o tom malicioso na voz dela.

− Credo, sua pervertida. Estava pensando na vida, nada a ver com as perversidades que você e a Emily compartilham. E por que viemos até aqui?

− Ninguém pensaria em procurar nas provas do outro lado em que os corpos foram encontrados, Barbie. Aqui, quase ninguém vem, muito menos para procurar provas. Vamos enterrar as provas aqui, sem o papel. Isso, queimamos em casa, misturamos com algo, como água, ou no lixo, ou enterramos também, e cinzas são mais fáceis de se jogar fora. Mas enfim. Venha, sente aqui, comigo.

Ela sentou atrás da árvore, e bateu do seu lado, me convidando a sentar também. Porém, ela manteve uma mão no meio de nossas pernas, como que preservando um espaço. Quando ela pegou a faca e abriu a bolsa, entendi.

Alicia cortou, com a faca, um círculo na grama. Ela meio que recortou um tapetinho (desajeitado), uma tampinha de grama para fixar no lugar. Então, ela ficou cavocando com a faca na terra até o buraco ficar grande o suficiente para a bala e os fios de cabelo. Então, ela jogou tudo lá dentro, sem fechar até que tivesse certeza de que nenhum fiozinho ou nada tivesse ficado na bolsa. Assim que conseguiu, ela tapou o buraco, colocou a tampinha de grama e bateu com força algumas vezes para firmar a terra. Limpou a faca com uma folha, bateu as mãos uma na outra e trabalho feito.

− Vamos relaxar aqui um tantinho. Estou meio fatigada de dirigir – Ela falou, e simplesmente ficamos ali.

*Mihaela*

A papelada a sua frente fazia seus olhos doerem um pouco. A luz estava desligada, equilibrando luz artificial e natural, e ela estava com os óculos de leitura, mas o que fazia os globos oculares doerem de fato era a preocupação somada ao nervosismo, ansiedade, cansaço e saco cheio de estar lendo aquilo sem absorver uma palavra.

− Queria falar comigo, Srta. Calleat?

Jaret estava à porta, a fisionomia masculina tomando quase toda a abertura, os ombros por pouco não esbarrariam no batente se ela o mandasse entrar.

− Sim, entre, por favor. Me dê uma desculpa para não ler isso. – Ela largou as folhas em cima da mesa com classe. – Tenho uma viagem a fazer, e tenho que avisar a Jiovanna que estarei fora. E também necessito que vá comigo.

− Eu, senhorita?

− Sim, você. E acha que consegue escolher quatro homens para ficarem a postos se eu ordenar que se mudem para os Estados Unidos?

− A senhorita deseja se mudar?

− Não, Jaret, eu... – Ela tamborilou os dedos sobre a mesa, as pontas das unhas fazendo estalinhos. – Eu cometi um erro. Um grande erro. E tenho que corrigi-lo enquanto posso. E talvez... Não sei, não sei. – Jaline odiava quando sua língua travava e ela não sabia como terminar sua frase. Mas a verdade era aquela: ela não sabia, e ela odiava não saber.

− Bom, acho que posso providenciar o que a senhorita precisa. Quer que eu avise à Jiovanna para vir aqui?

−Não, agradeço... Só... Faça isso. Acho que vou sair um pouco... – Ela esfregou as têmporas. – Estou cansada, entediada e essa maldita papelada só faz me irritar mais...

− Caso queira companhia, é só chamar, senhorita.

Jaline adorava Jaret. Ele era pontual, prestativo, muito bonito, comportado e boa gente. Ela fazia questão de pagá-lo bem e tratá-lo bem também, assim ele não teria vontade de deixar seu cargo.

− Muito obrigada. Pode ir pra casa, se quiser. – Ele agradeceu e se retirou, e ela começou a passar as mãos pela mesa, organizando, reposicionando, limpando a poeira. Trabalho feito, papéis deixados de lado, ela pegou a bolsa, os óculos escuros, o casaco e pronto.

Assim que saiu do prédio, o ar frio da França lhe fez um agradinho, soprando um pouco de vento frio no rosto. Jaline foi andando para a avenida, ali pertinho, mas teve a sensação de estar sendo seguida. Quando olhou para trás, não viu ninguém.

Continuou com a caminhada, mas continuou se sentindo seguida. Os saltos estalavam no cimento, e vários passos (ou nem tantos, mas não era tão pouco) lhe envolviam, mas ela sabia que tinha alguém ali.

Seu celular começou a tocar, e ela o puxou da bolsinha no mesmo instante. Era Joslyn.

Miss Calleat? Arranjei uma passagem para Portland para depois de amanhã. Acha que dá tempo de...

− Acho. Ando adiantando o trabalho... Posso fazer as malas hoje e amanhã terminar o que quer que tenha sido deixado de lado. Pode comprar. Está se sentindo melhor?

Sim, miss, obrigada. Um pouco de Martini faz bem a qualquer um.

− Não acredito que Martini cure gripe forte, Joslyn. – Ela riu. − Obrigada, Joss.

Sem problemas. É o meu trabalho, afinal. Beijo.

Beijo – Joslyn desligou, e Jaline voltou a sentir aquela sensação de estar sendo seguida novamente. Ela olhou para trás. Não havia ninguém aparentemente suspeito.

Aquilo já estava lhe enchendo a paciência, então decidiu voltar para o prédio da Desirée. No caminho de volta, ela sentiu um arrepio.

Pare de se agoniar.

Ela entrou, cumprimentou Karen e Ethan, e subiu para seu escritório, sentindo-se mais livre daquela sensação. Sentou-se novamente na sua mesa, mas justamente quando achava estar livre, o telefone tocou.

− Karen?

− Miss Calleat, há um... – Um som forte, como o de uma madeira batendo em alguém. Ao fundo, o som de grunhidos, como um animal, e uma briga.

Jaline abriu a gaveta e tirou uma faca dali. Se Ethan não desse jeito, talvez seu próximo alvo fosse ela, mas Line não podia simplesmente deixar seus seguranças/seu segurança e a secretária nas mãos de um Wesen (muito provável).

Ela desceu pelas escadas o mais rápido possível, usando todo seu lado Spinnetod para descer o mais rápido possível. Quando chegou, viu o que lhe deixou mais temerosa que antes.

Ethan e Karen estavam caídos, uma poça de sangue se formando debaixo da cabeça de Karen, uma seringa pendurada no pescoço de Ethan. Sua sorte (ou desespero) é que a porta tinha fechado após a invasão.

Um som de grunhido e ela virou. Um Hundjager estava com um pedaço de madeira na mão, que tinha um pouco de sangue. Ela teve de se esquivar para não ser atingida, e entrou em woge.

O homem estava todo de preto, e ele tentou lhe acertar mais uma vez, com um pouco de sucesso. A madeira atingiu sua cabeça de raspão, e uma dor razoável lhe pegou.

Jaline ficou reta o mais rápido possível e expeliu o ácido no seu agressor, que recuou, as roupas queimando. Ela tomou a madeira dele e lhe acertou na cabeça com ódio, derrubando-o no chão. Ele ainda conseguiu se segurar, mas ela lhe chutou o rosto, derrubando-o de costas no chão.

Jaline subiu no peito dele, abrindo a mandíbula dele com força e vomitou o ácido dentro dele. Ele começou a se debater, mas ela o segurou com força, para terminar o trabalho.

Ela se levantou, deixando-o se debater, derretendo por dentro. A pele dele parecia borbulhar.

Quando ele parecia estar em mais agonia, ela rasgou a camisa dele e enfiou os dentes nele, sugando o que havia restado do interior dele. Quando terminou, sentia-se quase revitalizada.

Jaline não precisava realmente fazer aquilo toda vez; Jiovanna, sua amiga/braço direito Hexenbiest, tinha conseguido descobrir uma poção que fazia o processo de envelhecimento ser retardado até os padrões normais. Com aquela poção, o assassinato só seria necessário se ela deixasse de tomar algum dia no período no qual ela devia se alimentar. Estava funcionando bem, até.

Jaline limpou um pouco do líquido da beiradinha da boca, saindo de cima do corpo. Ela estava se sentindo mal, por mais que ele tivesse merecido aquilo. Deus, ela não tinha prometido nunca mais fazer aquilo?

Line puxou seu celular da bolsa. Precisava urgentemente de Jaret e de Jiovanna.

*Nick*

Eu estava soterrado em livros no trailer, procurando nas páginas alguma coisa que tivesse a ver com híbridos. Com a ajuda de Monroe, claro.

Ele estava sentado na cama de solteiro do trailer, e eu estava na escrivaninha, com livros por toda parte. Tínhamos tirado todos os diários de seus lugares, e acabou que quase não havia lugar para se andar ali.

− Ei, achei algo sobre uma ancestral sua ter rastreado um híbrido de três Wesens aqui. Combinação ruim...

− Mais de dois? – Perguntei, olhando para ele. – Leia.

− “Após quase duas semanas, pude encontrar a criatura estranha que tinha massacrado várias famílias na Geórgia. Ela tinha uma aparência incomum, sendo quase indefinido. Pude distinguir, às vezes, olhos vermelhos e pelagem sem manchas, o que me fez achar que era um Kasipepo*, mas as vítimas, por estarem cegas, me fizeram demorar a acreditar que fosse aquele Wesen que eu procurava, até que o flagrei em ataque, confirmando minhas suspeitas. Após isso, passei mais uns dias vigiando, até tomar a decisão de atacar. Porém, em suas investidas, às vezes sua woge mudava, mostrando traços de um Drang-Zorn.”

− São só três? – Perguntei.

− Parece que sim. Olha só como sua antepassada desenhou o cara. É estranho. – Ele me mostrou o desenho, realmente curioso, e continuou a ler. − “Tive certa dificuldade em matar a criatura, mas quando o fiz, pude ver a marca da Verrat em sua mão que empunhava a faca. Não tenho nenhuma suposição do porquê este Wesen era tão poderoso e era três seres em um, mas a minha melhor teoria é que a guarda real tenha algo a ver com isso. Tenho medo de qualquer que seja esta nova resolução maléfica que eles tenham em mente.”

− Está datado? – Monroe começou a vasculhar a página em resposta à minha pergunta. Quando achou, um sorriso que não era indicação de coisa boa despontou nele.

− 13 de junho de 1984, Nick. Isso foi há vinte e nove anos.

Meu celular tocou, sem deixar tempo para que eu ficasse pensando exatamente em todas as nuances que aquela data implicava. Era Alicia.

− Oi.

− Fiz o que você mandou. Está onde?

− Na casa do meu parceiro. E onde você escondeu?

Literalmente do outro lado da cidade, ou bem próximo disso, heh. Fomos toas disfarçadas.

− Outra pessoa foi com você? – Meu coração começou a acelerar em nervosismo.

Nick, estávamos irreconhecíveis, vai por mim, somos mestras nisso. – Ouvi uma voz de garota mandando um beijo pra mim. – A Bárbara...

− Eu ouvi – Não pude conter um sorriso. – Mande um abraço pra ela. Vou confiar no que vocês fizeram.

­− OK, obrigada. Vá prender criminosos. Tchau, mano.

− Tchau. – Terminei a ligação. – Vinte e nove anos. A Verrat vem fazendo isso há algum tempo.

− A minha pergunta é: como?

− Acho que vamos precisar de uma cerveja.

*Mihaela*

Arranjar lugar para ficar na França era difícil, mas eles conseguiram. Um bagaço, mas conseguiram.

A casa estava aos pedaços, tinha sido abandonada. Lá dentro, a garota estava usando apenas uma lingerie, junto com um roupão preto. Ela estava deitada, suas pernas estavam cruzadas, como se ela estivesse sentada, ambas levantadas, e ela encarava o teto, antes, contando as tábuas capengas do forro. Naquele momento, sua cabeça estava naquela garota maldita.

− Te odeio, sua puta. Te odeio, sua puta. Te odeio, sua puta.

Era como um mantra dizer aquilo. Sempre que ela lembrava daquela arrogância, daquela ignorância, daquela chatinha boçal, ela começava a dizer aquilo, baixinho, várias vezes. Era como uma praga. Nunca falhava; ela sempre ficava mais calma.

− Te odeio, sua puta. Te odeio...

− Hime? – Seu garoto entrou, e ela só fez questão de olhá-lo. – Blade conseguiu arranjar mais comida e água e Sheila fez como você disse; comprou as passagens para amanhã cedo. Vamos embora?

− Me dê um tempo, droga. Estou pensando, mas não devemos passar mais que uma hora aqui.

− Está cansada, Hime? – Ele engatinhou na cama (esfarrapada e caindo aos pedaços, a propósito) até chegar do lado dela, abraçando-a pela cintura. – Posso te fazer uma massagem.

Ela sorriu; não um sorriso caloroso, não era exatamente comum para ela, e sim aquele sorrisinho irônico, cheio de escárnio, algo mais de “garota má”.

− É muita gentileza, Miqui, mas não. – Ela o empurrou para longe. – Saia daqui. Vou me arrumar.

− Tem certeza?

− Tenho, garoto! Xô!

Como estava óbvio que aquele era um dos dias em que sua lady não suportava companhia, ele decidiu sair por contra própria. Ela sentou-se em uma parte da beira da cama que estava inteira, passando as mãos pelo rosto, afastando um pouco de sono, de preguiça.

− Te odeio, sua puta.

Era um ótimo costume.


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Notas finais do capítulo

Tentei postar isso aqui mais de dez vezes. Amor é isso aí.
That’s all, folks!
Je vous parler em français? - Podemos falar em francês?
Passez une bonne journée - Tenha um bom dia
Vous aussi - Você também
Kasipepo: É uma criatura semelhante a um guepardo. Quando se transformam, torna-se extermamente rápido, o corpo se cobre de pelos, sem manchas, seus olhos se tornam vermelhos e tomam decisões precipitadas, muitas vezes mal pensadas. Via Wikipédia.
Beijos da Miha!



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