Sunlight escrita por Garota Anônima


Capítulo 1
Como os Raios do Sol


Notas iniciais do capítulo

Ah, porque dá pra resistir a eles? Claro que não! *--*
Espero que gostem, boa leitura!

*Fic para a Natália, que ama tanto a ideia quanto eu.



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"Deve estar tão linda
Como os raios do sol..."
No Voice, Linda.

Capítulo Único

O deserto se estendia por uma vastidão de terra, vermelho como barro queimado ao por do sol, formando gigantescas paredes de areia, que dançavam pelo ar em suas não tão raras tempestades de areia. O ambiente inóspito se espalhava por boa parte do reino do Oeste, mas ali, terminava próxima as cadeias pedregosas, montanhas feitas de rochas que sustentavam a cidade, que descansava ao sopé da montanha onde o castelo se instalara. Era possível ver as casas, com suas chaminés trabalhando a todo vapor naquele inicio de noite, para aquecer seus moradores. O clima era desoladoramente quente durante o dia, mas a queda abrupta de temperatura a noite era extrema demais para passar-se sem uma lareira acesa.

A brisa entrava leve, como o toque de uma mãe acalentando os medos noturnos de seus filhos, assoviando ternamente enquanto passava pelos longos e intermináveis corredores de sua fortaleza.

Era a paisagem perfeita, se Jon não estivesse tão amedrontado. A brisa não poderia acalmá-lo e a paisagem só servia de lembrança de todos os perigos que o Oeste representava. Não era um lugar tão seguro assim para crianças, e isso se ele ainda tivesse alguma! Os gritos haviam cessado há algum tempo – os dele foram os últimos a parar, depois de passar quase vinte horas ameaçando qualquer um que estivesse o impedindo de entrar no cômodo.

Aparentemente, um rei não tinha qualquer voz no leito de parto de uma mulher. Quem mandava era sua parteira e Jon seria sábio de ficar quieto, aguardando do lado de fora. Mas bem, ele não fora sábio. Pelo menos não com a parte do silêncio, já que o aguardar do lado de fora não era uma opção, mas sim uma imposição.

Estava sozinho agora, rondando a porta do quarto como um cão de guarda. Não era a melhor companhia nesse momento. Podia sentir o coração acelerado e as mãos suando frio. Era pedir demais ter qualquer noticia deles? Ergueu os olhos para o relógio na parede. Passou-se pouco mais de dez minutos depois das seis da tarde, o que significava que as horas que imaginava estar silenciado não eram mais do que vinte minutos.

Murmurou um palavrão baixinho e passou as mãos pelos cabelos. Se ela pudesse ouvi-lo agora, sabia que teria o repreendido, aquelas não eram palavras para se dizer próximas a crianças, criaturas tão sensíveis a emoção alheia, em suas palavras. Era de se esperar que seu pai tivesse um linguajar mais apropriado. Andando em círculos em frente a porta, Jon tentou esvaziar sua mente, pensamentos negativos atraiam negatividade e esse não era o ambiente que queria para os filhos.

Filhos. Se á cinco anos atrás alguém tivesse lhe dito que seria pai, pai dos filhos dela, Jon teria rido secamente. Teria sido, até então, uma piada amargamente cruel. Mas esses eram os seus deuses, que mandavam desgraça em três, e as benções em dose dupla.

O barulho das dobradiças das pesadas portas de madeira abrindo-se chamou sua atenção, fazendo com que sua cabeça levanta-se rapidamente e o corpo girasse completamente em direção do som, observando uma das criadas deixar o quarto com um embolado de lençóis entre os braços. A porta não foi fechada e ele se aproximou cauteloso – sua parte sã, ainda temerosa da assustadora parteira.

A mulher já passava da meia idade, tinha a metade de sua altura, andava curvada e tinha a pele bastante macia, embora bem enrugada. Os olhos negros eram perspicazes e Jon tremia ao ouvir a voz dela. Mas dessa vez ela apenas sorriu para ele e acenou para que entrasse no quarto.

- Venha conhecer o resto de sua família, vossa graça.

Jon fechou as mãos em punhos, apertando-os e erguendo-o até o peito, esfregando o local com força. Não sabia dizer se o coração estava acelerado demais ou se havia parado por completo. Piscou os olhos rapidamente para afastar qualquer umidade e limpou a garganta, áspera dos gritos de minutos antes, e só então caminhou até a cama.

Ývela estava sentada na cama, as costas contra a cabeceira, tinha o rosto corado e os cabelos loiros puxados para trás em uma trança solta. Os olhos da Ondina encaravam longe dele, enquanto as mãos traçavam círculos invisíveis sobre a manta azul que tinha enrolada nos braços – a qual segurava com delicadeza e intensidade.

O rei seguiu os olhos da loira e viu quando uma criada se aproximava da cama com um pequeno embrulho cor de rosa nos braços. O semblante serio de Ývela relaxou imediatamente e foi como se ela então passasse a perceber as coisas a sua volta. Os olhos azuis encontraram Jon e o sorriso alargou-se em um convite para que ele se juntasse a ela.

A criada cortou o contato visual dos dois e se aproximou dele, movendo a boca, formando qualquer pergunta que Jon não prestou realmente atenção. Seus olhos estavam pregados na criança que ela lhe entregava, a pele alva e suave, as mãozinha gorduchas apertadas contra o peito e os barulhos baixinhos que fazia enquanto se aconchegava no colo do pai.

Ele caminhou devagar, embalando-a lentamente, contando todos os dedos que ela possuía e deixando-se levar por cada pequeno movimento que ela fazia, hipnotizado. Quando finalmente sentou-se ao lado de Ývela e ergueu o olhar, a Ondina o encarava com o riso contido, mordendo o lábio inferior. Seus olhos brilhavam com lágrimas contidas, que escorriam lentamente. As emoções estavam a flor da pele, se bem que com Ývi era sempre assim, pensou.

Acomodando-se ao lado dela, estendeu a mão tremula para o embrulho que ela segurava, afastando apenas o suficiente para que pudesse ver o garotinho que escondia. Eram idênticos, seus filhos, a única diferença era que a pele dele era coberta de pequenos e fracos arabescos azulados, um fraco reflexo dos que a mãe possuía em sua pele.

Respirando fundo, Jon voltou-se para Ývela e sorriu o sorriso que era só dela, inclinando-se em sua direção.

- Eles são lindos, Ývi. – pressionou seus lábios contra os dela rapidamente. – Obrigada. – murmurou a palavra, fechando os olhos e depositando vários beijos rápidos pela têmpora e pelas bochechas da loira.

Ývela soltou uma risadinha baixa, quase infantil, que o fez sorrir mais ainda, afastando-se o suficiente para encará-la. Apesar do sorriso e dos olhos lacrimejados, ele podia ver a exaustão tomando conta de sua rainha. Deitando a filha contra seu ombro direito, Jon estendeu o braço livre e puxou Ývela, aconchegando-a em seu ombro livre, deixando-a ajeitar o filho entre os dois.

- Acho que é hora de dormir, Ývi. – ele sussurrou, beijando o topo de sua cabeça.

A resposta veio como a respiração compassada e rítmica, os três dormindo tranquilamente em seus braços. Jon sabia o que era ser responsável por toda uma nação, estar presente nos altos e baixos, nas horas boas e ruins e dar o melhor de si para que ninguém sofresse qualquer consequência severa. E embora ele amasse seu povo, embora ele desse sua vida por ele, Jon ainda odiava ter o destino de tantas pessoas nas palmas de suas mãos.

Mas agora tudo parecia mais real e diferente. Ele não era responsável por milhares de rostos desconhecidos no meio da multidão, mas por dois – três – que se embrenharam por entre suas costelas e encontraram um lugar só deles dentro de seu coração, um lugar que ele nunca soubera estar vazio. Ele era responsável por mantê-los seguros, saudáveis e felizes. Era responsável por ensiná-los a diferenciar o certo do errado, a coisa honrada a se fazer. Ele era responsável por tudo que acontecia a ele. E agora, Jon adorava isso.


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