Os corpos se moviam lentamente na pista de dança, minha cabeça estava latejante e eu procurava por algum rosto conhecido no meio da multidão, nada me ocorria, eu tinha bebido um ou dois copos de cerveja, mas nada para me deixar abatida desse jeito.
Eu deveria ter ouvido minha mãe quando ela me disse para não ir a boate, eu deveria ter ficado em casa no computador como sempre faço em finais de semana, mas não eu quis parecer adulta e ir a uma boate SOZINHA!
A música ia ficando cada vez mais alta e minhas pernas começavam a doer, meus joelhos não suportavam mais o peso do meu corpo, eu via o chão cada vez mais perto e de repente tudo estava escuro.
xx-xxx-xxx
Acordei com e coloquei minha mão sobre minha testa, minha mão estava gelada e minha testa doia, levantei-me e tentei reconhecer o lugar, mas parecia impossível, o quarto era completamente branco e só havia uma cama e um criado mudo, eram mais ou menos 20 cm quadrados, a porta estava fechada e por mais que eu batesse gritando por socorro ninguém parecia ouvir.
Desesperadamente eu jogava meu corpo contra a madeira, mas nada acontecia, meus braços e pernas apenas doiam e eu ficava cada vez mais cansada, sentei-me no chão e coloquei a mão sobre minha barriga que roncava implorando por alguma comida, olhei para o teto e implorei a deus para que aquilo fosse apenas o pior dos pesadelos.
A medida que as horas iam passando eu ia perdendo as esperanças, eu chorava as vezes e espancava a porta, mas ninguém parecia ouvir, meu estomâgo rugia de fome e eu estava quase desistindo, eu deitei na cama para ver se alguma coisa caia do céu, nada,  o tédio, a fome e a dor de tanto bater na porta me consumiam naquele momento, eu realmente achei que morreria em algumas horas.
Aconteceu pior do que morrer, uns vinte minutos depois de todo o meu drama inicial um cara abriu a porta, ele era alto e forte, estava totalmente vestido de preto, ao seu lado havia um garoto, o garoto era um pouco mais baixo, usava cabelos cacheados e óculos pretos, ele aparentava ser forte e seus lábios estavam cerrados, sem demonstrar nenhuma expressão.
- Bom dia, você não ficou quieta um instante. - disse o homem, ele esperou que eu falasse, porém eu apenas bufei. - bom imagino que com esse comportamento você não esteja com fome, acho que não precisaremos trazer comida para ela certo Harry? - ele disse se referindo ao garoto que concordou, ainda sem expressão.
- O que vocês querem comigo? - respondi com a voz falhando.
- Que bom que você perguntou querida, você ficará viajando conosco por um tempo.
- Isso não esclarece muita coisa.
- É apenas o que você precisa saber. -  eles foram andando em direção a porta, mas eu interrompi a caminhada dos dois:
- E quanto a minha comida?
- Harry cuidará de você e lhe dará tudo o que precisa. - dizendo isso eles saíram e eu fiquei sozinha de novo.
Eu comecei a tentar achar coisas pra fazer, abri a gaveta do criado mudo e encontrei um controle remoto, porém no quarto não havia uma TV, ar condiconada, rádio, nada que parecesse precisar do controle.
Eu guardei o controle quando ouvi a maçaneta girando, era Harry e ele trazia um prato com comida em suas mãos, era arroz com carne e um pouco de alface, o cheiro estava bom, ele se abaixou e me entregou o prato sem dizer nada, depois andou e se sentou na cama, de costas para mim como se eu não estivesse ali.
- Por que estão fazendo isso comigo? O que eu fiz para você? - pela a primeira vez Harry tirou os óculos de sol totalmente desnecessários, deixando a mostra seus estoteantes olhos verdes.
- Charllote Benkston.
- É esse é o meu nome, e isso não responde minha pergunta.
- Sua pergunta não é para ser respondida.
- Por que você trabalha aqui afinal? Você tem cara de quem deve estar na faculdade, não de quem fica sequestrando pessoas.
- Tenho meus motivos.
- E quais são?
- São meus motivos não te interessam.
- Por favor, me tira daqui, por favor, eu sei que você não é mal que nem aquele cara lá.
- Ele é o meu tio, Mike, não posso te tirar daqui, eu não podia nem estar falando com você.
- Por que?
- Já acabou de comer? - ele disse mudando de assunto.
- Sim, pode pegar o prato. - ele se abaixou e pegou o prato das minhas mãos, eu pude ver em seus olhos sua aflição, ele  realmente não gostava de prender as pessoas, ele era bom. - você pode conversar mais comigo? É chato ficar aqui sozinha sem ter o que fazer...
- Já disse que não posso, mas talvez eu traga algum jogo pra você se distrair.
- Obrigada. - eu agradeci e ele saiu.
A única coisa que ainda não tinha passado pela minha cabeça eram os meus pais, como eles estariam? Deviam estar enlouquecendo as linhas policiais, minha mãe deve estar chorando, a única coisa que eu queria fazer era ligar pra ela e dizer que estou bem, que ela não precisa se preocupar e que algum dia eu estarei em casa, mas eu não posso ligar, eu estou completamente sozinha e isolada do mundo.
Deitei-me e dormi um pouco, afinal eu estava cansada da noite anterior e tinha muito o que absorver, eu fui sequestrada sem nenhum motivo, meus pais não são milionários nem nada do genêro, na verdade eles até trabalham muito para que eu consiga uma boa condição de vida, eu nunca fiz mão a ninguém, não tenho coragem de bater em uma mosca, então o que toda aquela gente queria comigo?
Quando acordei, vi um video-game em cima do criado mudo e com ele um bilhetinho:
" Não quis te acordar, como não posso trazer um celular nem nada do tipo decidi deixar esse PSP, pelo menos você se distrai na viagem amanhã, não posso te dizer que vai estar confortável, deve ser muito difícil.  Harry. xx"