Stranger escrita por Okay


Capítulo 5
Jaqueta.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 04/09/2017



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Capítulo 5 — Jaqueta.

Lucas acordou cedo para trabalhar, completamente indisposto, pois sua cabeça doía, poderia descrever como se o seu crânio estivesse sendo partido em dois, sabendo que tinha sido por conta das bebidas.

Tateou sobre o criado mudo ao lado da cama, procurando o despertador que estava mais irritante que o normal e assim desligou-o. Sentou-se na lateral da cama e espreguiçou-se, vendo que o quarto não estava iluminado como os outros dias, logo notando pelas janelas o tempo escuro que ia se formando do lado de fora.

As nuvens estavam pesadas e cinzas, que escondiam o sol naquela manhã, trazendo uma sensação ruim ao peito do loiro, que não gostava de dias sombrios como aquele. Ele não sabia explicar o porquê, mas simplesmente não conseguia sentir-se alegre com um tempo chuvoso.

Lucas tomou um banho rápido com a água mais ou menos morna de seu chuveiro, sabendo que seu aquecedor à gás precisava de ser trocado faz tempo, mas não era novidade de que estava sem dinheiro para todas as manutenções que precisava fazer no apartamento.

Logo depois, pegou-se parado de frente ao seu guarda-roupa. Observou suas não muitas opções para aquele dia, lembrando-se mais uma vez que precisava urgentemente de agasalhos novos, pois tudo o que tinha, era um colete de lã, um cachecol antigo, o casaco que havia usado no dia anterior e uma jaqueta de couro.

Ao lembrar-se do cheiro de perfume que estava impregnado no casaco que tinha usado na noite anterior, pensou em usar a jaqueta de couro; ela havia sido um presente de seu ex-namorado de anos atrás, mas tinha feito-lhe companhia em todas as aventuras de sua vida.

Colocou o uniforme, uma calça jeans velha, o casaco de lã e por cima a jaqueta de couro, finalizando com os sapatos; passando somente uma borrifada de seu perfume predileto, tendo que economizar para que ele durasse o máximo possível.

Como era de costume não tomar o café da manhã, somente pegou a chave da entrada e saiu. Trancou a porta e olhou tudo ao redor enquanto caminhava pelo corredor, sabia que estava ficando paranoico, mas já não bastava ter sido perseguido por Marcus, tinha medo de que seu passado também voltasse a atormentá-lo. 

Entrou no elevador e apertou o botão do térreo, sentindo sua cabeça latejar, não permitindo nenhum movimento brusco. As portas fecharam e Lucas encarou seu reflexo em um dos vários espelhos que lhe rodeava, vendo sua aparência péssima. Suas olheiras deixavam claro que sua noite não tinha sido confortável.

As portas se abriram e ele colocou-se a caminhar, saindo do prédio. A cada passo nas ruas, sua cabeça latejava e para ele, era como se estivesse ficando cada vez mais longe do trabalho, de tanta dor.

Avistou uma farmácia no meio do caminho e sua primeira intuição foi ir até lá para comprar analgésicos para sua enxaqueca, mas lembrou-se de que não trazia nenhum dinheiro consigo, o pouco que tinha no banco, deixaria para situações mais extremas.

Lucas chegou à livraria e foi cumprimentado por Alberto, respondendo o bom dia com um sorriso falso, tentando ignorar o desconforto que sentia, tanto pela fome, quanto pela dor.

Ao longo do dia, cumpria as ordens que lhe eram dirigidas e sentiu seu estômago reclamar ao sentir o cheiro do almoço dos colegas de trabalho, tentando afastar-se da cozinha para não sofrer tanto. Sabia que não aguentaria aquela fome, então decidiu, pelo menos naquele dia, ir para a cafeteria ao lado, precisava urgentemente de café e qualquer lanche que fosse.

Quando deu o seu horário de intervalo, partiu para o estabelecimento ao lado saciar um de seus maiores vícios, pois pensava no café antes mesmo de pensar que precisava comer.

Já na fila, dentro da cafeteria, escolheu um copo de café de tamanho pequeno e mais concentrado e um croissant, pagando no cartão de crédito, esperando o café ficar pronto enquanto comia. Olhou para a moça detrás do balcão que preparava o seu café e logo depois passou os olhos pela decoração do local, da qual achava mais do que aconchegante.

Via muitas pessoas nas mesas, lendo ao mesmo tempo que apreciavam suas bebidas, como se estivessem sem pressa alguma para continuar com seus afazeres, tirando um tempo somente para elas e a leitura, o que Lucas particularmente admirava.

Quase finalizava o croissant quando seu café ficou pronto, então quando estava já pronto para retirar-se dali, deparou-se com uma certa pessoa sentada em uma das mesas. Seu coração acelerou ao ver Marcus com um livro em mãos e uma xícara de café ao lado.

Lucas reparou nas feições de Marcus, por um minuto deixando-se levar pelo sutil sorriso que formava nos lábios do moreno, a leitura parecia ser boa. O livro tinha capa dura e letras pequenas demais para Lucas enxergar naquela distância, mesmo assim, não precisava, reconhecia aquele exemplar, pois havia passado por suas mãos.

Pensou por um momento se ele estaria esperando alguém, mas não era o que parecia, pois ele não aparentava nenhuma preocupação em seu rosto, além de parecer bem confortável como estava. Lucas voltou para a livraria, ainda pensando no livro que aquele homem estava lendo, achando estranho que alguém como ele pudesse gostar do gênero romântico.

Pensou então que aquela poderia ser uma boa hora para tentar desvendar de uma vez por todas o que se passava com o moreno, pelo menos, tentar resolver o começo de toda aquela situação, recebendo, junto com a cafeína na sua primeira golada do café, coragem para querer saber mais sobre ele, mas não diretamente com ele.

Lucas, já na livraria, caminhou para dentro do ambiente dos funcionários para ficar durante o tempo de seu intervalo, recordando-se de Alberto ter dito que Marcus havia perguntado sobre si uma vez. Lucas pensava que como o moreno tinha mania de fazer perguntas de duplo sentido, queria saber se era somente aquilo que ele havia interrogado.

Como se adivinhasse o que pensava, Alberto adentrou o depósito, onde ele aproveitava para descansar. Com isso, o loiro quis usar a oportunidade para saber um pouco mais sobre o que estava pensativo, indo até ele, pensando em como perguntaria sobre a amizade deles.

— E aí, Alberto? Quer café? — Lucas levantou de onde estava, iniciando o assunto.  

— Não, valeu, acabei de almoçar.

— Ah, Alberto... — Interrompeu-o, enquanto ele aparentemente procurava por alguma encomenda. — Posso te perguntar uma coisa?

— Manda.

— Sabe aquele seu amigo que deu carona pra gente? Como é mesmo o nome dele... — Lucas disfarçou.

— O Marcus?

— Isso! Eh... Você me disse ontem que ele perguntou algo sobre mim, você se lembra do que era?

Sentiu sua garganta dar um nó ao terminar a frase.

— Ele quis saber poucas coisas, principalmente sobre você ser novo aqui, se você estava gostando do trabalho, nada demais.

— Ah, achei que fosse algo importante.

— Entendi. — Alberto o olhou de forma diferente. — Por que a pergunta?

— Por nada, não.

— Você o viu?

— Não, só naquele dia. — O loiro mentiu. — Mas então, vocês são amigos há muito tempo?

— Sim, desde a adolescência, estudamos no ensino médio juntos. 

Lucas surpreendeu-se com a resposta, não imaginando que eram tão próximos, nisso, seu nervosismo aumentou, quis perguntar mais coisas, porém, o medo de ser interrogado de volta era maior, evitando continuar o assunto, pelo menos naquele dia.

Marcus, um pouco depois de chegar à cafeteria, pediu seu café, sentando-se na mesa de sempre. Leria um pouco, aproveitando o tempo livre, principalmente porque Alberto havia pedido para que ele fosse até a livraria no horário que tinham combinado, pois chegaria novos exemplares de sua saga favorita.

O local estava parcialmente vazio e o vulto de alguém chegando deixou-lhe curioso, despertando-o da leitura. Quase não conseguiu manter a postura quando viu o loiro, querendo chamá-lo, no entanto, o melhor para si naquele momento, seria deixá-lo em paz.

Fingiu que estava lendo para demonstrar que não havia lhe visto, porém, pelo canto dos olhos, soube que os olhos de Lucas estavam sobre si, não podendo evitar um sorriso. E quando o loiro estava prestes a sair do local, deixou o livro de lado e admirou-o sair, ainda querendo ir atrás dele.

Por mais que Marcus adorasse ver a indecisão de Lucas com os seus próprios sentimentos, não queria que ele pensasse que toda aquela perseguição era somente para o seu entretenimento.

O moreno não gostava de vê-lo tão aterrorizado com sua presença, queria mais do que tudo que ele se lembrasse dele, acreditando muitas vezes de que todo aquele pavor era porque na realidade ele lembrava-se de quem era. Lucas não era o único que estava confuso.

Finalizou seu café e olhou no relógio, vendo que faltava alguns minutos para o horário que havia combinado com Alberto. Mesmo assim, o motivo pelo qual estava ansioso para ir à livraria, era para ver Lucas novamente.

Guardou o livro dentro de um dos bolsos internos do sobretudo, saindo pela porta da frente e entrando na livraria. Além da moça detrás do balcão da recepção, não conseguia avistar mais nenhum dos funcionários, indo então até as estantes para procurar pela sua saga.

Via algumas pessoas desconhecidas olhando os livros, até que ouviu um burburinho com uma voz familiar, procurando onde estavam, vendo ainda de longe, dois homens conversando, um deles era o loiro por quem procurava, já o outro, não conhecia. Ficando à espreita para ouvir o diálogo:

— Você tá diferente. — Lucas ria, parecendo animado pela conversa.

— Eu te reconheci, mas não sabia dizer se era você mesmo... Nossa! Você também mudou bastante. — O homem desconhecido respondeu. — Há quanto tempo a gente tá sem se ver?

— Ah, não faço ideia, tem tantos anos... — Lucas sorria, onde Marcus reparava que ele estava envergonhado, querendo cada vez mais saber quem era aquele homem.

— E você tá há quanto tempo aqui?

— Eu estou morando aqui tem alguns anos já, mas eu comecei a trabalhar aqui tem pouco tempo. — O loiro respondeu.

— Que bom, Lu, sair daquela cidade era o seu sonho. — Afirmou, ainda parecendo extremamente feliz em vê-lo.

— Tô me virando do jeito que dá. — Ergueu os ombros. — E você? Se mudou pra cá ou está só de passagem?

— Por enquanto não tenho um lugar fixo, vivo viajando. Meu sonho é ter algo concreto, de preferência aqui.

— Você tá trabalhando com o quê? — Lucas inquiriu.

— Com vendas, em uma empresa de bebidas.

— E você tá gostando? — O loiro parecia ainda mais interessado.

Marcus ouvia ambos, querendo que a sua conversa com ele tivesse sido dessa forma quando o viu pela primeira vez. Foi tomado pelo ciúme, sentindo-se enojado pela conversa, não tendo uma boa primeira impressão daquele homem que parecia tão entusiasmado por vê-lo.

— Lucas. — O moreno não controlou-se, indo até lá, chamando-o de forma autoritária. — Você viu o Alberto?

Percebeu que a expressão do loiro voltou a perder a cor, como das outras vezes que lhe via, encarando-o com um olhar assustado, como se estivesse congelado pelo medo.

— A última vez que eu o vi, ele estava no depósito. — Lucas respondeu, friamente.

Marcus lançou um olhar amedrontador para o homem que estava com ele, como se lhe dissesse que tomasse cuidado com suas intenções, pois mesmo que nenhum deles soubesse, o loiro era somente seu.

— Você não pode entrar lá! — Lucas falou em voz alta, vendo o moreno dar-lhe as costas.

Não importando-se com aquilo, Marcus, ainda de costas, juntou dois dedos: o indicador e o dedo polegar, representando um “ok” como um sinal irônico de que havia entendido, porém, demonstrando que não faria diferença.

Alberto estava no mesmo lugar que Lucas havia dito, com sua famosa caderneta em mãos, organizando o estoque. Assim que o moreno adentrou o local, sentou-se em dos bancos dali, suspirando.

— Sua saga chegou. — Avisou o amigo. — Eita... Que cara é essa?

— Nada. — Marcus respondeu, com o cenho franzido.

— Aham. — Ergueu uma das sobrancelhas. — É o Lucas, né? O que ele fez agora?

— Nada. —  Bufou. — Como sempre.

— Então é isso que está te intrigando? Ele não fazer nada? — Alberto indagou, já imaginando o que se passava pela mente dele. — Saiba que ele não vai correr para os seus braços se você continuar agindo dessa maneira...

— Que maneira?

— Como assim que maneira, Marcus? Você sabe que mesmo sendo o meu amigo, sinceramente às vezes você me assusta.

— Ótimo.

— Olha, se quiser continuar sendo sarcástico comigo, não venha me culpar depois. Eu já te avisei muitas vezes.

— Não é isso, é que ele tá me confundindo, às vezes fico com raiva achando que ele tá fazendo esse jogo comigo, fingindo que não se lembra e depois eu realmente acho que ele não se lembra. — Marcus soltou um longo suspiro. — Só que, caralho! Depois eu me toco, como ele pode ter se esquecido disso?

— Bom, eu não deveria estar te dizendo isso, porque não quero te deixar com falsas esperanças, mas se te for fazer melhor, saiba que o seu loirinho veio me perguntar de você hoje...

O moreno permaneceu calado, curioso para saber do que se tratava, mas ainda com medo de que aquilo fosse apenas uma brincadeira para ver sua reação. Marcus odiava quando ele o testava, pois sua paciência era pequena e sua curiosidade grande.

— O que ele perguntou? —  Indagou, não conseguindo se conter.

Lucas tentava permanecer calmo, porém, quando Marcus havia lhe chamado com aquele tom de voz tirano, seu coração palpitou mais rápido, precisando de forças para manter-se calmo para respondê-lo. Quando o moreno deu as costas, retomou seus pensamentos a Gustave, que estava consigo.

— É seu amigo?

— Não, eu não o conheço. — O loiro sorriu, disfarçando seu estresse.

— Bom, Lu, foi bom poder te ver de novo. Quem sabe não saímos uma hora dessas? Aqui está meu telefone. — Disse, tirando um cartão de visitas da calça, lhe entregando. — É só me ligar quando quiser.

— Valeu, Gus, também acho que foi bom poder te ver de novo. — Abraçou-lhe.

— Fico contente que mesmo tendo te encontrado depois de tanto tempo, você ainda use a jaqueta que eu te dei, ela sempre ficou muito bem em você. — Gustave afirmou, soltando-se lentamente do abraço.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo revisado com carinho, não se esqueça de deixar seu review ♥