Stranger escrita por Okay


Capítulo 21
Ânsia.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 25/04/2019



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Capítulo 21 — Ânsia.

Quarta, 21 de novembro de 2012.

Lucas ainda estava perturbado pelas palavras de Camille, era impossível aquela ligação não ser de Bob e caso ele realmente fosse à livraria, a situação não seria das melhores. Como ele teria descoberto onde trabalhava era o de menos, agora precisava saber se ele também teria seu novo endereço. A sensação constante que não ia embora de seu peito era a vontade de fugir, mas agora não teria escapatória.

Mesmo sem pegar no sono, imagens vieram diante de seus olhos de um pesadelo real, escutava os gritos desesperados de Lys, sua antiga amiga. Era como se voltasse no tempo, onde ficava paralisado, sem nada poder fazer para ajudar, apenas ouvindo-a agonizar-se em dor,

Retirou o celular do bolso, contemplando a tela com os olhos vazios e a mente cheia, estava paralisado e sem saber o que fazer. Respirou fundo, alguém parecia ter roubado o seu ar, com a dificuldade para respirar aumentando, torcendo para que não tivesse uma crise asmática ali em público. 

As vozes ao redor pareciam ter ficado mais altas, olhava para o lado e via os clientes sorrindo e conversando com os funcionários, empolgados, todos pareciam estar felizes ao redor e aquilo estava lhe matando.

Decidiu se retirar, precisava de um tempo pra esvaziar a cabeça, seus pensamentos estavam lhe sufocando e o ar ficando fraco a cada vez que pensava no que provavelmente aconteceria caso Bob lhe encontrasse.

Chegando ao banheiro da livraria, a primeira coisa que fez foi jogar água gelada em seu rosto, aquilo provavelmente não resolveria todos os seus problemas, mas pelo menos aliviaria a dor de cabeça que estava começando. Secou o rosto com os papéis para mãos, conseguindo respirar melhor que antes.

Apoiou as mãos ao balcão da pia, olhando brevemente no espelho para seu rosto, era visível em sua aparência que as coisas não iam bem. Não gostava de se sentir uma pessoa tão transparente e por mais que estivesse se esforçando no seu dia a dia, percebia que as pessoas ao redor notavam seu péssimo humor. 

Não tinha nem um pingo de ânimo para voltar ao trabalho, querendo ficar por ali alguns minutos. Tomou o celular em mãos, pensando em mandar uma mensagem para Gustave, mas antes mesmo que tivesse a intenção de escrever, viu que tinha um recado sem ler.

Abriu o SMS pendente e em poucos minutos havia se arrependido de ter feito aquilo, pois seu corpo, que havia acabado de se estabilizar, voltava a deixar a tranquilidade de lado, tudo aquilo por ter lido a mensagem que não continha assinatura. E nem precisaria ter.

“Você não quer que eu envolva outras pessoas nisso, quer? Se a resposta for não, então pare de evitar minhas ligações.”

Lucas sentiu o chão mover-se, olhou para baixo levemente tonto, sentindo seu estômago embrulhar. Não podia conter a ânsia que parecia subir, não demorando muito tempo até que ela se manifestasse ainda mais forte, fazendo-o correr até uma das cabines mais próximas.

Ajoelhou-se e colocou todo seu almoço para fora, para piorar a situação, ouviu a porta do banheiro se abrindo, onde mal teria tempo para se limpar sem ser provavelmente questionado.

Esfregou a boca rapidamente, ao mesmo tempo que puxava a porta da cabine para fechá-la, não queria ser visto naquela situação, mas antes mesmo que pudesse se esconder, Alberto aproximava-se, com os olhos arregalados.

— Lucas?! O que tá acontecendo?! — Indagou, preocupado.

— Não é nada, Al... — O loiro tentou responder, mas não passava credibilidade com sua voz fraca.

— Nada? Você acabou de vomitar e está tremendo! — Encarou-o, sem saber o que fazer, vendo-o apoiar as costas na repartição da cabine.

— Deve ter sido alguma coisa que eu comi, não sei. — Disfarçou, jamais poderia lhe falar a causa de sua ansiedade.

— Quer que que te leve ao hospital?

— Não, agora que eu botei tudo pra fora já estou melhor. — Lucas afirmou, ainda sem forças para se mexer. — Eu só preciso escovar os dentes...

— Você não me convenceu, ou eu te levo para o hospital ou pra sua casa, você que escolhe.

— Eu não preciso ir para o hospital, deve ter sido a comida, só isso. — Falou, ainda trêmulo.

— Mesmo assim, você não vai conseguir trabalhar normalmente se estiver fraco, tem que descansar, pelo menos.

— Daqui uns minutos eu já posso voltar, só preciso limpar a sujeira que eu fiz aqui...

— Nada disso, venha, eu te ajudo a levantar. — Alberto estendeu sua mão, com o jovem agarrando-a para se apoiar. — Eu vou avisar o pessoal que vou sair por um instante para te levar.

— Alberto, não preci...

— Não adianta reclamar, você vai pra casa. — Interrompeu-o.

Lucas, embora agradecido, não sabia como aquela situação iria continuar, constrangido quando deixou a livraria com ele, pois sentia os olhares curiosos em sua direção. Foram ao estacionamento onde Alberto havia deixado o carro e entraram no veículo juntos.

— Al, me desculpa mesmo por estar te dando tanto trabalho... — O loiro iniciou, assim que colocou o cinto de segurança.

— Você não tem que se desculpar por nada, você não pode trabalhar com mal-estar. — O superior rebateu, ligando o carro. — Se for mesmo intoxicação alimentar, espero não ficar também, já que almoçamos no mesmo restaurante.

— Eu já estou melhor, deve ter sido meu estômago fraco, não estou acostumado com comidas mais condimentadas. — Lucas ergueu os ombros, procurando uma saída adequada para sua condição.

— De qualquer modo, se não estiver se sentindo bem amanhã, é só avisar, você não precisa ir, é só levar um atestado depois.

Alberto demonstrava que se preocupava com ele e o jovem não sabia como agradecê-lo por estar sendo um amigo tão bom, pois poderiam trabalhar juntos, mas era assim que Lucas agora o enxergava, não eram mais apenas colegas de trabalho. 

Assim que chegaram, o loiro finalizou a explicação do trajeto ao prédio de Gustave e agradeceu-o pela carona, onde ouviu mais um aviso dele para que se recuperasse bem, recebendo algumas dicas de alimentos bons para o estômago.

Com a cópia das chaves que Gustave tinha lhe dado já há algum tempo, entrou pela portaria sem nem mesmo precisar se identificar, subindo até o apartamento. Ao deparar-se no conforto do sofá, mandou uma mensagem ao namorado para avisar-lhe que tinha saído mais cedo e que estava em casa, evitando detalhes para não o preocupar.

Já adormecido no sofá, o loiro sentiu uma cócega na ponta de seu nariz que o despertou, abrindo os olhos e tomando um susto com a risada de Gustave. O namorado se sentava no espaço vago do sofá e distribuía beijos pelo seu rosto.

— Você me assustou. — Lucas esfregou os olhos, ainda com sono.

— Vim mais cedo quando você me avisou que já estava aqui, fiquei preocupado.

— Por quê? Eu disse que não foi nada demais, só me senti um pouco mal. — Sentou-se ao sofá, dando mais espaço a ele.

— Teria que ter um bom motivo pra sair mais cedo do trabalho sem mais nem menos... Me conta vai, o que você teve?

— Eu vomitei. — Lucas confessou.

— Vomitou?!

— Provavelmente foi o que eu comi no almoço, eu fui em um restaurante que nunca tinha ido antes, a comida era um pouco forte.

— Não sei, não, você nunca foi disso, sempre comia umas paradas esquisitas da escola e ainda gostava. 

— Que mentira! Eu era um adolescente enjoado, eram poucas as coisas que eu gostava de verdade, não se lembra disso?

— Claro que eu lembro, minha mãe ficava louca quando você ia almoçar lá em casa porque você não gostava de nada. — Riu alto. — Mesmo assim, eu não sou o melhor dos cozinheiros e você nunca passou mal com a minha comida. 

— De qualquer forma, já estou melhor, o Alberto resolveu as coisas por mim, deu meu dia como trabalhado e disse que caso eu quisesse ficar em casa amanhã, era só levar um atestado depois.

— Que bom que já está melhor. — Acariciou os cabelos loiros. — E o Alberto é um cara legal, qualquer dia desses a gente tem que convidar ele pra jantar aqui, o que acha?

— É uma boa ideia, principalmente agora que eu percebo que ele parece estar meio solitário... Ah, inclusive, o meu almoço hoje foi com ele, fomos comer em um restaurante que ele gosta, acho que foi por isso que ele se sentiu culpado por eu ter ficado mal e me trouxe em casa. — Riu.

— E ele não passou mal? — Gustave indagou, curioso.

— Não, nós pedimos pratos diferentes.

— Que estranho isso. — Observou. — Mas você está melhor? Quer algo pra comer?

— Quero evitar comer por um tempinho, nem água estou conseguindo tomar.

— Tudo bem, descansa um pouco. — Deu-lhe um beijo na testa. — Eu vou tomar um banho, vou deixar a porta aberta pra caso você precise de mim ou queira me fazer uma surpresa.

Lucas recebeu um beijo rápido e viu-o sair da sala, sem o mesmo ânimo de sempre, não conseguindo pensar em nenhuma piada para aquele momento como geralmente acabava fazendo.

O sono de antes não havia retornado e agora ouvia o chuveiro ligado onde o namorado se banhava. Pensando se seria certo preocupá-lo com a mensagem que havia recebido, e principalmente, se contaria que agora Bob sabia onde trabalhava.

Decidiu sozinho que guardaria aquilo consigo por enquanto, a única solução naquele momento era tentar fugir mais uma vez. Apesar de gostar de trabalhar na livraria, teria que se demitir, não era mais seguro.

Apesar dos imprevistos, Alberto teve uma tarde agradável com Lucas, a companhia dele lhe ajudava a sanar o desejo de desabafar com alguém e ele era a única pessoa que melhor compreendia da situação. Seu melhor amigo lhe fazia falta, nunca havia ficado tantos dias sem conversar com Marcus, ele era tudo o que tinha e foi levado de uma única vez.

Não conseguia controlar a saudade que sentia dele, muito menos o desespero de pensar que nunca mais lhe veria novamente, os dias estavam sendo insuportáveis, sentia saudade até mesmo do lado sarcástico do amigo.

Chegou em seu prédio, mentalmente esgotado, tinha sido difícil de atravessar o hall com as lembranças de Marcus em mente. Sentiu seus olhos lacrimejarem, esforçando-se ao máximo para não chorar em público.

Quando entrou ao elevador, pode enxugar a primeira lágrima, fungando pela primeira vez. Assustou-se quando uma mão impediu que a porta se fechasse totalmente, com uma moça simpática entrando.

Alberto tentou recuperar-se, indagando-a:

— Para qual andar?

— Onze, por favor.

— Ah, já estou indo para lá.

Ela sorriu e pareceu reparar apenas nesse momento a sua expressão, onde ele carregava os olhos avermelhados pelo breve choro. Depois de um momento em silêncio, a mulher quebrou o gelo, se apresentando:

— Sou Rachel.  

— Alberto. — Deu-lhe um sorriso curto.

— Como assim somos do mesmo andar e nunca nos trombamos antes? — A mulher disse de forma simpática, arrumando os cabelos lisos para o lado. — Já moro aqui tem alguns anos e você?

— Também. — Respondeu de forma curta.

— Olha, eu não posso disfarçar que não estou curiosa, então me desculpe se estiver sendo enxerida, mas o que levou um homem como você estar tão triste?

— Um homem como eu? — Riu baixinho.

— É, você é bonito, alguém teve coragem de partir seu coração?

— Não é desilusão amorosa, se quer saber...

— Quero saber sim. 

— Eu perdi meu melhor amigo. — Falou, com dificuldade. — Bom, já tem dois dias desde o acidente, mas a tristeza não dá trégua.

— Agora eu estou me sentindo péssima... Eu sinto muito, Alberto, não queria ter tocado nesse assunto delicado. — A porta do elevador se abriu, com ambos saindo para o corredor.

— Está tudo bem, eu gosto de conversar. — Respondeu, chegando até sua porta de entrada, onde ela tinha lhe acompanhado.

— Eu também gosto de conversar, caso você precise de companhia, nós podemos tomar um chá ou café qualquer dia desses.

— Por mim tudo bem. — Ele sorriu.

— Tem planos para hoje?

— Apenas tomar um longo banho e me deitar.

— Bom, caso queira, eu não tenho nenhum compromisso. — Ela ergueu os ombros. — A minha porta é a 112, não hesite em aparecer caso queira conversar.

— Obrigado pelo convite, mas pelo menos por hoje eu preciso mesmo descansar. 

Rachel despediu-se com um sorriso meigo, que Alberto guardou-o em mente como em uma fotografia, ela era linda.

Quinta-feira, 22 de novembro de 2012.

Com coragem para deixar o emprego, Lucas deu um beijo de despedida em Gustave e desceu do carro, já em frente a livraria. Não poderia continuar trabalhando em um lugar onde não estava seguro e continuaria sendo ameaçado, além de estar colocando a vida de seus colegas de trabalho em risco, precisava de paz.

Antes de entrar, viu o veículo do namorado juntar-se a outros no trânsito, no entanto, antes que pudesse dar as costas, observou um comportamento suspeito de um dos carros, que aparentemente apenas esperava estacionado antes de começar a traçar uma rota duvidosa que parecia seguir Gustave.

Poderia ser apenas bobagem de sua cabeça perturbada, mas vidros tão pretos como a cor do carro não simbolizavam em boa coisa. Gustave estava em perigo.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo revisado com carinho, deixe seu review, mesmo que curtinho! ♕