Stranger escrita por Okay


Capítulo 2
Livraria.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 05/02/17



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Capítulo 2 — Livraria.

Lucas acordou com batidas em sua porta, ouvindo uma voz ainda indescritível. Conforme o seu sono ia passando, o som tornou-se nítido, fazendo o loiro levantar-se com pressa da cama, pegando a primeira camiseta que encontrou pelo chão, vestindo-a com pressa.

Abriu a porta de entrada, dizendo:

— Perdão pela demora, Sr. Thompson... Eu estava dormindo.

— Sua irresponsabilidade me trouxe até aqui, você já sabe do que se trata, não?

— Imagino o que seja, por favor, entre. — Deu-lhe passagem.

— Bom, meu jovem, por mais que os apartamentos não tenham o seu devido reparo, ainda tenho contas da localidade para pagar. Não há desculpas para mais de um mês de atraso.

Sr. Thompson era um senhor simpático na maior parte do tempo, todos sabiam que o prédio velho era tudo o que ele tinha herdado da família, há anos ele tentava administrar e melhorar o que podia, mesmo com tantas dívidas em seu nome.

Lucas explicou toda a situação para o senhor, que pareceu compreender, vendo que o jovem quase explodia com tanta responsabilidade sobre si: precisava trancar a faculdade, arranjar um novo emprego e não sabia nem como faria para comprar os alimentos para aquele mês.  

O loiro não soube dizer se era sua impressão, mas Sr. Thompson pareceu comovido com toda sua situação, o que às vezes era comum para Lucas, que sabia que todos do prédio conheciam sua história e sabiam de onde tinha vindo. Porém, mesmo com a fama que seu passado trágico trazia, o jovem não se aproveitava, não queria a ajuda de seus vizinhos, não queria proximidade com nenhum deles.

Ele e Sr. Thompson negociaram, foi permitido então que pagasse no próximo mês os dois alugueis que estavam vencendo, contudo, o mais antigo com acréscimos. Apesar dos juros, Lucas aliviou-se, pois qualquer coisa era melhor que ir para as ruas, não queria ter aquela sensação, não de novo.

Lucas preparou um café para o senhor e, enquanto tomava, pensava que ao menos uma coisa tinha dado certo até o momento, sabendo que Sr. Thompson não era sempre compreensível com todos. Assim que despediu-se, pegou sua carteira e também seus currículos, sairia para entregá-los e o primeiro lugar que tinha em mente, era a livraria que tinha visto no dia anterior.

No mesmo momento, Lucas lembrou-se da sua noite maluca, que mais parecia ter sido um sonho. Se perguntando se aquele homem viria lhe perturbar novamente agora que sabia onde morava. 

Não poderia viver com medo, a vida lhe ensinou que poderia ser curta demais para esconder-se, ainda mais depois do que tinha acontecido consigo. Por mais que quisesse se esquecer de uma parte de sua vida, seu passado tinha lhe ensinado algo.

Dia seguinte. 

Lucas estranhou não ter sido convocado para uma entrevista antes de começar, mas também não queixou-se quando foi chamado para o seu primeiro dia na livraria. O jovem animou-se, pois antes pensava que aquela semana se passaria e ainda não teria um emprego, no entanto, pensar negativo tinha seus pontos positivos às vezes, como surpreender-se quando algo bom acontecia.

Assim o loiro arrumou-se e chegou à livraria pela manhã.

Foi recebido pelos colegas de trabalho, que o cumprimentaram desejando-lhe as boas-vindas. Camille foi quem  mais lhe deu atenção, conversando sobre como era trabalhar por ali e seus pontos positivos, envolvendo-o em uma conversa gostosa sobre leitura, afinal, ambos tinham muita coisa em comum. E quem Lucas socializou-se por último, tinha sido o supervisor de vendas, um homem latino, chamado Alberto.

Logo o jovem entendeu qual era a função de um auxiliar, do qual ele chamava internamente de “faz-tudo”, que descrevia perfeitamente suas obrigações no local.

Lucas passou a maior parte do dia limpando as estantes levemente empoeiradas e organizando a prateleira de livros em lançamento, que a todo tempo ficava desorganizada por conta dos clientes alvoroçados sobre ela. Não era a profissão mais glamorosa de todas, mas também, não era nada mal, pois além do loiro amar livros, o ambiente era agradável.

A encomenda citada pelo supervisor de vendas havia chegado e o jovem terminava de arrumá-los nas devidas prateleiras. Enquanto conferia a ordem alfabética dos sobrenomes, analisando se tinha guardado todos corretamente, ouviu Alberto lhe perguntando:

— Lucas, você separou aquele livro que eu te pedi?

— Ah, sim, está aqui. — Olhou no fundo da caixa, pegando o livro e entregando-o.

— O meu amigo que encomendou, chegou para buscá-lo, você tem um minutinho para ver como funciona o sistema do caixa?

— Ah, eu gostaria, já acabei por aqui.

— Certo, vem comigo.

Ambos foram até o caixa, onde Lucas pôde ver um homem de costas, debruçado sobre o balcão, com Alberto lhe chamando em seguida.

— Aqui está, Marcus.

Assim que o suposto amigo de Alberto virou-se, o coração de Lucas congelou dentro de si, sentindo um calafrio rapidamente lhe dominar. As suas pernas ficaram bambas no momento em que o homem moreno cruzou o olhar com o seu, causando no jovem uma vontade repentina de fugir.

Por mais que o loiro insistisse em dizer para a sua mente que aquele não era o homem da noite anterior, as feições dele não lhe enganavam. Marcus sorriu com o canto dos lábios, olhando Lucas com a mesma maneira maliciosa que o jovem lembrava-se. Alberto caminhou para detrás do balcão, onde ficava o computador que registrava as compras.

O loiro recuou, dizendo que não estava sentindo-se bem, pedindo desculpas, afirmando que outra hora ele lhe ensinaria. Assim, ao invés de relevar a situação, o supervisor de vendas levantou-se, indo atrás do novo funcionário, exclamando:

— O que você tá sentindo Lucas?

— N-Não se preocupa comigo. — Lucas falou, tentando não gaguejar.

— Não tem como, você está branco como uma folha, parece que até que viu um fantasma! Vai beber uma água, descansa um pouco. —  Alberto aconselhou.

O loiro, saindo dali, escondeu-se detrás de uma das estantes de livros, com o coração aos pulos. Ele tentava analisar a situação, Marcus não estava tão assustador naquele dia, parecia apenas um homem carente e safado que tinha lhe perseguido, mas Alberto havia citado que eram amigos, fazendo-o pensar no grau de intimidade dos dois. 

Isso deixava-o frustrado, pois Alberto parecia ser uma ótima pessoa, não queria que ele fosse ludibriado por qualquer coisa que aquele homem misterioso pudesse dizer para ele. Lucas suspirou, agachando-se, suas pernas estavam frouxas. Para que não estranhassem o motivo de estar ali abaixado, o jovem aproveitou a pilha de livros ao chão e tomou-os em mãos.

Estavam classificados como literatura inglesa, que era a mesma seção de onde estava, os livros estavam empilhados como se algum funcionário tivesse se esquecido ou sem tempo para arrumá-los. Pensativo se guardava-os de volta na prateleira ou não, com medo de que já tivessem outra finalidade.

— O que está fazendo no chão, “Sr. Viu-um-fantasma”? — Marcus diz, em deboche. 

Lucas levantou-se e ignorou-o, mesmo não tendo conseguido disfarçar o sobressalto que levou ao vê-lo atrás de si. Estava com milhares de palavras engasgadas em sua garganta e segurava-se ao máximo para não dizê-las.

— Você ficou lindo com o uniforme daqui. — O homem elogiou. — Ei... Não vai me falar nada? 

O loiro fez menção para sair dali, logo sentindo uma mão pesando em seu ombro, evitando sua ida.

— Não precisa ficar assim. — Marcus falou, em voz baixa. 

— O que você quer? — Lucas perguntou, entredentes.

— Me desculpa, eu não deveria ter agido por impulso ontem. É que eu não aguentei, te ver depois de tanto tempo foi surreal pra mim. — O homem respondeu, com um olhar arrependido. — Por favor, me dá uma chance. 

— Não enche. — Protestou, tirando a mão de Marcus de sobre si

Lucas bufou, já distante dali, pensando no grande mar de azar que a sua vida era. Como se já não bastasse que o homem estranho soubesse onde morava, agora também lhe perseguiria no trabalho. Em busca de paz, o loiro foi ao depósito da livraria. Ficou ali escondido, ouvindo os próprios batimentos, não conseguia diminuir a exaltação que sentia.

Lucas não gostava de sempre fugir de seus problemas como estava fazendo no momento, sabia que aquele homem não necessariamente lhe causaria algum mal, mesmo assim, não conseguiu enfrentá-lo e tinha medo caso ele não desistisse. 

O jovem olhou no horário em seu celular que estava no bolso, contaria dez minutos para sair dali. Mas os segundos pareciam passar rapidamente, como se estivessem lhe torturando para que saísse dali logo.

Lucas não conseguia esquecer o que tinha acontecido e não queria voltar para a loja, receava encontrar o homem novamente, porque além de sempre estremecer quando via-o, também sentia que conhecia Marcus de algum lugar, aquilo amedrontava-o, por já estar pensando que aquele homem tinha lhe deixado louco aquele ponto. 

O loiro esforçava-se cada vez mais para libertar-se de toda a sua história e de apagar todo o seu passado. E ficar perto daquele homem trazia um sentimento ruim em seu peito, como se ainda tivesse sobrado algo em si daquilo que tanto havia se empenhado para esquecer.

Quanto mais o jovem negava com todo o seu ser de que não olharia para trás, mais sua curiosidade sobre o moreno crescia. Esforçava-se para provar para si mesmo de que aquilo não era normal, não poderia se envolver com aquele homem que se mostrava um perseguidor, apesar de ele ser atraente a ponto de acabar com seu psicológico. 

Quando Lucas se deu conta de que havia se passado meia hora de que estava ali, voltou para a loja olhando tudo em volta, temendo ao máximo encontrar o moreno. Assim passou boa parte do seu dia, paranoico com todas as pessoas ao seu redor, parecendo somente enxergar Marcus em alguns rostos, como se o homem estivesse espreitando-o por todos os cantos.

— Lucas? Onde você estava?! — Alberto chamou-o, pegando-o de surpresa. — Você está bem?

— A-Ah, estou bem melhor. — Disfarçou o susto que tinha tomado, tentando não gaguejar. — Fiquei no depósito até melhorar. 

— Ah, aquele meu colega que te apresentei perguntou de você, reparando que você era novo aqui, dizendo que gostou do seu atendimento. — O supervisor de vendas afirmou, com um sorriso no rosto. — Ele levou alguns livros de escritores britânicos também, disse que você apresentou-os a ele.

O loiro lembrou-se do momento em que estavam na seção de literatura inglesa, onde Marcus havia praticamente o encurralado, poderiam ter conversado de tudo, menos sobre os livros. Ficou sem saber o que dizer para Alberto, somente forçando um sorriso.

— Bom, você está de parabéns, mesmo sendo o seu primeiro dia, você parece já ter dominado tudo o que eu te ensinei. — O supervisor elogiou.

Lucas sentiu outro embrulho no estômago, com sua respiração ainda descompassada, não conseguindo normalizar-se após o susto, pensando em dizer para Alberto o que aquele homem realmente estava fazendo consigo.

— Ei... Lucas? — O supervisor chamou-lhe novamente.

— A-Ah, oi?

— Tem certeza que está bem?

— Tenho, eu só não almocei hoje.

— Como assim?!

— É que eu não trouxe nada de casa e também esqueci a carteira. — Lucas mentiu, sabendo que nem condições de uma refeição decente em casa ele tinha.

— Podemos ir comer alguma coisa daqui a pouco, todo mundo estava combinando de sair para um happy hour. Vai ser bom pra você conhecer melhor a turma também, jogar conversa fora, essas coisas. O que acha?

— Ah, não, deixa para outro dia, hoje eu realmente não trouxe nada.

— Não seja por isso, deixa que eu pago! É seu primeiro dia aqui!

— Não precisa mesmo.

— Ah, qual é?! Tem outro compromisso?

— Não, só vou pra casa mesmo.

— Namorada esperando?

— Não, não tô com ninguém no momento.

— Bom saber, porque pra ser sincero contigo, eu estou insistindo tanto, porque a Camille está interessada em você, ela te achou bonito e pediu pra eu te perguntar se estava solteiro. — Sussurrou. — Ela aparentemente quer te conhecer melhor e me fez prometer que eu te convenceria a ir. 

— Sério? — Surpreendeu-se com aquilo, achando ligeiramente engraçado. 

Após Alberto revelar os sentimentos de uma das funcionárias para ele, Lucas percebia que ele exibia uma expressão enigmática, quase cômica, sem entender direito se ele tinha segundas intenções por trás daquilo. Mesmo assim, agora fazia sentido sobre o porquê que desde a manhã essa moça estava fazendo tanto contato visual.

— Você trabalhou bem hoje, logo vamos fechar e você merece uma recompensa! — O supervisor de vendas reforçou. — Vamos?

— Tá certo, eu vou.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

A cada capítulo que vocês saem sem comentar, um autor morre :c