Silêncio escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 8
Capítulo 7 - Lembranças




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No meio do caminho até a delegacia, Francine não conseguia esquecer o que viu há apenas alguns minutos, parece que seus olhos estão em chamas de tão ardentes, e ela ainda estava chorando. De repente, ela lembra que tem uma bateria reserva em algum lugar pelo carro, então abre o porta-luvas e a procura por entre vários papéis, até que finalmente a acha. Com dificuldade, ela troca a bateria do celular e então o liga, jogando no banco do passageiro logo em seguida. Depois de algum tempo dirigindo, o telefone dela toca, e ela rapidamente atende.

- Alô?

- Francine?

- Ah, oi amor.

- Frank ligou para mim perguntando por você, já conseguiu falar com ele? – Todd pergunta.

- Sim, já consegui. Obrigada.

- Você está bem?

- Estou, por quê?

- Sei lá – Ele começa – A morte da sua avó, a morte do Evan, é muito para você aguentar, não acha?

- Eu estou segurando a barra, por enquanto – A voz dela fica surpreendentemente fraca.

Todd fica em silêncio por um momento, e Francine até checa o celular para ver se ele ainda está lá.

- Todd?

- Eu estou aqui – Ele diz – Vou chegar um pouco mais tarde em casa tá?

- Tá.

- Tchau.

Ela desliga o celular, pensativa, as palavras de Todd ecoam em sua mente. É muito para você aguentar, não acha? Não, não era, ela era uma mulher forte e ia aguentar tudo aquilo firme e forte, ia conseguir acabar com o assassino e salvar Freddie das mãos daquele sádico. Continua a dirigir e então para em frente à delegacia, mas quando pega o celular e vai descer do carro, ele vibra. Uma mensagem. O coração dela começa a bater mais rápido. Ele vai matar denovo. Ela abre o sms, mas assim que põe seus olhos no texto, percebe uma coisa muito rapidamente. Não é apenas uma palavra, e sim um pequeno texto.

Vamos conversar, sem mais violência. Você irá me encontrar onde tudo começou. Rua Fletcher, 18.

Se a policia vier junto, seu tio vai descansar em paz, junto com a sua família inteira. Esteja aqui em vinte minutos.

Francine estremece. Seu antigo endereço, de quando ela era criança, de quando perdeu toda a sua família da forma mais brutal possível. E agora? Ela olha para a delegacia, as pessoas saindo e entrando a todo momento com suas pastas pretas e roupas formais e várias viaturas paradas em frente ao prédio, então decide fazer o que o assassino recomendou, entra no carro e volta a dirigir, dessa vez em direção a casa onde tudo aconteceu, sem a mínima vontade de apenas conversar.

Vanessa chega ao grande prédio da Spring, vários carros parados no estacionamento, três deles, de policia. Ela desce do carro correndo e encontra seus amigos, com a maior cara de enterro do mundo, Rachel chora desesperadamente no ombro de Quentin.

- O que aconteceu? – Vanessa pergunta.

- Tasha morreu, foi isso que aconteceu! – Rachel grita e Vanessa fica chocada. Oh meu deus, ele fez outra vítima, e vai continuar fazendo até alguém pará-lo. Ninguém parece ter coragem de falar mais nada, até que Quentin quebra o gelo:

- Eu não consigo acreditar – Quentin diz, com uma voz muito fraca – Ela foi assassinada dentro do prédio, e ninguém viu esse sujeito.

Vanessa não diz nada, apenas corre para o carro. Preciso achar Francine, precisa ser rápido. Ela vai embora do estacionamento do prédio da Spring, em busca de Francine, tentando salvar a vida dela. Ela pega o celular e liga para Jake, mas o celular está desligado.

- Alô? – Do outro lado da cidade, dentro de uma farmácia, Francine liga para Layla, enquanto assiste ao noticiário na pequena TV do estabelecimento.

- Francine?! – Ela fica surpresa – Você está bem?

- Estou, Layla.

- Onde você está? O que aconteceu? Que história é essa do assassino ter voltado? Jensen já era, nós matamos, lembra?

- Liga a TV, no noticiário.

Layla faz o que ela pede e liga, o telejornal noticia a morte de Tasha.

Dois assassinatos em dois dias, as vítimas trabalhavam na revista de entretenimento Spring, a policia no momento, investiga as mortes de Evan Harris e Natasha Blade, e desconfia que elas estejam interligadas.

- E agora? Acredita em mim? – Francine pergunta.

- Oh meu deus – É tudo o que Layla consegue dizer. Não pode ser.

- Me escute, isso não é coincidência – Francine começa – Eu quero que você tranque as portas e feche as cortinas, fique junto do Frank e do Caleb, por favor, e se tiverem uma arma, melhor ainda, se não, arrumem algo que sirva como uma.

- Tá, mas, onde você está? – Layla pergunta, e permanece confusa.

- Eu estou indo encontrar com ele – Francine responde e antes que Layla pudesse reclamar, ela continua: - Não adianta dizer nada, eu não vou mudar de ideia, e não se preocupe, tenho uma arma. Tome cuidado, beijos.

Francine desliga o telefone, termina de pagar pelo remédio de dor de cabeça que comprou e vai embora.

Layla tranca todas as saídas da casa e fecha as cortinas, pegando uma faca e correndo para o quarto logo em seguida. Lá ela encontra Frank trabalhando no computador e Caleb colorindo algumas imagens. Ela entra e tranca a porta. Frank assustado, para o que está fazendo.

- O que está fazendo? – Ele pergunta, confuso e assustado. – Porque você está com uma faca? – Ele corre até Layla e tenta pegar a faca da mão dela, mas ela não deixa.

- Não – Ela diz, muito assustada. – Você não entende, nós estamos em perigo.

- Ah não, por favor, isso é coisa da cabeça delas, nós não estamos em perigo.

- Não é, nós estamos em perigo e agora, Francine foi se encontrar com ele!

Layla pega o controle e liga a TV do quarto, ainda noticia o assassinato.

- Eles eram amigos da Francine, trabalhavam no mesmo lugar, você acha que isso é uma simples coincidência?

Frank fica sem palavras por um instante, processando a informação. Ele voltou e está matando novamente.

- Caleb, fique aqui, nós já voltamos – Frank diz, e puxa Layla pelo braço até o corredor. – Se isso é mesmo verdade, eu preciso fazer alguma coisa.

- O que você quer fazer?

- Eu vou procurar a Francine.

- Você tá louco? – Layla não concorda. – Vamos chamar a policia.

- A policia já está envolvida e não vai conseguir trazê-la de volta, Ela não é fácil de convencer.

- Por favor, deixe eles cuidarem disso.

- Eu não posso, eu prometi que cuidaria de vocês e agora é a hora certa.

Layla se prepara para discordar de todos os modos, mas Frank coloca seu dedo sobre a boca dela, fazendo ela sofrer por dentro ao perceber que não conseguiria impedi-lo.

- Não diga mais nada. – Ele a envolve em um abraço apertado.

- E o que você quer fazer?

- Venha aqui.

Ele vai até o quarto e pega uma pistola muito bem escondida dentro de uma gaveta, e antes de sair novamente, ele percebe o rosto confuso e amedrontado de Caleb olhando para ele.

- Vai ficar tudo bem – Frank diz e então volta para o corredor.

Layla faz uma cara de temor. O que será que ele vai fazer?

- Eu vou acabar com ele – Frank mostra a pistola.

- Você não tinha se livrado disso? – Ela pergunta, chateada.

- Não é hora de sermão – Ele responde – Se eu tivesse me livrado, não teríamos nada agora pra se defender.

Ela revira os olhos e pergunta:

- O que nós vamos fazer agora?

- Nós não, eu – Ele responde – Eu vou falar com o Todd, explicar tudo o que está acontecendo e depois você e o Caleb vão ficar protegidos.

- Ele vai querer ir atrás dela também, é a esposa dele!

Neste exato momento, o telefone de Layla toca, ela olha o nome piscando na tela do celular. Francine.

- É ela!

Layla rapidamente atende.

- Francine? – Ela pergunta com medo do pior.

- Eu estou bem – Felizmente, a voz do outro lado é dela. Ainda bem.

- Você quer me matar? Volte pra cá agora mesmo! Você tem ideia do que está fazendo?

- Não adianta brigar, eu não vou voltar.

- Ah meu deus! Por favor, não faz isso comigo!

- Layla, eu vou encontrar com ele e agora eu sei me defender!

- Você tá louca? Acho que sim – Layla grita – Lembra da última vez? Todos nós achávamos que podíamos lidar com aquilo, mas não pudemos!

Layla começa a ficar estressada e respirar fundo, com vontade de jogar o celular na parede, mas Frank tira o aparelho da mão dela antes disso.

- Francine? – Frank pergunta.

- Oi.

- Escuta ela, ela tem razão, você não pode lidar com ele!

- Não adianta, eu já estou indo acabar com isso.

- Então tá! – Frank diz, pegando Francine de surpresa – Eu sei que não posso te impedir.

- Só isso?

- É, o que mais você queria?

- Sei lá, um sermão de duas horas, um “você quer se matar, se mate”, sei lá...

- Eu não vou conseguir mesmo, então... E também, se você diz que está preparada, eu acredito. Mas onde você está indo, pelo menos me diga isso, é um lugar desértico? Pode ser perigoso.

- Eu sei o que está fazendo! – Ela sorri.

- O que? O que foi?

- Eu não vou dizer pra onde estou indo Frank! Não adianta vir atrás de mim!

- Ah! – Ele fica revoltado – Francine me escute, volte pra cá agora! Você não tem ideia de onde está se metendo!

- Me desculpe.

Ela desliga.

- Que droga! – Ele bate na parede – Ela não vai dizer pra onde está indo.

- Então como você vai atrás dela? – Layla pergunta.

- Eu já sei. – Frank se dirige até a sala e pega o telefone fixo.

- O que vai fazer?

Ele faz um sinal para ela esperar.

- Alô? – Frank pergunta. – Ah, oi, é que meu filho perdeu o celular e eu queria ativar o localizador.

Apesar das circunstâncias, Layla sorri. Esperto. Ele sempre foi.

Do outro lado da cidade, Francine dirigia lentamente pela rua quase deserta. Um sentimento de nostalgia lhe preencheu a mente. Ela se lembrava de tudo, todas as manhãs, tardes e noites que passara naquele lugar. Ela continua dirigindo até chegar em frente a uma casa branca, com um jardim morto e descuidado. Ela sente calafrios e seu estômago se embrulha inteiro, aquele lugar não trazia apenas boas lembranças.

Francine estaciona na frente da casa velha, procura no porta-luvas, um envelope, e quando o acha, desce do carro, a rua está quase vazia. Ela anda pelo pequeno caminho de pedra até chegar à porta, abre o envelope e de lá, tira uma grande chave velha. Sua avó não quis vender a casa então deixou ela do mesmo jeito que estava. Ao abrir a porta e entrar na sala, ela volta quinze anos no tempo, lembrando do dia em que seu pai chegou em casa com um vídeo game novo, Francine adorava jogar.

A jovem garota, Francine, brincava com suas bonecas no tapete da sala, enquanto sua mãe, assista à novela, quando seu pai entrou pela porta da frente, com um imenso sorriso no rosto e com as mãos para trás.

- Oi garotas – Ele disse.

- Oi amor – A mãe de Francine respondeu – Como foi no trabalho?

- Muito bem, atingimos a meta do mês.

- Que bom, parabéns.

- Obrigado, e pra comemorar – Ele mostrou as mãos, revelando uma grande caixa embrulhada em um papel colorido de ursinhos. – Adivinha o que eu comprei!

- O que? – Francine levantou-se do chão e foi até ele.

- Abra e você verá – Ele entrega nas mãos dela.

Francine pega o presente e desembrulha, seus olhos brilham ao ver a caixa do vídeo grame que ela adorava jogar na casa do seu primo. Seu pai realizou todos os procedimentos e depois, eles se divertiram até a hora de dormir, ali mesmo, naquela sala, onde agora estava vazia e acabada e só havia poeira. O sorriso que estava no rosto de Francine logo se desfaz ao olhar para a escada. Foi lá em cima que tudo aconteceu.

Após ouvir da mulher do outro lado da linha que o localizador tinha sido ativado com sucesso, Frank desliga e rapidamente liga o notebook e coloca no site da operadora.

- Vamos ver onde ela está! – Ele diz, e com um clique, o endereço aparece na tela.

NY, Rua Fletcher, 18

- Rua Fletcher, número 18! – Frank se levanta do sofá. – É lá que ela está.

- Rua Fletcher? – Layla pergunta surpresa.

- Sim, porque?

- Não sei... Tenho a impressão de que conheço esse lugar.

- Enfim... Vamos falar com o Todd e deixar vocês em segurança.

Eles sobem, pegam Caleb, verificam todas as janelas. Trancadas. Todas as portas. Trancadas. Depois vão embora de carro pela garagem. Ao chegar ao restaurante onde Todd trabalha, eles descem e pedem para falar com ele, e após alguns minutos, ele aparece.

- O que aconteceu? – Ele pergunta – E porque Caleb está com vocês?

- Bem, a Francine precisou sair e deixou ele com a gente.

- O que? Mas como assim? Pra onde ela foi?

- Não sabemos, mas enfim, você pode ficar com o Caleb? – Layla pergunta.

- Sim eu posso, vou pedir pra sair mais cedo.

- Então tá, porque eu e o Frank precisamos resolver algumas coisas – Ela olha para ele e sorri. Ele retribui com uma cara de descontentamento.

- Então tá.

- Tchau – Layla diz e puxa Frank pelo braço.

Ao chegar no carro, ele começa:

- Pode me explicar o que você quer fazer

- Eu vou com você.

- Não vai não!

- É claro que vou, me sinto mais segura com você.

Depois de alguns segundos em silêncio, Frank acaba cedendo e liga o carro.

- Então vamos.

Eles dirigem, sempre olhando no GPS qual é o caminho para chegar à Rua Fletcher.

- Oh meu deus! Como não lembrei antes? – Layla diz, pegando Frank de surpresa.

- O que?

- Eu sei onde a Francine está – Ela começa – Eu sabia que já tinha visto esse endereço, e nós temos que chegar rápido, aquele lugar pode ser perigoso pra ela.

- Onde ela está?

- Em casa – Layla olha para ele, com um olhar amedrontado e ele faz uma cara de quem não entendeu.

- Como assim em casa?

- Na antiga casa dela, na casa onde a família foi assassinada, onde tudo isso começou. Isso não será bom, foi por causa daquilo que ela foi parar no sanatório, quem sabe o que essas lembranças podem fazer com ela denovo?

- Que droga!

Frank aumenta a velocidade do carro e eles começam uma corrida contra o tempo.


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