Você acredita em sorte? Bem, eu não. Para mim não passa de mais uma crença ridícula inventada por algum burguês para que ele ganhasse mais dinheiro de alguma forma. Poderiam até imaginar que eu não acredito, pois nada de interessante tenha me acontecido na vida ainda, mas é muito mais o contrário.

        Desde o dia em que eu resolvi conhecer a aluna estranha, Suzumiya Haruhi, a minha vida virou de cabeça para baixo. E não para melhor. Um problema atrás do outro essa garota me trazia e eu era o único que podia resolvê-lo. Tendo em mente que eu comecei isso tudo, a idéia dela criar um próprio clube me pareceu ridícula, mas hoje vejo que fora devastadora. E deste então eu seguia uma rotina não tão normal de ir até o prédio atrás da escola, entrar no clube e ouvir as idéias bizarras da chefa. Refletindo então sobre isso tudo creio que o que eu tenha não seja falta de sorte, mas um danado azar. E tendo isto em mente eu acordei na manhã de domingo sem preocupações...

          Eram quinze para o meio dia, o que me espantou um pouco. Digo isso, pois geralmente eu era acordado muito mais cedo pelo celular onde a ligação era sempre de Haruhi me chamando para algum lugar para procurar aliens e pessoas estranhas. Mas então lembrei que ela havia dito algo sobre passar o fim de semana na casa de alguém. Sossegado, eu desci as escadas para o café da...Digo, almoço.

     Minha mãe estava na cozinha terminando os preparativos do almoço, a comida cheirava tremendamente bem. Era sukiyaki o que ela preparava? E minha irmã estava ajudando-a. Ela percebeu minha presença e olhou-me com um sorriso que eu retribuí. Depois de passar no banheiro fui direto à cozinha, pois minha barriga reclamava. Sentei à mesa e esperei pelo meu prato.

            Enquanto me servia, minha mãe começou a falar:

- Querido, tenho uma coisa para te contar!

- Não diga que está grávida?

- Hum, claro que não. Você e esse seu sarcasmo...

- Não fui sarcástico. – Ela riu e continuou.

- Bem, o que eu queria lhe contar é que te inscrevi numa rifa.

- Hã? Mãe, você ainda manda em mim, mas não tem que sair colocando meu nome em tudo quanto é lugar.

- Ah, não é nada demais, Kyon, é uma rifa do bairro, me pareceu divertido! O grande prêmio é uma viagem.

 “divertido seria se o grande prêmio me levasse para um lugar longe da Haruhi por uns tempos”

-Divertido seria se o grande prêmio desse um jeito de fazer com que todos parassem de me chamar de “Kyon”. – minha mãe riu do meu comentário e me deu meu prato, eu mordisquei o filé temperado e agradeci aos céus algo tão saboroso ter sido criado.

- Você deve ir ao final da rua levar o bilhete e ver se você foi o grande vencedor. -Ela comentou.

“Isso não é o nome de um programa de tevê?”

            Nada confiante e com um papelzinho na mão eu segui de bicicleta até o local. Havia uma barraquinha infestada de gente e presumi que a viagem era boa, talvez ao espaço. A dona da barraca, uma velhinha, comentou que tiraria um papel aleatório de uma caixinha e diria bem alto o número sorteado. Que o vencedor deveria se apresentar imediatamente ou o prêmio seria passado para outra pessoa.

           Eu estava tão cético em relação à minha sorte que nem me dei ao trabalho de saber o número do meu papel. Ela chamou pelo número dois, mas parecia ausente. Ela tirou outro papel, e mais uma falta. Alguns até jogaram seu papel fora por conta disso. Resolvi ir embora dali. Estava chato e eu queria jogar vídeo game. Comecei a pedalar e antes de jogar o meu papel fora dei uma olhada, havia o número vinte e oito carimbado. Ao fundo ouvi a velhinha proclamar mais um número, vinte e...! Eu freei a bicicleta. E se fosse o MEU número? Eu pedalei de volta e ouvi ela chamar: “vinte e oito!” Uau! Era o meu número mesmo!

- Espere!- Eu gritei, e todos me olharam. – Espere, por favor! – Cheguei na bancada ofegante e falei em alto e bom som:

- Sou eu o vinte e oito! – Todos me olharam espantados e a velhinha, muito calma me respondeu:

- Muito bem, você acaba de ganhar uma passagem com um acompanhante para o parque de diversões do Walt Disney, em Orlando, Flórida.

“ O quê?!”

- O quê?!

         Alguém alguma vez me disse que a sorte era tão cega quanto o amor, porém mais burra que o mesmo...