Capítulo XVIII - Unmasked

Olhar atônito. Olhos marejados. Boquiaberta. Descrevê-la nesse instante era a tarefa mais simples de todas. Lágrimas começaram a saltar de seus olhos, e a cada vez que uma delas percorria todo o trajeto de seus olhos até seu queixo, sentia como se um punhal estivesse atravessando meu coração. Seu olhar agora transmitia a mim toda a dor que ela estava sentindo, tudo o que eu tentei o tempo todo evitar o que viesse acontecer. Ainda estava confusa demais para falar qualquer coisa. De certa forma ainda não havia assimilado tudo o que aconteceu ali. A única certeza que eu tinha, era do quão suja eu me sentia naquele momento.

Não parava de me culpar pela dor que havia causado a ela. Se as coisas estão assim, é por causa da mentira que insisti em manter. Devia tê-la contado tudo antes, sim, ela iria sofrer, mas, ainda me teria a seu lado para ajudá-la. Agora eu já nem sei mais se ela irá querer minha amizade. O mais irônico de tudo é que, a mentira que eu pensei em guardar para poupá-la do sofrimento que ela viria passar, piorou ainda mais as coisas. Não irei culpá-la se ela não quiser falar comigo nunca mais, claro que não. Iria culpar a mim mesma, por tê-la feito passar por isso. Mas, antes de tudo, ela iria ouvir de mim tudo o que ele fez. Claro que ele não sairia impune desta.

Olhei diretamente no fundo de seus olhos. Em resposta, ela virou o rosto, tentando negar aquele contato visual. O maldito do Sai — que com certeza deve estar se divertindo com isto — nada dizia. Mas eu sabia que, se eu tentasse dizer algo a ela, ele negaria tudo. Pior será se ela pensar que eu o beijei. Que eu havia dado início a 'cena' que ela presenciou, quando chegou. Meu sangue inesperadamente ferveu, pareceu uma tentativa desesperada do meu corpo de negar aquela ideia. A ideia de ela pensar que eu fiz aquilo. Que foi tudo de propósito e que eu queria vê-la sofrer. O desgraçado do Sai andou até ela, parando a seu lado. Ela permitiu isto, confirmando a mim o que eu apenas desconfiava.

Meu maior medo, neste instante, pareceu tornar-se realidade. Ela acreditará nele. Ó Deus, este é o pior dia que eu já tive em anos. A última vez que eu sofri tanto, foi no dia em que fui sem saber dar o último adeus a meu irmão mais velho, no hospital. Já podia sentir meus olhos arderem. Lágrimas estavam prontas para saltar deles. Tinha que me manter forte agora. Não que eu me importasse com o que as pessoas que passavam ali iriam pensar. Tinha que me manter firme para contar tudo a ela. Mesmo que ela decida que nunca mais irá querer falar comigo, não deixarei que acabe assim. Finalmente me dei conta da gravidade da situação, ficando ainda mais nervosa. Virei-me completamente para ela.

Dei dois passos em sua direção. Olhava pra mim, incrédula. Passou a mão pelo rosto, enxugando as lágrimas. Mas logo a seguir, vinham mais. Tudo por culpa minha. Eu poderia ter evitado que isto acontecesse, não mentindo a ela, mas sim dizendo a verdade. Se tivesse contado tudo a ela antes, não estaríamos assim. Queria falar alguma coisa mas não conseguia. Simplesmente não conseguia dizer nada. Estava nervosa e confusa demais para dizer algo. De repente fiquei muda. Sentia vontade de dizer tudo a ela, de começar a falar tudo ali, mas eu simplesmente não conseguia. Talvez por medo de agravar ainda mais a situação. Estou tão nervosa que nem sei o que dizer. Respirei fundo, finalmente acalmando-me.

— Ino, eu... eu posso explicar... — Comecei.

— Explicar o quê? Que estava me fazendo de boba todo esse tempo? Que fingiu ser minha amiga?  — Perguntou, exaltada.

— Por favor, tem que me ouvir, as coisas não são como você viu... — Apelava.

— Não são como eu vi? Você deve achar que sou algum tipo de idiota! Eu nunca esperei isso de você, Sakura. Pensei que fôssemos amigas.

— Mas eu sou sua amiga...

— Não é não. Você nunca foi. Porque uma amiga não causa tanta dor a outra, como você fez comigo. Nunca mais fale comigo. Você é a pior pessoa que existe.

Apenas fiquei parada e a vi ir, deixando-me sozinha ali. Não conseguia segurar mais as lágrimas que estavam há pouco de saltar de meus olhos. Então este é o real poder das palavras. Nunca pensei que ferissem tanto. A mim pouco importa o que estou sentindo agora. O que me importa é o que a Ino está sentindo, pensando aquelas coisas sobre mim. Mesmo não sendo verdades, deve ser doloroso pensar isto de alguém que você julgou sua melhor amiga. A pessoa com quem você sempre contou, aquela que você sempre pensou que estaria ali para te confortar. Tudo o que eu mais quero agora é um conforto. Algum ombro pra chorar. Um abraço.

Quando olhei para trás, lá estava Naruto. Arregalou os olhos ao ver como eu estava. Corri em sua direção, e ele me recebeu de braços abertos. O abracei com todas as minhas forças, sendo retribuída por ele. Encostei minha cabeça em seu peito, ele acariciava meus cabelos, na tentativa de me acalmar. Perguntei a ele se ele havia visto tudo, ele respondeu a mim dizendo que sim. Já podia me sentir melhor comigo mesma.

— Fica tranquila, isso não vai ficar assim. Nós vamos te ajudar. — Afirmou ele.

— Nós? — Perguntei, fitando-o.

— É. Somos seus amigos, Sakura. Também somos amigos da Ino, por isso me recuso a ficar quieto vendo isso. Ainda não sei o que fazer mas, com certeza daremos um jeito.

Abri um sorriso — amargo — no rosto. Pelo menos eu tinha alguém com quem podia contar. Sim, saber disso era o suficiente para me deixar mais tranquila. Não importa o que aconteça, irei fazer com que a Ino perceba quem ele é, antes que tudo piore ainda mais. Farei com que ela me ouça e veja a verdade, depois ficará a critério dela decidir se quer ou não ser minha amiga. Tudo o que quero é vê-la bem, é o que um amigo de verdade iria querer, e não reconhecimento por ajudá-la.

(...)

Sasuke

Acabava de acordar. Havia tirado algumas horas pra dormir, pra ver se conseguia relaxar e esquecer o que eu ouvi por um tempo. Claro que isto foi por recomendação do Itachi, que disse que ainda iriam investigar tudo. Ele parecia ter certeza do que estava dizendo, só o fato de o Fugaku estar envolvido nessa investigação já me fazia acreditar que era verdade. Cá entre nós, aquele homem não é do tipo que diz besteiras ou que mente descontroladamente. Seu modo de agir e sua frieza o faziam honesto até demais, aos meus olhos. Decidi que se isto demorar demais, eu iria me envolver também. Por isso estou tentando relaxar.

Mais uma vez sonhei com aquela misteriosa menina. E em como todos os outros sonhos que tive com ela, seu rosto não me foi revelado. Já faz tanto tempo desde que aquilo aconteceu que eu já estava parando de acreditar em sua existência. O que ela estará fazendo? De onde ela veio? Ela está viva? Aonde ela mora? Como se chama? Queria saber tudo sobre ela, pra certificar a mim mesmo que ela realmente existe. 

A única coisa que me fazia acreditar em sua existência, era seu cheiro. Nunca irei me esquecer dele. Suspirei pesadamente. Talvez seja tudo fruto de minha imaginação. Afinal de contas, naquele dia, eu precisava mais que ninguém de um conforto. Nem Fugaku, nem Itachi, nem os enfermeiros e nem ninguém a viu ou ouviu falar dela. Desci os lençóis que aqueciam tudo o meu corpo até minha cintura. Sentei-me, em seguida. Suigetsu estava no laptop, que estava acima da cômoda. Ele se virou pra mim.

— Finalmente acordou, hein. Achei que dormiria o dia inteiro.

Olhei pra ele com desdém. 

— O que está fazendo aqui, a esta hora? Devia estar em aula.

Joguei os lençóis para o lado, sentando-me na beirada da cama. Rapidamente me lembrei de que estava sem camisa em um frio daqueles. Vasculhei o local com os olhos a procura de algo decente para vestir.

— Você também devia, mas alguém reclama? — Perguntou, sem retirar os olhos da tela do laptop.

— Tsc. Não queira se comparar a mim, eu sou um Uchiha. — Respondi, com um sorriso no canto do rosto.

Em resposta ele revirou os olhos, como se já esperasse por aquilo. Olhei em cima do criado-mudo, logo ao lado da cômoda aonde Suigetsu estava. Lá havia uma jaqueta jeans azul. É o suficiente, não sei como mas ainda assim entra ventos aqui. Ventos congelantes, por sinal. Minha pele estava arrepiada, meu corpo apelava de forma desesperada por algo para aquecê-lo. Vesti a jaqueta, e quando estava prestes a fechar os botões, algo me chamou atenção. Entre tantos pensamentos, me veio o nome do hospital em que minha mãe foi dada como morta. Uma ideia me veio em mente.

Johns Hospkins Hospital...

Aquela foi a primeira vez que saí do Japão. Itachi me levou desesperadamente para lá. Me lembro disso como se fosse ontem.

— Suigetsu, me deixe pesquisar uma coisa aí. — Pedi.

Ele se levantou da cadeira, dando-me espaço e liberdade para pesquisar tranquilamente o que eu queria. Digitei o nome do hospital, iria procurar seu endereço. Continuei a procurar desesperadamente por ele. O encontrei. Sorri. Não fica tão longe daqui. É isso, estou decidido. Irei encontrar aquela menina.

— Tá procurando o endereço do hospital que você conheceu a 'menina misteriosa'? — Olhei surpreso para ele.

— Como você sabe sobre isso?

— Você fala dormindo, é um dos seus poucos hábitos estranhos. O tempo todo você ficou resmungando algo sobre ver o rosto dela, conhecer a garota misteriosa...

Me virei novamente para o laptop. Revirei o copo — que continha lápis, caneta e cadernos de anotação — de cabeça pra baixo, a procura de algo para anotar o endereço do hospital. Assim que peguei, comecei a anotar tudo o que dizia ali. Lembrei-me de que minha moto estava sem combustível.

— Merda. — Resmungava.

— O que foi? 

— Minha moto está sem gasolina... não vai dar pra ir. — Lamentei.

— Se quiser eu te empresto a minha.

— Sério? — Perguntei, me pondo de pé.

— Pode pegar. — Respondeu, retirando as chaves do bolso.

— Valeu. — Peguei as chaves.

(...)

Sakura

Acabava de entrar no dormitório da Temari e da Tenten. Estava cabisbaixa, ainda triste pelo que aconteceu hoje mais cedo. As palavras de Ino pra mim não saíam de minha cabeça. Tentava esquecê-las, pensar em como fazer para mostrar a verdade a Ino, mas não adiantava. Essas palavras me faziam perder todo o foco do que realmente importava agora, me faziam perder o foco do que eu queria mesmo fazer.

Assim que entrei lá, dei de cara com Kiba, Naruto, Neji, Chouji, Shikamaru, Temari e Tenten. Estavam todos lá. Parei na porta do quarto. Todos discutiam frenética e desfreadamente, ninguém ainda havia notado minha presença ali. O primeiro a me notar foi a Tenten, que andou até mim e me pegou pelo pulso, me levando até o sofá. Naruto discutia com Kiba — pareciam estar prestes a partir um pra cima do outro, como sempre —, Chouji com Neji e Temari com Shikamaru.

— Ei ! — Tenten tentava chamar a atenção de todos. — Ei !

A Temari foi a única a nos notar. Quando viu que estávamos querendo dizer algo, e que ninguém queria ouvir, ela se pôs de pé.

— Todos em silêncio! — Berrou. Sentou-se novamente assim que eles pararam de falar. — Obrigada.

— Por que estão todos aqui? — Perguntei.

— Estamos tentando bolar algum plano pra que a Ino veja que tipo de pessoa é o Sai. — a Tenten me explicou.

E não é que eles queriam mesmo aquilo? Não sei como pude duvidar deles.

— Mas aí tudo saiu de controle. Temari e Shikamaru começaram a discutir, o Naruto tentou fazê-los parar mas o Kiba atirou uma almofada nele e deu no que você viu. — Concluiu.

— No que vocês pensaram? — Perguntei.

— Bom, eu tinha um plano, mas aí o idiota do Kiba me acertou, eu fiquei com raiva e acabei me esquecendo de tudo! — exclamou o loiro.

— Relaxa... — Kiba disse, sorrindo. — Eu tenho um plano.

— Você têm? — Todos perguntamos, em uníssono.

— Claro que tenho. — Respondeu, com um sorriso triunfante no rosto.

— Estou surpreso. — Neji disse.

— Não fique. Já disse a vocês que não sou só bonito, também sou inteligente.

— Então para de dizer besteiras e conta logo! — Exclamei. Todos olharam-me chocados. — O que foi? 

— Escutem bem. — Ele começou.

.......