Eu gritei com o susto, me encolhi e fechei os olhos. Mas nada me ocorreu. Fiquei com medo de abrir os olhos novamente. Só fiquei mais tranquila ao ouvir gritos abafados dos outros. Criei coragem e abri os olhos e voltei a minha posição anterior, mas ainda encolhida atrás de Nico. Nico estava com o braço esticado na direção do Cão (ou Cadela) Infernal. Percy estava na frente nas costas do Cão, e Annabeth atrás. Percy puxava o pelo como se fossem rédeas. Estavam todos assustados pela reação repentina da criatura. Seus olhos castanho-avermelhados me olhavam fixamente, á uma distância terrivelmente próxima.

-É melhor você não fazer isso. - Nico disse para a criatura. A mesma rosnou e recuou um passo. Ele abaixou o braço devagar. - Você tá bem? - Ele perguntou virando o rosto pra mim. Assenti devagar.
-Alguém gritou? Uma das meninas? - Frank perguntou, e as três meninas negaram com a cabeça. - Eu acho que ouvi alguém gritar.
-A propósito você gritou no meu ouvido. - Nico disse pra mim.
-Deuses, - Falei culpada colocando a mão na boca. - me desculpe. - Ele riu. EU CONSEGUI FAZER ELE RIR.
-Tudo bem.
-Nico? - Annabeth perguntou descendo das costas do Cão. Ela e Percy não haviam mudado nada. Annabeth ainda tinha o corpo bronzeado, olhos cinzas e cabelos loiros. Percy tinha a pele da mesma cor, cabelos pretos e olhos verdes. Quem olhava e não conhecia acharia que eles foram os populares na escola.
-Oi? - Ele perguntou virando pra eles.
-Porque tá falando com o nada? E aquilo foi uma risada? - Percy indagou.
-Ele tá assim o dia inteiro. - Piper explicou. - Digo, falando sozinho.
-O que aconteceu com a Sra.O'Leary? - Hazel perguntou, chegando perto e acariciando a Cadela.
-Explica logo isso, por favor. - Pedi a Nico fazendo ele virar o rosto pra mim. Eu estava no seu lado direito, fugindo da Sra.O'Leary. - Tá me irritando eles falarem assim sem entender nada.
-Ok, prestem atenção em mim. - Ele pediu. - Tenho algo imprtante pra contar.
-Deve ser mesmo, já que usou o celular. - Annabeth murmurou.

Nico respirou fundo. Deve ser ruim ter vários pares de olhos mirando em você. Algo me dizia que eu logo iria sentir essa sensação.

-Hazel, você estava me perguntando hoje de manha para o que eu estava olhando na entrada. - Seu tom estava sombrio. - Eu menti que não era nada. Na verdade eu vi um fantasma.
-O que? - Jason indagou.
-Me deixem terminar, depois como eu disse, podem me colocar em um Manicômio de tiverem vontade. - Ele disse acenando com a mão, um gesto de impaciencia. - Depois, eu sai, já que esse fantasma ficou me perseguindo. - Ele me deu um olhar impaciente, mas eu não sorri como geralmente fazia. Eu estava com medo demais pra isso. - Eu a segui e ela me trouxe aqui.
-Ela? - Perguntou Leo.
-É. Ela. - Nico afirmou.
-Eu não acredito que estão duvidando do meu sexo. Nem me conhecem. - Reclamei indignada para Nico, e ele me deu um quase imperceptível sorriso.
-E então ela me contou algumas coisas. - Ele virou para mim. Fitei o chão. - Acho melhor você explicar o resto.
-Ela está aqui? - Leo se assustou.
-Eu to com medo. - Murmurei sorrindo e ignorando Leo.
-De que? - Nico perguntei.
-Não sei. - Disse rindo. Olhei pra ele e ele sorriu novamente de um jeito quase imperceptível.
-É melhor você ir logo. - Se eu pudesse suspirar teria feito isso. Mas devido as circunstâncias...

Me concentrei. Eles precisavam me ver e ouvir minha voz. Quase o dobro do trabalho. Só não era pesado porque por alguma razão eles já me escutavam levemente. Ignorei tudo isso, limpei minha cabeça. Imaginei o ar tomando cor e forma, quase consistência. Minha voz indo para os ouvidos de todos. Eu tive muito trabalho porque eles eram muitos. Mas de um momento para o outro, eu "estava" lá. Eu senti a mesma sensação que Nico deve ter sentido.

Eles puxaram o ar com o susto. Alguns recuaram alguns passos, outros se mantiveram firmes. Percy foi o que mais me assustou. Ele sacou sua caneta/espada e apontou para mim. Mesmo não podendo ser ferida por aquilo, recuei e me escondi parcialmente atrás de Nico.

-Por Zeus, Percy. - Annabeth exasperou. Eu esperava que ela me visse. - Abaixa isso. - Ela olhou de mim pra ele.
-Me desculpe. - Ele me disse sem jeito, tampando a caneta e guardando no bolso.
-Tudo bem, eu acho. - Disse. E eles pareciam incrédulos ao me ouvir também.
-Como se chama? - Hazel se aproximou. Ela parecia não ter medo de mim.
-Sophie. - Respondi saindo de trás de Nico lentamente.
-Viu? - O mesmo disse. - Eu não estava louco.
-Onde você nasceu? - Frank perguntou. Eles estavam todos curiosos sobre mim. Pude ver um brlho em seus olhos. Mas Leo, parecia ter algo a mais em seu olhar. Como desejo.
-E-eu não sei. - Disse abaixando a cabeça envergonhada.
-Como não? Perdeu sua memória? - Annabeth questionou.
-Almas e fantasmas não perdem a memória, Annabeth. - Hazel explicou. - Almas e fantasmas tem todas as suas memórias intactas, mesmo quem as perdeu ficam com ela quando morrem. É uma espécie de castigo. - Ela parecia saber demais sobre aquilo.
-Eu, nunca vivi. - Murmurei.
-Impossivel. - Exasperou Piper.
-Se eu estou aqui, não é impossível. - Disse, mas depois repensei no quando fui rude. - Desculpe.
-Você é linda. - Leo falou. Se eu pudesse corar, teria corado. Mas apenas abri a boca como se fosse falar algo mas eu não tinha o que falar.
-Pelos Deuses, Valdez. - Nico disse. Eu acho que ele não havia gostado do que o outro disse. - Você não consegue nem ficar com garotas palpáveis, quer ficar com uma Fantasma?
-Me sinto menosprezada. - Disse cruzando os braços e olhando feio para Nico. Eles deram risinhos com o meu ato. Mas eu não estava brincando com ele, muito menos fingindo estar brava para fazer graça.

Ele ia rolar os olhos, mas não fez o ato de última hora. Eu não acredito que ele ia fazer aquilo.

-Idiota. - Murmurei.
-Não esqueça que o idiota aqui vai te ajudar. - Ele disse.
-Idiota e grosso. - Retruquei.
-Eu to repensando a idéia. - Ele reclamou novamente. - Quer que eu peça desculpas?

O olhei como se ele estivesse dizendo uma coisa super-óbvia.

-O que aconteceu com toda a sua educação? - Briguei, virando para ele. Ainda com cara feia e braços cruzados.
-Sumiu quando você gostou de ser cantada pelo Valdez.
-Eu não gostei de ser cantada. Eu só nunca fui ao menos vista.
-Ei, estamos aqui. - Percy interrompeu. Eles haviam permanecido tão quietos que eu mal tinha lembrado deles.
-Agora eu me sinto menosprezado. - Leo disse. Eu descruzei os braços e desfiz a careta. Ela foi substituida por uma expressão levemente triste.
-Desculpe. - Nico disse ao ver minha mudança de pose.
-Vou pensar se te desculpo ou não. - Respondi, ainda com tom de voz triste. Ele bufou.
-Nico você é realmente muito grosso. - Hazel reafirmou.
-Obrigado. - Ele murmurou.
-Então, como sabe sobre os Deuses e todas essas coisas? - Annabeth perguntou. Contei para ela e os outros como eu andava atrás dela e seu namorado.
-Devíamos ter nos apresentado. - Jason falou. Eu não disse que já havia descoberto os nomes deles porque queria ver eles se apresentando. - Eu sou Jason Grace, filho de Júpiter.

Levantei a mão em um sinal de pedido de pausa.

-Espera aí. Além de Deuses Gregos existem os Deuses Romanos? - Fiquei curiosa.
-É. - Afirmou Frank. - Acho que você já deve saber bastante sobre eles já que você vive em uma escola.
-É, eu aprendi bastante. - Afirmei.
-Bom. Voltando as apresentações. - Dessa vez, Piper fez as apresentações. - O loiro se chama Jason Grace, é filho de Júpiter e meu namorado. Aquela moreninha de olhos dourados ali é a Hazel Levesque, filha de Plutão. O grandão alí é o Frank Zhang, filho de Marte. Esses três são filhos de Deuses Romanos, e um pouco diferentes da maioria. Na verdade, todos aqui são. - Assenti suavemente para mostrar que eu estava prestando atenção. - Eu sou Piper McLean, filha de Afrodite. E o de cabelo enrolado é o Leo Valdez. Acho que o resto você já conhece.
-Já. - Falei com voz mais suave do que o planejado.
-Então Nico, o que vai fazer com ela? - Leo indagou. Ele parecia mais grosso com Nico devido aquela briga.
-Me sinto uma bagagem agora. - Falei para ninguém em especial.
-Você se sente muitas coisas, sabia? - Nico me encheu.
-Argh. - Grunhi. Virei para Nico brava. - Você é muito chato. É só porque eu não obedeço suas ordens.
-De certo modo você obedece sim. Por causa do trato. - Ele disse em um meio sorriso insistentemente lindo.
-Argh! - Disse mais alto. Sai de perto dele e sentei no chão, encostando em uma árvore como antes. Cruzei os braços e deixei minhas pernas esticadas e também cruzadas. Eu não sentia nada ao me tocar. Apenas sólido. Eu podia me tocar sem esforço algum.
-Ela não obedece ordens? - Perguntou Hazel.
-Ela é teimosa. - Ele murmurou apertando entre os olhos.
-Nico di Angelo eu vou jogar uma pedra em você. - Quase gritei.
-Joga! - Ele gritou pra mim.

Não pensei duas vezes. Havia uma pedrinha do meu lado. Eu peguei ela rapidamente e joguei nele. A pedra estava pesada para mim, mas eu não tinha certeza se aquele era o peso certo. Minha mira estava perfeita mas de última hora ele desviou. Fechei a cara.

-Doida! - Ele gritou.
-Ué! Eu tenho que te obedecer. Você disse "joga!" e eu joguei. - Falei alto, não gritei. Mas dessa vez um sorriso esperto tomou meu rosto.
-Esperta. - Annabeth disse rindo.
-Você pode tocar coisas? - Hazel disse assustada.
-Muito treino me disponibilizou isso. - Responde antes que Nico fizesse algum comentário e eu batesse nele com algo realmente pesado. Tipo um galho grosso arrancado dessa árvore em que eu estava encostada.
-Ok. - Murmurou lentamente Percy. - O que vai fazer com ela? Agora a coisa realmente tá séria.
-Eu vou falar com meu pai. Ele tá me devendo um favor mesmo. Eu levo ela até ele, mostro, conto tudo. Depois cobro o favor e ele dá vida á ela.
-Você vai trazer ela a vida? - Frank perguntou um pouco abismado com a idéia.
-Ela merece, já que nunca viveu. - Nico me defendeu. O engraçado era que alguns minutos atrás estavamos gritando um com o outro, agora ele me defendia.
-Você sabe os riscos? - Annabeth perguntou. Nico assentiu.
-Quais são? - Perguntei curiosa. Afinal, eles estavam falando sobre as minhas possibilidades. Eu tinha o direito de saber essas coisas.
-Bem... - Começou Annabeth, mas como ela parecia um pouco temerosa de me contar Nico continuou.
-Existe a chance de meu pai fazer você sumir, de ele concordar em fazer um Conselho Olimpiano - Eu sabia o que era isso felizmente. Conselho Olimpiano era quando convocavam todos os Deuses Olimpianos e mais quem eles estvessem a fim para votar e debater sobre alguma coisa. - mas a votação acabar dando em um não. Também tem a dos Olimpianos temerem o que você é e/ou pode se tornar, e Zeus pode fazer você sumir. Esses são basicamente os riscos.
-Eu to começando a repensar a idéia. - Murmurei.
-Você não vai desistir agora. - Nico falou pra mim.
-Ah, ninguém me disse nada sobre esses riscos. - Debati, soando infantil.
-Você não vai desistir agora. - Repetiu Nico. Se eu pudesse bufar teria feito isso no mesmo instante.
-Ok, o que pretende fazer agora? - Jason questionou Nico.
-Ir até meu pai ué. - Ele respondeu. E então ele se espreguiçou e subiu no Cão Infernal.
-E eu? - Perguntei assustada.
-Eu vou te convocar de dentro do Palácio do meu pai se tudo der certo. Acho que você prefere assim a se arriscar no Mundo Inferior com todas aquelas outras Almas.
-E nós? - Perguntou Leo.
-Façam companhia pra ela até eu voltar ou ela for convocada. Depois voltem pra aula. - Ele parecia um lider de todos ali, o que eu duvidava um pouco que ele era em outros momentos.

E então, o Cão gigante correu para uma sombra e desapareceu. Eu fiquei um pouco envergonhada de estar ali com gente que eu mal conhecia. Mas eles logo caminharam para perto de mim e se sentaram no chão. Fazendo uma espécie de círculo bagunçado, não comigo no centro do círculo e sim junto deles. Hazel foi a primeira a se sentar, e a mais próxima de mim. Ela fez o mesmo que Nico fez. Arrancava a grama e a partia em pedacinhos.

-Fica tranquila, se ele disse que vai te ajudar ele vai fazer isso mesmo. - Ela disse.

Seu namorado estava do lado dela, e ela estava do meu lado esquerdo. Do meu lado direito estava Jason. Mas ele não estava tão perto como Hazel, estava um pouco mais distante. Sorri de forma simpática pra ela.

-Espero que sim. - Murmurei. - Eu só não sei como agradecer se tudo der certo.
-Nico não é do tipo de pessoa que pede algum tipo de agradecimento. - Me explicou Percy. Ele estava parecendo uma criança. Pernas cruzadas e mãos pousadas nos pés.
-Ele não pede, mas é mais do meu feitio tentar fazer algo como agradecimento. - Contei.
-Acredite ou não, você não é a primeira que ele ajuda. - Hazel disse jogando algo longe. Aquilo era algo de ouro?
-Como assim? - Tentei pedir por mais detalhes. Funcionou.
-Digamos que eu não deveria estar por aqui. - Ela disse me olhando de forma sugestiva. Felizmente entendi na hora.
-Você estava morta? - Perguntei cobrindo minha boca com a mão em um sinal de choque. Ela me deu um sorriso triste.
-Ele me trouxe de volta a vida por ser sua irmã. - Ela explicou. Foi ai que me lembrei de que Plutão era quase a mesma coisa que Hades.
-É por isso que você sabe muito sobre mortos. - Observei e ela assentiu.

Ficamos naquele silêncio estranho que eu sempre vi as pessoas ficarem. Nunca pensei que aquilo pudesse ser tão vergonhoso, frustrante e irritante. Eu queria conversar com eles, porque eu me sentia viva conversando com alguém. E eu podia ver que eles queriam conversar comigo também, porque eles pareciam curiosos. Eu só precisava achar um assunto.

Então... - Murmurei. - Porque disse que eram diferentes? - Perguntei á Piper.
-Todos aqui temos algo que outros semideuses não tem. - Percy respondeu ao invés dela.
-Tipo? - Pedi por uma resposta mais completa. O que eles tinham de tão diferente?
-Eu, por exemplo - Começou Leo. - posso criar e controlar fogo.

Abri a boca pra falar alguma coisa, mas não saiu nada. Esse tipo de diferença.

-Nossa. - Soltei sem querer, e ele sorriu sem graça. Eu nem tinha certeza se aquilo era verdade, e eu não iria pedir pra ele me provar. Seria um pouco irritante da minha parte.
-Eu posso persuadir as pessoas. - Piper falou, trazendo a minha atenção pra ela. - Roubei um carro sem querer, uma vez. - A olhei chocada.
-Eu controlo metais preciosos. - Hazel falou. Os poderes deles eram incríveis.
-E eu mudo de forma. Posso me transformar em animais. - Frank falou.
-Ok, mais alguém? - Perguntei levantando as mãos em sinal de rendição. Eles riram de leve. - Ter poderes deve ser incrível.
-Na verdade, tudo tem seu preço. - Admitiu Frank e pude sentir uma pontada de dor em sua voz. Assunto proibido, deduzi.

Então eu senti como se uma força estivesse me puxando. Isso não era algo normal. Olhei para trás procurando algo. Tudo o que vi foi meu corpo translúcido. Voltei a minha posição normal, mas ai eu notei minha imagem tremeluzir. Isso realmente não era algo normal. Fiquei assustada.

-Nico deve estar te convocando para o Mundo Inferior, não se assuste. - Me disse Annabeth.
-Boa sorte. - Hazel me desejou. - Você vai precisar.

Antes que eu pudesse responder um pequeno e simples "obrigado", tudo ficou escuro.